sábado, 6 de outubro de 2007
Olhar Criador
Recentemente, no filme ''O Vidente''( com Nicholas Cage ), um personagem afirmou que ''quando olhamos para o futuro, neste mesmo momento o que olhamos já não é a mesma coisa- pelo simples fato de termos olhado para esta coisa''. A citação não é literal, mas a idéia é esta.
E aplica-se muito bem ao presente. Como seres CRIADORES, ao observar qualquer coisa estamos incorporando esta coisa ao nosso mundo, mesmo inconscientemente. Pela ação ou pela rejeição. É a soma das coisas que observamos e olhamos que faz as nossas vidas. Exemplo: já estive duas vezes em Recife, onde fiquei na bela praia de Boa Viagem. No entanto, Recife não me marcou. Não me deixou uma vontade de voltar. É, em suma, uma cidade NEUTRA. Não a amo, nem a odeio. Quando vejo notícias de Recife, não sinto nada em especial( nada contra esta bela cidade, é só uma questão de preferência ). Já outros lugares deixaram em mim uma saudade e vontade de retornar. Alguns, como o Rio de Janeiro, a qualquer hora e a qualquer momento, sempre que possível. Foi lá que aprendi a andar, com pouco mais de um ano de idade. Posso ''retornar'' ao Rio a qualquer hora pelo meu pensamento, em imagens vívidas que não exigem sequer que eu feche os olhos...
O que gostamos, vamos incorporando. Sejam comidas, lugares, leituras, amores. O repetir aqui não é repetitivo, pois sempre há uma nuance, algo novo a descobrir. Ao olhar para algo de que gostamos, mesmo que seja a nossa mesma companheira de 60 anos de casamento, vamos incrementando e fortalecendo aquela imagem dentro de nós. Exercitamos o nosso poder de escolha. Dizemos, mesmo sem ter de dizê-lo expressamente, ''sim'' para aquela pessoa, para aquela coisa, para aquele lugar que habita dentro de nós.
A grande descoberta dos autores do chamado ''Novo Pensamento'' é que, isto que fazemos de modo inconsciente o tempo todo, pode ser feito também de modo consciente. Ou seja, do mesmo modo que criamos o nosso presente, por meio de nossas preferências, também podemos criar o futuro...
Ao dizermos conscientemente ''sim!'' para algo que ainda não se materializou, não ocorreu no plano físico, estamos atraindo esta coisa/situação para o mundo das nossas preferências. Para a nossa vida. Passado e futuro, na verdade, não existem, a não ser como criações humanas para facilitar o nosso entendimento da evolução. No mundo real tudo se mistura, em um caos saudável do qual só podemos ter um certo controle por meio das nossas escolhas...
Eros e Thanatos
Certos lugares são verdadeira unanimidade. Não há quem não goste de belas praias, em lugares limpos e tranqüilos. Já outros, como São Paulo, requerem um olhar especial para perceber a sua beleza. Ontem vi uma pixação em um viaduto, durante uma caminhada, na qual estava escrito: ''A beleza do mundo está em mim''. De fato, além das belezas unânimes de que estávamos tratando, outras há que se descobrir dentro de nós.
Existe uma prática sexual em que a pessoa se asfixia durante a cópula até chegar perto da morte. Os seus praticantes o fazem certamente pela excitação que provoca a combinação entre o gozo e a morte. É o eterno desejo humano de percorrer as fronteiras, chegar à beira do abismo sem pular.
As grandes metrópoles do mundo, como Nova Yorque, Tóquio ou São Paulo, são exemplos vivos desta arte de viver na fronteira do abismo. São Paulo é muito feia, dizem muitos de seus visitantes ou habitantes. Está certo. São Paulo é um paraíso, um lugar belíssimo sem igual, dizem os seus admiradores. Certíssimo também.
Os grandes centros são lugares onde encontramos o tempo todo sinais de destruição, de violência, de pobreza, de poluição. A morte está presente o tempo todo, sentimos isto no ar. As nossas ruas estão repletas de veículos poluentes, responsáveis pela maior parte do ar ruim que respiramos. Eles são guiados por pessoas, em boa parte, insatisfeitas, nervosas, sem a mínima educação para o trânsito. De vez em quando ocorre um ''acidente'' em que uma destas ARMAS é projetada contra indefesos pedestres.
Por outro lado, nunca se percebe tanto os sinais de vida como quando vivemos á beira da morte. Nunca valorizamos tanto estes pequenos sinais- como o canto dos pássaros, incessante, que nos desperta no raiar do dia, ou o pouco verde que remanesceu( talvez por equívoco ou desleixo dos construtores de tantos túneis e viadutos )nas ruas, nos parques, o reflexo do pôr-do-sol nos gigantescos edifícios da Paulista, os lugares pequenos que se esmeram em construir ambientes que nos remetam a outros países, com suas varandas e jardins minúsculos- como quando habitamos uma grande metrópole. Talvez justamente porque aqui estas coisas são raras, nós as buscamos e percebemos com maior ardor.
O ritmo incessante e inclemente da cidade grande nos dá uma vontade, ao contrário, de parar de vez em quando e contemplar o quanto ela tem de bom. DEVAGAR E DIVAGAR, eis algumas palavras úteis para quem não quiser se perder neste mundo frenético do FAZER. Uma escritora oriental alertou uma vez que boa parte deste ''fazer'' consiste simplesmente em mover os objetos de uma parte para outra de nossas mesas...''
''Carpe Diem''!!!
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