A Rua Tupi, paralela à movimentada Avenida Pacaembu e a 10 minutos de caminhada do Shopping Higienópolis, é um belo exemplo de manutenção de um antigo estilo de vida característico da São Paulo de outrora. No texto ''o grande e o pequeno'', afirmamos que, ao contrário do que seria de esperar, o chamado ''grande'' não engole automaticamente as manifestações ultra-minoritárias. Muito pelo contrário, é no ''grande'' que as culturas ditas ''alternativas'' alcançam muito maior ressonância. Isto porque é nos grandes centros como São Paulo que é possível encontrar pelo menos 100 pessos que, em pleno dia de semana, lotem o CCBB para assistir uma Mostra de Alain Resnais ou, como hoje, um ''Festival de Cinema Oriental''...O ''grande'', e isto é o mais gostoso de viver aqui, tem espaço para todos...Bom, falávamos da Rua Tupi. Outro dia fui lá, almoçar em um de seus pequenos bistrôs, estilo francês com pratos leves e mesinhas na calçada. O nome do lugar, acho, é ''De la paix''. Bem ao lado, há um outro restaurante com fachada antiga, em uma pequena casinha preservada, chamado ''Coq'' ( frango em francês...). Gostei da experiência. Fui ao lugar motivado por uma menção no ''Estadão'', se não me engano, e por uma crônica que li na Internet comparando o lugar ao bairro ''Pallermo Viejo'' de Buenos Aires...Uma vez que ''estes paulistanos gostam de criar ou preservar ambientes'', já que a cidade não é tão bem dotada de beleza natural como o Rio de Janeiro, ''entrar ou sair de países ou épocas'' acaba tornando-se uma atividade gostosa e corriqueira. ''Abre as nossas mentes''...Acompanham o texto algumas fotos que tirei na Rua Tupi...Alcnol.
quarta-feira, 24 de setembro de 2008
Cansei de ver filmes brasileiros com locações em favelas...
Antes de mais nada, quero deixar claro que assisti ''Cidade de Deus'', ''Tropa de Elite'' e vários outros filmes brasileiros da escola que poderíamos chamar de ''realista''. No entanto, me diverti muito mais vendo um filme simples, sem maiores complicações, uma comédia romântica com a Bruna Lombardi chamada ''O Signo da Cidade''. Recente pesquisa, publicada nos jornais, mostra que o gênero preferido dos brasileiros é a comédia...Bem ao contrário dos tiroteios, tráfico de drogas e a violência mostrada rotineiramente nos filmes brasileiros...Será que esta ''onda realista'' do cinema nacional é casual? Ou seria motivada por fatores outros que não o puro amor pelo cinema? Sabe-se que o governo, via BNDES, costuma entrar com farto dinheiro como incentivo aos cineastas pátrios. E o atual governo costuma ver com bons olhos o chamado ''discurso social''. O Brasil, no entanto, é muito mais do que o MST e as favelas, me desculpem os adeptos da dita ''objetividade''. Se é para mostrar TUDO o que está acontecendo, por que não fazem também filmes nas cidades do interior onde o agronegócio está se expandindo? Ou nos belos lugares que todas as metrópoles possuem, e não são mostrados minimamente lá fora? A TV acabou ditando um ritmo e um tratamento maniqueístas para todos os demais ramos artísticos. Não saímos, no plano do imaginário, das velhas e surradas polarizações entre ''ricos''( ''malvados, desonestos e corruptos'', capazes das piores ''armações'' para manter os seus ditos ''privilégios'')e os ''pobres''( ''coitadinhos'', sempre ''vítimas'' do sistema e do dinheiro...). Questiono aqui não a necessária representação que mostre ou tente mostrar ''o que está acontecendo''. O que é questionável é a manipulação, de modo a revelar para os olhos do mundo apenas o nosso pior lado...Parece até que querem que o mundo ''engula'' o ''jeito brasileiro'' de fazer filmes...Na Folha de São Paulo de hoje, quarta 24/9, o imperdível colunista Marcelo Coelho entra nesta polêmica seara com um texto intitulado ''Filmar pobre não é pecado''. Mesmo admitindo a contragosto que ''o público parece dar mostras de cansaço diante de tanta gente pobre no cinema brasileiro'', faz uma apaixonada defesa do último filme de Walter Salles: ''Linha de Passe''. Aqui assumo uma posição arriscada. Digo a vocês que não pretendo assistir esta obra, por todos os motivos elencados acima...Sei que muita gente vai achar que sou ''bitolado'', que não tenho a cabeça ''aberta'' para ver coisas diferentes, quando na verdade estou- e o público também- cansado de ver sempre a mesma coisa na maioria destes filmes nacionais...Não, não quero acabar com o cinema brasileiro. Viva o ''Canal Brasil'', onde podemos ver vários tesouros da cinematografia nacional! Mas não pretendo mais, em nome de um suposto ''espírito crítico'' e ''mente aberta'', assistir filmes ruins. Chatos. Certamente, e por todos os bons motivos elencados por Marcelo Coelho, o filme de Walter Salles é uma exceção. Conhecemos o valor de sua obra. Certamente merece ser visto por um público que pague ao menos o custo do filme, e incentive o cineasta a continuar na ativa. Mas eu, e estou falando exclusivamente de minha pessoa, não vi nada nos comentários de imprensa e ''trailers'' mostrados que me motive a ver mais este ''filme sobre favelados''...Sim, porque nem Marcelo Coelho negou que a miséria é o tema principal deste ''Linha de Passe''... A Argentina está mal, economicamente. Nem por isto o cinema argentino perdeu a sua ''leveza'' e capacidade de tratar profundamente temas universais. Quando vou ao cinema, e sei que há um filme argentino, isto representa quase que um ''rótulo de qualidade''. Vou sem receios...No nosso caso, pelo esgotamento de uma temática explorada ''ad nauseum'' pelos cineastas nacionais, há que se pensar duas vezes. ''Nome Próprio'', vou. ''Signo da Cidade'', vou. ''Cidade de Deus'' e ''Tropa de Elite'' são filmes memoráveis, que não me arrependo de ter visto. Agora, mais um filme situado em favelas para aquietar a consciência de seus criadores, estes eu ando dispensando. Afinal, como já disse sabiamente o grande carnavalesco Joãosinho Trinta, ''o povo gosta de luxo. Quem gosta de miséria são os intelectuais''...Alcnol.
Misto de padaria e lanchonete, nos Jardins...
No melhor estilo paulistano a pequena loja de pães, de fabricação própria, feitos com ingredientes orgânicos e farinha exclusivamente integral ocupa apenas uma pequena porta. Dentro, só 3 mesinhas- geralmente ocupadas...Entre as ''maravilhas'' que eles fazem, estão o sensacional ''pudim de pão'', tortas de chocolate e uma espécie de pão de queijo sem queijo...Até o meio da tarde a lojinha é tomada por grupos de executivas, principalmente, que optam muitas vezes pela combinação ''quiche e salada'', uma substancial ''pequena refeição''...O nome do lugar? P- A- O.
Peça ''esquisita'' no Centro Cultural São Paulo...
Em plena terça-feira à noite, às 21 horas de um dia gelado( com os relógios de rua marcando cerca de 12 graus quando saí de casa rumo ao Centro Cultural São Paulo, na rua Vergueiro), fomos escoltados por um ''guia'' por uma das escadarias do lugar para assistir à peça de teatro ''O que refletem esses pedaços''. O local da peça lembra até uma espécie de ''batcaverna'', uma vez que tivemos de descer longos dois lances de escadas...O cenário é muito simples, em uma espécie de garagem abandonada. Primeira ''esquisitice'': os espectadores, cerca de 7 ontem à noite, são convidados a se dividir em dois grupos distintos, cada um ocupando um lance das arquibancadas...No meio um pano divide os dois ambientes da peça. As duas atrizes, vestidas de branco e parecidas fisicamente uma com a outra( da mesma altura...), são ágeis fisicamente, e dançam e executam frenéticos movimentos ora em um ambiente ora no outro( há uma nudez, mas infelizmente foi ''do outro lado'' da peça...!). O tema? A obra do cineasta Ingmar Bergman...O folheto entregue aos espectadores informa que ''neste processo toda a filmografia do Bergman nos foi essencial, mas alguns filmes serviram diretamente a criar esse espetáculo. Aconselhamos( aos cinéfilos e curiosos)a vê-los ou revê-los...Morangos Silvestres, O Sétimo Selo, A Hora do Lobo, Noites de Circo, Luz de Inverno, Sonata de Outono, Gritos e Sussurros, Fanny e Alexander, Persona...''. A peça, como se pode ver, é incômoda, sombria, ''esquisita''. As duas talentosas atrizes, em uma verdadeira ''prova'' que é mostrar toda aquela garra e amor pela arte para uma reduzida platéia de apenas 7 pessoas em uma gélida noite, chegam a recitar com incrível velocidade aquele complexo texto, mal nos dando tempo de refletir e respirar fundo...''Haverá uma pessoa desconhecida do outro lado da parede, no outro quarto. Uma pessoa que está ali e contudo não está''( ''Imagens'', Ingmar Bergman). A peça, ainda segundo o folheto, mostra ''duas mulheres( ou duas personas de uma mesma mulher) separadas por uma parede( uma tela)transitando entre o sonho e a realidade, reagindo a estímulos provocados pelo outro lado, sem saber o que realmente se passa lá(...)O espetáculo, assim como os filmes de Bergman, convida o espectador para uma viagem de contrastes, estabelecendo oposições como: rosto-máscara, consciente-inconsciente, realidade-aparência, eu-outro, real-imaginário, silêncio-palavra, vida-morte, criança-adulto, interior-exterior. A peça trabalha com estas antíteses que regem a existência humana...''. Uma cena marcante de que me lembro bem foi o de um discurso amoroso em que uma fala todas aquelas coisas que os amantes prometem para o objeto de seu desejo. Ao final do discurso, a outra replica que ''este inferno nos é conhecido. O perigo está nos outros infernos que ainda não conhecemos...''. Colares e contas são atirados ao chão, simbolizando as ''100 mil partes perdidas'' do nosso ser...A marcante e ''estranha'' peça acaba meio que de surpresa, uma vez que não há soluções ''fáceis'' para todos estes problemas colocados, deixando-nos perplexos, sem saber se tudo ainda vai continuar ou se devemos tomar o rumo da saída, subindo os longos dois lances de escada até a entrada do CCSP...OBS: Não consegui voltar para a letra normal após destacar um trecho, por isto TUDO acabou sendo destacado do meio para o final deste texto...Alcnol.
O ''melhor da Paulista'': livrarias...!
Como você pode ver, apesar de estar cadastrado em alguns ''programas-fidelidade'' de livrarias, eu não sou de fato ''fiel'' a nenhuma delas. É assim que posso, livremente, falar bem da Cultura, da Saraiva, da Livraria da Vila e, agora, desta Martins Fontes Paulista, um dos programas imperdíveis da região. É lá que descubro vários lançamentos imperdíveis, muito antes de eles chegarem às outras lojas. A Martins Fontes, que não conta com programa ''fidelidade'' mas aderiu á ''onda'' de descontos nos lançamentos para não ser engolida pelas demais grandes redes que disputam o mercado paulistano, chega a dar de 20 a 30% em alguns livros. A loja, que fica em uma Galeria com entrada pela Paulista e pelas laterais, tem dois andares e um café na sobreloja. Sobe-se por uma escada em caracol...Fotografamos também uma ''Martins Fontes'' de rua, na Alameda Jaú. As lojas deste grupo se mantém atualizadas em relação aos principais lançamentos, e um de seus maiores ''tesouros'' é a coleção de livros importados de Portugal- com obras de George Orwell, entre outros. Este é o meu ''sonho de consumo'' no plano literário: adquirir a coleção toda da Editora ''Antígona''...Alcnol.
Tesouros da região da Paulista- casarão ''abandonado'' na Alameda Santos...
O casarão antigo, resquício da época dos ''barões do café'', resiste ao tempo em meio a uma das vias mais movimentadas da região: a Alameda Santos. Do outro lado, aquele em que tirei a foto, um hotel de luxo dá o tom dos novos tempos. Dizem que o antigo casarão não está, de fato, ''abandonado'': ele estaria ''sub-judice'', disputado em algum daqueles infindáveis litígios por herança...Alcnol.
A violência no Brasil é ''causada pela pobreza''???
Em uma visão mais apressada, sim. Muitos, inclusive do atual governo do PT, gostam de fazer uma superficial ligação entre os inúmeros assaltos, seqüestros, ''arrastões'' e outras ações ousadas que fazem parte do cotidiano das grandes( e mesmo das pequenas)cidades brasileiras e a pobreza. No entanto, a confiar nos dados estatísticos produzidos por órgãos deste mesmo governo, a miséria está ''caindo''. E a ''classe média'' cresceu...O país, de fato, conseguiu retomar o caminho do crescimento nos últimos 10 anos, e a nossa economia não pára de gerar novos índices positivos. Mas então, se o desemprego caiu e a economia melhorou, por que a violência está crescendo?, você perguntaria. Porque não há ligação entre a violência e a miséria, nós respondemos. Hoje em dia assalta-se muito mais por motivos consumistas do que por fome...Isto já foi revelado inúmeras vezes pelos jovens de morros cariocas que fazem parte do ''exército do tráfico'' como olheiros: eles fazem isto- que rende de RS$500,00 a até R$1.000,00 por semana- para poderem usar roupas ''de grife'' ou ostentar tênis ''da moda''...Veja a mais recente ação do crime na Capital Paulista: o SP-TV mostrou uma quadrilha que ataca nos bairros mais ricos da cidade invadindo lojas fechadas pela porta da frente, com o uso de automóveis para derrubar as portas. Em instantes eles levam todas as mercadorias. Não é a primeira vez que fazem isto...Isto soa a ação da ''pobreza''? Roubar uma loja que vende produtos de luxo, isto é ação dos ''pobres''? Não, é ação de um bando organizado, de uma quadrilha. Quadrilhas como esta são especializadas em assaltar prédios de luxo, em ''arrastões'' cuidadosamente planejados, que não deixam vestígios. Quadrilhas também assaltam motoristas de caminhão nas nossas estradas, ou simples motoristas de carro nas cidades. Isto é ''fruto da pobreza''? Não! Os pobres mesmo, aqueles que vivem nas favelas do Rio e de São Paulo, acabam sendo feito como reféns por grupos organizados, que impõem ''toques de recolher'' e criam ''Tribunais do Crime'' para julgar e depois assassinar seus desafetos. Então, o que causa toda esta violência? Se não é a ''pobreza'', explicação ''clássica'' e já meio ''batida'' a esta altura, qual é a verdadeira causa? Primeiro, é preciso estudar qual é a natureza da nossa sociedade, qual é o padrão que rege as ações das pessoas em nosso sistema. Vivemos em uma sociedade regida pelo consumo. ''Massacrados'' por milhões de propagandas, ser ''bem-sucedido'' por aqui significa ser capaz de adquirir produtos, de ostentar ''prosperidade'' aos olhos dos outros. Bandidos como ''Fernandinho Beira-Mar'' , ''Marcola'' ou Juan Carlos Abadía( recém-extraditado para os EUA)são eqüivalentes a consumistas descontrolados: roubam ou matam para poder vestir roupas de ''grife'', andar em ''carrões'' último tipo e morar em luxuosas mansões. Uma vez que eles chegaram à conclusão de que, por meio de profissões lícitas, jamais chegariam a um padrão semelhante de vida, optaram pelo caminho supostamente mais ''fácil''( se é que se pode chamar deste modo uma via que leva, na melhor das hipóteses, à prisão por vários anos...E, na pior, à morte...). Estupradores, do mesmo modo, são aqueles que, à vista do objeto de seu desejo, não conseguem conter-se...Eles querem ''desfrutar'' da beleza que estão vendo, mas não tem dinheiro para ''comprar'' algo do gênero, e nem auto-controle para apenas desejarem uma pessoa sem terem de imediatamente botar as mãos nela...O padrão que estamos analisando acaba servindo para explicar as ações de traficantes, estupradores, viciados em drogas, enfim, toda esta malta que enche as cadeias brasileiras: todos são ''consumidores''( ou aspirantes a)de alguma forma. Todos são movidos por alguma espécie de desejo de consumo, e não tem paciência para- como os comuns dos ''mortais''- trabalhar duro para poderem alcançar o que desejam. Os ''consumistas do crime'' vêem alguém mais próspero, e esperam com suas ações de impacto igualar-se, de imediato, àqueles que, intimamente, invejam...Claro que ações desta espécie podem até proporcionar riquezas passageiras, mas não garantem aos seus agentes uma das principais vantagens decorrentes da riqueza: a tranqüilidade...Que espécie de vida podem levar os nossos ''consumistas do mundo do crime''? Jornais já noticiaram um assalto a uma empresa controlada pelo PCC( ''Primeiro Comando da Capital'', organização criminosa que organiza ações dentro e fora dos principais presídios paulistas...)!!! Ladrão que rouba ladrão...Alcnol.
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