quarta-feira, 17 de setembro de 2008

O maior risco é não se arriscar...

O trecho a seguir foi extraído do livro ''A vaca roxa'' (Purple Cow), de Seth Godin: ''A Vaca é rara porque as pessoas tem medo. Se você for notável, provavelmente algumas pessoas não gostarão de você. Faz parte da definição de ''notável''. Ninguém consegue, jamais, elogios unânimes. Para um tímido, não há nada melhor do que passar despercebido. Somente os notáveis recebem críticas. Onde você aprendeu a ser reprovado? Se você for como a maioria dos americanos, na escola de primeiro grau. É a partir daí que se aprende que ser enquadrado é a coisa mais segura a fazer. É muito mais seguro colorir dentro dos limites do desenho, não fazer muitas perguntas em classe e, o que quer que aconteça, certifique-se de que o trabalho de casa enquadra-se no formato solicitado. Nossas escolas são administradas como fábricas. As crianças fazem fila em linhas retas, são separadas em grupos( chamados graus)e nos esforçamos para que não haja desalinhamentos. Ninguém deve se destacar, ficar para trás, se adiantar ou fazer bagunça. Fazer tudo de modo seguro, de acordo com as regras. Essa parece ser a melhor maneira de se evitar o fracasso. Na escola, pode até ser. Infelizmente, essas regras estabelecem PADRÕES para a maioria das pessoas( o seu chefe, por exemplo?) e esses padrões são perigosos. São essas regras que, em última análise, podem levar ao insucesso. EM UM MERCADO SUPERLOTADO, ENQUADRAR-SE É FRACASSAR; NÃO SE DESTACAR É O MESMO QUE ESTAR INVISÍVEL''( nosso grifo). Continuando, em outro trecho o autor afirma que ''fomos educados com base em uma falsa crença. Acreditamos, de maneira equivocada, que a crítica leva ao fracasso. Desde os tempos de colégio somos induzidos a acreditar que ser notado é quase sempre ruim. E´algo que nos leva ao gabinete do Diretor, e não a Harvard. Ninguém diz: '' É isto aí! Eu gostaria de me preparar para reagir à crítica séria!''. Apesar disso...esta é a única maneira de se tornar notável(...)Com freqüência reagimos à nossa aversão a críticas procurando nos esconder e evitando fazer coisas que possam desencadear respostas negativas. Dessa forma, garantimos( ironicamente) o nosso insucesso! Se ser notável é a única maneira de se destacar na multidão e ser tedioso, mas estando seguro, a única maneira de se evitar críticas, bem, aí está uma escolha e tanto, não é mesmo? ( nosso grifo). Você não é o projeto. Críticas ao projeto não são críticas a você. O fato de precisarmos ser lembrados disso é uma evidência do quanto estamos despreparados para a era da Vaca. Aqueles cujos projetos jamais serão objeto de crítica são os que, em última análise, fracassam''( ''A Vaca Roxa'', Seth Godin, Editora Campus, páginas 72 a 75, trechos selecionados). Seth Godin é Publicitário. Mas quem disse que suas sábias palavras não se aplicam a muitas outras carreiras???

Campos de concentração no Rio de Janeiro...

Não sou eu que eu estou inventando isto. Segundo o jornal ''O Globo'' de 16/9, o novo presidente do Tribunal Regional Eleitoral( TRE-RJ)do Estado do Rio de Janeiro, se diz chocado com estado de pavor e coação que encontrou em favelas da Zona Oeste da ''Cidade Maravilhosa''. O desembargador Alberto Motta Moraes, segundo o periódico, afirmou que conheceu ''um campo de concentração sem arame farpado''. Motta Moraes, ainda segundo a reportagem, ''comentou ainda sobre a moradora de nome Cristina que conversou com ele, agradecendo a presença das tropas federais na ''Coréia''. Segundo o magistrado, a moradora contou que está deixando o local onde vive há anos por imposição do tráfico, que também teria lhe tirado o pequeno comércio que o marido falecido deixou: - Ela disse que estava feliz porque vai pegar um ônibus para o Ceará na terça-feira e, como as tropas federais ficam no local até a terça, ela poderá retirar seus pertences de casa. E chegou a me confidenciar que pretende queimar tudo o que construiu para não deixar para os traficantes(...)''. O desembargador aproveitou para criticar a questão da segurança pública no estado, lembrando que não existe a idéia de ''espaços vazios'': ''Se a autoridade não se faz presente, alguém se faz presente. Não existe ausência de autoridade, o que existe são tipos de autoridade. Infelizmente, lá a autoridade que manda não somos nós, nem as forças federais. Somos nós enquanto estamos lá; quando sairmos, serão outros os que mandam. Infelizmente é assim''. Me digam: isto que estamos vivendo se assemelha a um ''Estado Policial'', como dizem lá nos gabinetes de Brasília? Um bando armado se apodera de vastas regiões da segunda maior cidade do país, impondo o seu terror e as suas próprias leis, transformando os moradores daquelas ''comunidades'' em reféns e confiscando bens. Qual é o nome disto? Seria isto ''caso de polícia''? Isto é- sem meio-termo ou palavras conciliatórias- TERROR, TERRORISMO...Uma autoridade visita um destes lugares e o compara a um campo de concentração, tal o pavor e o pânico de seus moradores, mas também deixa claro que a atual presença do Poder Público tem hora e data certas para acabar...Cuidado, senhores governantes: a História mostra que as situações de ''dualidade de poder'' não se sustentam por muito tempo. O MAIS FORTE SEMPRE ACABA VENCENDO. Vá perguntar para algum daqueles milhares de moradores- ou melhor, PRISIONEIROS- quem eles consideram o lado ''mais forte''...

Boa, Jabor!

O colunista Arnaldo Jabor, em sua coluna nos jornais ''O Globo'' e ''O Estado de São Paulo'' publicada às terças-feiras, afirmou algo que eu já suspeitava há muito tempo: ''ele aparece todos os santos dias na TV, rádio e jornais, pois descobriu o Brasil real e aí está o seu gênio- descobriu algo que ninguém mais viu antes: que o Brasil não precisa de governo; basta parecer que tem'' ( extraído do texto ''Lula é o nosso único acontecimento'', de 16/09/2008). Mas cuidado, Jabor. Hoje em dia os leitores costumam interpretar literalmente tudo o que lêem, sem margem para nuances e ironias. Assim, os mais apressados podem pensar que ''até o Jabor aderiu''...

''Perigo! Batatas fritas- II ''

''Coincidentemente'', boa parte dos que defendem o chamado ''Estado Mínimo'' pertencem aos estratos mais poderosos da sociedade. Como assim? As empresas defendem a não intervenção do Estado na economia, em nome do chamado' 'livre mercado''. Mas haveria um direito ilimitado a reajustar preços? Haveria um direito ilimitado a vender mercadorias de qualquer modo, sem padrões mínimos de qualidade e desatendendo normas públicas de saúde? A intervenção estatal, respaldada por instrumentos como o Código de Defesa do Consumidor, visa proteger em especial os mais fracos, os ''hipossuficientes''. O consumidor, em seu litígio contra as empresas, é usualmente a parte mais fraca. O CDC assumiu claramente a sua defesa, e estabelece inclusive a chamada ''inversão do ônus da prova'': o Juiz pode determinar que a empresa, que tem livre acesso e controle sobre os dados técnicos dos produtos que vende, prove ''que não agiu de determinada forma'', ''que o produto não é lesivo à saúde do consumidor'', etc. Isto é severo, draconiano, mas plenamente justificado pela desigualdade entre as partes. Como irá um consumidor provar que um produto é lesivo? Custeando caríssimos testes de laboratório? Efetuando pesquisas, pagas do seu próprio bolso? A intervenção ''parcial'' do Poder Público, amparada pela lei, justifica-se no sentido de que visa ''reequilibrar o jogo'' entre dois jogadores que tem características muito diversas: as poderosas empresas, e os consumidores. Alguém questiona este tipo de intervenção estatal? Alguém, salvo as empresas, claro, vislumbra neste tipo de ação um ''risco à liberdade individual''? Toda a reclamação em torno da chamada ''Lei Seca'' funda-se em argumentos semelhantes. Os proprietários de veículos motorizados, não casualmente pertencentes aos estratos economicamente mais elevados da população, reivindicam o ''direito'' de conduzir os seus carrões livremente. No entanto, antes da Lei, diariamente os meios de comunicação noticiavam inúmeros casos de acidentes causados por condutores alcoolizados. Que interesses estavam em jogo? De um lado, o dos motoristas. De outro, o de suas vítimas: crianças, ciclistas, idosos, pedestres em geral - neste país ''coincidentemente'' pertencentes às camadas mais pobres da população- bem como até mesmo os condutores de outros veículos menos ''possantes''( motocicletas e ''fuscas'' ,atingidos por caminhonetes SUV e caminhões...). O que é a ''Lei Seca''? Uma iniciativa, patrocinada pelo Estado e com o apoio inequívoco da sociedade, no sentido de regular o uso de veículos automotores. O consumo de álcool continua livre. Mas não ao volante...Por que se quer proibir o consumo de cigarros em lugares públicos? Para proteger os fumantes passivos que, segundo as pesquisas médicas, são as grandes vítimas de todo este ''fumacê'' produzido pelos fumantes inveterados...Elimina-se o direito dos fumantes fumarem? Não, condiciona-se. Para defender o interesse daqueles que não fumam...E as batatinhas fritas? Há muito se sabe que a gordura vegetal hidrogenada- gordura ''trans''- usada em sua preparação é altamente letal à saúde. Aqui a ação do Estado requer, além da repressão e proibição do uso destas substâncias venenosas e cancerígenas, também a educação das pessoas para que não consumam produtos preparados desta forma. Padarias, pizzarias, lanchonetes tem feito ''ouvidos de mercador''. Não tem aplicado as recomendações estatais no sentido de não utilizar estas substâncias no preparo de alimentos. Em decorrência, o Ministério da Saúde tem acenado com uma virtual proibição total da gordura ''trans'', no longo prazo de ''3 a 5 anos''. Foi contra isto que se insurgiu aquele artigo da Revista ''Época''. Pergunto: o direito dos comerciantes de substâncias tóxicas pode se sobrepor ao DIREITO À SAÚDE das pessoas em geral? Os operadores do Direito são corriqueiramente colocados diante de conflitos como este. A melhor saída sempre é PONDERAR, sopesar os direitos em conflito, tentar reequilibrá-los por meio de uma ação do Poder Público que resguarde os interesses de todas as partes. E o ''perigo'' de todas estas intervenções do Estado, em contraposição aos direitos individuais, por mais legítimas e justificadas que sejam? Se você ainda não vislumbrou, diante do visível ''encolhimento'' do Estado nos últimos anos e da privatização de diversos serviços outrora públicos, um outro risco, um risco ainda maior- o de sermos manipulados e controlados por todos estes oligopólios privados que agem cada vez mais desenvoltamente no terreno econômico- faço questão de dar-lhe as boas-vindas a este ''mundo novo''. Mas claro que, inteligente como você é, e temeroso de idenficar-se nos modernos ''lugares públicos'' como a Internet, em que grandes empresas e anônimos usualmente captam os nossos dados e passos com propósitos obscuros, você já deve ter ''sacado'' de onde podem advir os maiores riscos para as liberdades individuais...Será que as grandes empresas- que atualmente fazem inúmeros testes no sentido de estudar o comportamento dos consumidores por todas as formas- caso elas descubram uma maneira ''infalivel'' de vender os seus produtos, poderemos confiar que terão a capacidade de ''auto-regular-se'' e usar estas técnicas sem violar a vontade dos consumidores? Poderemos, caso esta hipótese se concretize- e não estamos muito longe disto- estar novamente diante de um conflito entre liberdades: a ''liberdade de vender'' versus a ''liberdade de escolher o que comprar e de adquirir ou não um produto''. Que liberdade seria mais digna de proteção por parte do Poder Público? De que lado você se posicionaria?

terça-feira, 16 de setembro de 2008

''Educação vem do berço''

Ainda é dia. Eu, com duas sacolas de mercado, volto para casa. Eis que, ao cruzar uma esquina, percebo que um mendigo vem em minha direção. No curto espaço de tempo fico refletindo sobre a atitude mais correta a adotar. Ignorar, dizer que não tenho trocados, dar uma desculpa qualquer, dizer algo ''inspirador''. Enquanto penso sobre tudo isto, não tiro os olhos daquela potencial ''ameaça''. É asim que, surpreso, vejo o mendigo passar por mim, também com suas sacolinhas- que contém sabe-se lá o que que ele coletou pelas ruas e lixeiras- e dizer um gentil ''- Boa tarde''. Juro que quase caí para trás. Há muitos ''grã-finos'' e mesmo gente de classe média que sequer olham nos olhos de quem passa por eles. Que não cumprimentam sequer os ''inferiores'' que os servem: mordomos, porteiros, empregadas...E este mendigo, aquele surpreendente mendigo, além de não pedir nada- não era uma nova estratégia para ''arrancar dinheiro'' dos outros- ainda sorriu gentilmente ao passar por mim...''Somos humanos'', ele estava dizendo com o seu belo gesto, ''somos todos apenas humanos''...

Coisa de Paulistano: feijoada às quartas-feiras(???!)

Ninguém que eu conheça sabe me explicar por que aqui- e só aqui- costuma-se servir feijoada aos sábados e também às quartas-feiras. Não é uma iniciativa isolada. Quase todos os restaurantes aderem a esta feijoada das quartas...Sabemos que a feijoada, este típico prato nacional, surgiu por iniciativa dos escravos. Eles as preparavam com as sobras dos banquetes de seus ''donos''...Feijoada hoje é um grande negócio. Além de uma casa especializada na Avenida Cidade Jardim- o ''Bolinha'', que ainda não conheço- ela é um prato democrático por excelência: é servida desde os ''cinco estrelas'' até os restaurantes naturais( ''naturalmente'' com produtos similares à carne e ao toucinho)e os botecos da esquina, junto com os ''pratos-feitos'' do dia...Feijoada não é novidade. Feijoada às QUARTAS-FEIRAS, isto sim. Isto, ao que eu saiba, só em São Paulo se faz. O que eu vou comer amanhâ? Feijoada, em algum destes lugares todos citados...PS: Não seria normal, para acompanhar a tradição de usar as ''sobras'' de comida, que a feijoada fosse feita às segundas-feiras??? Aceito palpites para tentar resolver mais este ''mistério paulistano''...

Requiém...

Agora está na moda montar restaurantes. Todos os dias surge um novo. Hoje, caminhando pela rua Bela Cintra, deparei com um que está para ser inaugurado: um restaurante irlandês( e desde quando o Reino Unido se caracteriza pela qualidade de sua comida?, pensei no íntimo, embora possamos ressaltar que hoje Londres passou Nova Iorque como centro cultural e, inclusive, gastronômico- é o que dizem as revistas...). A mortalidade de todos estes novos empreendimentos gastronômicos também é alta. É comum descobrir que algum, inclusive de nossa apreciação, acabou de fechar. Muitos porque seus donos pensam que montar um restaurante é apenas alugar um local qualquer, enchê-lo de objetos luxuosos, servir pratos ''da moda''- mas CADÊ A ALMA? Comer é apenas parte daquilo que tanto apreciamos em uma saída para almoçar, em especial nos finais-de-semana. Você quer trocar idéias com as pessoas que o estão atendendo, na medida do possível. Quer chegar a um lugar, pela quinta ou sexta vez, e ser reconhecido. E não tratado como o cliente ''número 1005''...Você quer, ao comer fora, se sentir bem naquele ambiente. Ver e ouvir outras pessoas interessantes. Tudo isto é um delicioso RITUAL. Acompanhado de um belo vinho( êpa! eu defendo a ''Lei Seca''; por coerência, troquemos por uma água mineral com gás...), e com uma bela conversa. Restaurantes, ao menos os melhores, não são simples ''fazedores de comida''. Eles criam ambientes, no qual gostamos de ser recebidos...Enfim, há todo um segredo para se fazer um bom restaurante. Não basta ter ''trabalhado com o chefe X'' ( quantos anos o chef famoso levou para aprender tudo o que sabe? e para estabelecer relações com todas aquelas pessoas que fazem questão de prestigiá-lo a cada almoço ou jantar?). Muitos fecham por merecimento. Não tem alma. Não se distingüiram em nada. Ganharam, quando muito, uma notinha de jornal na semana de sua inauguração. Mas às vezes, e isto é que nos incomoda mais, um excelente restaurante também fecha. Este é o caso do ''Saint Tropez'', uma casa especializada em frutos do mar. Fechou no mesmo ano em que abriu, e colocou a engraçada plaquinha ''desde 2008''. O dono já tem duas outras casas, e decidiu criar um ambiente ao melhor estilo das cidades do interior. Lamparinas como as de cidadezinhas, paredes pintadas de amarelo, tudo me lembrava a Bahia. Mas ele ousou fazer mais do que um outro restaurante de comida baiana. Os pratos levavam nomes que aludiam ao Caribe. A moqueca, suave e com bastante leite de côco, era chamada de ''baiannaise''( pronunciava-se ''baianése''). Pastéis variados de entrada, incluindo um de camarão, caldo de peixe, sobremesas inesquecíveis. Uma ocasião marcante foi quando- não por minha iniciativa, claro- em um dia de sol fomos comer no segundo andar. A mesa, em frente a uma janela. Pela janela, mal sentamos, começaram a entrar os abundantes raios de sol, cobrindo toda a mesa. Aquele ''sol de restaurante paulistano''( quando os ''incomodados'' são aconselhados pelo garçom para mudar de mesa, ele já sumiu por detrás dos prédios...). Esta maravilha toda não ''pegou''. Pergunto-me por que. Muito ''descontraído'' para os paulistanos, com bastante luz natural. ''Informal demais''. Ou simplesmente uma novidade a mais em meio a uma multidão de estabelecimentos com muito mais tradição. O dono também não quis arriscar demais, e pode tê-lo fechado antes mesmo que tivesse a chance de dar certo. O ''Bira''- do conjunto de jazz que acompanha o Jô Soares em seu programa de TV- tocou lá, às terças-feiras à noite. Uma pena o fechamento do Saint Tropez. Entre tantas coisas, tantas coisas para lembrar e reviver, ele vai deixar saudade. Perdemos a nossa chance de ''viajar para a Bahia'' sem sair de São Paulo...

Almoço na (Avenida)Ipiranga...

Hoje peguei o metrô para ir ao centro. Embora veja sempre alguém lendo alguma coisa dentro do metrô- no último sábado vi inclusive um grupo de rapazes comprando o clássico ''A Arte da Guerra'' em uma das maquininhas de venda de livros- hoje, para minha surpresa, deparei com 3 pessoas lendo jornais. Jornais mesmo, não aqueles distribuídos de graça como o ''Metro''. Duas leitoras da Folha, e uma jovem(!!!?)saindo do vagão com um ''Estadão'' nos braços. JURO que não estava sonhando...Bom, o local escolhido por um grupo de amigos foi um misto de bar e restaurante no centro, em plena Avenida Ipiranga, chamado ''Dona Onça''. O lugar é decorado com charges daquele velho personagem ''O Amigo da Onça'', assim como uma charge de Laerte no banheiro( também homenageando o tema do bar, a onça...). Como o dia começou e terminou gelado- mal passando de 16 graus quando saímos do restaurante, com uma sensação térmica de 10...- tive a impressão, olhando para fora, que estava em outro pais, outro lugar. Todas aquelas pessoas caminhando com seus gorros, cachecóis, sobretudos, uma imagem para nenhum apreciador do frio como eu botar defeito...Escolhi como prato algo que não comia desde criança: fígado, acebolado. Muito bom, nada pesado. Algumas companheiras de mesa, incluindo minha mãe, estiveram em Campos de Jordão este final de semana. Lá não puderam apreciar o frio: durante o dia fez até 28 graus centígrados...Neste final de inverno pudemos enfim, após longos e insuportáveis dias de calor acima dos 30 graus, apreciar uma ótima ''seqüência de dias frios''. Desde sábado, e sem previsão de terminar...Aqui está mais frio do que no Sul. A justificativa da meteorologia é que ''uma massa de ar frio vinda do litoral derrubou as temperaturas na capital''. Quando vem do interior, esquenta...Voltando ao almoço, uma das sobremesas era chamada de ''trio elétrico'': pudim, quindim e brigadeiro( claro que para encarar tudo isto a porção tinha de ser pequena: um ''pouquim'' de cada coisa...). Deixei-as no metrô República- em obras graças à futura ''linha amarela'' do metrô paulistano- e fui resolver o que tinha de resolver, às pressas como todo mundo.

Casa Cheia...

O restaurante, onde como ao menos uma vez por semana, funciona em sistema de bufê. Por um preço fixo, é possível tomar uma sopa de entrada, comer à vontade, tomar sucos e comer sobremesa( também livremente). Normalmente, sei que até por volta de meio-dia e meia ainda sobram lugares no segundo andar da casa. Por isto, entrei despreocupadamente e enchi o meu prato e um de sobremesa junto para não ter de descer novamente...Quando subi para o primeiro andar, surpresa total. Estava lotado! Mesmo a mesinha junto à escada, que nunca vejo ocupada, ontem ela estava. Percorro os 3 ambientes do andar de cima, sem sucesso. Desço com os pratos na mão, e tento procurar lugares na parte de baixo- justamente a que enche primeiro...Sem sucesso. Falo com uma funcionária do restaurante. Ela aconselha que eu...''procure no andar de cima''. Digo que estou voltando de lá, e ela dá um sorriso amarelo...Mais procura, e uma fila gigantesca vai se formando junto às porções de comida. A massa de funcionários dos escritórios e empresas vizinhas acaba de chegar...Aciono uma outra funcionária do restaurante. Esta foi ainda mais ''genial'': disse que ''o senhor vai ter de esperar''(com os pratos na mão!!!?). Uma nova procura, até que uma cliente me avisa que já está se retirando. Foram 10 minutos de agonia. São estas coisas que a gente mais procura evitar em uma grande metrópole. Uma diferença de poucos minutos pode implicar momentos de ''céu'' ou ''inferno''( este a situação por que passei). O coração ainda batia agitado quando comecei a comer, fruto de tanto desconforto. Mas acalmei a tempo( ou por causa?)de comer a sobremesa de doce de banana cremoso...

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Não se pode ajudar- verdadeiramente- ninguém...

Há duas espécies de ajuda: a material e a moral. Ajudar os outros materialmente é muito mais fácil e viável. Com alimentos, abrigo, roupas, as formas são infinitas e bem variadas. Necessitados, neste plano, não faltam. Mais difícil é ajudar alguém ''por dentro''. Isto porque não se pode dar amor a quem não aceita ser amado, não se pode fazer companhia a quem prefere viver só, não se pode animar quem faz pouco de nossos conselhos, não se pode ''transferir'' um pouco de nossa alegria a quem prefere- de todas as formas- sofrer...Aliás, a ''doença'' mais compartilhada pela humanidade é o sofrimento. Além de todas as formas de sofrer naturais- provocadas por furacões, enchentes, doenças, deficiências físicas, etc.- o ser humano ainda acrescentou inúmeras outras por sua conta. Como diz uma tia: ''viver é fácil, a gente é que complica''...Prendemo-nos ( voluntariamente nos algemamos)continuamente ao nosso mundo particular de ilusões. Nossas estórias, as estórias que estamos contando o tempo inteiro por meio da literatura, dos filmes, das músicas, da TV, da Internet, estão quase todas repletas de dor e de mágoas. Às vezes, é muito mais apropriado deixar alguém ''sofrendo'' do que tentar tirar aquela pessoa da estória que ela escolheu viver, e à qual se apega como uma criança ao seu brinquedinho...O sofrimento vicia...

''Blindness''( Ensaio sobre a Cegueira)

Confesso que não li a famosa obra do escritor português José Saramago. Ou qualquer um de seus outros livros. Nenhuma implicância. Só não li, ainda. Por isto, meus comentários sobre o filme recém-lançado do diretor Fernando Meirelles não podem conter qualquer espécie de comparação- método clássico da crítica- entre a obra literária e a cinematográfica. Assisti ''Blindness'', por isto mesmo, meio ''às cegas'' ( desculpem a piadinha infame, mas há vários exemplos de ''humor negro'' na película, entre eles uma brincadeirinha com o cantor norte-americano Stevie Wonder...). O filme não é fácil. Evitem-no em dias difíceis. Óbvio, uma vez que a estória já foi comentada inúmeras vezes em diversos ensaios e agora nas matérias de imprensa sobre o filme, seria falar que se trata de uma estória sobre uma epidemia de cegueira. Na metrópole do filme( indisfarçavelmente São Paulo: com as cenas gravadas na Drogaria Onofre da esquina da Rua Pamplona com a Avenida Paulista, a referência ao luxuoso hotel Emiliano e as cenas de apressados ''motoboys que arrancam no sinal verde, quase atropelando um pedestre que ainda estava na faixa...), um a um os seus habitantes vão perdendo a visão. Mas não é uma cegueira clássica- aquela em que há uma escuridão completa- e sim uma cegueira em que só se vê uma luz branca no lugar de tudo...O filme, cena após cena, assemelha-se à descida ao inferno de Dante Alighieri. Primeiro o Governo trata de tranqüilizar a população, enquanto os enfermos são instalados em hospitais- sob quarentena. Depois, com a multiplicação dos casos de cegueira, dá-se o pânico, e os locais são definitivamente isolados, como em campos de concentração. Dentro, as pessoas dedicam-se às piores baixarias- como é comum em situações extremas. Um grupo se apodera dos poucos víveres, e aproveita-se do fato- e da posse de uma arma- para chantagear os demais ''internos''. As cenas, incluindo estupros, são fortes. Porém, em meio a tudo isto, também presenciamos comportamentos da mais alta nobreza. De solidariedade, de sacrifício, de amor. Há uma expectativa de redenção. A ''cegueira''( ou barbárie), só em alguns é completa. Alguém não perde a visão, nem a dentro nem a de fora, e acaba se tornando a líder de um grupo de pessoas. As cenas de uma metrópole esfacelada e do caos reinante não ficam a dever em nada aos filmes estrangeiros. Talvez por isto Meirelles tenha optado por diálogos em inglês, com legendas em português. É um filme para exportação...Saindo dali, ainda impactado por tantas cenas com uma forte luz branca, olhei para o céu e, em um dia frio típico de inverno com temperaturas na faixa dos 14/12 graus, tudo estava meio enevoado. Em síntese, branco...Aquelas antenas altas todas da região da Paulista estavam cobertas por uma forte névoa, em um cenário raro e surreal...Filme e cenário ''real'' se juntaram para me dar esta impressão de que ainda não havia saído da fantástica estória. Estaríamos todos, a esta altura, igualmente ''cegos''? Na vida, ao contrário dos filmes, é mais difícil apontar uma ''saída''...

''Hora do Recreio''

Aqueles funcionários engravatados todos, que saem animadamente para o almoço, ocupando quase toda a calçada da Avenida Paulista e arredores com a sua presença e suas vozes ruidosas, mais parecem colegiais na hora do recreio. Contidos que estavam em suas empresas, cujos diretores lêem com avidez os mais recentes tratados de Administração e Marketing, eles mostram com sua atitude o quanto estamos distantes de aplicar no cotidiano as mais modernas técnicas empresariais...''Devemos dar a voz a todos'', ''ambiente participativo'', ''voz ao cliente'', e os funcionários ali, na hora do almoço, aliviados por sair por instantes do ambiente em que, claramente, se sentem intimidados e temerosos...

A oposição acabou?

Este é o título de uma matéria do jornal ''O Globo'' de ontem, 14/9. Na matéria, o senador Sérgio Guerra, Presidente do PSDB, afirma que ''a oposição no Brasil foi revogada, saiu de moda''. Destaque-se que a ''nova postura'' dos partidos de oposição tem até razão de ser: as últimas pesquisas apontam para uma popularidade de cerca de 64% para Lula, inclusive nos grandes centros e lugares outrora refratários como São Paulo. A coluna ''Painel'',da Folha de São Paulo de ontem, estampa como título um surpreendente ''Lula tudo bem''. Segundo a colunista Renata Lo Prete, os tucanos pretendem utilizar em suas campanhas eleitorais o inusitado slogan ''Lula tudo bem. O problema é o PT''. a frase, martelada em um dos comerciais da nova fase da propaganda de Geraldo Alckmin, indica um tom que vai além da campanha paulistana, ditado pelo recorde histórico de aprovação ao presidente em pesquisa Datafolha. O comando do PSDB já sinalizou que fará vista grossa ao esforço de seus candidatos, por todo o país, para se associarem ainda que 'de lado' à imagem de Lula. O mesmo se passa com o DEM, cujo candidato em melhor situação nas capitais( ACM Neto, líder em Salvador)não se cansa de fazer mea culpa pelas críticas do passado e de repetir que, se eleito, terá plenas condições de trabalhar ''em parceria com o Planalto''( nosso grifo). Será então que, salvo as vozes isoladas dos jornalistas Diogo Mainardi e Reinaldo Azevedo- colunistas da revista Veja- viramos então todos ''lulistas''? E isto seria bom ou ruim para o país? Notem que, na matéria de ''O Globo'' há uma voz distoante em todo este processo. O senador Cristovam Buarque ( PDT-DF, ex-membro da bancada petista), ressalta que ''Não dá para negar que Lula avançou, mas sua capacidade de aglutinação representa hoje um retrocesso no nível de consciência do país. Os anos Lula serão lembrados como anos de silêncio intelectual''. Repete-se hoje, com novos nomes, a mesma euforia dos anos da ditadura. Do chamado ''milagre econômico''. ''A economia vai bem, danem-se os escrúpulos''. Note-se que a adesão entusiástica ao governo( qualquer Governo, seja Federal, Estadual ou Municipal)é uma característica típica do brasileiro. As pesquisas revelam que boa parte dos atuais prefeitos candidatos à reeleição tem grandes chances de vitória. Daí a verdade daquele artigo de Diogo Mainardi, comentado aqui, que falava do ''comportamento de rebanho'' de nosso povo. Isto se reflete até no futebol: da ''metade para cima'' do país( centro-oeste, norte e nordeste)quase todos torcem para o Flamengo. QUAL A GRAÇA DE TORCER PARA UM TIME PELO QUAL QUASE TODOS TORCEM? O brasileiro acha graça disto, prefere estar do lado ''da maioria'', do ''lado vencedor''...''Então está ruim?'', vocês poderiam perguntar. Não está ruim, inclusive para mim mesmo. O país vai bem, no sentido econômico da coisa. Continua crescendo. Tem credibilidade lá fora. Mas ainda tem muitos problemas( segurança, saúde, educação, etc.), que não justificam qualquer tipo de ''euforia'' momentânea. O ideal é típico de nações mais evoluídas e civilizadas. O certo é termos eleições polêmicas, concorridas, acirrados debates, ''claques'' organizadas de um lado e de outro. Nestas horas, acho que o Brasil caminha para trás, e dá vontade de ser ''gaúcho''( com bombachas, chimarrão e lenço vermelho)...Mas o brasileiro, - como no Plano Cruzado, no Governo Collor, nos Anos FHC- este gosta de embarcar em massa em qualquer canoa. Até o barco afundar e aí sim, toda a provisória ''maioria'' acordar e subitamente tomar-se de escrúpulos tardios e começar a criticar- como se não tivessem feito parte ''daquilo''. Festa e desilusão. Espero sinceramente que não afunde mais uma vez, já que estou nele. Mas quando quase toda a tripulação e os passageiros se movimentam em um só sentido de um navio- desequilibrando-o- nestas horas é difícil manter-se à tona...Já afundamos moralmente, este é o sentido das sábias palavras do senador Cristovam Buarque, um primeiro passo para o naufrágio definitivo. Nestas horas, é melhor treinar para uma virtual sobrevivência na ilha de Lost...

''Faça o que eu digo, mas não o que eu faço''

Segundo a mais recente edição da revista de negócios ''Dinheiro'', o governo Bush acaba de tomar o controle das duas principais companhias de crédito imobiliário dos Estados Unidos, a Fannie Mae e a Freddie Mac, injetando a bagatela de US$ 200 BILHÕES para evitar a quebra das duas. Segundo o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Henry Paulson, ''Fannie Mae e Freddie Mac são tão grandes e tão entranhadas em nosso sistema financeiro que a quebra de qualquer uma delas poderia causar uma grande turbulência nos mercados aqui e ao redor do mundo''. Certo. Mas surpreendente, tendo em vista que os americanos tradicionalmente se dividem em 3 posturas ideológicas, apenas 2 delas representadas nestas eleições: a primeira, a dos chamados lá de ''libertários'', defende a desativação quase que por completo do Estado, salvo uma ou outra função essencial como segurança( o Estado é um ''mal'', eles dizem, ''o Estado mais prejudica do que auxilia a sociedade, que pode auto-regular-se de modo muito mais eficiente'': o pré-candidato republicano Ron Paul defendia esta tese do ''Estado Mínimo'', que em outras partes do mundo identificamos com a ideologia Liberal ''clássica''); a segunda posição- estigmatizada como ''liberal'' pelos conservadores norte-americanos- é representada pelos democratas como Hillary e Obama: mais taxação sobre os ''ricos'', mais gastos sociais em prol da pobreza, maior intervenção do Estado na área econômica, sob a justificativa de que ''o mercado não é capaz de auto-regular-se''; e, enfim, a posição dos republicanos, tradicionalmente ligados à tese de ''menos impostos e menor intervenção do Estado na economia'' mas, concomitantemente, mantendo o peso e a força do Estado em setores como o das Forças Armadas, prontas para intervir em qualquer conflito ao redor do mundo. A vida nos reservou esta surpresa de ver justamente os republicanos, tão partidários da tese de ''não intervenção, e menos impostos'', injetarem até agora quase MEIO TRILHÃO de dólares para salvar a economia norte-americana...''Alguém terá de pagar esta conta'', deveria estar se perguntando o eleitor médio daquele país, ao invés de ler comentários sobre a beleza e o novo corte de cabelo da vice republicana Sarah Palin- uma grande jogada de marketing...''Alguém irá pagar esta alta conta'', e toda esta dinheirama terá de sair de algum lugar. É melhor, a esta altura, que os republicanos passem a dar menos ênfase a esta estória de ''menos Estado, menos impostos''...

domingo, 14 de setembro de 2008

Operações de guerra...

Calma, não estou falando de Sarah Palin e seu grupo de ''falcões''( linha dura) republicanos...Ontem, em Moema, vi uma estranha agitação em frente a uma conhecida loja de móveis. Os carros estavam ''estacionados'' em 3 fileiras- melhor dizendo, colocados uns atrás dos outros- enquanto um grupo de manobristas os recebiam dos clientes, parados em uma considerável fila. Eis uma coditiana ''operação de guerra'' na cidade de São Paulo...O espaço era pouco. Não sei como eles faziam para tirar aquele carro posto lá na frente, tirando os dois ou três logo atrás. Mas a complexidade destas manobras dá uma idéia do que é fazer compras, comer, passear por aqui. Hoje em uma ''padoca''( padaria) da moda, no caminho para o Parque da Aclimação, deparei com outra operação grandiosa do gênero. Os carros por toda a calçada, impedindo a passagem de pedestres, enquanto o grupo de manobristas fazia movimentos frenéticos para estacioná-los ou entregá-los para os clientes. Na hora do almoço, na reformada rua Avanhandava, reparei que a cantina Mancini tinha cerca de 10 manobristas, todos vestidos de verde e posicionados um ao lado do outro- prontos para entrar ''em ação''. Tudo muito eficiente, e geralmente ''invisível'' para os beneficiários. Milhares de pessoas trabalham só neste setor, que garante a viabilidade de outros milhares de estabelecimentos. ''Operações de guerra'' do dia-a-dia de uma grande metrópole. Para quem paga resta também um verdadeiro ''rombo'' no orçamento: são dez( reais)aqui, dez ali...

Vendedores de ilusões( e sabonetes)...

O que foi o lançamento da candidata a vice de George Bush III, digo John McCain, senão uma genial jogada de marketing? Já questionamos aqui a ''inatacável'' candidatura de Obama que, ao que tudo indicava e quase todos esperavam, em meio a discursos triunfais para estádios lotados e ao apoio generalizado das mega-estrelas de Hollywood, caminhava a largos passos para uma esmagadora vitória. Só esqueceram de combinar com os adversários...Lembram-se dos massivos desfiles nas ruas de militantes com camisas e bandeiras vermelhas nas sucessivas derrotas de Lula e do PT? Derrotados por hordas de ''invisíveis'' cansados de tanta ''agitação''? Obama foi incensado pela mídia, e depois ''feito em pedacinhos''. Diante de sua figura, inúmeros cidadãos- inclusive jornalistas- desmanchavam-se em lágrimas diante daquele que parecia a materialização de um ''sonho''. O sonho de uma América multi-racial, da ''mudança'', e de um mundo sem guerras. Obama é ''o cara'', as pessoas ''sentiam''. E não havia argumento político, da parte de seus oponentes, que pudesse se contrapor a isto. Então os republicanos, que aliás quase sempre mantiveram-se próximos nas pesquisas mesmo nos piores momentos, decidiram retrucar o ''marketing'' com outro ''marketing''. Lançaram, para surpresa geral, uma mulher ( na tentativa não sutil de captar os votos de eleitoras de Hillary descontentes)''caipira'' do Alaska. Pasmo geral: uma ex-miss, bonitinha, e ''desbocada''. Assim como parecia quase impossível atacar um negro muito popular, qualquer ataque a uma mulher interiorana será tomado como uma ''ofensa pessoal'' por seus adeptos. As idéias de Palin, porta-voz da ala mais radical do partido republicano, não estão em questão. Desde sua indicação na convenção republicana, ela comete ''gafe'' após ''gafe''. Diz que o aquecimento global ''não importa''. Defende o uso de armas contra a Rússia de Pútin. Quem se importa? Palin sacudiu o que parecia um pleito modorrento e tedioso. Deu voz a todos aqueles que estavam calados até então: os evangélicos, os grupos contra o Aborto, contra o ''casamento gay'', contra o sexo antes do casamento. Os comícios republicanos mais parecem shows agora, com todos aqueles novos ''fãs'' de Sarah Palin...Contra Obama, o ''rei sol'', levanta-se toda uma América escondida nas ''sombras''. Uma América rancorosa e isolada do resto do mundo e, talvez por isto mesmo, incrivelmente forte e auto-confiante. Quem quer saber de idéias e programas políticos, afinal? Os democratas ascenderam pelo uso de competentes técnicas de marketing, do predomínio da ''emoção'' em detrimento de argumentos políticos ''racionais'', e podem perecer vítimas do próprio remédio...Nada, a não ser a sutil manipulação, é capaz de explicar as súbitas ''guinadas eleitorais'' que estamos presenciando em toda parte. Um candidato ''cai 10 pontos'' em uma semana, enquanto seu adversário ''sobe 12''. Políticos são vendidos como sabonetes, com o uso das mesmas técnicas. Sabem o ''ÃO'', da propaganda do ''Estadão''? Um marqueteiro fez uma versão parecida, rimando Alckmin com ''SIM''...A campanha da Marta Suplicy é quase a mesma- à exceção do competente bordão ''deixa o homem trabalhar''- da de Lula. E Kassab, o atual prefeito, dobrou suas intenções de voto com um programa, e principalmente, com um marqueteiro competente. Vá lá tentar conversar com alguém que ''sente'' que tal político é ''legal'', ''competente'', ''honesto'', ''realizador''. A emoção, exacerbada e manipulada, representa o fim de qualquer possibilidade de diálogo. ''Liberais'' tendem a ouvir/ler seus parceiros ideológicos, e ''conservadores'' idem. Nos fechamos em guetos, grupelhos, do qual só somos retirados e agitados um pouco pelas técnicas de mídia...PS: Agora Palin está no centro do palco, e terá sua vida vasculhada pelos ''tubarões'' da imprensa. Obama ainda não está morto. Provavelmente prepara um fulminante contra-ataque ''midiático'', nos mesmos moldes impactantes utilizados na Convenção Republicana...

''Cavalo Paraguaio'' gaúcho?

Quando todos já pareciam apontar o Grêmio como provável campeão brasileiro deste ano, eis que a equipe gaúcha apronta uma destas: perde para o Goiás, por 2 a 1, em pleno estádio Olímpico...Note-se que o tricolor gaúcho vem em declínio, e não é de hoje. Nos últimos 7 jogos, segundo um comentarista do Sportv, fez cerca de 10 pontos em 21( menos de 50%, sem contar nestas estatísticas a derrota de ontem...). Após a impressionante ascensão do Botafogo, sob o comando do competente Ney Franco, não está longe o momento em que gaúchos e cariocas( sem descartar também os mineiros do Cruzeiro e os paulistas do Palmeiras)provavelmente se equivalerão em número de pontos na tabela...Entre altos e baixos destas equipes todas do chamado ''G-4'', o Brasileirão está mais indefinido do que nunca. E o São Paulo, será que não engrena mais?

Fragmentos...

Antes da projeção de um dos filmes da Mostra Alain Resnais, no CCBB de São Paulo, um espectador vira-se para o vizinho e fala: ''99% do que é visto neste país, a título de cinema, é LIXO. Não fossemos nós, não fosse isto aqui, e estaríamos entregues à barbárie...''. Gostaria de tê-lo contraditado publicamente, na hora, mas está difícil...A peça ''Dois Irmãos'', baseada no romance do escritor amazonense Milton Hatoum, é boa. Mas, quando consultei o relógio ao final da apresentação, constatei que sua duração é de incríveis DUAS HORAS...Talvez por isto ouvíssemos sonoros, vindos evidentemente da platéia, bocejos...Será que não dava para ter condensado a interessante peça em menos tempo??? Enquanto isto, finalmente temos um inverno ''com cara de inverno''. Com garoa, tempo em declínio e sem perspectiva de sol para os próximos dias. Eufórico eu encerro por aqui estas pequenas reflexões, e corro para baixo das mantas...

''Perigo! Batata frita''

Nas bancas, a Revista ''Época'' circula esta semana com reportagem de capa sugestiva ligando 3 recentes iniciativas- a chamada ''Lei Seca'', uma Lei Estadual paulista que proíbe o fumo em qualquer lugar fechado, público ou privado, e a intenção do Ministério da Saúde de estabelecer um prazo entre 3 e 5 anos para que 100% dos alimentos fabricados no país deixem de utilizar gordura trans. O tom da matéria é ''choroso'' e tendencial: o objetivo( aliás qual seria o propósito por trás de tal ''reportagem''? Um propósito público, o de defender liberdades ''ameaçadas'', ou simplesmente veicular o pensamento de anunciantes privados atingidos por tais medidas?)aparentemente é o de alertar para as crescentes intervenções ''do Estado'' na vida dos indivíduos. Uma foto mostra um bar semi-vazio na outrora ''badalada'' Vila Madalena, aqui em São Paulo, seguida da informação de que o movimento em lugares semelhantes ''caiu 40%'' . Os bares estão se esvaziando cerca de 1, 1 e meia da manhã, vejam só que ''absurdo''! Detalhe: na vizinha Diadema, com o propósito de combater a crescente criminalidade, implementou-se uma Lei Municipal forçando os bares a fechar MEIA-NOITE. Os resultados foram marcantes...O fato é que, enquanto nos gabinetes de Brasília defende-se a exdrúxula tese de que estamos vivendo- graças à proliferação dos chamados ''grampos'', escutas telefônicas clandestinas- em um ''Estado Policial''(???!), na realidade o Estado nunca foi tão enxuto neste país. Atividades típicas de Estado foram transferidas- aliás com grande êxito- para as mãos da iniciativa privada nos últimos anos: saúde, educação, manutenção de rodovias, mesmo segurança( com a proliferação de um verdadeiro ''exército de seguranças profissionais'' , paralelo ao das forças de segurança oficiais, nos grandes centros do Brasil). Estas seriam as chamadas ''funções típicas de Estado'', uma verdadeira justificação moral e ética para a existência do mesmo. Se não cumpre bem sequer estas funções...deixa pra lá...O fato concreto é que, ao lado destas funções, o Estado também exerce uma Função Reguladora. Amparado no que em Direito chamamos de ''Poder de Polícia''. O Estado, órgão impessoal que é, não tem interesses ''próprios''( pode ser manipulado para defender o interesse de grupos particulares ou de seus dirigentes, mas aí já é outra conversa...). No ''Poder de Polícia'' o Estado- que em um Estado de Direito democrático é a representação eleita do povo- pode restringir/limitar direitos ou prerrogativas de indivíduos ou grupos de interesse em prol dos interesses maiores da coletividade. É o chamado conflito entre interesse público X interesse particular. Enfatizamos que o poder é de limitar, não de extingüir...As iniciativas apontadas pela revista Época na matéria das ''batatinhas fritas'' não passam, afinal, de legítimas iniciativas- seja do Parlamento livremente eleito pela população ou do Poder Público- no campo de sua atuação regulatória. A Lei Seca pode até ter sido proposta pelo Governo, mas foi encampada por uma maioria parlamentar e votada. Hoje, em decorrência disto, não é mais uma simples interferência ''do Governo'' na vida do cidadão, como quer fazer parecer a revista Época, e sim uma política pública no interesse da maioria da população. Os resultados estão aí, e foram muito maiores que o esperado. Os brasileiros entenderam o sentido da Lei, e a apóiam em grande número. A proibição do uso de cigarros em lugares públicos ainda é um projeto de lei, de iniciativa do Governador José Serra, mas já obteve, segundo uma pesquisa, o apoio de 90% das pessoas. Note-se que iniciativas como a da proibição da gordura trans, altamente lesiva à saúde aliás, nos alimentos são corriqueiras em outros países. Nos Estados Unidos, por exemplo, uma nação altamente ciosa das liberdades individuais, discute-se a proibição de alimentos gordurosos nos lanches das escolas. Não sem razão: nos últimos anos, diversas redes de ''fast food'' infiltraram-se no ambiente escolar através de ''convênios'' com as direções das escolas. O resultado é que atualmente CRIANÇAS estão apresentando elevados níveis de colesterol...Problema particular? Não, de saúde PÚBLICA...Ingleses já restringiram o horário de funcionamento dos bares há muito tempo. Diversos países do mundo aplicam sanções ainda maiores e mais severas que as nossas em relação ao uso de álcool na condução de veículos motorizados. O que a revista Época faz nesta tendenciosa e simplista ''reportagem'' é na verdade, sabe-se lá movida por que espécie de interesses, talvez simplesmente o de ''fisgar'' leitores desavisados com uma capa ''chamativa'', um desserviço à população e, em particular, aos seus leitores. Esperamos que este discurso liberal ''clássico'' - ''até que ponto o governo deveria controlar a nossa vida?""- não encontre eco nos Gabinetes lá de Brasília, em particular nos Tribunais...

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Inteligência

O mundo parece dividir-se entre aqueles que consideram que nossos jovens estão se tornando mais inteligentes, e os que simplesmente acham o oposto...Não há meio termo no que concerne a este polêmico tema...Este não é um artigo científico. Analisaremos posteriormente a revista ''Superinteressante'' deste mês, que fez um número especial muito bom só sobre este assunto. Refletimos aqui sobre o contexto da Web, e o desenvolvimento ou não da chamada ''inteligência''. Consideramos esta muito mais do que a simples acumulação de dados- o ''decoreba''. Ser inteligente, em um mundo em contínua e acelerada transformação, significa ser capaz de elaborar perguntas que nos levem ás respostas que queremos. Critica-se a popular prática de elaborar trabalhos escolares com base em textos na Internet. Isto seria um risco, realmente, caso se considerasse verdadeiro tudo o que há na rede. O Google virou atualmente um verbo: ''to google'', em inglês. Você faz a pergunta, e ele te proporciona com incrível rapidez uma imensa massa bruta de informações. Que vão de sites conhecidos até micro-sites como o nosso( e não pense que não nos beneficiamos disto: pela primeira vez na História ''anônimos'' podem se encontrar em pé-de-igualdade com ''famosos'' e grupos gigantescos de mídia...como costumamos falar sobre ''tudo'', sempre há alguém novo interessado por um destes temas que estamos a lançar continuamente ao cosmo...). O fato é que há uma multidão inédita de pessoas na Rede FAZENDO PERGUNTAS. Como isto poderia ser ''ruim''? Podem me chamar de ''otimista'' em excesso, mas creio firmemente que ''quem procura acha''. Quem busca, continuamente, acaba encontrando o que tanto procura. Quem pergunta, por mais débeis e frágeis que sejam as questões, acabará- inexoravelmente- encontrando as respostas e as saídas. ISTO PORQUE ESTAMOS TODOS LIGADOS, E TUDO ESTÁ CADA VEZ MAIS NA REDE...Lembram-se do texto sobre ''pensamento fixo'' e ''pensamento construtivo''? Nele, mais especificamente no livro que o gerou- ''Por que algumas pessoas dão certo e outras não?"- são expostos exemplos de pessoas qualificadas muito cedo como ''promissoras'', e que acabam vergando sob o peso de tantas expectativas. E outras meramente esforçadas que, com trabalho duro e contínuo, acabam ocupando as mais altas posições. O segundo tipo, os meramente ''esforçados'', estes não tem medo de fazer perguntas- porque ''não sabem'' as respostas, ao contrário dos ''gênios''...Indagar continuamente, fazer perguntas o tempo todo- seja qual for a nossa área- acaba sendo um maravilhoso ''caminho para o sucesso''...Acho que, a esta altura, você já entendeu qual é o nosso posicionamento sobre aquela perguntinha lá do início deste texto: ''nossos filhos estão ficando mais inteligentes ou mais burros com a Internet?". Mais ''inteligentes''- porque estão fazendo perguntas- embora ainda não saibamos com precisão onde vai dar todo este processo. A verdadeira ''inteligência'' é saber que não há nada pré-determinado. Que não há ''segurança''. Que não há caminho sem riscos. E que o caminho, mais do que um simples ''meio'', é ''o resultado''. Caminhar, pôr-se em movimento contínuo, é ''a meta'' nos dias de hoje. Só ''fracassa'' quem fica parado...E para de fazer perguntas...

terça-feira, 9 de setembro de 2008

O Paradoxo da Escolha...

No post anterior- ''O Paradoxo da Mudança''- examinamos como épocas de mudança são aquelas em que, paradoxalmente, as pessoas menos querem saber de mudanças. Isto porque, quando a nossa sobrevivência está em risco, este é o momento em que estaremos menos propícios a ouvir falar em ''novos métodos'' e ''novos rumos'', uma vez que já estamos no meio destes ''novos tempos''! E com a nossa cara- e outras coisas mais- exposta na janela para todo mundo ver( e jogar ovos, frutas estragadas, entre outras coisas mais...). Daí que a recessão de 29 conduziu ao nazismo e ao fascismo, ideologias conservadoras, e que a ''revolução jovem'' dos anos 60 foi feita em anos de ''bonança'' e criação de empregos...O ''paradoxo da escolha'' advém do fato de que, quanto mais coisas são postas à nossa disposição, temos mais tendência a escolher as mesmas coisas que sempre escolhemos...Peguemos as marcas de cigarro. Qualquer tabacaria de hoje tem dezenas de marcas de cigarro diferentes, com todas aquelas sub-divisões( mentolado, light, etc...). As mais vendidas, eis uma comprovação deste ''paradoxo da escolha'', são apenas umas 4 ou 5...Nenhuma novidade, apenas as mesmas marcas que já eram sucesso quando tínhamos ao todo apenas 4 ou 5 marcas...Claro que não podemos generalizar. Algumas pessoas, uma minoria, são movidas a novidades. Querem sempre experimentar, provar coisas novas. Para estas, o ideal é viver em um grande centro. Nunca estarão enjoadas...No entanto, existem muitas outras pessoas para quem a quantidade ''confunde'' ou ''cansa''. Para estas, existem partidos e candidatos ''demais'' para escolher. Existem também produtos ''demais'' nos mercados, e elas acabam, intimidadas, levando a mesma marca de sempre...Para elas, os muitos canais de TV a Cabo intimidam. E elas, caso algum dia assinem alguma destas TV's, acabarão sempre escolhendo 2 ou 3 entre os 90 que existem( exemplo brasileiro...Paulo Francis falava de 500 opções lá em Nova Iorque...). Internet? Nem pensar. ''Só em ter de escolher entre aqueles trilhões de sites...''. Há muito a humanidade se divide entre cidades ''abertas''- muito mais prósperas e progressistas- e ''fechadas''. O primeiro povo ''aberto'' foi o Fenício, lá onde se situa hoje o Líbano. Não por acaso uma nação de comerciantes...Seus navios percorriam toda a região do Mediterrâneo, boa parte do mundo à época. Roma, em decorrência de suas conquistas, acabou se tornando uma cidade ''aberta''. Seu progresso adveio disto. Como crescer e prosperar sem diferenças ou oposições internas? A América, cujo maior símbolo é a Estátua da Liberdade, cresceu acolhendo pessoas de todas as etnias, vindas de todas as partes. Nenhum outro povo muito ''homogêneo'' conseguiu sequer aproximar-se das vitórias norte-americanas. O melhor de se viver em um lugar livre é ter o direito de escolha. Poder optar entre milhares de produtos diferentes, todos lutando implacavelmente entre si por um lugar ao sol, e poder sobretudo escolher entre ideologias e candidatos diferentes a cada eleição. Tudo isto parece um ''caos'' para mentes limitadas, mas é um ''caos construtivo'' que acaba dando certo ao final- caso contrário já estaríamos todos mortos...Os soviéticos almejavam, por volta do final dos anos 50 e início dos 60, ''conquistar o mundo''. Hoje os produtos escassos dos mercados de ''propriedade do povo'' são apenas peças de museu...Quem venceu? Justamente aqueles que tinham sonhos para oferecer, e escolhas, muitas escolhas para preencher as nossas mentes. O ''paradoxo da escolha'' acaba se ligando ao ''paradoxo da mudança'': ambas são formas de tentar negar o momento único que estamos atravessando. No ''mundo plano'' de hoje tudo está ligado. Estamos todos, por isto falei outrora aqui em ''neodarwinismo'', disputando uns com os outros. Como indivíduos, e como nações. A vida não perdoa aqueles que vivem dos ''louros'' de conquistas passadas. O que você, ou seus compatriotas, não querem fazer, saiba que há milhões de ''chinezinhos'' ávidos para tal, por um décimo de seu salário...Diante das mudanças, todas estas mudanças conexas em um processo histórico irreversível, temos duas opções: temer e recuar diante dos riscos envolvidos, ou mergulhar ''de cabeça'' na corrente das mudanças. Aqueles que optarem pelo segundo caminho sairão( já estão se saindo, aliás)vencedores. Bem-vindo ao mundo da ''mudança perpétua'', a mudança continua em permanente estado de (auto)transformação...Não há nada a temer, pois já estamos dentro deste processo de ''revolução permanente'', lutando para manter nossas cabeças sobre as águas...Querer mais, e diferentemente, abundantemente, é a regra no mundo de hoje, ao qual os mais jovens parecem se adaptar com muito mais facilidade...E sem falsos dilemas ou ''paradoxos''...

O Paradoxo da Mudança...

Mudança é, e sempre foi, a palavra ''mágica'' em época de eleições. Aqui, e em todas as partes. ''Change'' é o slogan predileto de Obama e, para surpresa de muitos, até mesmo os republicanos parecem ter descoberto o efeito desta simples palavrinha. Em conseqüência, o discurso de McCain na convenção republicana se assemelhava ao discurso de um feroz oposicionista, contra os ''burocratas de Washington''( OBS: John McCain é senador em Washington há muitos anos...)e pela ''mudança''. Se, aparentemente, todos queremos a ''mudança'', quais podem ser os obstáculos? E mais: será que as pessoas querem mesmo as tais de mudanças? Vejamos um exemplo no mundo da ficção. Imagine que você é um náufrago, e foi parar em uma ilha deserta do Pacífico. É de se imaginar que você- e os demais membros da tripulação e passageiros do seu navio, avião, etc. - queira por todos os motivos voltar para casa. Certo? Errado. Em ''Lost'', seriado de que acabei de assistir todos os episódios da Primeira Temporada e brevemente iniciarei a segunda, nem todos tem uma reação tão previsível. Aqueles que mais abraçam a mudança, e se sentem como ''peixes dentro d'água em meio às incertezas e perigos do destino( como o personagem ''John Locke''), representam ,na verdade, uma minoria. O filho de outro personagem- ''Michael''- chega, sugestivamente, a botar fogo no primeiro barco que eles constroem para escapar da ilha...O motivo: ele está farto de tantas ''mudanças''( dos Estados Unidos para a Inglaterra, e depois para a Itália e, enfim, para a Austrália...!). O medo de uma nova mudança pode fazer com que queiramos queimar a nossa única chance de escapar de uma ilha deserta no meio do nada...''Mais vale'', na cabeça destas pessoas, ''um pedaço de solo firme embaixo de nossos pés''- mesmo que seja em uma ilha!- do que correr o risco de uma nova aventura...É por isto, exatamente por isto, que a mudança tão apregoada por muitos acaba, na verdade, sendo característica de poucos. MUDANÇAS TEM PREÇO, ÀS VEZES BEM ALTO...As mudanças drásticas que o mundo experimentou após a crise de 29 nos Estados Unidos geraram, como conseqüência imediata na Alemanha, um exército de novos seguidores e eleitores para os nazistas...Quando as coisas apertam, quando a crise se avizinha, na verdade este é o momento em que, embora da boca para fora continuem defendendo novidades, as pessoas menos querem saber de qualquer espécie de mudança...Nem toda mudança é fácil, nem toda mudança é para melhor...É por isto que, em meio a uma das maiores crises de todos os tempos com o fechamento de inúmeras empresas e o surgimento de milhões de novos desempregados, a América tradicional- aquela do interior, das regiões produtoras de alimentos, das inúmeras cidadezinhas- morre de medo, na verdade, de qualquer tipo de mudança. Justamente por estarem em meio a uma das maiores mudanças de todos os tempos...Os chineses, ao contrário, embarcaram com tudo no trem das mudanças. E destroem cidades inteiras, se necessário, para construir uma nova hidrelétrica ou estrada...Este é o preço, caro, que se paga por uma mudança. Vá perguntar para os camponeses da China se eles estão gostando de todo este processo...Não, porque eles estão ''pagando um alto preço'' pelas mudanças tão benéficas para os habitantes dos grandes centros...E o Brasil? O Brasil sofreu uma das maiores mudanças de sua História há quase duas décadas. O Governo Collor, reconheça-se este que foi um de seus poucos méritos, abriu o mercado para produtos importados. O Brasil, na sua opinião, precisava de um ''choque de modernidade''. Collor abriu, e os demais governantes não tiveram coragem de fechar as portas novamente...As pessoas gostaram de ter acesso a bons produtos, a preços mais acessíveis...Todos queremos o ''novo''. Todos queremos ''mudar''. O paradoxo da mudança, tema deste post, é que- quando vivemos tempos de ''Revolução Permanente'', em que a mudança, mais do que novidade, faz parte indissoluvelmente do nosso dia-a-dia- todas estas dolorosas mudancinhas nossas de cada dia vão minando cada vez mais a nossa vontade de experimentar...E a curiosidade, com o risco de ''errar'' ou ''acertar'', é o alicerce de qualquer processo de mudança digno do nome. Por isto fala-se tanto em ''mudanças'', prega-se tanto as ''mudanças'' em qualquer Manual de Negócios digno do nome, promete-se tanto as tais das ''mudanças'', e a maior parte das pessoas- como aquele simples garotinho lá de ''Lost''- quer mais é queimar as poucas balsas que podem nos salvar deste pequeno pedaço de solo no ''fim de mundo''...Pequeno mas ''nosso'', e ''firme'' ( até que chegue a primeira maré e alague toda a nossa ''ilha'', a ''ilha'' das nossas certezas e convicções). Pergunto: quem quer mudar? Cuidado, é ''arriscado''...

Pensando ao contrário...

Nas livrarias, há tempos que o livrinho com as letras invertidas na capa chamava a minha atenção. Até o momento em que deparei com um não plastificado, e comecei a lê-lo ao acaso. Foi impossível sair da loja sem levar um...Simplesmente TUDO tinha um enorme significado... Eis uma obra de difícil classificação, dada a sua utilidade para executivos, estudantes, profissionais de todas as áreas, qualquer um que queira aperfeiçoar sua vida. O autor, Paul Arden, não é modesto: ao lado de seu nome, na capa, há a informação de que ele é o ''autor do livro mais vendido do mundo''. Será este? Seria este ''Tudo o que você pensa, pense ao contrário''? Selecionamos um pequeno trecho, para dar ''água na boca'' aos nossos leitores: ''NÃO EXISTE UM PONTO DE VISTA CERTO: Existe um ponto de vista convencional ou popular. Existe um ponto de vista pessoal. Existe um ponto de vista amplo que a maioria compartilha. Existe um ponto de vista insignificante que apenas poucos compartilham. Mas não existe um ponto de vista certo. Você está sempre certo. Você está sempre errado. Depende apenas do pólo a partir do qual você é olhado. Avanços em qualquer campo se baseiam em pessoas com o ponto de vista insignificante ou pessoal'' ( páginas 78/79). Isto combina com o meu jeito de pensar. Só que eu usei inúmeros textos para tentar transmitir esta mensagem tão bem condensada pelo autor Paul Arden neste ''livrinho'', e neste pequeno trecho... Eis uma bela prova do velho ditado: ''os melhores perfumes vem nos menores frascos''...Para concluir este post, o texto ''ROUBE: Roube de qualquer lugar que resulte em inspiração ou incendeie sua imaginação. Devore filmes, música, livros, pinturas, poemas, fotos, conversas, sonhos, árvores, arquitetura, placas de rua, nuvens, luz e sombras. Escolha para roubar apenas coisas que falem diretamente á sua alma. Se fizer isto, seu trabalho( e roubo)será autêntico. A autenticidade é inestimável. A originalidade não existe. Não se dê ao trabalho de ocultar seu roubo- celebre-o se quiser. Lembre o que Jean Luc Godard disse: ' Não importa de onde você tira as coisas- importa é para onde você as leva'. Ao final Paul Arden acrescenta, em letras minúsculas: ''Roubei isto de Jim Jarmusch'' ( cineasta norte-americano). Este texto ''Roube'' está na página 94...Aos que acharem caro um livro que custa, no Brasil, R$29,90, um lembrete: ele vale muito mais do que isto...Se eles optassem por uma edição ''baratinha''/''popular'', teriam de cortar boa parte das inúmeras ilustrações que fazem parte desta bela e inspiradora obra...PS: Título em inglês- ''Whatever you Think, Think the Opposite''. Edição brasileira: Editora Intrínseca, Rio de Janeiro, 2008.

domingo, 7 de setembro de 2008

Com a cara na parede...

Não sou um planejador. Segundo uma amiga nissei, no exterior as pessoas adquirem ingressos para espetáculos musicais com mais de um ano de antecedência. Certamente alguns meses no caso da Sala São Paulo de música clássica. Eu prefiro ler um dos suplementos culturais que são publicados nos jornais locais às sextas-feiras, que levo para cima e para baixo, e escolher na base da ''intuição''. Se é bom para mim? Até agora tem sido, mas de vez em quando tem seus inconvenientes...Uma semana atrás fui assistir uma mostra de cinema uruguaio no Memorial da América Latina. Enquanto fazia hora, decidi passar no Sesc mais próximo para garantir, com algumas HORAS de antecedência, um ingresso para uma peça que está em cartaz na unidade provisória do Sesc na Avenida Paulista. ''Cordélia Brasil'', com Maria Padilha. A moça do Sesc olhou a telinha do computador, olhou, ligou para um superior, e informou que ''não havia mais ingressos para a peça''. E amanhã, eu perguntei? Ela olhou novamente, e estava tudo reservado! Olhou uma semana após, justamente este final de semana, o último da peça em cartaz, e também nada de ingressos...Voltei contrariado para o Memorial da América Latina e, após cerca de meia hora de espera, alguém informou que ''o rapaz encarregado da exibição do filme ainda não havia chegado''. Fui embora consolar-me na Livraria Cultura do (Shopping)Villa Lobos...Hoje aconteceu algo parecido. Me programei desde sexta-feira para uma mostra de todos os filmes de Alain Resnais no CCBB/SP. Definitivamente Resnais não é um cineasta ''popular'' em terras brasileiras, apesar do imenso sucesso da película ''Medos Privados em Lugares Públicos''- já comentada neste blog. Porém o cineasta ''cult'' francês, em uma cidade do porte de São Paulo, e foi o que duramente descobri, é bem capaz de atrair cerca de 100 fãs de sua obra. Ainda mais em um domingão à tarde...Mesmo chegando com uma hora de antecedência ao CCBB, situado nas imediações da Praça da Sé, em uma verdadeira ''operação de guerra'' em que saí apressado do restaurante e peguei um táxi para deslocar-me, os ingressos já estavam esgotados...''Quem manda não planejar'', já ouço sua voz recriminando-me. A mostra está só começando: terei uma nova oportunidade na próxima sexta-feira de ver os mesmos filmes que perdi hoje. Mas tudo isto só ilustra a dificuldade que é viver em um lugar cheio de gente...A Mostra de Cinema de São Paulo também está chegando e, desta vez, talvez seja hora de um pouco mais de ...planejamento...Quem vive por aqui sabe o quanto faz diferença uma escolha mais apropriada de horário( chegar aos restaurantes uma da tarde ao invés de três; assistir a primeira sessão de cinema dos domingos, ao invés da super-lotada segunda sessão; deixar para ir ao cinema durante a semana, de noite, ao invés de nos finais-de-semana). Todos estes são pequenos detalhes que, somados, podem fazer a diferença entre um programa bem-sucedido e outro não...PS: Para ''chorar as mágoas'' dirigi-me a uma ótima doceria francesa nas imediações da Avenida Paulista- chamada ''Patisserie Douce France''- com telhado de vidro e mesas com uma bela visão da rua. Detalhe: o sorvete deles, sensacional, é de FABRICAÇÃO PRÓPRIA...Tem sabores ''café'', ''avelãs'', entre outros. Eles também fazem chocolates, doces e tortas incomparáveis. Porém mesmo aqui, em um domingo à tarde, só havia uma mesa. Dentro da doceria, sem visão de fora nem teto de vidro...Quem manda não planejar as coisas???!!!

Mudanças no Blog?

O maior risco de ser prolixo é que sempre é possível encontrar alguma coisa que já dissemos em sentido contrário do que estamos defendendo hoje...E se, em uma vida inteira, as pessoas já se chocam com as nossas guinadas( já dizia o grande Raul: ''prefiro ser uma metamorfose ambulante''...), é engraçado constatar que, mesmo em um blog despretensioso de pouco mais de um ano, as mesmas coisas também acontecem...É assim que o amigo ''dudaleu'' - ao melhor estilo do crítico de cinema do ''Estadão'' Luiz Carlos Merten, que tem um blog quase só de textos e com apenas UMA imagem- coloca-se totalmente contra a idéia de postar minhas fotos neste blog. ''Faça um outro blog só com imagens'', sugeriu. E ainda ''ameaçou'' apontar a ''incoerência'' desta minha atitude em relação ao texto apaixonado em que defendi a força das palavras...Antes uma explicação: todo este diálogo foi travado por email. Mesmo os meus conhecidos, sabe-se lá por que, ficam intimidados com a simples idéia de opinar neste blog. Eles, talvez muito mais informados e fundamentados do que eu na minha ''ingenuidade'' de expor-me em público, tem ''medo''. É assim que recebo seus comentários por email, e o blog continua como no início: ''imaculado'', ''virgem'' de opiniões e comentários, exceto as de seu megalomaníaco e paranóico criador...Posso- não só posso como ''sei'' que isto já acontece em grande quantidade- estar falando as maiores bobagens aqui, e que o silêncio pode simplesmente ser apenas uma forma educada de não nos contarem o ''mico'' que estamos pagando...Enfim, a idéia do amigo foi a de criar- algo muito mais próximo a partir do momento em que comprei outro celular para tirar as minhas fotos e postá-las por aqui- um ''blog de fotos''...Uma outra idéia que passa por minha cabeça é a de um blog em língua inglesa. Algo bem factível, uma vez que sou capaz de ler textos nesta linguagem, e fiz um curso há muitos anos de inglês. E até entendo alguns trechos de filmes e programas sem legenda. Só não vão- como nas provas do Itamaraty, em que eles vão ''descontando'' cada pequeno erro até chegarmos a um resultado próximo de zero...- esperar que eu tenha a mesma facilidade do Português nativo. Talvez não seja um desastre completo em relação ao que é postado na Internet por estes dias...Enfim, concluindo, idéias não faltam. Talvez seja mais apropriado testá-las aqui, e esta é a minha grande diferença em relação ao amigo, do que dispersar todos estes pequenos esforços na criação de uma série de ''micro-blogs'' relacionados mas nem tão conhecidos...Mudanças virão, é certo, mas em dosagens homeopáticas e microscópicas. O maior ''defeito'' das pessoas mais velhas é que elas costumam repetir-se automaticamente, sem pensar. Os mais jovens não: embarcam ''de cabeça'' em qualquer nova ''onda'', e não tem medo de experimentar coisas. Será que isto é ''bom''? Ou ''ruim''? Idéias para um futuro post...

''Restaurante de sobremesas'' - II

O tal ''restaurante de sobremesas'' , não por acaso mostrado em um programa sobre a culinária ''chique'', tem um padrão capaz de decepcionar boa parte dos ''gourmets'' nacionais: as porções eram todas extremamente pequenas...Como nos restaurantes que seguem a culinária francesa, aqui e mundo afora. Este , afinal, foi o primeiro grande choque que tive com os restaurantes ''chiques'', em especial os franceses. Sempre tinha, além de uma incômoda sensaçáo de estar sendo ''roubado'' por pagar caro para comer só aquele ''pouquinho'', fome ao final da refeição...! Isto por desconhecer que a cozinha francesa adota todo um complexo ritual, no qual nada deve ser descartado: entrada, prato principal e sobremesa. No dia em que, enfim, experimentei pedir uma entrada, as coisas mudaram, e hoje sou ''fã'' deste tipo de cozinha...Claro que isto continuará a chocar mentes e estômagos em um país onde tudo é tradicionalmente ''over'': fartas porções de entrada, ''pratões'' que quase nunca são devorados até o fim, sobremesas gigantescas com MUITO açúcar...Desperdício...Onde mais encontramos isto é nos restaurantes que seguem as culinárias italiana e portuguesa, muito populares entre nós. Assim como nos chamados restaurantes ''a quilo''( não por acaso os lugares onde mais ganhamos ''quilos'' extras...), churrascarias e nas feijoadas... O ''chique'' é justamente o oposto de tudo isto: pratos belos e decorados, com aquela pequena porção do que pedimos no centro( carne, peixe, frango, etc.). Começa a ser comido com ''os olhos'' primeiro. Depois, caso costumássemos comer rápido tal como nas lanchonetes americanas, devoraríamos o ''pratinho'' em segundos...As tais sobremesas do ''restaurante de sobremesas'' eram assim: cabiam em uma colher...Decepcionados? Mui provavelmente sim, pois não dava para repetir...O ''chique'', para não se tornar ''abominável'', tem de ser necessariamente lento. É assim que os franceses, todos em geral muito magros em comparação com seus similares norte-americanos e brasileiros, passam HORAS degustando pequenas porções e beberiscando- em um agradável RITUAL...Demonstrando assim que alimentar-se é algo mais complexo do que simplesmente botar comida na boca- e no estômago. O ''chique'' ainda choca, especialmente naqueles dias em que estamos com uma imensa fome. Nestas horas, o melhor é procurar o ''PF'' mais próximo, capaz de aplacar mais habilmente os nossos instintos animais. Enchendo o prato até a borda, e repetindo a sobremesa...Isto é que dá ''comer com fome'', pensaremos ao final da pantagruesca refeição. Para não exagerarmos nas porções o melhor conselho continua este: tanto nos restaurantes quanto nas compras em supermercados, o melhor é sair de casa já meio alimentado...

sábado, 6 de setembro de 2008

''Restaurante de Sobremesas(??!!!)''

Sexta-feira à noite. Após retornar para casa fiquei um tempo navegando pelos canais da TV a Cabo, até deparar com o ''Travel & Living''. Na tela um festival de delícias, no programa ''Cozinha Chic''. Antes um esclarecimento: não gosto de cozinhar. Mas aprecio o resultado...O programa, entremeado por comerciais de TV da Argentina(???!), o que aumenta ainda mais a nossa sensação de viagem, mostrou um estranho ''restaurante de sobremesas'' de Barcelona, na Espanha. Você não entendeu errado. O chef- um ''chef de sobremesas''- esclareceu que, antes de criar o seu peculiar estabelecimento, andava decepcionado com o papel secundário que as sobremesas tinham nos restaurantes tradicionais. E decidiu criar um em que elas fossem o ''carro chefe'', a atração da casa, com liberdade total para misturar sabores salgados com doces...O resultado, mostrado no programa- que nos deixou literalmente com ''água na boca''- são iguarias incomparáveis como ''sorvete de cenoura'' ou um similar de mostarda(???!!). Juro que algumas das sobremesas mostradas eram bem melhores que estas...Com aquela aparência que as coisas tem nestes restaurantes ''inovadores''( para isto é que existe também a função de ''designer de sobremesas''...). Constatar que alguém pode virar, de uma hora para outra, um ''chef de sobremesas'' em um restaurante dedicado exclusivamente para elas acaba, além de despertar nos telespectadores um enorme apetite, enfatizando que neste mundo não há nenhum limite ''intransponível'' exceto o de nossas mentes. Antes de saber que isto era ''possível'', a idéia sequer passava por minha cabeça. Alguém acreditou nisto, e concretizou...''Restaurantes de sobremesas'', saibam vocês, existem...E o que mais existe neste mundo que nós julgamos ''impossível'' mas está lá, existe? Por que alguém considerou aquilo viável?

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Nevoeiros...

Estou apaixonado pelo universo de ''Lost''. Tanto que, após assistir vários capítulos seguidos da primeira temporada, me aproximo cada vez mais do final da mesma. E quero mais. Já tenho a segunda caixinha. Falta a terceira. Mas este é o entretenimento, digamos assim, ''doméstico''. No último domingo eu queria esquecer todos os filmes ''cabeça''. Minha vontade era a de entrar em um destes cinemas de shopping, para assistir qualquer um destes inúmeros ''blockbusters'' em cartaz- por pura diversão. Nada de pensar. Nada de refletir sobre os bastidores da estória. Comprei ingresso para um filme ''tipo B'' chamado ''O Nevoeiro''( The Mist). Embora os efeitos especiais e as criaturas desta estória de Stephen King aproximem esta película dos filmes ''crash'' ele, na melhor tradição dos ''filmes-zumbi'' de George Romero, faz pensar. E como...O universo é semelhante ao de ''Lost'': imagine o que você faria em uma situação extrema em que tivesse que lutar pela própria sobrevivência? Todos pensamos que, em momentos como este, a tendência natural seria a de superarmos as nossas humanas diferenças em prol de alguma atividade em comum. Ledo engano...Em ''O Nevoeiro'' várias pessoas estão fazendo compras em um supermercado de cidade do interior americano. De repente alguém entra ensanguentado no mercado, dizendo que ''alguma coisa no nevoeiro lá fora havia provocado isto''...O mais legal do filme é ver as distintas reações a este fato: há os céticos, que não acreditam em nada e querem sair do mercado de qualquer forma ;os religiosos, para os quais tudo aquilo não passa de um ''castigo de Deus''; os práticos, para os quais é preciso organizar alguma forma de defesa das pessoas que se encontram naquele lugar. O mais assustador é que a ''coisa'' lá fora não tem forma, não se sabe como é nem como surgiu. Ela vai se manifestando em forma de tentáculos, depois de alguns bichos bem horripilantes...O grande ''barato'' de ''O Nevoeiro'' é que a estória toda, todas as mortes, são entremeadas por momentos de calmaria em que se debate qual seria a melhor atitude a tomar. Mistura de terror com ''filme cabeça''? Uma personagem, crente extremista, passa a polarizar cada vez mais as atenções, atraindo em torno de si um grupo cada vez maior com sua histeria ( qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência...). Descobre-se, no decorrer da estória que o trabalho de um grupo de cientistas havia ''aberto o portal para uma outra dimensão'', de onde estariam vindo os seres com aparência pré-histórica...Claro que, como na série ''Arquivo X'', os militares e o governo são culpados em grande medida, e ainda tentam acobertar a trapalhada toda...Não revelo, em respeito àqueles que porventuram possam querer assistir este perfeito ''filme B'', o interessante e irônico ''grand finale''...Eu não queria pensar assistindo filmes como este ''O Nevoeiro''. Mas, ''infelizmente'', a estória é boa, e faz-nos pensar mesmo ''contra a vontade''. Um cineasta argentino retratou os anos do Governo Menem como um longo nevoeiro. Estaria este falando dos anos Bush? Estariam as maiores cabeças do cinema norte-americano na inocente área dos filmes de terror? Surpresa agradável este ''O Nevoeiro''...

O Questionário de Palin...

Segundo a Folha de São Paulo de hoje, quinta 04 de setembro de 2008, ''foi revelada ontem parte do questionário de 70 perguntas que Sarah Palin teve de responder quando sondada para ser vice de McCain.''. Responda rápido, sem pensar: ''Você já baixou pornografia na Internet?'' (!!!), ''Você já pagou por sexo?'' (brrrrr!), ''Você já comprou ou usou drogas?'' ( inclui tabaco e álcool??!!!) e ''Você já foi infiel em seu casamento?" ( ''Jimmy'' Carter confessou, certa vez, ter sido infiel ''em pensamento''...Se este for o critério, quantos sobrariam???). A única coisa que Palin tem em comum com Hillary, ao que parece, é o sexo...Ou melhor, o fato de pertencer ao sexo feminimo- já que, segnndo consta, republicanos repudiam sexo pago, pela Internet, fora do casamento, pornografia e certos hábitos pouco usuais proibidos por parte dos estados americanos...O que sobrou de sexo, além do tradicional ''papai e mamãe'' com a própria esposa, afinal???

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Ladeiras...

Rio e Belo Horizonte tem um perímetro urbano, digamos assim, meio irregular As montanhas fazem parte do cenário local. No Rio não dá para andar livremente pelas mesmas, se é que vocês estão me entendendo...Mas em BH é possível, e ainda mais: é muito divertido ver todas aqueles morros integrados ao cenário local. Curitiba, o centro de Curitiba, é uma cidade plana. Talvez por isto, o pequeno declive próximo ao estádio do Atlético-PR é chamado, pomposamente, de ''Baixada'' ( só quem já esteve lá sabe que não é uma região como a Baixada Fluminense, e sim apenas uma área um pouco mais baixa que o resto...). Brasília, nas suas asas sul e norte, também tem pequenos declives. O suficiente para dizermos que, ao caminhar pela W3 Sul em sentido à Rodoviária, alguém está ''subindo a W3''. E São Paulo? São Paulo não tem morros no perímetro urbano. É possível- em vários lugares como a Barra Funda, a Avenida 23 de Maio, a Avenida Sumaré, entre outras- contemplar, ao fundo, as montanhas que circundam a capital paulista. Dentre elas o belo Parque da Serra da Cantareira, já mostrado em alguns filmes nacionais...Se São Paulo não tem propriamente montanhas, tem, em compensação, um relevo bastante interessante. O Estádio do Pacaembu, por exemplo, fica no fundo de um vale. Enquanto assistimos uma partida de futebol, podemos contemplar os inúmeros prédios ao redor e à distância, em um belo cenário. A Avenida Paulista, geográfica e mentalmente, é um divisor entre duas regiões da cidade: centro e Jardins. Ela e suas inúmeras torres de TV estão situadas numa das mais elevadas áreas da metrópole. Por estar no alto, quando nos encaminhamos para qualquer uma das duas regiões normalmente temos a clara sensação de que ''estamos descendo''. E para baixo, como diz o ditado, ''todo santo ajuda''. Em compensação, quando estamos em ''baixo''- onde estão situados vários restaurantes e supermercados- e precisamos voltar para a proximidade da Paulista, é necessário ''subir''. Imaginem o exercício que representa uma ''subida'' a pé, com várias sacolas de mercado na mão...Não há camisa que resista ao suor...E são apenas 10 minutinhos de subida! Certas ruas/alamedas, como a famosa Ministro Rocha Azevedo ou a Peixoto Gomide, ainda são mais íngremes- um verdadeiro ''teste para cardíaco''...Todos conhecem parte da topografia paulistana pela São Silvestre: costuma-se ''descer'' a Rua da Consolação, e a prova é geralmente decidida na ''subida'' da Avenida Brigadeiro Luís Antônio...Entre tantas descidas e subidas diárias acabamos nos acostumando a, em determinados momentos, chegar a lugares especiais de onde é possível contemplar toda uma região. Por isto, a região do Alto de Pinheiros possui uma praça chamada de Praça ''do pôr do sol''. Do alto da própria Vila Madalena também somos capazes de olhar para um imenso horizonte verde que nem parece fazer parte de uma das megalópoles mais poluídas do planeta...Este eterno ''sobe-desce'' paulistano assemelha-se às nossas existências, a não ser por um detalhe: ''descer'', na cidade, é gostoso- é como uma brincadeira- em comparação às inúmeras ''quedas''( quase nunca desejadas) que a vida, de graça, nos proporciona o tempo inteiro...Como está a ''sua'' ladeira? Você está suando, perdendo o fôlego para subir? Ou desce com a leveza de uma pluma? Melhor seria subir ''como um pássaro ou como um avião''? Sobe. Desce...

O fim, a neve, o éter...

Certas situações clássicas nos remetem ao fim: um problema grave de saúde, a visão de uma pessoa bastante idosa, um acidente de automóvel/ônibus/avião. Parece que nestas horas, principalmente nestas horas, nos damos conta de que a nossa permanência aqui tem data e hora para terminar. Não nos pergunte quando, que seja o mais distante possível, mas tem...A neve, para mim, tem um efeito um pouco diferente. Não conheço a neve pessoalmente, ''ao vivo'', falo do frio das imagens de cinema e TV que, exatamente pela distância e desconhecimento, assume ares de algo etéreo, ''imortal'', ''perfeito''. A neve- lembrar também que o gelo suspende o processo de decomposição dos corpos, servindo para conservar inúmeros seres bem antigos que já passaram por este pequeno planeta- remete à idéia de SUSPENSÃO do tempo. Nestas horas lembramos do personagem do filme ''Na Natureza Selvagem'', que tanto elogiamos neste blog, no momento em que ele atinge a sua ''meta'': chega ao Alaska. Toda aquela brancura espalhada pelo cenário inóspito parece surreal: temos a impressão de que aquilo está fora da realidade, do que conhecemos, o gelo- e o decorrente frio que emana de todos aqueles blocos de gelo- é tudo o que existe, ''desde sempre'', e nada mais há fora daquilo. O calor acelera, dá energia, alegra uma multidão de fiéis apreciadores do sol, e o frio congela. Congela as pessoas- que, dizem, envelhecem menos em lugares frios- e as lembranças. Justamente por nos remeter ao extremamente físico- à preocupação com o que é mais básico: a pura necessidade de sobrevivência- lugares gelados acabam, paradoxalmente, pelo estado de suspensão que provocam em todos nós, levando-nos também a algo além, ao infinito cósmico. Neles nos vemos como realmente somos: seres espirituais, infinitos, que não podem envelhecer ou morrer, que não podem ser atingidos por algo tão limitado quanto é o tempo e sua ação sobre os nossos corpos. Apenas um porém: mas o cosmo não é escuro como o éter? Como conciliar a extrema brancura do gelo com a ''escuridão'' infinita dos céus? Em nossas mentes embriagadas( êpa!)e extasiadas diante de tanta beleza e silêncio já não dá para distingüir entre uma coisa e outra. Brancura e escuridão se entrelaçam em inúmeras danças e jogos entre si, uma como o ''portal'' da outra, não importa, reflexos da dualidade deste mundo-tudo nos remetendo ao infinito...

Sucesso Duradouro...

Em uma época em que os filmes duram tanto quanto as pipocas consumidas durante sua exibição, é surpreendente que uma película continue a fazer sucesso UM ANO após a sua estréia. Este é o caso do filme francês, dirigido por Alain Resnais, ''Medos Privados em Lugares Públicos''. Acabei de assistí-lo, pela segunda vez. E não foi em uma das acanhadas salas do cine Belas Artes, um belo e tradicional cinema de rua da cidade de São Paulo( no cruzamento da Avenida Paulista com a Rua da Consolação). Foi em uma das duas maiores salas deste complexo cinematográfico, ocupada pela metade. O filme, a esta altura um filme ''velho'' - quase uma ''antigüidade'' pelos padrões do mercado- mostra as agruras de um grupo de ''solteirões'' em Paris. Um casal procura um apartamento de 3 cômodos para morar, sendo que um destes quartos será destinado ao ''estúdio'' de trabalho do homem. Detalhe: ele é um ex-militar desempregado...E, não só por isto, a relação dos dois vai mal...Um corretor imobiliário que se interessa por uma colega de trabalho...crente radical...A crente que toma conta de idosos que a maltratam, e ela aguenta tudo com sua atitude ''cristã'' de ''oferecer a outra face''...A irmã do corretor e seu grupo de amigas, que se reúnem em cafés para fofocar e sonhar com o ''homem ideal''. Ela própria já marcou diversos encontros com desconhecidos, que nunca correspondem aos padrões descritos nas revistas especializadas...O filme mostra os problemas e dá esperanças, cruza alguns destes personagens. Mas não ''resolve'' as coisas, ao modo americano ( final feliz, etc.). Então é ''triste''? Talvez. Mas nos oferece boas oportunidades para gargalhar...Tudo é muito sutil, à ''maneira francesa'' de narrar uma estória. Durante toda a exibição Resnais mostra a belíssima neve caindo ao fundo da tela, em um inverno sem fim. Provavelmente uma metáfora relacionada à difícil situação dos personagens...Ao final a pequena multidão deixa a sala em silêncio, não sabemos se em reverência diante da obra-prima apresentada ou se incomodada pelas situações abordadas neste filme( solidão, incomunicabilidade). Poderia ser em Paris como em São Paulo. O sucesso de ''Medos Privados em Lugares Públicos'' aponta que, ao menos aqui em São Paulo, o que é mostrado tem uma profunda relação com a realidade de inúmeras pessoas. ''Solidão na cidade grande'', o antigo tema paradoxal que, aqui pelo menos, tem público constante e cativo...

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Pequena Grande Decisão

Um país, assim como uma vida, não é feito apenas de grandes decisões. Embora esperemos ansiosamente por estas, são as pequenas que, na verdade, acabam decidindo o nosso destino. Há pouco tempo manifestamos o nosso apoio irrestrito e entusiástico à Lei Seca. Felizmente, onde há fiscalização, as pessoas começam a se adaptar à mesma. Um passo simples, mas em direção àquele país em que todos queremos viver: mais seguro, mais limpo, mais feliz. Por outro lado, o número de pequenas decisões em sentido contrário não é restrito. Primeiramente, aquela decisão do Supremo Tribunal Federal, contestada veementemente por juízes de graus ''inferiores'', no sentido de liberar as candidaturas de políticos condenados em primeira instância- sob o pretexto de que ''ninguém é culpado até o trânsito em julgado'' ( última condenação, sem direito a recurso). Há pouco tempo, o mesmo Tribunal também editou uma polêmica Súmula Vinculante sobre o uso de algemas, que vem sendo discutida até hoje...Mas não quero falar daquilo que eu- e as torcidas juntas de Flamengo, Corínthians, Vasco da Gama, São Paulo, Grêmio e Internacional- não apóio...O objetivo deste post é APLAUDIR uma recente decisão da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça( STJ), no sentido de que a embriaguez ao volante é um agravante no risco dos seguros de vida, e pode implicar mesmo a perda do benefício. Como brasileiros, a gente não pode comemorar muita coisa nos últimos tempos. Mas uma pequena decisão jurídica, no mesmo sentido da chamada Lei Seca e em claro apoio a esta, mostra que, se não há razão para botar a camisa amarela e sair com a bandeira nacional nas ruas, pelo menos ainda dá para respirar.... São decisões como esta que oxigenam a vida pública nacional que, por instantes, parece irrespirável. E nos dão até mesmo esperança: quando se está no ''fundo do poço'', qualquer passo para cima já é um avanço...E mostra o imenso efeito regenerador de um pequeno gesto, contraposto a milhares de decisões e atitudes ''erradas'' ( entre aspas por respeito aos que pensam de modo contrário, e apóiam tais decisões...).

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Sistemas...

Postei o meu texto anterior ainda em jejum, pensando: ''- Pronto! Creio que ''concluí'' isto aqui, e agora posso tomar meu café da manhã''. ''Infelizmente'', as idéias não ficam esperando por nós. E, quando temos a felicidade de captá-las da Fonte Infinita, o melhor é largar tudo e botar as ''mãos na massa''. É assim que volto, logo após, ainda sem o café...Falávamos de escolhas. Escolhas inconscientes, que fazemos muito cedo, e que afetam nosso modo de enxergar a ''realidade''. Escolhas que permanecem invisíveis para todas aquelas pessoas adestradas segundo um modelo que poderíamos chamar de ''realista''. Segundo este modelo, muito apreciado por jornalistas em geral e seus leitores/telespectadores( dentre os quais humildemente me incluo), é preciso ver o mundo ''como ele é''- com todas as suas mazelas. Assim, dia-a-dia, necessitamos estar ''por dentro'' das inúmeras catástrofes que estão ocorrendo Planeta Terra afora. Este é o método comum de pensar em ''problema- solução''. Só tem um inconveniente: quanto mais problemas reviramos, mais problemas estamos atraindo...Jornais não refletem suas cidades. Você tem sempre a sensação, ao sair de uma ''pesada'' leitura de jornal sobre um dos lugares que tanto amamos, de que ''faltou alguma coisa aqui''. Algo foi ''perdido''. Não se fala, ao menos com a mesma ênfase, sobre o que está funcionando bem...Ao lado deste modelo ''realista'', tão popular, há um outro modelo/escolha: pensar, deliberadamente, nas coisas segundo uma forma assumidamente parcial, que seja conforme os nossos objetivos. Pensar ''que dia lindo'' ou ''que dia horrível'' não alterará de nenhum modo o plano fático, em um primeiro momento. Mudará apenas a nossa forma de enxergá-lo. Se todas as coisas são escolhas, é igualmente válido ESCOLHER pensar no lado positivo de tudo, correto? ''Dia lindo'' é uma opção válida para todos os dias...Não tem efeitos colaterais negativos...Escolher ver o mundo como ''bom'' não quer dizer que não teremos mais conflitos ou dificuldades. Estas estão no mundo externo, na cabeça das demais pessoas que nos rodeiam, parecerão extremamente ''reais'' para uma multidão, mas já não nos afetam. O que elas vêem como ''desagradável'', nos vemos como ''passageiro''. O que elas vêem como ''difícil'', nos enxergamos como um ''pequeno obstáculo''. Não conseguiremos jamais ver o mundo com olhos ''positivos'' o tempo inteiro. Há momentos em que temos uma grande vontade de ''chutar o pau da barraca'' e dar um grito enorme de descontentamento. Somos humanos, não é mesmo? Ver como ''bom'' ou como ''ruim'' não mudará- repetimos- o que está do lado de fora. Não de imediato. Mudará a nossa forma de RECEBER tudo isto, e o que faremos com todas estas coisas. E, ao mudar o nosso modo de pensar as coisas, estaremos contribuindo duplamente para ''transformar'' o mundo: o nosso próprio, como criadores que somos, atraindo elementos/fatos semelhantes ao que estamos emitindo; e o do planeta como um todo, a médio ou longo prazo, que estará sendo afetado por nossa nova maneira de pensar e agir...Não somos ''pequenos demais '' para estas ''tarefas''. Ninguém se vê como ''insignificante'' ou ''modesto'' na hora de emitir opiniões ou elaborar planos ''mirabolantes'' para ''salvar'' o nosso país, o mundo ou melhorar a vida das outras pessoas...Se não pudermos controlar os nossos próprios pensamentos e a nossa reação ao mundo exterior, então quem é que poderá fazê-lo??? Se você perguntou ''só isto?'', não se deu conta ainda do ''buraco sem fundo'' em que está entrando, um outro Universo...

Monólogos infinitos...

Travamos inúmeras conversas com outros indivíduos durante o nosso dia. No entanto, sobre os assuntos mais importantes, é impossível convencer as demais pessoas sobre o que quer que seja...Isto porque CADA UMA das aproximadamente seis bilhões de pessoas que habitam o Planeta Terra é capaz- em meio a bilhões/trilhões de informações que estão disponíveis a cada momento- de captar apenas um número muito restrito: dizem que cerca de 7 bits por segundo. E pior: costumamos captar em geral apenas aquilo que reforce as ''nossas'' idéias...O grande problema não é estar ''certo'' ou ''errado'' ( padrões com que rotulamos nós mesmos e os outros vida afora). A dificuldade é tentar convencer uma outra pessoa que pensa fortemente de modo diverso. Uma vez que ela ESCOLHEU ao longo de sua existência um conjunto de idéias que, segundo ela própria, refletem sua vida com perfeição, todos os fatos decorrentes apenas irão REFORÇAR estas mesmas idéias...Ou seja, se você ESCOLHEU enxergar o mundo como ''bom'' ou ''ruim''- e esta escolha geralmente é feita na infância- TODOS os demais acontecimentos só servirão para REFORÇAR a sua escolha. O MUNDO É NOSSO ESPELHO...Por isto, uma vez que contamos com uma imensa ''arena pública'' onde atualmente exprimimos nossas idéias, medos e anseios, a impressão que isto passa- por momentos- é a de uma imensa TORRE DE BABEL. Judeus reclamam de Palestinos, e vice-versa. Pegue um religioso fanático muçulmano, e um outro norte-americano, e você notará as inúmeras semelhanças no modo de pensar. Exceto pelo fato de que um considera o outro ''errado'' e ''pagão'', e vice-versa...Uma dificuldade a mais, em relação ao que estamos tratando, é que NÓS próprios não estamos fora de todo este jogo. Não há como deixar de escolher idéias entre as inúmeras que existem. E as nossas próprias escolhas- vistas ingenuamente não como tal, mas como a ''própria realidade''( com todos os elementos e fatos postos à nossa disposição para reforçar este nosso ''sistema individual'' de ver a vida)- podem estar sendo benéficas para nós, ou não. Ninguém pode ''fazer a cabeça'' dos outros. Nossas próprias idéias podem atravancar o nosso caminho em direção ao que queremos. Como resolver tudo isto? Estar CONSCIENTE de tudo isto já é um primeiro passo...Quando estamos cientes de que as nossas próprias idéias fazem parte de uma escolha, e podem ou não refletir com precisão a realidade que nos cerca, já estamos neutralizando um pouco um dos maiores riscos de uma Torre de Babel- que podem explodí-la a médio ou longo prazo: o fanatismo. Entre ''estar certo'' e ''ser feliz'', prefiro a segunda alternativa...

domingo, 31 de agosto de 2008

Uma notícia boa e outra ruim...

A boa é que- segundo o critério concebido por meu pai, para o qual o candidato ideal deve ter experiência administrativa prévia- São Paulo estaria, desta vez, em ''boas mãos'': os 3 candidatos favoritos são a ex-prefeita Marta Suplicy, o ex-governador Geraldo Alckmin e o atual prefeito Gilberto Kassab. E Maluf? Maluf não vale...Este é o lado bom da atual campanha. O pior lado é que, justamente por já terem administrado alguma coisa, e ''beneficiado'' alguma parcela da população, a atual disputa eleitoral acabou se transformando em um ''campeonato para apurar quem mais fez''. Perde-se longos minutos no horário eleitoral discutindo assuntos ''interessantíssimos'' como os ''CEUs''( centros de ensino)de Marta, as AMAS( centros de atendimento médico ambulatorial)de Kassab e as FATEC's( faculdades de ensino técnico)de Alckmin. A eleição virou um ''campeonato de clientelismo''...Claro que a Prefeitura deve investir no social. Proporcionar ensino e saúde a quem precisa. Porém, o pior lado disto tudo é o fato de que tudo é mostrado e empurrado goela abaixo dos potenciais eleitores ao melhor estilo ''fulano de tal é o cara, e vai fazer muito mais''. Personalismo, favores, clientelismo, populismo. E este é o programa dos candidatos a Prefeito, mais ''assistível'' do que o ''show de horrores'' do horário eleitoral para vereadores...As idéias não mudam. Os ''marqueteiros'' e suas fórmulas mirabolantes não mudam. O ''marqueteiro'' de Marta Suplicy é o mesmo de Lula, e vem ''requentando'' os bem-sucedidos ''slogans'' da última campanha Presidencial. Alckmin não decidiu ainda se quer ser conhecido como ''Geraldo'' ou ''Geraldo Alckmin''. Kassab é o mais claro: quer permanecer no Poder, e bombardeia a ex-prefeita para criar uma polarização entre os dois. Mas, voltando ao tema do post, e se você não precisa de escola ou posto de saúde? Você mora na cidade, conhece vários de seus problemas- inúmeros bem antigos( o péssimo estado de conservaçao do centro, por exemplo...). Não há como se interessar pelo que vem sendo discutido. O PT, que sempre elevou o nível do debate político ao introduzir vários temas chamados ''ideológicos''( tal como a honestidade na política), desde a eleição de Lula vem pautando os pleitos por baixo: o ''Bolsa Família'' deixou bem claro quem - e o que- decide as eleições neste país... E isto aprofundou ainda mais o ''fosso cultural'' que nos separa. Desiludidos, eleitores ricos ou de classe média apelam para DVD's ou TV a Cabo na hora do programa eleitoral. E os candidatos ficam lá, tentando iludir a única audiência ''cativa'' que sempre possuíram, com promessas de ''pão e leite''...