segunda-feira, 4 de outubro de 2010

O significado do voto em Marina Silva...

Já tratamos neste blog, anteriormente, de nosso desconforto diante de toda a manipulação ''emocional'' promovida em especial pela televisão.
Nossa relação diante de um meio como o jornal, de que podemos discordar ou não, é bastante diferente da que temos com um meio que apela a todo momento para os nossos sentimentos.
Com pouco tempo para contar uma estória, os telejornais e comerciais vivem de clichês: imagens de criancinhas, ruas vazias nos anúncios de automóveis, até ovelhas e lontras já utilizaram para fugir da ''pasmaceira'' geral que atinge nossa sociedade.
Os noticiários de TV também são repletos de estórias ''construtivas'', geralmente de cunho também emocional, que buscam vencer as defesas de seus espectadores...
Notem que o estilo dos ''vendedores de sabonete'' não se altera na época de campanhas eleitorais. E contribui, significativamente, para a apatia generalizada com que deparamos de Norte a Sul.
Peguem o programa da candidata oficial: em ritmo frenético, Dilma corre o país anunciando obras futuras( mesmo sem ter concluído ainda boa parte do PAC-1). Em São Paulo, governado pelo PSDB, o mesmo estilo é adotado pelos tucanos: é Alckmin quem mostra, em segundos, as obras de seu Governo e as de José Serra.
Em seus  discursos, só utilizam a primeira pessoa: ''eu fiz'', ''só eu posso fazer''...
O oposto do ''nós'', que caracteriza a verdadeira cidadania...
Tão iguais os programas, só poderiam gerar mesmo confusão entre os eleitores...
Até surgir Marina Silva. A Senadora despertou, ao menos em mim, aquele ''frisson'' que eu tive em diversos processos eleitorais- ao menos até a eleição de Lula, em 2002. Sabe aquela coisa de ficar aguardando com ansiedade a hora do voto, com a convicção de estar fazendo a coisa certa?
Pelo visto, outros 20 milhões de brasileiros tiveram a mesma sensação...
A moderação com que Marina Silva soube intervir no debate para discutir propostas, criticando o caráter plebiscitário que queriam dar a estas eleições, bem como o forte conteúdo ético de sua trajetória, tudo isto fez com que saudássemos com alegria o retorno do componente ''novo'' nos processos eleitorais. Afinal, desde a decepção com Fernando Collor o ''novo'', a ''mudança'' ,estava praticamente abolido das eleições.
Não se diga que Lula representava alguma novidade em 2002, depois de participar de 3 eleições presidenciais anteriores...Ele simplesmente modificou seu discurso, e fez alianças inéditas até então, com o objetivo de chegar ao Planalto...
Este dia 3 de outubro, confesso, voltei a me arrepiar votando em Marina Silva.
O frescor que ela trouxe a este morno- para dizer o mínimo- processo eleitoral é algo marcante.
Chegado o Segundo Turno, escolheremos um ou outro candidato- pelas mais diversas razões.
Mas a incrível ''Onda Verde'', de caráter quase ''viral''- como estas ondas que sacodem frequentemente a Internet- parece ter vindo definitivamente para ficar. Nos últimos dias de campanha, parecia que ''todo mundo''- ao menos nos grandes centros urbanos- estava aderindo à candidata do PV. Derrubamos todas  as pesquisas de intenção de votos, salvo a honrosa exceção do Datafolha...
Marina mostrou, inclusive a ''marqueteiros'' e profissionais da pesquisa, que hoje- como ontem, e como sempre- o que deve marcar o processo eleitoral é a discussão de ideias. E, por que não?, uma pitadinha de emoção- mas verdadeira, não manipulada...
Alcnol.
PS: Por muito pouco Marina não vira o nosso Obama...

A vitória política de Marina Silva...

O projeto político do PT, ao bombardear candidaturas alternativas como a de Ciro Gomes, era fazer destas eleições um plebiscito- obtendo uma vitória consagradora para sua candidata Dilma Rousseff.
Serra- ''paulista demais'', pouco carismático- era o nome ideal para perder, ainda mais diante do desgaste de sua escolha em detrimento do Governador Aécio Neves( sem primárias).
No meio do caminho apareceu a candidatura da Ex-Ministra e Senadora Marina Silva. À frente de uma legenda fraca, sem muitos ''quadros'' políticos, e sem coligações( com um tempo de TV de pouco mais de um minuto), parecia fadada a se tornar mais uma candidata ''nanica''( pouco votada)...
Em uma campanha política marcada pela despolitização e pela onipresença dos Institutos de Pesquisa, Marina chegou a setembro estagnada na faixa de 9%/10% das intenções de voto.
Mesmo assim Marina Silva não esmoreceu...
Continuou sua pregação moderada- reconhecendo os avanços dos Governos Fernando Henrique e Lula, defendendo a discussão de propostas no lugar de uma polarização cega, colocando na arena política temas tradicionalmente relegados a segundo plano pelos políticos tradicionais( o desenvolvimento Sustentável, a proteção do Meio Ambiente- temas do Século XXI).
Diante do ''plebiscito'' que se desenhava entre os candidatos que estavam à frente nas pesquisas, Marina Silva mais parecia uma ''professorinha'' tentanto apartar uma briga entre alunos em plena sala de aula...Confesso que esta postura me incomodou a princípio, em função da origem da Senadora( ex-PT). Parecia que ela não havia assumido seu lado oposicionista. 
Neste momento, começaram a ''pipocar'' as várias denúncias: violação do sigilo fiscal dos tucanos e, por fim, o ''caso Erenice''.
Discutia-se se  era ou não uma ''armação da imprensa'' para favorecer o PSDB( cheguei a ouvir uma asneira semelhante em uma banca de jornal daqui de São Paulo...).
Nesta hora Marina não pestanejou: exigiu uma ampla investigação sobre estes assuntos. Fortaleceu-se politicamente.
Contra a eleição de ''cartas marcadas'', começava a se esboçar uma nova alternativa.
Muitos decidiram votar em Marina, para romper o ''cercadinho'' em que os dois maiores partidos nos colocaram nestes últimos 16 anos pós-Plano Real. Queriam mudanças, mas sem colocar em risco as conquistas- econômicas e sociais- obtidas neste período.
Naquele momento Marina  Silva parecia a muitos, inclusive a mim, uma espécie de ''voto de protesto'': a vitória de Dilma era apregoada como ''certa'' por quase todos os Institutos de Pesquisa, e Serra fora abandonado pela maioria de seus  apoiadores...
Com os debates, a candidatura do PV acabou assumindo uma espécie de ''efeito viral''. Na lista dos 10 ''trending topics'' do Twitter, ouvia-se agora inúmeras pessoas( famosas ou não)declarando voto em Marina...
Falamos no post anterior sobre a dificuldade de escolher candidatos do Partido de Marina Silva( o PV), uma agremiação com poucos ''quadros políticos''( apoiadores de renome). Tudo isto só ressalta a importância destes quase 20 milhões de votos da candidata: que vão de tradicionais ecologistas a membros de denominações evangélicas, sem contar os que- indignados diante dos escândalos- queriam dar uma ''lição'' no Governo do PT...
Que se reconheça o papel involuntário do Presidente Lula neste processo: depois de um operário, muitos brasileiros agora reconheciam ser possível a eleição de uma mulher negra para a Presidência do Brasil...
Por outro lado, o Partido que está no Governo começa a sofrer o processo de desgaste que varreu outras legendas: inicialmente fortes nos grandes centros, elas vão progressivamente se tornando os partidos dos ''grotões'' e das regiões em que há o domínio de uma só força política( como o Nordeste). Desgastado, o PT deixou há muito de ser a ''novidade''...Ao contrário: parece ser a continuidade do ''antigo'', das conhecidas práticas de corrupção e cooptação de outros partidos políticos...
Seja qual for o resultado final destas eleições, Marina Silva e sua candidatura mostraram que se esboça no país uma ''Terceira Via'' entre PT e PSDB- que governaram o Brasil nestes últimos 16 anos.
O crescimento meteórico de Marina, já analisado antes por aqui, deu aos brasileiros um inesperado Segundo Turno: a chance de analisar melhor as propostas dos dois candidatos mais votados e, principalmente, as consequências da eleição de cada um deles...
Sobre isto nós nos manifestaremos mais à frente...
Alcnol.

Dificultades na votação...

Podemos ter uma ideia da importância política de uma votação nacional em torno de 20% para a Senadora Marina Silva diante dos números obtidos por seu próprio partido( o PV)- bem menores.
Não tive nenhuma dificuldade para escolher candidatos a Governador( Fábio Feldmann- 43)e Senador( Ricardo Young- 430- e Aloysio Nunes- 451). Até mesmo ontem ouvi pessoas dizendo que iam votar 43 ''de cabo a rabo'', ao que eu alertava que para o Senado não era possível votar na legenda- situação em que os votos seriam anulados...
A maior dificuldade de votar no Partido Verde, aqui em São Paulo, era a ausência quase absoluta de ''quadros''( nomes  conhecidos, ''grifes'' políticas). Apesar do grande número de candidatos, vários não resistiam a uma pesquisa mais aprofundada...Muitos sequer tinham uma biografia mínima a oferecer- divulgando apenas seus nomes e a relação de bens publicada na Justiça Eleitoral...
O resultado é que, mesmo na véspera da eleição, eu pesquisava ainda freneticamente em busca dos melhores candidatos...
A heterogênea base de apoio de Marina também não ajudou muito: uma original combinação de ex-esquerdistas, evangélicos e ecologistas em que havia ''um pouco de tudo''...
Mesmo assim, acabei escolhendo em primeiro lugar um nome a Federal( um ''quadro'', ex-deputado federal pelo PT, Luciano Zica).
Restava escolher um deputado estadual. Votar na legenda eu descartei, com medo de ajudar a eleger algum ''Tiririca'' infiltrado no PV...E haja pesquisa no Google, até depois da meia-noite de sábado...
Até preparei uma justificativa para votar em algum partido de esquerda, como PSOL ou PSTU: a esquerda, como o PT de antigamente, é melhor nos Parlamentos do que nos Executivos, governando...Isto porque os parlamentares de esquerda são mais combativos, contestadores, fazem uma forte oposição( características que, logicamente, não mais se aplicam ao Partido dos Trabalhadores, no Governo Federal...).
Porém, depois de muito tempo, achei um candidato ''verde'' com um mínimo de biografia suficiente para receber o meu voto...
Observe-se que os candidatos escolhidos para cargos majoritários- Governador e Senador- não mereceram tantos cuidados. Fábio Feldmann é um conhecido político, ligado ao Meio Ambiente. Ricardo Young, apesar de semi-desconhecido, mereceu o nosso apoio devido a suas propostas- que incluiam até o ''exótico'' direito dos animais...
A grande vitória política dos verdes neste pleito foi, com Ricardo Young, ter conseguido superar a votação de Romeu Tuma- político mais do que conhecido...Young teve mais ou menos 11%( tinha 4% nas pesquisas)e Tuma ficou com cerca de 10%...
Qual a razão de discorrer tão longamente sobre meus votos?
Para ressaltar a diferença entre estes números e os obtidos pela candidata Marina Silva.
Por que Marina cresceu tanto às vésperas do dia 3 de outubro?
É o que analisaremos nos próximos posts...
Alcnol.