Para quem tanto fez para se diferenciar do time de 2006( que fazia treinos abertos, dava entrevistas para a imprensa, e era formado por jogadores de muito talento) a Seleção de Dunga acabou levando muita gente a cometer o mesmo erro daquela malfadada Copa.
Assim como no último Mundial, a torcida se deixou levar pela euforia após os primeiros resultados. Como em 2006, pegamos um grupo fraco. Como naquela Copa, nos classificamos e enfrentamos um adversário sem tradição nas oitavas de final. Até o placar foi o mesmo: 3 x 0 sobre Gana, e 3 x 0 sobre o Chile...E ,lamentavelmente, como naquele mundial, a Copa para nós só ''começou'' nas quartas de final. E com derrotas: 1 x 0 para a França, e 2 x 1 para a Holanda.
Por que batizei este post com o título de ''crônica de uma morte anunciada''? Isto porque não se há de apontar aqui nada que já não tenha sido ventilado pela crônica esportiva nos últimos meses: Felipe Melo, a fraqueza de Michel Bastos pelo lado esquerdo( de onde se originaram os dois gols da Holanda), e até mesmo a tão badalada ''melhor defesa do mundo''( eleita, claro, pelos nossos patrícios...e algo bem distante da realidade...esta mesma defesa ''aprontou'' no jogo contra Portugal, e só não sofremos um gol graças às defesas do goleiro Júlio César).
Sofremos também com a falta de criatividade do meio-campo. Com Kaká longe da melhor forma. Mas, fique bem claro, não é dele a culpa pela derrota. Tivesse Kaká um substituto à sua altura, como discutía-se há tempos, e isto poderia ter sido remediado.
A derrota de hoje foi resultado do excesso de pretensão. Até parte da imprensa deixou-se levar pela euforia: ''melhor defesa do mundo'', ''Seleção da Holanda é freguesa'', o Brasil pegou o ''caminho mais fácil'' para chegar à final, foram algumas das expressões que ouvimos na véspera...No final de um primeiro tempo em que a nossa Seleção foi claramente superior, podia-se ouvir o sopro das vuvuzelas e o estouro de fogos da torcida- como que a menosprezar os adversários...O mesmo erro foi cometido dentro de campo, aliás...
No nosso país confunde-se competência com popularidade. Como se não pudéssemos criticar quem está, por momentos, desfrutando de ''tantos por cento'' de aprovação. A Folha de São Paulo trouxe na edição de hoje uma pesquisa Datafolha dando 69% de aprovação para o técnico Dunga. Como se quaisquer pesquisas com torcedores de uma equipe que, até ali, estava vencendo pudessem gozar de alguma credibilidade...Quantos por cento de aprovação tem o nosso treinador agora?
Tantas vezes na História deste país vimos pessoas que haviam defendido com toda ênfase um determinado político para, depois das eleições, passarem a criticá-lo selvagemente( lembram-se de Collor?), que já podemos esperar que estas mesmas pessoas- com a mesma ênfase com que davam um altíssimo índice de aprovação a Dunga- se voltem furiosamente contra o mesmo...
Por outro lado, não nos cabe assumir aqui o papel de ''Cassandras''. Daqueles que viram os riscos que assumíamos com este time limitado, e agora sorriem com um ar de ''eu não disse?''. Antever um desastre é mais motivo de tristeza do que de júbilo...
O pior de tudo é descobrir, amargamente, que a nossa preparação foi mais uma vez equivocada. Por motivos comerciais, e pela teimosia do treinador, descuidamos dos amistosos preparatórios. Como já havíamos vencido a Copa das Confederações e a Copa América, julgava-se que este time já estava ''pronto''. Enquanto os rivais enfrentavam equipes com a força de uma Alemanha, o Brasil disputava amistosos ''caça-níqueis'' com a...Tanzânia...
Aos que defendem as concepções deste treinador, sua ''consequência'', seus ''resultados'', sua ''coerência'', vamos aos números: as equipes ''moleques'', ''arteiras'', ''inconsequentes'' que praticavam o futebol-arte que tanto nos notabilizou mundo afora, conquistaram 3 Títulos Mundiais entre 1950 e 1970. De 74 para cá, a corrente que acha que o Brasil deve praticar um futebol mais ''eficiente'', ao ''estilo europeu'', um ''futebol de resultados'', conquistaram apenas 2 títulos...E em quase 40 anos...
É chegado o momento, uma vez mais, de ''rever nossos conceitos''. Perder não é errado. Ao contrário, faz parte do jogo.
Mas perder como perdemos hoje- sem qualidade, brio, totalmente envolvidos pelo time holandês no segundo tempo, podendo tomar inclusive mais gols- é vergonhoso. Pior do que perder com uma equipe em que se acredita, formada pelos melhores jogadores disponíveis no momento, é perder com um time em que não se acredita. E conduzido por pessoas que partilham de concepções ultrapassadas, que nem sequer são capazes de conduzir-nos às tão sonhadas vitórias...
Alcnol.
PS: Até a Jabulani ''vibrou'' com a eliminação de Felipe Melo...