Embora frequentemente se equivoquem em seus prognósticos, ''fundamentalistas'' em geral são divertidos( desde que não queiram eliminar-nos fisicamente...).
De minhas experiências pessoais com alguns deles, situados ideologicamente na chamada ''ultra-esquerda'', guardo o afã com que eles anunciavam a cada semana o iminente ''fim do capitalismo'' - e uma permanente ''situação pré- revolucionária'' em todo o planeta...
Do outro lado, entre os apóstolos do ''sistema'', encontramos na revista norte-americana ''Wired'' os mais animados defensores da chamada ''Revolução Tecnológica''.
Escrevi, há pouco tempo, um polêmico texto contra estes defensores do ''fim dos livros''. Não nos parece que nenhuma destas geringonças atuais possa substituir completamente o livro- a mais avançada ''invenção'' de todos os tempos. Um livro ''mais completo'', que inclua sons e imagens, mais se pareceria com um programa de TV a Cabo- para dizer o mínimo...
As tentativas de ''aperfeiçoar'' os livros são, na verdade, vãs tentativas de dar a uma multidão cada vez mais incapaz de aquietar-se e refletir a ''impressão'' de que é possível ler como se participa de jogos eletrônicos...
Mas vamos nos esquivar de expor uma vez mais nossas opiniões pessoais( para alívio de quem discorda delas...).
Nossa ''bola da vez'' é o último exemplar da revista ''Wired''- a ''Bíblia'' dos Visionários do Sillicon Valley. Na capa a chamada para o texto ''Rise of the Machines! How tablets will change the world'', de Steven Leuy( tradução: A ascensão das máquinas! Como os tablets vão mudar o mundo). Vejamos o que eles falam do Ipad, a última sensação da Apple:
( Nicholas Negroponte)''Tablets are therefore the new frontier. They are the new book, the new newspaper, the new magazine, the new TV screen, and potentially the new laptop''( tradução livre: Os tablets são a nova fronteira. Eles são o novo livro, o novo jornal, a nova revista, o novo aparelho de TV, e potencialmente o novo laptop).
A intenção de Negroponte( criador do projeto que visa dar um laptop para cada criança em todo o mundo), exposta no trecho a seguir, é até interessante:
''The undeniable beneficiaries of tablets will be those who have no alternative, those who have no books, no libraries, and in many cases no schools or electricity. I mean the nearly 2 billion kids in the developing world''( tradução: Os inegáveis beneficiários dos tablets serão aqueles que não tem alternativa, aqueles que não tem livros, bibliotecas, e, em muitos casos, nem escolas ou eletricidade. Eu penso nas aproximadamente 2 bilhões de crianças no Terceiro Mundo).
Depois dos laptops, ainda longe de se disseminar, Negroponte aposta nos tablets...
O grande desafio será proporcionar acesso gratuito à Internet e baterias para estes tablets todos que se pretendem ''mais perfeitos'' que os livros. E, naturalmente, o investimento para fazê-lo será muito mais elevado do que dotar todas estas pequenas vilas do chamado Terceiro Mundo de ''imperfeitos'' e ''simplificados'' livros...
A matéria de ''Wired'' abusa frequentemente de grandiloquentes termos, bem ao estilo daquela revista: ''future of computing''( o futuro da computação), ''the center of a post-PC era''( o centro de uma era pós- PCs), ''the final stage of an extraordinary era of textual innovation''( o estágio final de uma era extraordinária de inovação textual).
Mas até por isto, por suas posições normalmente extremadas e visionárias, ''fundamentalistas'' são verdadeiramente bastante divertidos: se depurarmos todo este ''oba-oba'', útil para chamar nossa atenção e vender mais exemplares de jornais e revistas, chegaremos à conclusão de que os novos aparelhos vem para complementar- e não para eliminar- as tecnologias atuais.
O ''fim do livro'' ainda está bastante longe. Mas, nos próximos anos, provavelmente muitos de nós usarão o Ipad ou o Kindle de alguma forma. O que, considerando o quadro completo e o ainda elevado preço destes aparelhos, já é muita coisa...
Alcnol.