Certas situações clássicas nos remetem ao fim: um problema grave de saúde, a visão de uma pessoa bastante idosa, um acidente de automóvel/ônibus/avião. Parece que nestas horas, principalmente nestas horas, nos damos conta de que a nossa permanência aqui tem data e hora para terminar. Não nos pergunte quando, que seja o mais distante possível, mas tem...A neve, para mim, tem um efeito um pouco diferente. Não conheço a neve pessoalmente, ''ao vivo'', falo do frio das imagens de cinema e TV que, exatamente pela distância e desconhecimento, assume ares de algo etéreo, ''imortal'', ''perfeito''. A neve- lembrar também que o gelo suspende o processo de decomposição dos corpos, servindo para conservar inúmeros seres bem antigos que já passaram por este pequeno planeta- remete à idéia de SUSPENSÃO do tempo. Nestas horas lembramos do personagem do filme ''Na Natureza Selvagem'', que tanto elogiamos neste blog, no momento em que ele atinge a sua ''meta'': chega ao Alaska. Toda aquela brancura espalhada pelo cenário inóspito parece surreal: temos a impressão de que aquilo está fora da realidade, do que conhecemos, o gelo- e o decorrente frio que emana de todos aqueles blocos de gelo- é tudo o que existe, ''desde sempre'', e nada mais há fora daquilo. O calor acelera, dá energia, alegra uma multidão de fiéis apreciadores do sol, e o frio congela. Congela as pessoas- que, dizem, envelhecem menos em lugares frios- e as lembranças. Justamente por nos remeter ao extremamente físico- à preocupação com o que é mais básico: a pura necessidade de sobrevivência- lugares gelados acabam, paradoxalmente, pelo estado de suspensão que provocam em todos nós, levando-nos também a algo além, ao infinito cósmico. Neles nos vemos como realmente somos: seres espirituais, infinitos, que não podem envelhecer ou morrer, que não podem ser atingidos por algo tão limitado quanto é o tempo e sua ação sobre os nossos corpos. Apenas um porém: mas o cosmo não é escuro como o éter? Como conciliar a extrema brancura do gelo com a ''escuridão'' infinita dos céus? Em nossas mentes embriagadas( êpa!)e extasiadas diante de tanta beleza e silêncio já não dá para distingüir entre uma coisa e outra. Brancura e escuridão se entrelaçam em inúmeras danças e jogos entre si, uma como o ''portal'' da outra, não importa, reflexos da dualidade deste mundo-tudo nos remetendo ao infinito...
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