quarta-feira, 23 de janeiro de 2008
Não confie em quem escreve...
Não confie em quem escreve. Quem escreve não vive, comenta. Quem escreve se assemelha aos garotos que ''fazem cera'' nos jogos de futebol: a qualquer dividida eles caem gritando como se tivessem levado uma entrada de quebrar a perna. Quem escreve, por seu lado, costuma também exagerar as suas dores, em busca de audiência e simpatia alheias. Quem lê, e escreve, também não viveu as maiores alegrias da vida: não saiu com as meninas mais bonitas, não foi o artilheiro do time da escola, não foi o cara mais popular da Faculdade. Livros, nem sequer os de AUTO-ajuda, não resolvem os problemas de ninguém. Não curam as dores. Não apresentam saídas. Ao contrário. Quem lê muito, e se atreve a escrever qualquer coisa- de artigos de jornal a blogs- torna-se um descobridor de novos problemas. Uma pessoa descontente, de costas para a vida, o real. Ler, ou escrever, não é a saída. É, isto sim, e não é pouca coisa, uma forma de botar as dores para fora, de tentar descobrir as suas origens e devolvê-las para o mundo. Vâ e quimérica tentativa. Escritores e jornalistas de todos os tempos sempre foram pessoas desequilibradas. Neuróticas. Teóricas em excesso. De um deles certamente surgiu aquele texto em que o autor fala que, se vivesse a vida novamente, deveria ter ''feito mais'' isto ou aquilo- tudo, exceto escrever mais. Escritores e pensadores de todas as espécies se assemelham às pessoas que vão às mais belas praias, e ficam discutindo assuntos pendentes dos lugares de origem. Felizes são as crianças, que pulam, riem e curtem o momento. Felizes são os surfistas, de poucas palavras e concentrados no momento, em cada onda que passa. Escritores não mudam o mundo, e muitos sequer mudam a si próprios. Mas o que seria o mundo sem este ''blá-blá-blá'' todo gerado pelos escritores? Sem todos estes livros sobre ''A Arte de Viver'', etc.? Livros não transformam o mundo, mas são um belo ORNAMENTO sem o qual este mundo seria ainda mais insuportável e doentio. Escritores passam por este planeta, sofrem, choram e fracassam como todo mundo, mas deixam um rastro, uma trilha, um caminho inicial por onde seguirão outros escritores, todos eles na ilusão de que deixarão uma obra ''eterna'', ''memorável'', que será lembrada pelas ''futuras gerações''. Uma quimera, mas uma bela e ilusória quimera- cantada em prosa e verso a cada palavra que se deixa em uma página de papel ou, como agora, na Internet...
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