Mudança é, e sempre foi, a palavra ''mágica'' em época de eleições. Aqui, e em todas as partes. ''Change'' é o slogan predileto de Obama e, para surpresa de muitos, até mesmo os republicanos parecem ter descoberto o efeito desta simples palavrinha. Em conseqüência, o discurso de McCain na convenção republicana se assemelhava ao discurso de um feroz oposicionista, contra os ''burocratas de Washington''( OBS: John McCain é senador em Washington há muitos anos...)e pela ''mudança''. Se, aparentemente, todos queremos a ''mudança'', quais podem ser os obstáculos? E mais: será que as pessoas querem mesmo as tais de mudanças? Vejamos um exemplo no mundo da ficção. Imagine que você é um náufrago, e foi parar em uma ilha deserta do Pacífico. É de se imaginar que você- e os demais membros da tripulação e passageiros do seu navio, avião, etc. - queira por todos os motivos voltar para casa. Certo? Errado. Em ''Lost'', seriado de que acabei de assistir todos os episódios da Primeira Temporada e brevemente iniciarei a segunda, nem todos tem uma reação tão previsível. Aqueles que mais abraçam a mudança, e se sentem como ''peixes dentro d'água em meio às incertezas e perigos do destino( como o personagem ''John Locke''), representam ,na verdade, uma minoria. O filho de outro personagem- ''Michael''- chega, sugestivamente, a botar fogo no primeiro barco que eles constroem para escapar da ilha...O motivo: ele está farto de tantas ''mudanças''( dos Estados Unidos para a Inglaterra, e depois para a Itália e, enfim, para a Austrália...!). O medo de uma nova mudança pode fazer com que queiramos queimar a nossa única chance de escapar de uma ilha deserta no meio do nada...''Mais vale'', na cabeça destas pessoas, ''um pedaço de solo firme embaixo de nossos pés''- mesmo que seja em uma ilha!- do que correr o risco de uma nova aventura...É por isto, exatamente por isto, que a mudança tão apregoada por muitos acaba, na verdade, sendo característica de poucos. MUDANÇAS TEM PREÇO, ÀS VEZES BEM ALTO...As mudanças drásticas que o mundo experimentou após a crise de 29 nos Estados Unidos geraram, como conseqüência imediata na Alemanha, um exército de novos seguidores e eleitores para os nazistas...Quando as coisas apertam, quando a crise se avizinha, na verdade este é o momento em que, embora da boca para fora continuem defendendo novidades, as pessoas menos querem saber de qualquer espécie de mudança...Nem toda mudança é fácil, nem toda mudança é para melhor...É por isto que, em meio a uma das maiores crises de todos os tempos com o fechamento de inúmeras empresas e o surgimento de milhões de novos desempregados, a América tradicional- aquela do interior, das regiões produtoras de alimentos, das inúmeras cidadezinhas- morre de medo, na verdade, de qualquer tipo de mudança. Justamente por estarem em meio a uma das maiores mudanças de todos os tempos...Os chineses, ao contrário, embarcaram com tudo no trem das mudanças. E destroem cidades inteiras, se necessário, para construir uma nova hidrelétrica ou estrada...Este é o preço, caro, que se paga por uma mudança. Vá perguntar para os camponeses da China se eles estão gostando de todo este processo...Não, porque eles estão ''pagando um alto preço'' pelas mudanças tão benéficas para os habitantes dos grandes centros...E o Brasil? O Brasil sofreu uma das maiores mudanças de sua História há quase duas décadas. O Governo Collor, reconheça-se este que foi um de seus poucos méritos, abriu o mercado para produtos importados. O Brasil, na sua opinião, precisava de um ''choque de modernidade''. Collor abriu, e os demais governantes não tiveram coragem de fechar as portas novamente...As pessoas gostaram de ter acesso a bons produtos, a preços mais acessíveis...Todos queremos o ''novo''. Todos queremos ''mudar''. O paradoxo da mudança, tema deste post, é que- quando vivemos tempos de ''Revolução Permanente'', em que a mudança, mais do que novidade, faz parte indissoluvelmente do nosso dia-a-dia- todas estas dolorosas mudancinhas nossas de cada dia vão minando cada vez mais a nossa vontade de experimentar...E a curiosidade, com o risco de ''errar'' ou ''acertar'', é o alicerce de qualquer processo de mudança digno do nome. Por isto fala-se tanto em ''mudanças'', prega-se tanto as ''mudanças'' em qualquer Manual de Negócios digno do nome, promete-se tanto as tais das ''mudanças'', e a maior parte das pessoas- como aquele simples garotinho lá de ''Lost''- quer mais é queimar as poucas balsas que podem nos salvar deste pequeno pedaço de solo no ''fim de mundo''...Pequeno mas ''nosso'', e ''firme'' ( até que chegue a primeira maré e alague toda a nossa ''ilha'', a ''ilha'' das nossas certezas e convicções). Pergunto: quem quer mudar? Cuidado, é ''arriscado''...
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