terça-feira, 16 de setembro de 2008

''Educação vem do berço''

Ainda é dia. Eu, com duas sacolas de mercado, volto para casa. Eis que, ao cruzar uma esquina, percebo que um mendigo vem em minha direção. No curto espaço de tempo fico refletindo sobre a atitude mais correta a adotar. Ignorar, dizer que não tenho trocados, dar uma desculpa qualquer, dizer algo ''inspirador''. Enquanto penso sobre tudo isto, não tiro os olhos daquela potencial ''ameaça''. É asim que, surpreso, vejo o mendigo passar por mim, também com suas sacolinhas- que contém sabe-se lá o que que ele coletou pelas ruas e lixeiras- e dizer um gentil ''- Boa tarde''. Juro que quase caí para trás. Há muitos ''grã-finos'' e mesmo gente de classe média que sequer olham nos olhos de quem passa por eles. Que não cumprimentam sequer os ''inferiores'' que os servem: mordomos, porteiros, empregadas...E este mendigo, aquele surpreendente mendigo, além de não pedir nada- não era uma nova estratégia para ''arrancar dinheiro'' dos outros- ainda sorriu gentilmente ao passar por mim...''Somos humanos'', ele estava dizendo com o seu belo gesto, ''somos todos apenas humanos''...

Coisa de Paulistano: feijoada às quartas-feiras(???!)

Ninguém que eu conheça sabe me explicar por que aqui- e só aqui- costuma-se servir feijoada aos sábados e também às quartas-feiras. Não é uma iniciativa isolada. Quase todos os restaurantes aderem a esta feijoada das quartas...Sabemos que a feijoada, este típico prato nacional, surgiu por iniciativa dos escravos. Eles as preparavam com as sobras dos banquetes de seus ''donos''...Feijoada hoje é um grande negócio. Além de uma casa especializada na Avenida Cidade Jardim- o ''Bolinha'', que ainda não conheço- ela é um prato democrático por excelência: é servida desde os ''cinco estrelas'' até os restaurantes naturais( ''naturalmente'' com produtos similares à carne e ao toucinho)e os botecos da esquina, junto com os ''pratos-feitos'' do dia...Feijoada não é novidade. Feijoada às QUARTAS-FEIRAS, isto sim. Isto, ao que eu saiba, só em São Paulo se faz. O que eu vou comer amanhâ? Feijoada, em algum destes lugares todos citados...PS: Não seria normal, para acompanhar a tradição de usar as ''sobras'' de comida, que a feijoada fosse feita às segundas-feiras??? Aceito palpites para tentar resolver mais este ''mistério paulistano''...

Requiém...

Agora está na moda montar restaurantes. Todos os dias surge um novo. Hoje, caminhando pela rua Bela Cintra, deparei com um que está para ser inaugurado: um restaurante irlandês( e desde quando o Reino Unido se caracteriza pela qualidade de sua comida?, pensei no íntimo, embora possamos ressaltar que hoje Londres passou Nova Iorque como centro cultural e, inclusive, gastronômico- é o que dizem as revistas...). A mortalidade de todos estes novos empreendimentos gastronômicos também é alta. É comum descobrir que algum, inclusive de nossa apreciação, acabou de fechar. Muitos porque seus donos pensam que montar um restaurante é apenas alugar um local qualquer, enchê-lo de objetos luxuosos, servir pratos ''da moda''- mas CADÊ A ALMA? Comer é apenas parte daquilo que tanto apreciamos em uma saída para almoçar, em especial nos finais-de-semana. Você quer trocar idéias com as pessoas que o estão atendendo, na medida do possível. Quer chegar a um lugar, pela quinta ou sexta vez, e ser reconhecido. E não tratado como o cliente ''número 1005''...Você quer, ao comer fora, se sentir bem naquele ambiente. Ver e ouvir outras pessoas interessantes. Tudo isto é um delicioso RITUAL. Acompanhado de um belo vinho( êpa! eu defendo a ''Lei Seca''; por coerência, troquemos por uma água mineral com gás...), e com uma bela conversa. Restaurantes, ao menos os melhores, não são simples ''fazedores de comida''. Eles criam ambientes, no qual gostamos de ser recebidos...Enfim, há todo um segredo para se fazer um bom restaurante. Não basta ter ''trabalhado com o chefe X'' ( quantos anos o chef famoso levou para aprender tudo o que sabe? e para estabelecer relações com todas aquelas pessoas que fazem questão de prestigiá-lo a cada almoço ou jantar?). Muitos fecham por merecimento. Não tem alma. Não se distingüiram em nada. Ganharam, quando muito, uma notinha de jornal na semana de sua inauguração. Mas às vezes, e isto é que nos incomoda mais, um excelente restaurante também fecha. Este é o caso do ''Saint Tropez'', uma casa especializada em frutos do mar. Fechou no mesmo ano em que abriu, e colocou a engraçada plaquinha ''desde 2008''. O dono já tem duas outras casas, e decidiu criar um ambiente ao melhor estilo das cidades do interior. Lamparinas como as de cidadezinhas, paredes pintadas de amarelo, tudo me lembrava a Bahia. Mas ele ousou fazer mais do que um outro restaurante de comida baiana. Os pratos levavam nomes que aludiam ao Caribe. A moqueca, suave e com bastante leite de côco, era chamada de ''baiannaise''( pronunciava-se ''baianése''). Pastéis variados de entrada, incluindo um de camarão, caldo de peixe, sobremesas inesquecíveis. Uma ocasião marcante foi quando- não por minha iniciativa, claro- em um dia de sol fomos comer no segundo andar. A mesa, em frente a uma janela. Pela janela, mal sentamos, começaram a entrar os abundantes raios de sol, cobrindo toda a mesa. Aquele ''sol de restaurante paulistano''( quando os ''incomodados'' são aconselhados pelo garçom para mudar de mesa, ele já sumiu por detrás dos prédios...). Esta maravilha toda não ''pegou''. Pergunto-me por que. Muito ''descontraído'' para os paulistanos, com bastante luz natural. ''Informal demais''. Ou simplesmente uma novidade a mais em meio a uma multidão de estabelecimentos com muito mais tradição. O dono também não quis arriscar demais, e pode tê-lo fechado antes mesmo que tivesse a chance de dar certo. O ''Bira''- do conjunto de jazz que acompanha o Jô Soares em seu programa de TV- tocou lá, às terças-feiras à noite. Uma pena o fechamento do Saint Tropez. Entre tantas coisas, tantas coisas para lembrar e reviver, ele vai deixar saudade. Perdemos a nossa chance de ''viajar para a Bahia'' sem sair de São Paulo...

Almoço na (Avenida)Ipiranga...

Hoje peguei o metrô para ir ao centro. Embora veja sempre alguém lendo alguma coisa dentro do metrô- no último sábado vi inclusive um grupo de rapazes comprando o clássico ''A Arte da Guerra'' em uma das maquininhas de venda de livros- hoje, para minha surpresa, deparei com 3 pessoas lendo jornais. Jornais mesmo, não aqueles distribuídos de graça como o ''Metro''. Duas leitoras da Folha, e uma jovem(!!!?)saindo do vagão com um ''Estadão'' nos braços. JURO que não estava sonhando...Bom, o local escolhido por um grupo de amigos foi um misto de bar e restaurante no centro, em plena Avenida Ipiranga, chamado ''Dona Onça''. O lugar é decorado com charges daquele velho personagem ''O Amigo da Onça'', assim como uma charge de Laerte no banheiro( também homenageando o tema do bar, a onça...). Como o dia começou e terminou gelado- mal passando de 16 graus quando saímos do restaurante, com uma sensação térmica de 10...- tive a impressão, olhando para fora, que estava em outro pais, outro lugar. Todas aquelas pessoas caminhando com seus gorros, cachecóis, sobretudos, uma imagem para nenhum apreciador do frio como eu botar defeito...Escolhi como prato algo que não comia desde criança: fígado, acebolado. Muito bom, nada pesado. Algumas companheiras de mesa, incluindo minha mãe, estiveram em Campos de Jordão este final de semana. Lá não puderam apreciar o frio: durante o dia fez até 28 graus centígrados...Neste final de inverno pudemos enfim, após longos e insuportáveis dias de calor acima dos 30 graus, apreciar uma ótima ''seqüência de dias frios''. Desde sábado, e sem previsão de terminar...Aqui está mais frio do que no Sul. A justificativa da meteorologia é que ''uma massa de ar frio vinda do litoral derrubou as temperaturas na capital''. Quando vem do interior, esquenta...Voltando ao almoço, uma das sobremesas era chamada de ''trio elétrico'': pudim, quindim e brigadeiro( claro que para encarar tudo isto a porção tinha de ser pequena: um ''pouquim'' de cada coisa...). Deixei-as no metrô República- em obras graças à futura ''linha amarela'' do metrô paulistano- e fui resolver o que tinha de resolver, às pressas como todo mundo.

Casa Cheia...

O restaurante, onde como ao menos uma vez por semana, funciona em sistema de bufê. Por um preço fixo, é possível tomar uma sopa de entrada, comer à vontade, tomar sucos e comer sobremesa( também livremente). Normalmente, sei que até por volta de meio-dia e meia ainda sobram lugares no segundo andar da casa. Por isto, entrei despreocupadamente e enchi o meu prato e um de sobremesa junto para não ter de descer novamente...Quando subi para o primeiro andar, surpresa total. Estava lotado! Mesmo a mesinha junto à escada, que nunca vejo ocupada, ontem ela estava. Percorro os 3 ambientes do andar de cima, sem sucesso. Desço com os pratos na mão, e tento procurar lugares na parte de baixo- justamente a que enche primeiro...Sem sucesso. Falo com uma funcionária do restaurante. Ela aconselha que eu...''procure no andar de cima''. Digo que estou voltando de lá, e ela dá um sorriso amarelo...Mais procura, e uma fila gigantesca vai se formando junto às porções de comida. A massa de funcionários dos escritórios e empresas vizinhas acaba de chegar...Aciono uma outra funcionária do restaurante. Esta foi ainda mais ''genial'': disse que ''o senhor vai ter de esperar''(com os pratos na mão!!!?). Uma nova procura, até que uma cliente me avisa que já está se retirando. Foram 10 minutos de agonia. São estas coisas que a gente mais procura evitar em uma grande metrópole. Uma diferença de poucos minutos pode implicar momentos de ''céu'' ou ''inferno''( este a situação por que passei). O coração ainda batia agitado quando comecei a comer, fruto de tanto desconforto. Mas acalmei a tempo( ou por causa?)de comer a sobremesa de doce de banana cremoso...