Esta Feira do Livro de Buenos Aires tem História, e que História...
São 38 anos sucessivos de realização.
Por estes corredores, já passaram nomes como Cortázar e Jorge Luís Borges.
Nos anos da última ditadura argentina, os militares davam uma ''passadinha'' no dia anterior ao da abertura da Feira para tirar as obras ''indesejáveis''...
Significativo isto: nem os militares argentinos, que mataram mais de 20 mil pessoas durante a ditadura( 1976/1982), tiveram coragem de acabar com esta Feira do Livro de Buenos Aires...
A Cultura tem este efeito: ela sobrevive aos desastres provocados no terreno político/econômico...
Só a Cultura é eterna, sobrevivendo aos Césares e Napoleões...
Não tenhamos uma visão meramente utilitária da mesma: ela não nos impede de cometer erros, até mesmo os maiores equívocos.
Trataremos da situação argentina em outros posts.
Um apressado há de perguntar: ''OK. Eles adoram ler. Isto não os impede de ter os dirigentes políticos que conduziram, e ainda conduzem, o país à difícil situação de hoje. De que serve esta Cultura toda?''.
Lamentavelmente, os destinos de uma nação- e isto inclui a nossa- são decididos em lugares bem distantes das dependências destes eventos culturais...
Mesmo que se pudesse ouvir os dentes rangendo, e os palavrões que são proferidos nos cafés e nas livrarias da Recoleta e de Palermo quando se fala no atual Governo Argentino, além dos artigos mais críticos que preenchem as folhas dos jornais e revistas, as pessoas que verdadeiramente decidem os destinos de um país latino-americano hoje em dia- as ''massas'' tão aduladas por Governos Totalitários de ''direita'' ou de ''esquerda''- permanecem intocadas e indiferentes a toda esta Maratona Cultural...
Sim, no país que apresenta proporcionalmente o maior número de leitores, o número de não-leitores ainda é bem maior...
Não digo isto para desanimar, e sim para enfatizar o quanto ainda pode ser feito neste terreno...
No nosso mundo tão complexo, Cultura e Barbárie sempre conviveram aos trancos e barrancos.
Barbárie simbolizada não por aqueles que não tem acesso à Cultura, entendendo-se isto como uma limitação passageira/transitória, e sim por aqueles que, muitas vezes oriundos de uma condição social mais privilegiada, nutrem uma desconfiança permanente por todos aqueles sinais de Cultura( jornalistas, escritores, artistas)que, exatamente por isto, mostram-se incapazes de aceitar quaisquer tentativas de implantar um Pensamento Único.
A Cultura tem memória.
Exatamente por isto é tão incômoda para aqueles que, buscando (re)implantar modelos viciados e fracassados no passado, desejam eliminar quaisquer focos de lembrança ou resistência...
Alcnol.