No último episódio, que comentamos em um post anterior, os personagens ''Ben'' e ''John Locke'' se encontram no ''plano espiritual''( isto é, longe do cenário da Ilha...). ''Ben'' pede ''perdão'' a ''Locke'' por tê-lo ''assassinado''. Locke diz que tudo não passava de fantasia, e que não havia nada a perdoar. ''Mas'', ele continua, ''se isto for importante para você, eu o perdôo''...
Como afirmamos anteriormente, o último episódio da série se baseia em diversas tradições espirituais que tratam do chamado ''pós-morte''( quando o indivíduo resiste a passar para um plano superior, e cria todo um ''cenário'' conforme o padrão dominante de seus pensamentos. Tal cenário pode até mesmo incluir cenas de um ''inferno'', caso ele seja tomado por sentimentos de culpa...).
O grupo de ''Lost'' foi possuído por uma ilusão coletiva: a de que eles haviam sobrevivido na Ilha em que se passam os episódios da série. A ''negação'' suprema é a vida alternativa em que vários personagens continuam normalmente suas existências, como se não tivesse havido nenhum acidente...
O último personagem a ''despertar'' daquele sonho coletivo foi o médico ''Jack''- com a ajuda do pai( que já havia ''morrido''). ''Jack'' aperta o corpo do pai em um abraço, e comenta: ''- Você é real''. ''- Você também'', replica seu pai. Só então ele se dá conta de que também está ''morto''. ''Morto'' sem que, como acreditam muitos, tenha havido um ''final'' permanente...''Morto'' sem perecer, acabar para sempre...
Mas ainda há uma interpretação decorrente deste capítulo de ''Lost'': se fantasiamos mesmo após o final de nossas vidas, é porque vivemos fantasiando o tempo inteiro durante as mesmas...
Aí é que entram as tradições espirituais/religiões. Todas, praticamente todas( budismo, hinduísmo, cristãos místicos, espiritismo)enfatizam o fato de que ''é preciso estar no instante presente''. Nem no futuro e nem no passado: no presente. Isto por que? Porque os seres humanos tem uma incrível tendência a fantasiar. Todos nós estamos presos não à realidade, como deveria ser, mas- nas palavras de Don Miguel Ruiz, o autor do excelente livro ''Os quatro compromissos''- às ''nossas estórias''. Ás estórias que permanentemente contamos a nós mesmos( nossa visão sobre nós mesmos, nossa visão do mundo, nossa visão de como as coisas ''deveriam ser'', etc.).
O chamado ''pós-morte''- como vimos no último episódio de ''Lost''- é apenas um prolongamento de todas estas fantasias. E será mais ou menos doloroso- e duradouro- conforme acreditemos nestas versões que nós mesmos criamos...
O mais legal nisto tudo é que, às vezes, precisamos da ''ficção'' para entender um pouco mais o mundo em que vivemos e, sobretudo, a nós mesmos...
Alcnol.
PS: O que propõe Don Ruiz em um de seus ''compromissos''? ''Desconfie de si mesmo''...Desconfie das estórias todas que outros contaram a você, e que você fica repetindo inúmeras vezes em sua própria ''versão''. Em outras palavras, desperte...
PS2: O fato de termos entendido, ou pretendido entender, um pouco deste último episódio de ''Lost'' não quer dizer que acreditemos também que seus criadores ''sabiam desde o início o que queriam fazer''...Ao menos eles contrataram alguém que deu um fecho aceitável e significativo- para quem entender deste modo...