Sou nascido na Capital da República e, quando viajava para fora de Brasília, costumava evitar informar a origem para não dar margem ás tradicionais piadinhas sobre a ''terra dos políticos''...Uma vez esqueci a cautela habitual, e acabei ouvindo a pergunta de um motorista de táxi apreciador de futebol: ''então você torce pelo Brasiliense?''. ''Não, respondi. Eu sou são-paulino''. Surpresa de um nativo incapaz de imaginar uma localidade sem tradições regionais...Em Brasília todos são Flamengo, ou Vasco, ou Botafogo, ou São Paulo, ou Corínthians. Difícil encontrar algum brasiliense que torça para a equipe de mesmo nome, que acabou de sagrar-se ''hexacampeã''( seis vezes seguidas campeã)do Campeonato do Distrito Federal...Em Brasília não há um sotaque específico( há vários sotaques, oriundos de diversos outros Estados e Municípios), nem uma comida típica regional( como o Barreado, no Paraná, ou a moqueca baiana...). Feita para ser a ''síntese'' de toda uma nação, a Capital da República ainda não assumiu a sua identidade. Costuma servir, isto sim, como ''campo de pouso'' de políticos, lobistas e aventureiros- que lotam os vôos rumo aos seus locais de origem nas sextas-feiras...Brasília, assim como a antiga capital alemã Bonn, não ocupa o imaginário nacional, não é objeto de referências e homenagens em estátuas ou nomes de ruas( à exceção de uma pequena rua que achamos por acaso no bairro do Itaim Bibi...). A ela o restante do país costuma reservar um misto de ódio e silencioso temor...O Rio de Janeiro sim, a antiga capital, continua a ocupar espaço em nossos corações e mentes. Haja vista a série de lugares que mostramos aqui, em plena cidade de São Paulo, que fazem referência à Cidade Maravilhosa...No entanto, para concluir, em plena Avenida Angélica, que já percorremos inúmeras vezes nos dois sentidos, está abrigado um prédio com o nome de ''Condomínio Brasília''( discreto, parece sentir uma certa vergonha da homenagem que faz...). Providencialmente situado nas proximidades da ''Rua Goiás''- uma prova de que a geografia das ruas paulistanas- que é capaz de fazer uma incrível ligação entre a ''Praça Buenos Aires'' e a ''Rua Piauí'', que são vizinhas)- também consegue, por exceção, fazer pequenas conexões que seguem a lógica da realidade: ''Brasília- Goiás''...Alcnol. PS: Alguém perguntará: ''E as grades?''. O problema maior é o fato de estarmos quase todos vivendo atrás das grades, e não aqueles que se esperaria que estivessem atrás das mesmas...
sábado, 9 de maio de 2009
Detalhes dos casarões da Angélica...
Cada vez que se profere as pomposas palavras ''proteção do patrimônio histórico- cultural'', podemos ter dúvidas sobre o real significado e alcance disto. Mas, ao ter contato com objetos antigos- e insubstituíveis- como estas pequenas estátuas que servem de arranjo para casarões que hoje tem destinação comercial( são lojas, restaurantes, agências de turismo)na Avenida Angélica, somos capazes de compreender um pouco a importância e o significado daquelas mesmas expressões citadas acima...Tudo isto representa também arte e beleza, algo de que estamos tão carentes na atualidade...Quantos prédios, hoje, não passam de um aglomerado de pessoas e tijolos, sem aqueles painéis pintados tão comuns nos edifícios mais antigos do bairro de Higienópolis? Estas pequenas estátuas da Angélica também são a expressão de uma época clássica da nossa cidade, simbolizam tudo aquilo de que a arquitetura atual anda tão carente: poesia, diversão e arte...
Estação da Luz...
Ontem foi dia de mais um passeio, desta vez em direção da tradicional Estação da Luz. O meio escolhido foi o metrô( última foto, em baixo), mas a famosa estação continua a receber- como originalmente- trens. Com destino aos subúrbios, localidades próximas e, novidade, agora há inclusive um passeio turístico até Jundiaí...Qual será o nosso destino? Uma dúvida que os próximos posts se encarregarão de esclarecer...Alcnol.
Star Trek ''teen''...
Não vou aqui criticar o novo filme ''Star Trek'' em nome do purismo e dos ''velhos tempos''. Mas, diante de uma quase unanimidade de público e crítica- todos louvando a ''boa'' obra do diretor J.J.Abrams( o mesmo de ''Lost'')- algumas ressalvas se fazem necessárias. Comecemos, porém, pelo que há de melhor: a atuação de Zachary Quinto( o vilão ''Sylar'' da série ''Heroes'')como Spock é uma das melhores coisas desta película, assim como a participação especial de Leonard Nimoy( o Spock da série clássica)e a reinvenção da tenente Uhura como uma garota ''sexy'', disputada pelos dois futuros amigos e companheiros de nave...Porém, para se qualificar qualquer obra como ''boa'' ou ''ótima'' torna-se necessário antes fazer uma perguntinha: '' boa em relação a que?''. Estamos falando de ''Star Trek''( Jornada nas Estrelas), série surgida no ano de 1966( 43 anos de história, pois)que durou apenas 3 temporadas na TV e foi encerrada sob inúmeros protestos de seus espectadores( uma minoria qualificada pois, considerando o total de espectadores, a audiência específica da série era ''baixa''- o que não possibilitaria, segundo seus produtores, a sua continuidade). Mas o ardor dos protestos deu ao estúdio uma noção de que haveria ali um ''filão'' a ser explorado. Seis filmes foram feitos com os mesmos personagens, e outras séries surgiram como desdobramento da série original. ''Star Trek'', a mesma série que foi cancelada por falta de público, tornou-se um ícone da nossa civilização. Seus atores originais- William Shatner, o Capitão Kirk, e Leonard Nimoy, o Doutor Spock- permaneceram umbilicalmente ligados à obra que os notabilizou, fazendo inúmeras participações especiais em outras séries e filmes. Feitas estas considerações iniciais, voltemos ao filme que acabou de entrar em cartaz nas salas de todo o Brasil. Ressalte-se que não dá para, neste contexto, considerá-lo isoladamente...O fantasma deste ícone chamado ''Star Trek'' permanece o tempo todo ao lado da obra recente. Lembremos que a série original, além de ''lenta'' para os padrões atuais, tinha um cunho mais filosófico: a ''Federação''( da qual a tripulação da nave ''Enterprise'' era um dos representantes)defendia a paz e a intervenção não-violenta para a solução de conflitos com outros povos, várias referências a diferentes períodos históricos da Terra- como a Grécia Antiga- eram feitas cotidianamente, apesar do baixo orçamento do programa, e os problemas e conflitos colocados eram bem mais complexos- exigindo uma solução não-convencional que ,em geral, era dada nos minutos finais de cada episódio...A ''Star Trek'' atual, aquela que originou o filme que estamos a debater, é uma obra de arte convencional, marcada pelo estilo narrativo da atualidade( muita ação, muitos efeitos especiais, ritmo acelerado e ruído alto). Quem não tem a série dos anos 60 como referência- como não tê-la se todo o seu conteúdo está disponível atualmente em DVD's?- e está acostumado a filmes de ação do gênero sairá satisfeito da sessão. Ao contrário, ao final dos longos 126 minutos de projeção, eu já dava sinais evidentes de cansaço. Tentava fechar os olhos por momentos, para descansar um pouco os mesmos e a mente, mas o barulho incessante de tiros e bombardeios era inevitável...Zachary Quinto, o mesmo que se revelou um bom Doutor Spock com seu temperamento contido, mal revelava o seu ''prazer''( com os mesmos olhos vidrados de ''Sylar'', o vilão de ''Heroes''...)ao eliminar os seus inimigos- os mesmos que mataram sua mãe e destruíram o planeta Vulcano...O ''bad boy'' Capitão Kirk é apenas isto: um adolescente brincando de trocar socos e murros e que, tal como seus iguais, costuma atribuir-se os nomes de seus ídolos( impossível acreditar que ''aquilo'' representava o Capitão Kirk, por mais que tentasse...). Não negamos o caráter de entretenimento, e a capacidade que esta obra tem de divertir o seu público por- digamos- duas horas de projeção. Acostumados que estão a películas semelhantes, é bem capaz que esta gere um movimento por sua continuação( e se verá, pelos anos seguintes, um ''Star Trek 2'', ''Star Trek 3'', etc. ). Isto mais pela força de algo que está no imaginário coletivo contemporâneo do que por este filme em especial...Para julgar se isto é mesmo um bom filme, invertamos a ordem dos fatos para fazer uma pergunta em especial: caso este fosse o marco inicial da série ''Star Trek'', seria capaz de provocar tanto efeito como a série clássica provocou? Seria capaz de, após 43 anos de existência, continuar a causar a admiração de seus fãs e provocar comentários? A ''Star Trek teen'' produzida por J.J.Abrams parece condenada a padecer do mesmo mal da cultura atual: muito barulho, poucas idéias, alguns comentários mais apressados, milhões de dólares de arrecadação para, ao final de tudo isto, restar definitivamente condenada ao esquecimento...''O show deve continuar''...Alcnol. PS: Felizmente, em ''Lost'' J.J.Abrams dispõe de mais tempo para contar uma estória como se deve, em um ritmo mais palatável e com inúmeras surpresas e reviravoltas...
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