Todos os domingos a Avenida Paulista ''ferve'', de modo distinto. Suas 28 salas alternativas de cinema ( uma concentração maior do que em qualquer outra cidade brasileira)e mais umas 12 comerciais são tomadas por um público faminto de novidades. Além disso, temos ainda as 4 grandes livrarias da região. Tudo isto compõe o que podemos chamar de ''consumo cultural''. Em um domingo de sol, então, nada melhor do que entrar gostosamente em uma sala e sentir aquele friozinho gostoso do ar condicionado. Assim, logo após o almoço, rumei para o Reserva Cultural- conjunto de 4 salas de cinema, além de café e restaurante. Enquanto esperava pelo início do filme, do lado de fora e acomodado confortavelmente em uma poltrona, notei a predominância, naquele horário, do público de terceira-idade. Casais, cabecinhas brancas andavam de lá para cá, provavelmente também á espera de alguma sessão. Na hora do filme, para minha surpresa, a sala de 200 lugares já estava quase repleta- e praticamente todos eram idosos...O filme, que irei descrever a seguir, é o francês ''Uma garota dividida em dois'', do diretor Claude Chabrol. O ''galã'' masculino é um escritor, de cabelos todos brancos. Ele é casado com uma bela mulher, tem a vida estabelecida, e conhece uma linda garota loira que apresenta a previsão do tempo na TV. Ela fica totalmente louca pelo escritor, enquanto repele vigorosamente as investidas de um herdeiro de sua idade...Estórias de amor são banais. Muito pouco pode ser acrescentado em um relato nesta área. Mas COMO o hábil diretor conta o desenrolar dos fatos é o que interessa. A França, aqui como em praticamente tudo, resiste ao previsível. Resiste à invasão do visual, da beleza fútil e vazia. É a jovem que assedia o ''coroa'', é ela que se apaixona primeiro, é ela que é rejeitada. Tudo às avessas do que seria ''normal''. Parece uma ''vingança'' da velhice contra a onipresente juventude, e é. A platéia se diverte e nós, que já nos encontramos entre uma fase e outra da vida, também. Chabrol não é realista. Conta o improvável de uma forma convincente, que nos parece natural. Ao final, um mar de cabecinhas brancas deixa apressadamente a sala. Afinal, o filme dura mais de 2 horas. Fico pensando, ao ver todos aqueles velhinhos se divertindo na primeira sessão de domingo, o quanto isto difere da tradicional visão que temos da terceira idade. E o quanto esta, na verdade, se aproxima mais, para aquelas pessoas que estavam ali ou em diversos outros cinemas ou livrarias, de uma ''nova adolescência''. Explico. Nos últimos tempos tenho apreciado muito mais a companhia de idosos e crianças. As crianças por sua energia, espontaneidade, travessura. Elas nos olham diretamente nos olhos. São sinceras. Nunca amei tanto as crianças quanto hoje. Elas nos apontam um rumo, na realidade. Como é bonito ver um ''velho'' que mantém aquele olhar de travessura, juvenil...Os idosos também me agradam. Sem contar o fato de que aquela sessão de cinema que descrevi foi uma das mais tranqüilas dos últimos tempos, na ausência do onipresente e inevitável som de celulares e brincadeiras fúteis, os idosos tem aquele olhar de quem sabe o que é mais importante nesta vida. Eles não nos olham com jeito de superioridade ou inferioridade, nem buscam parecer ''importantes'' ou ''sensuais''. Eles são eles mesmos. Difícil ver um velho se corromper. Afinal, obter dinheiro a qualquer custo é coisa de quem está buscando sexo, bens ou poder; de quem está ocupando, na escala da vida, uma espécie de ''pré-primário'' evolutivo( desculpem-me as crianças por colocá-las em um plano tão inferior, na comparação, mas é a força da expressão...). Os idosos, ou porque já conquistaram o que queriam conquistar ou porque se deram conta de que estas coisas todas tem pouquíssima importância, passam a fazer o que lhes dá prazer. Ler, viajar, ir ao cinema, paquerar, passear. Não é isto o que também faríamos, se soubéssemos que teríamos ''poucos anos de vida''? Não nos concentraríamos, como fazem idosos em crianças em imprevisível harmonia, no que é mais importante? Ainda há tempo. Mesmo porque não sabemos quanto tempo dispomos ainda em nossa passageira escala por este belo planeta. Ao menos o deixemos como recebemos...Se não soubermos, que tal perguntar para os doces velhinhos?
segunda-feira, 21 de julho de 2008
Nome Próprio
Aqui em São Paulo há um cinema- da rede Espaço Unibanco- onde eles colocam na entrada os cartazes dos próximos filmes. O ''Nome Próprio''( de Murillo Salles, com Leandra Leal) era um daqueles que mais chamavam a minha atenção. - Como será o ''filme da Internet brasileira?'', eu me perguntava. A ''espera'', após o aparecimento do cartaz, levou mais de 2 meses. E, quanto maior a espera, maior a decepção...Sabemos que não é fácil para o cinema brasileiro competir com os ''blockbusters'', em especial no período de férias. O número de espectadores de filmes brasileiros está em plena queda, aponta-nos a imprensa. Há que se separar, para avaliar o ''Nome Próprio'', dois aspectos: a estória- repleta das velhas fórmulas de bebedeira, sexo casual e ''radicalismo'' existencial, um ''barracão'' bem ao estilo dos ''reality shows'' tão abundantes na TV de todo o mundo- e a parte em que ela escreve o seu blog. Nesta segunda, para não ficar ''monótona'' para a platéia uma atividade que é essencialmente interior, as palavras vão deslizando pela telinha à medida em que ela escreve...Como todo filme dividido em pelo menos dois aspectos, este fica devendo pela dosagem. Muito ''barraco'', muita nudez exterior, como os diretores nacionais parecem imaginar que a platéia ''prefere'', e pouca Internet- que foi o principal motivo que nos levou a assistir esta película...Em suma: não houvesse uma ''parte Internet/blogueira/literária'', tratar-se-ia de uma obra perfeitamente dispensável...Este não é, definitivamente, um filme que vai empolgar o universo blogueiro aqui e pós-fronteiras. Também não é uma grande obra de arte( nisto europeus e argentinos estão anos-luz à nossa frente). Mas vale a pena assistí-lo, se fizermos a nossa ''edição personalizada''. Nem tudo presta, nem tudo é ruim...Como na...Internet???
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