quarta-feira, 12 de dezembro de 2007
Divagações Paulistanas de Fim-de-Ano
Viver em um grande centro, para quem veio de um lugar menor, exige uma série de adaptações. Aqui ,no maior, TUDO É GRANDE. Grandes atrações, grandes prazeres, grandes problemas...Em um lugar como Brasília, era comum caminhar pelo Plano Piloto em certos horários e não deparar com uma viva alma.Em Sampa, ao revés, estamos sempre buscando espaços em meio à multidão. Esbarrando ou tentando não esbarrar nos outros. A Avenida Paulista, para os turistas como eu fui um dia, era o meu ''point'', lugar de chegada e de saída. Eu enchia o saco dos outros para dar aquela ''última passadinha'' pela Paulista. Hoje, tornou-se um lugar a evitar na hora do ''rush''. Grupos de 5 ou 6 pessoas, saídas dos escritórios, costumam caminhar lado a lado, impedindo qualquer ultrapassagem pelos lados. Uma caminhada mais veloz vira um simples passeio, sem contar os inúmeros sinais a atravessar...Costumo, para evitar estas mesmas multidões, almoçar mais cedo em um restaurante natural que freqüento. O restaurante reserva lugares para estes funcionários, como se fosse um grande bandeijão, lugares estes que- coincidência ou não- são os melhores, com vista para fora e tudo...Depois de meio-dia e 10 minutos eles começam a chegar aos bandos, ruidosos, falando das fofocas do trabalho, etc. A sensação de comer em meio a esta massa é de sufoco. Apressamos nosso ritmo para ir embora logo, sair para o ar livre. Nos finais de semana, quando comemos um pouquinho melhor, é só evitar sair de casa depois das 2 da tarde- hora em que paulistano começa a almoçar. O metrô, nas horas de ''rush'' é coisa de outro mundo: de manhã eles reservam duas escadas rolantes para a massa que sobe, e no final da tarde, duas escadas rolantes para o pessoal que desce. É MUITA, MUITA gente. Mesmo passando quase que de minuto em minuto, os carros vão extremamente cheios. Acho que só em Tóquio tem tanta gente que há até um funcionário especializado em empurrar as pessoas para dentro dos vagões! O trânsito, nem se fala. É mais fácil ir ao Rio de Janeiro de avião do que ir de uma ponta a outra da cidade de carro( 40 minutos contra ???). O ruído ''natural'' da cidade é o som das buzinas. Tudo aqui é bem acelerado, como aqueles antigos LP's de 76 (?)polegadas...Muitos caminham, exceto quando estão na nossa frente na hora do almoço, como se estivessem correndo. Sempre atrasados, sempre olhando para os relógios, alguns até falam neste ritmo ultra-acelerado- os professores dos cursinhos, por exemplo. Quem lê isto pode até imaginar que estou odiando, mas é o inverso. Por ter vindo de outro lugar, é difícil perder o nosso olhar ''forasteiro''. Mas as pessoas daqui, por mais que reclamem, tem um certo ar de orgulho pela grandeza do lugar em que vivem. Perguntem a elas se trocariam São Paulo por outro lugar, e poucos diriam que sim (aliás, e aqui está um mistério, até mesmo os moradores dos super-violentos morros do Rio de Janeiro tem medo de serem despejados dos barracos onde vivem...!). No último fim-de-semana recebemos um grupo de amigos daqui para um jantar em um restaurante perto de casa. Muitos vieram e voltaram de metrô- e eu fui acompanhá-los na volta até a estação. Era meia-noite, e soubemos que os trens circulariam até 1 da manhã de domingo. Neste dia quebrei meu hábito de sair sábado à tarde e voltar no início da noite para comprar os jornais de domingo, lendo-os ainda na noite de sábado em PRIMEIRA MÃO em relação ao resto do país. Comprei os jornais do domingo à meia-noite, voltando para casa á pé. O detalhe é que as ruas ao redor da estação estavam cheias, os bares e restaurantes estavam cheios, e em nenhum momento eu senti qualquer receio. É isto que faz de São Paulo um lugar único e especial, entre muitas outras coisas também. O automóvel aqui é dispensável. Para o meu próprio bem, e o do planeta( o Estadão informou, para nossa lástima que em São Paulo, pela grande concentração de CO2, o aquecimento foi 3x maior que no resto do planeta...Quantas árvores foram derrubadas para imprimir os meus grossos jornais de domingo? O que será feito com as diversas garrafas PET das águas minerais que bebo? Voltamos aos problemas, agora não mais restritos a São Paulo...).
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