Agora está na moda montar restaurantes. Todos os dias surge um novo. Hoje, caminhando pela rua Bela Cintra, deparei com um que está para ser inaugurado: um restaurante irlandês( e desde quando o Reino Unido se caracteriza pela qualidade de sua comida?, pensei no íntimo, embora possamos ressaltar que hoje Londres passou Nova Iorque como centro cultural e, inclusive, gastronômico- é o que dizem as revistas...). A mortalidade de todos estes novos empreendimentos gastronômicos também é alta. É comum descobrir que algum, inclusive de nossa apreciação, acabou de fechar. Muitos porque seus donos pensam que montar um restaurante é apenas alugar um local qualquer, enchê-lo de objetos luxuosos, servir pratos ''da moda''- mas CADÊ A ALMA? Comer é apenas parte daquilo que tanto apreciamos em uma saída para almoçar, em especial nos finais-de-semana. Você quer trocar idéias com as pessoas que o estão atendendo, na medida do possível. Quer chegar a um lugar, pela quinta ou sexta vez, e ser reconhecido. E não tratado como o cliente ''número 1005''...Você quer, ao comer fora, se sentir bem naquele ambiente. Ver e ouvir outras pessoas interessantes. Tudo isto é um delicioso RITUAL. Acompanhado de um belo vinho( êpa! eu defendo a ''Lei Seca''; por coerência, troquemos por uma água mineral com gás...), e com uma bela conversa. Restaurantes, ao menos os melhores, não são simples ''fazedores de comida''. Eles criam ambientes, no qual gostamos de ser recebidos...Enfim, há todo um segredo para se fazer um bom restaurante. Não basta ter ''trabalhado com o chefe X'' ( quantos anos o chef famoso levou para aprender tudo o que sabe? e para estabelecer relações com todas aquelas pessoas que fazem questão de prestigiá-lo a cada almoço ou jantar?). Muitos fecham por merecimento. Não tem alma. Não se distingüiram em nada. Ganharam, quando muito, uma notinha de jornal na semana de sua inauguração. Mas às vezes, e isto é que nos incomoda mais, um excelente restaurante também fecha. Este é o caso do ''Saint Tropez'', uma casa especializada em frutos do mar. Fechou no mesmo ano em que abriu, e colocou a engraçada plaquinha ''desde 2008''. O dono já tem duas outras casas, e decidiu criar um ambiente ao melhor estilo das cidades do interior. Lamparinas como as de cidadezinhas, paredes pintadas de amarelo, tudo me lembrava a Bahia. Mas ele ousou fazer mais do que um outro restaurante de comida baiana. Os pratos levavam nomes que aludiam ao Caribe. A moqueca, suave e com bastante leite de côco, era chamada de ''baiannaise''( pronunciava-se ''baianése''). Pastéis variados de entrada, incluindo um de camarão, caldo de peixe, sobremesas inesquecíveis. Uma ocasião marcante foi quando- não por minha iniciativa, claro- em um dia de sol fomos comer no segundo andar. A mesa, em frente a uma janela. Pela janela, mal sentamos, começaram a entrar os abundantes raios de sol, cobrindo toda a mesa. Aquele ''sol de restaurante paulistano''( quando os ''incomodados'' são aconselhados pelo garçom para mudar de mesa, ele já sumiu por detrás dos prédios...). Esta maravilha toda não ''pegou''. Pergunto-me por que. Muito ''descontraído'' para os paulistanos, com bastante luz natural. ''Informal demais''. Ou simplesmente uma novidade a mais em meio a uma multidão de estabelecimentos com muito mais tradição. O dono também não quis arriscar demais, e pode tê-lo fechado antes mesmo que tivesse a chance de dar certo. O ''Bira''- do conjunto de jazz que acompanha o Jô Soares em seu programa de TV- tocou lá, às terças-feiras à noite. Uma pena o fechamento do Saint Tropez. Entre tantas coisas, tantas coisas para lembrar e reviver, ele vai deixar saudade. Perdemos a nossa chance de ''viajar para a Bahia'' sem sair de São Paulo...
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