Assim como no mundo dos espetáculos, o ''papel'' que desempenhamos no palco da vida é atribuído a nós pelos outros- mas também por nós mesmos/as...
Porém, embora por vezes tenhamos a visão de um ''EU'' fixo, ao longo de uma mesma existência intercambiamos diversos ''papéis'' sem nem mesmo perceber: ''filho pequeno'', ''adolescente inseguro e cheio de espinhas'', ''estudante universitário'', ''profissional''( médico/a, advogado/a, juiz/a, estagiário/a, professor/a, etc.), marido/esposa...a lista é interminável...para terminar com o papel de idoso/a...
Tudo isto já não seria pouca coisa...
Viram quantas mudanças ao longo de uma existência?
Acrescente a isto a auto-imagem que carregamos ao longo desta mesma vida: ''vitorioso/a'', ''sofrido/a'', ''perdedor/a'', ''batalhador/a''...
Se nos derem ''corda'', saímos por aí contando a história dos nossos sucessos ou insucessos/sofrimento...
Tudo isto nos parece extremamente ''real''...
Cada indivíduo neste planeta tem a percepção de que a vida que leva é a única ''real''...
Só quem tem o ''privilégio'' de fugir disto são os atores...
A estes é natural a ideia de ''trocar de papéis''...
De interpretar um ''milionário'' em um filme, e um ''mendigo'' na película seguinte...
Pois é justamente desta possibilidade de ''troca de papéis'' que se trata este post...
De sua descartabilidade. De sua finitude.
Outro dia me dei conta disto: do fato de que podemos trocar/alternar estes ''papéis'' todos como quem troca de vestimenta...
''Serve?''. ''Não serve?''- sendo os únicos critérios necessários...
O ''papel'' não sendo visto mais como uma ''imposição'' externa, e sim como uma ESCOLHA nossa...
Pois, no fundo, o ''papel'', enxergado do ponto de vista interno, nada mais é do que a verdadeira ''definição'' que carregamos a respeito de nós mesmos/as...
Melhor que esta ''definição'' seja ''auto-construída'' do que moldada por outros, não?
Melhor que esta ''identificação'' seja não com o transitório/descartável- aquilo que possamos estar fazendo no momento- do que com o permanente: o desejo latente que bate dentro de nós, de fazermos aquilo que mais desejamos nesta existência...
Por isto, embora responda aos que indagam o que ''sou'' com uma descrição rápida do que ''faço'', abrigo dentro de mim mesmo uma ''auto-definição'' mais profunda: sou ''escritor'' aos olhos de mim mesmo...
Veja: não precisamos lançar um disco que venda milhões de cópias para nos qualificarmos como ''músicos''. Não precisamos lançar um ''best seller'' para nos definirmos como ''escritores''. Não precisamos ganhar um Oscar para nos afirmarmos como atores...
No que diz respeito ao nosso verdadeiro e PERMANENTE papel, aquele que fala direto ao nosso coração, a gente não ''faz''. A gente É primeiro, e depois faz...
Por isto esta ''auto-definição'', este ''papel auto-atribuído'', é tão transformadora...
Pois simplesmente não podemos deixar de ser aquilo que somos, não é mesmo?
Aquilo que somos no fundo, e não um mero e superficial ''papel''...
Pois sermos plenamente o que somos ''de fato'', indiscutivelmente, é o ÚNICO e VERDADEIRO propósito da nossa alma nesta existência, não é mesmo?
Troquemos de ''papéis'' para descobrirmos quem verdadeiramente e plenamente somos...
Pois, embora os ''papéis'' se alternem continuamente, o que verdadeiramente somos clama continuamente por sua manifestação no mundo externo...
Alcnol.