O tom dos artigos de escritores, no que se refere aos centros de compras, é sempre negativo. Eles mal ocultam o desprezo por estes ''monstrengos'', cada vez mais presentes na vida dos brasileiros. Só este ano já inauguraram um em São Paulo- ''Shopping Bourbon''- e em maio é prevista a inauguração de outro( ''Cidade Jardim''). Mas ,antes de expor a minha tese sobre o assunto, alguns breves comentários: desde o último sábado, a metrópole tem um novo cartão postal. É a ponte ''estaiada Otávio Frias''( pelo que li, embora ache estranho que a Avenida Roberto Marinho acabe na Ponte Otávio Frias, uma estranha junção de concorrentes que a vida real não foi capaz de produzir...). Da altura de um prédio de 46 andares, tem uma forma em curva interessante para uma ponte. É sustentada por gigantescos cabos amarelos. E já virou a nova vedete dos programas locais da TV Globo, situada nas imediações. A Globo criou um estúdio em frente à ponte, que será agora o fundo dos programas Bom Dia SP, e SP-TV Primeira e Segunda Edições. Segundo nota da imprensa foi ''complicadíssimo''- para usar um termo bem paulistano- adaptar os programas à iluminação natural vinda de fora . Mas a empreitada está dando certo. Este outono paulistano, por outro lado, está com uma cara de inverno...Há mais de uma semana a temperatura vem oscilando entre 20 e 21 graus, com uma massa de ar polar vinda do Sul. O resultado são dias ás vezes ensolarados, sem nuvens no céu, mas um frio bem forte- que faz com que as pessoas tenham de tirar seus agasalhos dos armários- e outros dias cinzentos, mas secos, sem chuva. Este assunto me leva a abrir outro parêntese. Já escrevi alguns textos em que falo do quanto gosto do frio, e de lugares frios. Mas também há duas espécies de frio: um exterior, que mal percebo quando estou em movimento/ caminhando pelas ruas desta cidade. Nesta hora chego mesmo a transpirar, sentindo um estranho calor...Mas, dentro dos apartamentos, em especial deste onde moro, o frio se acumula, e é manifestado com uma força peculiar. Aqui dentro admito que, se não me agasalhar adequadamente, sinto frio mesmo. O frio se manifesta no chão, e nas paredes. Somos obrigados a fechar a porta da cozinha, para não deixar um corredor de ar frio circulando pelos ambientes. As laranjas que compro e deixo na cozinha parecem, pela manhã, ter estado em um freezer...Falando em frio, sabiam que, segundo pesquisas, sentimos cerca de 40% do frio na cabeça- que merece um especial cuidado? No entanto, com estes comentários todos, não estou me queixando de frio. Muito pelo contrário. Estou efuziante por estes dias todos com uma temperatura, para os meus padrões, bem agradável. Minha reclamação é bem outra: quando entramos em lojas, restaurantes ou shoppings o ar condicionado, lá dentro, fica desligado. Isto dá um choque térmico tremendo. Ao entrar e ao sair destes ambientes. Por isto, e não pelo suposto frio externo, minha saúde anda meio cambaleante por estes dias. Espirro. Procuro tomar bastante café, chocolate quente e sucos de laranja para não sucumbir a uma gripe que me ronda. E, já que estamos falando em shopping centers, vamos, enfim(!), ao tema deste ''post''. Da utilidade dos shopping centers. Uma ressalva: meu apreço pelas cidades do Sul do país, em especial Curitiba, vem do fato de que, nestes lugares, ainda há um comércio de rua forte. E eu não troco uma loja de rua por nenhum de seus similares nos shoppings, fique claro. Nos sábados, a curitibana ''Rua das Flores''- fechada para os automóveis por iniciativa do ex-prefeito Jaime Lerner- é tomada por uma multidão. Registre-se aqui a presença da chamada ''Boca Maldita'', trecho da rua com bares e cafés onde as pessoas costumam conversar e polemizar. Artistas de rua, inclusive com instrumentos andinos, costumam se apresentar para os passantes. Outros artistas vendem os seus quadros. Vendedores das lojinhas usam alto-falantes para anunciar as suas promoções. Idosos sentam-se nos banquinhos da rua. Canteiros de flores foram instalados por toda a extensão da rua, e este é o motivo de seu nome. Há um bondinho desativado, característico de outra época. Pessoas tiram fotos junto dele. As famosas lojas de departamento, de que já tratei em outro ''post'' , também tem seu lugar nesta rua. E não esqueçamos da bela filial das ''Livrarias Curitiba''( lá em Floripa elas se chamam ''Livraria Catarinense, com uma ótima matriz de 4 andares no centro da cidade). Em suma, este contato com o centro das cidades eu não troco por coisa alguma. Mas vamos aos shoppings. É costume maldizer os shoppings, estes ''monstrengos'' de ode ao consumismo. E o papel dos shoppings não é mesmo muito nobre não: quase todos eles, em especial os mais antigos, tem o objetivo de fazer com que as pessoas percam a noção do tempo. Por isto, são fechados e escuros- funcionando à base de luz artificial. Após umas duas ou três horas em um shopping, eu fico exausto. Cansado de tanto barulho, tantas ofertas, tantos apelos comerciais, tantos esbarrões pelos corredores. Mas, por outro lado, foi aqui em São Paulo que aprendi a apreciar os shoppings. Desde a época em que ainda não morava aqui, era programa obrigatório visitar um meio distante, por um motivo especial: no shopping Villa Lobos foi criada a primeira Livraria Cultura de shoppings...Por aí você já entende como, na minha cabeça, eu consigo conciliar toda a chatice destes centros de compras com a sua maior utilidade. Praticamente todos os shoppings criados nos últimos tempos tem uma livraria de âncora. O Shopping Paulista, recém-ampliado, ganhou uma megastore da Saraiva( com café e tudo). O Morumbi Shopping, que fica ao lado de outro shopping( o Market Place) é o meu ''Triângulo das Bermudas'': esta região reúne dois cafés excelentes( Starbucks e Suplicy)e TRÊS de minhas livrarias favoritas: Cultura( no vizinho Market Place), Fnac e Saraiva. Uma simples visita a este ''Triângulo das Bermudas'' leva horas...Horas de muito prazer e alegria, diga-se de passagem. Dirão vocês: e os shoppings? Os shoppings são o plano de fundo. Agradeço a eles o prazer que me proporcionam juntando as coisas que mais gosto. E, admitamos, não é nada desagradável dar, se sobrar tempo, uma olhadinha pelas outras coisas. Por uma Americanas, ao lado de uma loja de grife...Basta termos a mente aberta para novas descobertas. Mas cuidado com a voracidade dos vendedores( de shoppings ou não...)Os shoppings, e é por isto que ainda os toleramos, pretendem- e ainda bem que este é um projeto irrealizável- juntar TODOS os comerciantes em um só lugar, para ''facilitar'' a vida dos consumidores( que, na rua, teriam de ir a diversos lugares distantes entre si). Diga-se de passagem que mesmo o recém-inaugurado Shopping Leblon, no Rio de Janeiro, preocupou-se em abrir espaço para uma Megalivraria( Livraria da Travessa). Está justificado, pois...Na minha cabeça, é a conclusão, os shoppings se justificam- ou nao- por suas livrarias. Que surjam muitos shoppings, então. E cada vez mais livrarias...O país anda precisando muito de cultura( e de cada vez mais Livrarias Cultura)...PS: São Paulo consegue fazer esta junção muito bem, a de excelentes Livrarias e Cinemas de rua, com seus similares de shoppings. Na minha cabeça, repito, estas coisas não se excluem. E por que haveriam de excluir-se??? Da rua entro nos shoppings, e saio como se tudo isto fosse uma coisa só. O que está errado não é a existência, ''por si só''( para usar um termo bem apreciado e disseminado no meio jurídico), dos shoppings. O que está errado é pensar no shopping como um lugar de ''refúgio'' dos perigos externos. É esta ''mentalidade de cerco'', esta paranóia que é manipulada para construir cada vez mais condomínios e shopping centers para ''refúgio'' de uma classe média amedrontada pelo noticiário, é isto que está errado. Na minha cabeça, na minha mente, entro e saio de ruas e shoppings como se fossem uma coisa só, um o prolongamento do outro. E USO os shoppings para ter acesso ao que me é mais precioso: as livrarias...Faz sentido? Para mim faz...