Quem diria que, após a estrondosa votação dada à candidata Marina Silva- que quase conseguiu reverter este ''plebiscito'' em que se transformou a Campanha Presidencial no Brasil- estaríamos ouvindo líderes religiosos exercendo pressão sobre os candidatos no Segundo Turno- como se fossem os grandes vencedores das eleições...
Inicialmente senti um grande desconforto com isto. Parece claro que se trata de uma ''chantagem'', que revela a força do ''lobby religioso'' em nosso país.
Apoiadores de Dilma Rousseff devem achar, como sempre, que esta é mais uma ''conspiração'' contra o seu partido( o PT).
No entanto, considerando que a candidata recebeu o apoio de diversas lideranças religiosas- incluindo o Bispo Edir Macedo- somos obrigados a analisar mais profundamente este retorno da discussão de temas religiosos para o centro do debate político.
Arrisco dizer que- embora favoreça os tucanos, que claramente tiraram partido disto- a discussão sobre o aborto tenha sido iniciada pela base das igrejas( católica ou evangélicas).
Por que isto se deu?
Uma lei da Física explica isto: a ''lei da ação e da reação''.
Em 8 anos de Governo, o PT gerou desafetos. Muitos fundadores do Partido deixaram a legenda para ingressar em partidos oposicionistas como o PSOL e o PV. A tradicional classe média urbana garantiu, desde o início desta campanha eleitoral, um apoio em torno de 40% para as candidaturas de José Serra e Marina Silva- o que desmentia a ''vitória certa'' que alguns institutos de pesquisa estavam a apontar.
Havia um forte descontentamento sendo gestado, podia-se dizer...
E tal descontentamento, para dizer o mínimo, não estava sendo coordenado pela chamada ''oposição política''. No momento em que apareceu o escândalo do ''Mensalão'', líderes tucanos como o Ex- Presidente Fernando Henrique Cardoso vieram a público para condenar propostas como a do ''impeachment'' do Presidente Lula. Deram a este a oportunidade de recuperar-se, de contar a história para a população sob o seu próprio ponto de vista. O crescimento econômico fez o resto...
Na oposição, os Governadores Aécio Neves e José Serra fizeram uma oposição ''light'': ao contrário do PT, que se opunha sistematicamente aos diversos Governos, entraram em acordo com Lula para apoiar diversos projetos que ''fossem bons para o país''.
Se não houve, e nem há, uma onda furiosa oposicionista que lembre os tempos da UDN pré- 64- salvo nas páginas das revistas ''chapa branca'' Carta Capital e IstoÉ- é no plano religioso que se gesta uma oposição ''moral'', ''comportamental'' ao Governo ''esquerdista''.
A última manifestação política relevante da Igreja Católica de que me lembro foi na época das chamadas ''Comunidades Eclesiais de Base''. As quais, por coincidência, estiveram estreitamente ligadas à fundação do Partido dos Trabalhadores...
De lá para cá, o pêndulo no interior da Igreja Romana parece ter se invertido. Hoje até mesmo Arcebispos, como o de João Pessoa-PB, vem a público fazer discursos condenando o tradicional apoio do PT ao aborto...
A ''Lei da Ação e da Reação'' a que nos referimos no início deste post vem finalmente se manifestar no plano político. O clima deste Segundo Turno parece bem diferente: enquanto a candidata do PT tenta apagar ''incêndios'' no plano religioso- tarefa um tanto difícil, dado que estes militantes das Igrejas agem de modo espontâneo e às vezes até contra as posições de seus dirigentes- a campanha dos tucanos ''tira umas casquinhas'' de todo este debate e parte para a ofensiva.
Vejam os programas televisivos: tanto no debate da TV Bandeirantes quanto no Horário Eleitoral Gratuito, é o PT que ataca, parte para a ofensiva. E o programa de José Serra retomou aquele tom ''blasê'', ''distante'', ''olímpico'' de quando estava à frente das pesquisas no início da campanha eleitoral...
O Governo acusou o golpe, e já avalia que a batalha será duríssima...
Quem diria: alguns religiosos ''carolas'', à margem das principais lideranças políticas, são capazes de influenciar fortemente as eleições em nosso país...
A principal oposição- duríssima e incontrolável até aqui- já não é a política( PSDB, PV, PSOL), e sim a ''existencial'', ''moral'', ''religiosa'', exercida por alguns bispos e ''padrecos carolas''...Quem conseguirá controlá-los, se não são ''subornáveis'' por dinheiro ou cargos políticos?
Alcnol.
PS: A foto é de uma Igreja em Curitiba-PR, que mostraremos nos próximos posts...