Durante muito tempo, a pergunta acima me pareceria ridícula. Afinal, a vida inteira eu me vi como ''contestador'', ''transformador'', ''inovador''. A própria ''incoerência'' deste blog, em que trato de diversos assuntos ao mesmo tempo, poderia dar a idéia de que, ao menos, eu tento fazer as coisas sempre de modo diferente. Sempre me divertiu, também, apontar o ''conservadorismo'' das pessoas ao meu redor. Meu pai, que tem uma rotina pela qual se poderia acertar os relógios. Minha mãe e seus roteiros sempre iguais. Mas eu? Eu, um ''conservador''? Por trás desta fachada ''mudancista'', percebo que meus amigos- sempre um espelho, um bom indicador do que somos- são todos rotineiros. Que, a eles, desgosta a idéia de um pensamento diferente do seu. Imagino que, neste momento, todos estejam há muito com Obama ''de mala e cuia''. Eu demorei a aderir à ''Onda Obama'', e o fiz sem entusiasmo e com receio...Porém, mesmo no meu dia-a-dia, é possível notar traços de um profundo conservadorismo. Não gosto de inovar no que se refere aos meus pratos favoritos. É raríssimo que eu escolha um prato diferente daqueles de que já gosto. Em um lugar, só peço entre DOIS pratos ( bife de tiras ou bacalhau em lascas ). Sempre. Invariavelmente. Não gosto de mudar os pratos que escolho no almoço. Não gosto de conhecer lugares novos para comer. Gosto de fazer sempre programas semelhantes, em que como em um lugar, e depois vou para um lugar próximo. Sempre vou aos mesmos cafés, mesmo morando em uma cidade em que há inúmeros cafés, diversos de alta qualidade...Na TV, sempre assisto aos mesmos programas, invariavelmente. Leio os mesmos jornais, nos mesmos dias de sempre. Leio o mesmo tipo de livro. Leio as mesmas revistas, todas as semanas ou meses. Vou sempre aos mesmos cinemas. Raramente vou ao teatro, o que me obrigaria a sair da rotina...Se há uma coisa em que gosto de variar é em relação a viagens. Mas, como tristemente pude constatar, se não for por necessidade prefiro visitar sempre as mesmas cidades: Rio de Janeiro, Curitiba, Florianópolis...''Choro'' ao ter de abandonar São Paulo para ir a uma cidade próxima. Mas o que poderia me prender a Sampa, a sua infinita possibilidade de roteiros e programações, não é o que me liga a esta maravilhosa cidade. Talvez, muito provavelmente como constato neste ''post'', seja sim a probabilidade de fazer infinitamente as mesmas coisas, ''achando'' que tudo isto- esta rotina em meio às numerosas escolhas- é ''indispensável''. Leio o livro de alguém da minha área, e constato que esta pessoa costuma fazer inúmeras perguntas. Perguntas estas que me incomodam, ou melhor, me incomoda o fato de não estar fazendo as mesmas perguntas ou mesmo diversas outras mais. Rotineiro profissionalmente, é o que constato com tristeza...Me incomoda fazer perguntas, e muito mais responder perguntas que saiam do rotineiro e conhecido. Hoje me incomodam- como incomodavam as pessoas da época em que eu era mais jovem- os ruídos produzidos pelos mais jovens. Me incomodam os sons que eles escutam. Me incomoda vê-los agrupados, com suas roupas estranhas e copos de bebida na mão. Me incomoda ouvir as piadinhas ridículas que eles contam entre si. Me incomoda ter de submeter-me volta e meia a ''recadastramentos'', sob pena de ter o meu CPF suspenso. Me incomoda a fúria legiferante dos diversos parlamentos brasileiros. Me incomoda chegar a um mercado e ver dezenas de opções diferentes para um mesmo produto- sobre isto, ver o excelente livro ''O Paradoxo da Escolha''. É, como vocês podem constatar, hoje eu sou um perfeito conservador. Na melhor linha TFP ( tradição, família e propriedade ). Talvez só não tenha morrido ainda porque também me incomodam diversas outras coisas que aí estão, e com as quais não compactuo. E sobre as quais já me pronunciei diversas vezes neste mesmo blog. Contra umas coisas ali, a favor de outras ali. No fundo, e lamento constatá-lo, eu sou mesmo é igual a todo mundo. Para quem se achava ''diferente'' e ''especial'', eis uma dolorosa admissão...Melhor parar por aqui...