Uma série de TV norte-americana, Seinfeld, se definia como uma série ''sobre o nada''. -Qual o tema de vocês? - Olha, nós falamos sobre coisa alguma. Trata-se de uma boa tirada. Já tivemos chance de discutir aqui sobre o ''valor'' da literatura/escrita. Na verdade, em meio a um mundo de coisas ''reais'', ''concretas'', ''relevantes'', ''importantes'', escritores preferem- sempre preferiram- escrever sobre coisa alguma. Ao menos coisa alguma que parecesse estar dotada de algum dos adjetivos antes elencados. Em meio a um mundo de pessoas ''práticas'', ''ocupadas'', os escritores sempre pareceram estar fazendo nada. Claro que há uma tolerância quanto a este nada, porque a muitos a escrita parece ''misteriosa'', ''inteligente''. Na verdade, não há mérito algum em escrever. Nós simplesmente botamos para fora tudo o que ingerimos até hoje. E é algo tão físico, tão irresistível, tão compulsivo quanto vomitar ou excretar algo( muitos escritos até se assemelham ainda mais a estas atividades, a ponto de se tornar quase impossível distingüir uma atividade da outra ). O que você ingere, você expele. Se você ''devora'' o New York Times ou o ''Estadão'' de domingo, dentro de alguns anos sentirá uma leve tentação de fazer algo do gênero. Mas não se sente culpado de ''plágio'' ou algo semelhante, porque, a esta altura, as informações já estarão tão consolidadas em seu cérebro que, a seu modo de ver, o seu estilo parecerá ''original''. Esta é a versão otimista da coisa. A pessimista parte de uma pergunta: como botar para fora algo que se assemelhe a um texto escrito se você não lê? Sabemos que os jornais tem circulações cada vez menores, bem como a tiragem da maior parte dos livros. E estes são os principais ''combustíveis'', as principais fontes dos futuros jornalistas/escritores/blogueiros. Você bota gasolina, o seu carro anda. Você devora palavras, as palavras ficam remoendo dentro de você- à espera de serem expelidas de múltiplas formas, em um reconhecimento implícito de que você admira as figuras que as escreveram, e pretende espelhar-se nelas. Porém, o imediatismo do mundo moderno se opõe à idéia de trabalhar longamente uma idéia, um tema. Todos querem escrever, manifestar-se, e isto não deixa de ser bom. O ruim é a falta de credibilidade de algumas das fontes novas de informação. Ainda prefiro os ''jornalões'', na falta de coisa melhor.A minha visão particular é a de que eu já tive tempo de descobrir que não ''sirvo'' para coisa alguma, eu não sou bom em coisa alguma ( ao contrário do tempo em que achava que era, potencialmente, um ''talento'' a ser descoberto- ''está lento''; do tempo em que achava que eu dominava tudo sobre relacionamentos- e os ''outros'' é que não sabiam viver; do tempo em que eu achava que os ''outros'' é que não sabiam educar os seus filhos, e eu seria, futuramente, o melhor pai do mundo ). O tempo passou, as nossas pretensões também, os fracassos e desilusões se avolumaram, e, ''súbito'', percebo que, na verdade, a ÚNICA coisa que eu sei fazer, e ainda assim mais ou menos, é colocar algumas palavras em seqüência em uma folha de papel
( êpa! até nisto estou defasado: em uma página de computador...). Vencendo ou tentando vencer a minha eterna tendência a ''pregar'' idéias, para fazer desta página pessoal um espaço para expor- aos outros, se existirem, e a mim mesmo- uma parte oculta muito especial, uma forma própria de enxergar o mundo e a ''realidade'' que só eu posso fazer. Em suma, NADA. O que eu faço é nada, e estas são as minhas notas sobre o nada...
quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008
Intuições?
Esta coluna não pretende se juntar ao espírito cético dominante na atualidade, em especial nos meios considerados mais ''inteligentes''. Mesmo porque consideramos que os denominados mundos ''material'' e ''espiritual'' estão mais misturados do que imagina a nossa vã consciência. Este episódio que vou narrar ocorreu no dia da minha última viagem a Curitiba, em janeiro, já descrita em outros textos do Blog: no dia da viagem, de ônibus, às 9 da manhã, eu estava sonhando. E, neste sonho, eu estava PERDENDO UMA VIAGEM, POR ATRASO. Este sonho me assustou, eu acordei, e vi que estava atrasado para a minha viagem, a REAL...Já passava das 7 da manhã, e era preciso correr para estar na Rodoviária ás 9. O interessante foi que justamente o atraso que eu tive foi que me possibilitou estar em casa ainda às 8 da manhã, quando soube, pelo noticiário local, que o metrô- meu meio de transporte escolhido- tinha sofrido uma pane. Eu raciocinei que as panes do metrô tem efeitos prolongados, não se limitando a um determinado trecho. A coisa funciona meio como uma ''bola de neve'': um atraso aqui vai afetando toda a linha. Resultado: mudei os planos( graças ao atraso, que só não foi maior por causa de um ''sonho'' me alertando que eu poderia perder a viagem...!)e decidi ir de táxi, chegando na Rodoviária em cerca de 15 minutos. O mais interessante nisto tudo é que a vida inteira da gente é repleta de tais ''coincidências'', que consideramos como tais na ingenuidade de querermos achar que estamos ''sós'' e ''desamparados'' neste planeta tão ''inóspito'' e ''cruel''...Por que algumas pessoas deixam de embarcar em vôos que sofrem acidentes fatais? Será mera ''coincidência''? Respondam os arautos da ciência oficial...
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