Já tratamos neste blog, anteriormente, de nosso desconforto diante de toda a manipulação ''emocional'' promovida em especial pela televisão.
Nossa relação diante de um meio como o jornal, de que podemos discordar ou não, é bastante diferente da que temos com um meio que apela a todo momento para os nossos sentimentos.
Com pouco tempo para contar uma estória, os telejornais e comerciais vivem de clichês: imagens de criancinhas, ruas vazias nos anúncios de automóveis, até ovelhas e lontras já utilizaram para fugir da ''pasmaceira'' geral que atinge nossa sociedade.
Os noticiários de TV também são repletos de estórias ''construtivas'', geralmente de cunho também emocional, que buscam vencer as defesas de seus espectadores...
Notem que o estilo dos ''vendedores de sabonete'' não se altera na época de campanhas eleitorais. E contribui, significativamente, para a apatia generalizada com que deparamos de Norte a Sul.
Peguem o programa da candidata oficial: em ritmo frenético, Dilma corre o país anunciando obras futuras( mesmo sem ter concluído ainda boa parte do PAC-1). Em São Paulo, governado pelo PSDB, o mesmo estilo é adotado pelos tucanos: é Alckmin quem mostra, em segundos, as obras de seu Governo e as de José Serra.
Em seus discursos, só utilizam a primeira pessoa: ''eu fiz'', ''só eu posso fazer''...
O oposto do ''nós'', que caracteriza a verdadeira cidadania...
Tão iguais os programas, só poderiam gerar mesmo confusão entre os eleitores...
Até surgir Marina Silva. A Senadora despertou, ao menos em mim, aquele ''frisson'' que eu tive em diversos processos eleitorais- ao menos até a eleição de Lula, em 2002. Sabe aquela coisa de ficar aguardando com ansiedade a hora do voto, com a convicção de estar fazendo a coisa certa?
Pelo visto, outros 20 milhões de brasileiros tiveram a mesma sensação...
A moderação com que Marina Silva soube intervir no debate para discutir propostas, criticando o caráter plebiscitário que queriam dar a estas eleições, bem como o forte conteúdo ético de sua trajetória, tudo isto fez com que saudássemos com alegria o retorno do componente ''novo'' nos processos eleitorais. Afinal, desde a decepção com Fernando Collor o ''novo'', a ''mudança'' ,estava praticamente abolido das eleições.
Não se diga que Lula representava alguma novidade em 2002, depois de participar de 3 eleições presidenciais anteriores...Ele simplesmente modificou seu discurso, e fez alianças inéditas até então, com o objetivo de chegar ao Planalto...
Este dia 3 de outubro, confesso, voltei a me arrepiar votando em Marina Silva.
O frescor que ela trouxe a este morno- para dizer o mínimo- processo eleitoral é algo marcante.
Chegado o Segundo Turno, escolheremos um ou outro candidato- pelas mais diversas razões.
Mas a incrível ''Onda Verde'', de caráter quase ''viral''- como estas ondas que sacodem frequentemente a Internet- parece ter vindo definitivamente para ficar. Nos últimos dias de campanha, parecia que ''todo mundo''- ao menos nos grandes centros urbanos- estava aderindo à candidata do PV. Derrubamos todas as pesquisas de intenção de votos, salvo a honrosa exceção do Datafolha...
Marina mostrou, inclusive a ''marqueteiros'' e profissionais da pesquisa, que hoje- como ontem, e como sempre- o que deve marcar o processo eleitoral é a discussão de ideias. E, por que não?, uma pitadinha de emoção- mas verdadeira, não manipulada...
Alcnol.
PS: Por muito pouco Marina não vira o nosso Obama...