domingo, 21 de setembro de 2008

Ainda sobre as imagens no Blog...

O grande risco de se trabalhar com imagens é o de imitar os procedimentos adotados em áreas como a TV, por exemplo. Na TV, o texto serve para explicar as imagens. Algo aliás, completamente desnecessário nas hipóteses em que as imagens falam ''por si só''- como exemplo, o daquelas pessoas se atirando dos prédios no dia 11 de setembro de 2001, no atentado contra as ''Torres Gêmeas''...Quando o texto é simples complemento das imagens, escreve-se sobre o que está ''fora''. A ênfase está no externo, ''palpável'', ''concreto''. Meus textos, caso você tenha lido mais de um, vão quase todos em sentido contrário: questionamos aqui o tempo inteiro o dito ''real'', a materialidade rasteira e cega, os ''idiotas da objetividade'' tão condenados pelo saudoso escritor Nélson Rodrigues...Para nós, que isto fique bem claro, importa mais o que está do outro lado: do lado de ''dentro''. Não é nosso propósito fazer deste blog um ''guia de São Paulo''( para isto há outras pessoas especializadas que fazem esta tarefa com muito mais competência...), simplesmente listando e escrevendo sobre lugares que muitos dos leitores podem nem sequer conhecer. Este é um blog de idéias, e reflete os gostos e paixões de seu autor. Esta foi a nossa proposta delineada desde o princípio, e creio que até agora não nos afastamos muito disto. ESTE É UM ESPAÇO DEDICADO A UM DEUS ESPECÍFICO: A PALAVRA. ESTE É O ''CANTINHO DA PALAVRA''. Não pretendemos aqui- mesmo com este crescente ''vício'' pelas fotos, por documentar coisas novas que vamos conhecendo no decorrer dos dias- jamais retirar a Palavra do pedestal de onde ela se encontra, porque simplesmente ela é, e continuará sendo por muito tempo, o nosso principal guia nestes tempos instáveis. A imagem, esquecem-se diversos de seus defensores, pode ser facilmente manipulada. Mesmo a imagem mais concreta, que mostre atos que supostamente ''não tem defesa'', pode ser editada. Retocada. Cortada. Aliás, quem controla todas estas imagens que nos circundam? O que é feito com todas estas imagens produzidas por meio de inúmeras câmeras, celulares, etc? Claro que estes são apenas questionamentos, para retirar a idéia de que a imagem seja o meio mais perfeito, ''à prova de quaisquer contestações''. Imagens, mesmo filmes, sempre achei e continuo achando que são coisas ''menores'', extremamente simplificadas. O melhor dos diretores de cinema JAMAIS irá chegar aos pés de um grande escritor como Shakespeare ou Dostoievski. JAMAIS conseguirá reproduzir a mesma obra-prima com a mesma qualidade. Distraiam-se com as novas fotos do blog- que eu aliás considero estar ficando cada vez mais ''bonitinho'', aceitável por todos estes olhares viciados em imagens...- mas não esqueçam nunca que isto é só ''a cereja que cobre e enfeita o bolo''. Convido-os a continuar comendo o ''bolo'', agora coberto por lindas cerejas que o embelezam e dão um ar mais ''respeitável''...A imagem é secundária, mas nem por isto vamos andar por aí vestidos em andrajos, como mendigos...PS: ''A imagem que ilustra este texto mostra a...''. ESTE É UM TEXTO SEM IMAGENS...!

A ''25 de Março'' dos ricos: Rua Oscar Freire...

Manhã de domingo chuvosa. O frio não foi embora( e eu estou gostando disto!), e uma nova frente acaba de chegar lá do Sul, contribuindo para manter as temperaturas em um patamar razoável. O inverno que se despede de São Paulo ''tem cara de inverno''...Blogs são necessariamente caóticos, como a vida. Eles refletem os nossos pensamentos. Ontem à noite, mal cheguei em casa- e desta vez deixei de comprar os jornais de domingo na véspera simplesmente porque ainda não havia lido os de sábado ainda...- já corri para o computador para postar um texto sobre o Festival de Cinema Italiano. E hoje, na manhã do dia seguinte, pretendo fazer com vocês um ''flashback'', contando como foi um passeio que fiz na manhã de...ontem...Texto sobre a noite primeiro, texto sobre a manhã do mesmo dia depois, assim funciona a minha cabeça...O fato é que ontem pela manhã eu resolvi dar um passeio pelos arredores da rua Oscar Freire. Desci pela Augusta até a Lorena, onde me detive pela Livraria da Vila( mais uma filial, assim como a do Cidade Jardim, uma vez que a principal fica mesmo na Vila Madalena- daí o nome...)por alguns instantes. Estava ocorrendo o lançamento de um livro. A loja, por isto mesmo, em plena manhã de um sábado tranqüilo e frio, estava meio cheia. Pessoas se alinhavam em uma pequena fila para pegar autógrafos e conversar com a autora. A obra era alguma coisa sobre psicanálise, ou melhor, uma análise psicanalítica de vários filmes..Na Oscar Freire propriamente dita fotografei pouca coisa. O trânsito meio congestionado para o horário, o restaurante ''Tattoo''- um pequeno ''aquário'' envidraçado de onde temos uma visão privilegiada para a rua, com mesas no interior e na calçada- a doceria ''Melhor Bolo de Chocolate do Mundo''( criação de um português...)e a esquina da Oscar Freire com a Augusta. Esta esquina de uma rua de alto luxo, um verdadeiro ''shopping a céu aberto'' com um dos aluguéis mais caros da cidade, com uma rua de comércio mais simples, popular, sintetiza o verdadeiro espírito da cidade de São Paulo: um lugar onde luxo e simplicidade convivem lado a lado, sem barreiras ou limitações físicas de qualquer espécie. Os Jardins, região onde estas fotos todas foram tiradas, materializam este espírito de convivência democrática entre opostos: aqui, prédios de luxo estão lado a lado com modestas padarias e pequenos botecos. A simples cantina italiana ao lado de um restaurante ''classe A''. A convivência com os opostos, com o diferente- nunca é demais lembrar- serve como nunca para abrir a nossa mente. Evitar que caiamos na ''mesmice'' e no tédio. Quando quero viajar, simplesmente dirijo-me a um canto novo qualquer nesta megalópole que ''nunca se esgota''...PS: As imagens são, na ordem, ''Galeria Melissa'', esquina da Augusta com a Oscar Freire, ''O Melhor Bolo de Chocolate do Mundo''( huuuuuummmm...), Restaurante Tattoo, Livraria ''da Vila'' filial Jardins e Rua Augusta na manhã ''cinzenta'' de sábado, com o sinal fechado...PS2: Quem gosta de ler as coisas ''na ordem'', começará ''em cima'' da tela, onde está o texto da manhã de sábado, e vai descendo até o texto sobre a tarde e a noite...Bom dia para todos!!!

sábado, 20 de setembro de 2008

Programa Cultural no shopping de luxo...

O pretexto foi a continuação do Festival de Cinema Italiano. Motivo: ao invés de realizarem este evento nas imediações da Avenida Paulista, preferiram localizá-lo nos shopping centers mais luxuosos de São Paulo( Iguatemi e Cidade Jardim). Na crônica anterior, vimos que o primeiro dia no Iguatemi não foi bem sucedido, com um público total, nas duas sessões somadas, de pouco mais de 30 pessoas...Mas o Cidade Jardim,não esqueçamos tem uma filial recém-inaugurada da Livraria da Vila. Pois bem, após o almoço nos dirigimos ao shopping. Da primeira vez, limitamo-nos ao primeiro andar da Livraria. Desta vez, descobrimos um segundo e igualmente interessante ambiente, com espaço para palestras e lançamentos, lounge, área de CD's, DVD's, mais livros- nas áreas de Direito, Psicologia, História, Administração, etc.- e uma revistaria. Após este retorno à bela loja, que também conta com uma filial do Café Santo Grão- um dos melhores de São Paulo- com vista para a Marginal do Rio Pinheiros, ficamos com sérias dúvidas sobre qual é a melhor livraria de São Paulo...O lugar é encantador, contando também com um espaço especial para as crianças, e podemos passar horas ali...Ouvi de uma das clientes, em bate-papo com um grupo, que aquele lugar era ''parecidíssimo com uma livraria que conheci em Paris''...Ela parecia encantada, com todos aqueles livros de arte, agendas importadas, etc. Eu também não resisti, e adquiri dois livros. Não deu para passar incólume pela loja...Antes do filme, com sessão para as 19 horas, também deu tempo para apreciar os sorvetes deliciosos da filial paulistana da Sorveteria carioca Mil Frutas. Vejam só alguns sabores que anotei para que vocês fiquem todos com ''água na boca'': ''champagne'', ''chocolate com whisky'', ''doce de leite mesclado''( comi este, que tem recheio de doce de leite tal como os sorvetes que comi em Buenos Aires...), ''ambrosia'', ''manga'', ''goiabada com queijo'', ''fruta do conde''( pinha),''mangaba'', ''nozes com ovos moles'', ''queijo com doce de leite''...O lugar era um dos de maior sucesso no interior do shopping, inclusive com uma pequena fila...Ouvi gente gemendo em várias línguas após provar alguns destes e de outros sabores...E o filme? Uma excelente estória protagonizada pelo ator e diretor italiano Nanni Moretti. É a estória de um intelectual e professor de literatura, naturalmente pobre a ponto de sua casa estar prestes a cair, que aceita fazer os discursos de um Ministro de Estado. No decorrer da exibição, vamos vendo o conflito ético que o escritor trava quando começa a descobrir os ''podres'' do político...A solução é uma só: ele rompe, aliando-se a um jornalista independente que investiga a primeira eleição do candidato com votos fraudados, mas o político se torna mais forte do que nunca. E os dois, o escritor e o jornalista, acabam ao final- para marcar definitivamente o rompimento com toda aquela quadrilha- despedaçando um belo conversível vermelho da BMW, dado de presente pelo Ministro ao seu redator, com dois tacos de golfe...Sim, este filme foi exibido no shopping mais luxuoso de São Paulo, eu assisti. E a seguir, mas já estava muito cansado para prosseguir, seria exibido outro filme ''das antigas'', também de alta qualidade. Para ilustrar este post, algumas fotos não das lojas, à exceção da famosa Lanchonete da Cidade( versão 5 estrelas), mas do ambiente do shopping- verdadeiramente acolhedor...

Juca Kfouri admite: ''apostaria todas as minhas fichas no São Paulo de Muricy Ramalho...

Juca Kfouri, para quem não sabe, é corintiano roxo. Declarado. Mas também é independente das máfias que dominam o futebol brasileiro na atualidade. E é isento, e equilibrado em suas ponderações. Na coluna do Juca na Folha de São Paulo do último dia 18 de setembro, quinta-feira, sob o título ''Florais de Bach FC'', ele analisa as chances de cada um dos favoritos ao Brasileirão. E faz o seguinte prognóstico: ''Pior, ou bem mais arriscada, é a previsão deste colunista, que, se tivesse que apostar dinheiro, apostaria o pouco que tem no São Paulo, simplesmente por ver no time de Muricy Ramalho uma consistência que não vê nos demais, mesmo que sem nenhum brilho''. Não é para são-paulino ficar dando ''pulos no ar'', até mesmo porque o time tem feito uma campanha tipo ''montanha russa''( sobe e desce constantemente). Mas a palavra de um Juca Kfouri tem peso. E, neste dia, graças ao seu equilíbrio e inteligência ímpares, ele fez um prognóstico que muitos são-paulinos teriam receio de compartilhar...Espero que o Juca esteja certo, e os céticos e temerosos errados...Por enquanto, os gaúchos do Grêmio Esportivo Portoalegrense estão na frente, seguidos de perto pelo Palmeiras...

''Texto X Imagem''

Qual seria o limite de um blog? Todas estas imagens não estariam nos aproximando deste limite? Enquanto nos aproximamos do post número 300, em pouco mais de um ano, somos tomados por reflexões do tipo. Tradicionais leitores como ''lelê por dudu'' também devem ter sido contagiados por dúvidas do gênero. Porém, o recurso ás imagens é tradicional ''manobra'' daqueles que querem ocultar o simples fato de não possuírem palavras suficientes para preencher o espaço de um texto...E, como você já deve ter constatado diversas vezes, padeço exatamente do defeito oposto: sou prolixo, mesmo nos emails que envio para os amigos, escrevo às vezes até demais...A imagem- não nego que estou apaixonado pelo uso do celular que tira fotos, e chego mesmo a alterar o meu caminho agora para poder ''documentar'' alguma coisa nova na rua- entra aqui mais como complemento. Veja tantos destes outros blogs na ''blogosfera'': adolescentes ou casais em viagem, tiram fotos de ''tudo''. Mamães e papais mostram seus ''fofos'' bebês para o mundo...Quem é adepto de imagens, não esconde isto. Pelo contrário: fazem blogs literalmente ''de imagens'', com uma ou outra palavrinha. Aliás, diga-se de passagem que esta é uma opção plenamente válida. Não queremos ditar regras para todo mundo neste espaço. Cada um faz o que quer, este é o sentido da ''anárquica'' internet...Fotos aliás, são um recurso ''fácil mas pobre''. Explico. Posso tirar ''zilhões'' de fotos de uma incrível viagem á- digamos- Antártida. Estas fotos todas, por mais belas que pareçam para mim, que SENTI as inúmeras emoções às quais elas me remetem, não tem o mesmo efeito sobre as demais pessoas. É por isto que aquele momento em que, visitando amigos recém-chegados de viagem, eles tem a ''brilhante'' idéia de nos mostrar ''algumas''( geralmente um álbum inteiro ou mais...)fotos de sua aventura é um dos instantes mais constrangedores de qualquer visita que façamos...Um verdadeiro teste de amizade...Eles ficam horas, preciosas horas que poderiam ser gastas com uma boa conversa, mostrando todas aquelas imagens que captaram, à espera de nossa reação. ''Nossa! Que maravilhoso!", exclamamos para não perder a amizade, porém sem ter a mínima idéia do que é realmente ESTAR naquele lugar. FOTOS NÃO TRANSMITEM AS EMOÇÕES DAQUELES QUE AS SENTIRAM E TIRARAM NAQUELES LUGARES TODOS...Em suma, pelos argumentos acima expostos, fotos são um recurso ''pobre''. Que as fotos mostradas aqui sirvam não como um ''substituto'' ao fato de vocês eventualmente não estarem na Capital Paulista, e sim como ESTÍMULO para que o façam- se ainda não o fizeram- o MAIS BREVEMENTE POSSÍVEL. Vocês não sabem o que estão perdendo...Fotos? Fotos não passam de ''enfeite'', ''ilustração''( que me perdoem os fotógrafos!)...PS: A imagem que ilustra este texto mostra o cruzamento da Avenida Paulista com a rua da Consolação...

Tesouros da Paulista

A Avenida Paulista, este tradicional cartão postal da cidade, abriga em seus cerca de 3 km diversas atrações preciosas. O tema deste post é o centro cultural abrigado em um antigo casarão, chamado ''Casa das Rosas''. Local de exposições, peças de teatro, entre outros eventos culturais. Ainda não o conheço por dentro. Procuro uma ''desculpa'' qualquer para conhecer este belo lugar. Quem sabe qualquer dia destes? Enquanto isto, contento-me com estas fotos...

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Festival de Cinema Italiano

O Festival, que vai até o próximo dia 25, inclui desde filmes mais recentes até clássicos como ''Antes da Revolução''( Bernardo Bertolucci), ''Um dia muito especial''( Ettore Scola), ''Nós que nos amávamos tanto''( Ettore Scola), ''Giordano Bruno'' e ''Último Tango em Paris'', entre outros. A maior vantagem de morar aqui nem se dá quanto aos filmes chamados ''comerciais'', ou mesmo muitos dos ''alternativos''. Cedo ou tarde eles chegam também aos outros lugares. A maior vantagem de estar situado em São Paulo é ter acesso direto, via Festivais, à cinematografia do mundo inteiro. Semana que vem começa um Festival de Cinema Oriental, com filmes da Coréia, China, Taiwan...É de dar ''água na boca''. Estar aqui é poder ver aquilo que talvez jamais entre em cartaz, mesmo no circuito chamado ''alternativo''. Pois bem. O único porém deste Festival de Cinema Italiano são os locais de exibição dos filmes. Há, como honrosa exceção, o tradicionalíssimo ''Belas Artes'' da esquina da Paulista com a Consolação( vide foto). Porém, alguns filmes são exibidos também em lugares como os shoppings Iguatemi e Cidade Jardim. Nada contra, de minha parte, os shoppings. Mas os freqüentadores de shopping e o chamado ''público alternativo'' de cinema são como água e azeite: não se misturam...O resultado é que os dois filmes exibidos esta noite, no Iguatemi, tiveram a ínfima platéia- em um cinema de cerca de 150 lugares- de 10 PAGANTES no primeiro filme- ''Õnibus Noturno''- e aproximadamente 20 no segundo- ''Deus ajuda a quem cedo madruga''. As duas são películas recentes. A segunda é estrelada por um dos atores do bom filme recém-exibido aqui ''Meu Irmão é Filho Único''( é isto mesmo que você leu...). A primeira estória é policial. Envolve a procura de um ''chip'' de computador, por parte de inúmeras pessoas. A polícia, uma ''gangue'' de bandidos, e até um motorista de ônibus que se envolve neste rolo todo sem saber...Já o segundo, a grande atração da noite, narra a estória de um DJ. Ele começa em uma cidade do interior, e é convidado para trabalhar em Milão. O sonho de todo apresentador de programas de rádio. Sua carreira decola, vai de ''vento em popa''. Só há um ''pequeno'' detalhe, porém: ele, nas horas vagas, também costuma apostar em corridas de cavalo...E isto acaba gerando uma espécie de ''fortuna às avessas''. Ele passa a dever o equivalente a muitos, muitos mesmo, meses de seu salário...Isto se parece com a realidade de muitas pessoas em algum país tropical? Acho que, quando estrear no circuito comercial, vai fazer um ''baita'' sucesso no Brasil...Tiroteios, apostadores em corridas de cavalo, muitos ''golpes'', esta Itália se parece mesmo com o nosso país tropical...

Mais uma surpresa, ou porque é impossível conhecer ''tudo'' de São Paulo...

Não é nenhuma surpresa o fato de que o Brasil já possui 11 lojas do café americano Starbucks- 10 na capital paulista e uma em Campinas. Um de meus favoritos, sempre acabo indo lá pelo menos uma vez durante a semana. No entanto, passando hoje pelo Paraíso, a caminho do mesmo restaurante vegetariano que descrevi ontem neste blog, deparei com uma plaquinha nova do Starbucks, inédito naquela região. Sempre me surpreendo quando saio às ruas aqui. Nem sempre são grandes surpresas. Esta é uma trivial, registrada nas fotos que acompanham este texto. Já não conheço muitas coisas em São Paulo. Às vezes sequer aquelas regiões onde passo mais vezes...

Explicando as novas imagens...

Todas foram tiradas com meu novo celular, de modo a não dar margem a qualquer tipo de disputa por causa de direitos autorais...A primeira foto mostra o centro comercial Center 3, ''baixinho'' em meio aos prédios. Com 3 andares e um subsolo, tem 8 salas de cinema, praça de alimentação, uma livraria Nobel e dois cafés: Offner e Starbucks. Está situado em frente ao Conjunto Nacional-SP. A segunda foto mostra a Paulista, de um ângulo ''de baixo''( ao contrário da anterior vista aérea). A terceira é a fachada externa da Livraria Cultura do Conjunto Nacional- por sinal a maior livraria de todo o Brasil, com 3 andares. Atrás deste vidro há uma revistaria e o famoso, e sempre lotado, V-Café...A quarta imagem é da fachada do Conjunto Nacional, tirada do outro lado da Paulista- em frente ao já mencionado Center 3. Ao fundo o alto hotel Renaissance, um dos mais elevados prédios da região. Do lado está o cruzamento da Paulista com a tradicional Rua Augusta. Enfim, a última imagem continua sendo a do Parque da Aclimação. É isso.

''E quem disse que São Paulo não é assim, ''cara pálida''???

''Leledudu'' ( www.leledudu.blogspot.com) perguntou se não era muito ''purismo'' ficar publicando aqui todas estas fotos de árvores e parques...Imagino que ele queira ver neste site, movido por seu ''espírito jornalístico'', a ''São Paulo real'', ''do jeito que ela é''. Eis aqui mais um exemplo do clássico conflito entre ''idealistas'' e ''realistas''. Eu, parafraseando o slogan da candidata a Prefeita Soninha, do PPS, retruco de imediato: ''e quem disse que não pode ser deste jeito''? ''Quem foi que disse que São Paulo não É deste jeito''? A maior dificuldade em se retratar fenômenos de maior magnitude está no fato de que eles não são facilmente reduzíveis à proporção limitada dos nossos conceitos. Daí a dificuldade em se falar do Universo, especialmente calcados nos poucos conhecimentos que temos atualmente sobre o mesmo...São Paulo- esta ''cidade-estado'', este ''país em si só'', com um PIB semelhante ou maior do que o de muitos países da América Latina- não ''é'' as Marginais( Pinheiros e Tietê), não é a Avenida Paulista, não é o Morumbi, não é a Barra Funda, não é a Praça da Sé, não é o Parque do Ibirapuera, não é o MASP, não é o Itaquera. É um pouco de tudo isto, e muito mais. Por ser um fenômeno complexo, de grande magnitude, pode-se também fazer o reverso. Como um cientista que recolhe uma gota de um Oceano para fazer uma pesquisa, partindo do pressuposto de que aquela gota é representativa do conjunto, estas fotos todas no blog que refletem uma ''São Paulo Verde'' também são São Paulo. São Paulo é assim, e só assim conseguimos ainda sobreviver em uma megalópole altamente poluída, em vários de seus locais: na Vila Madalena, no Sumaré, no Pacaembu, em Higienópolis, nos Jardins, em cada um de seus poucos parques é possível encontrar exemplos daquilo que mais apreciamos- a natureza. E, quanto mais procuramos estas coisas, mais fácil se torna achá-las, em um claro exemplo da chamada ''Lei da Atração''. Eu busco, por mais ''difícil'' que seja encontrar, a natureza em São Paulo. Por ser tão rara, ela se torna- ao mesmo tempo- também mais preciosa...

O custo da crise

O correspondente da ''Folha de São Paulo'' em Washington, Sérgio Dávila, apontou ontem em matéria para aquele jornal qual é o preço da crise no setor econômico norte-americano até agora: ''Estatizações'' já custam US$ 1 TRILHÃO a governo dos EUA''. Informou que os analistas estimam que a conta federal desde o início da atual crise financeira já está entre US$900 bilhões e US$1,5 trilhão, ou cerca de 10% do Produto Interno Bruto(PIB)norte-americano, e ''pode chegar a muito mais''. As chamadas ''estatizações''- operações em que o governo adquire o controle de empresas à beira da bancarrota- já motivam piadinhas na Internet e na imprensa: o irmão do norte já estaria sendo chamado de ''URSSA''( União das Repúblicas Socialistas Soviéticas da América)...A atitude do governo Bush, contrariando todos os manuais ''liberais'' de política econômica e o discurso histórico de seu próprio partido, estimulou outros setores a buscar abrigo sob os ombros do Tio Sam. Segundo a mesma matéria da ''Folha'' a que nos referimos no início deste post, ''nas últimas horas, cresce, por exemplo, a pressão de montadoras norte-americanas para um pacote. Detroit- as montadoras de Detroit, leia-se- pede US$25 bilhões em auxílio federal''. Segundo o historiador econômico Ron Chernow, ainda segundo o texto da ''Folha'', ''esse governo foi longe demais''. ''Nós vivemos a ironia de uma administração pró-livre-mercado fazendo coisas que o governo democrata mais progressista não faria em seus maiores delírios'', disse ele ao 'New York Times''. Digam-me agora como é que os republicanos farão suas campanhas doravante: certamente não terão condição moral de agitar a tradicional bandeira ''No more taxes'' ( chega de impostos)...Toda esta dinheirama não está saindo do nada. A conclusão mais lógica é que o contribuinte norte-americano terá de pagar esta conta por gerações. E o pior é que não havia outra alternativa senão salvar todos estes bancos ou instituições financeiras, ou a economia americana- com forte impacto sobre o mundo inteiro- quebraria...

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Política...

Discordo veementemente da surrada frase ''político é tudo ladrão'', repetida volta e meia. Não que muitos não sejam mas, assim como no mundo aqui ''de fora''não dá para generalizar com afirmações do tipo ''brasileiro não presta''( e os que dizem isto, nasceram em Marte???!), generalizações acabam sendo a forma mais simplista e superficial de lidar com problemas. E, geralmente, dão margem a atitudes comodistas como a de cruzar os braços...O maior problema da Política é que as pessoas que optam por este caminho tem uma moral, digamos assim, meio ''elástica''. Não é só ficar berrando a altas vozes toda hora ''pega ladrão!''. Não, não precisa sequer roubar para se desencaminhar no mundo da Política. Às vezes, basta fechar os olhos para o que está acontecendo...Basta simplesmente acobertar em seu partido pessoas processadas por corrupção. Basta um simples gesto de aliar-se com figuras duvidosas...Você vai percebendo que não é muito difícil ''desviar-se'' no mundo político...Mas o pior, talvez não tanto quanto efetivamente ''roubar'', apropriar-se da coisa pública em prol de seus mesquinhos interesses, o pior é que eles- de tantas críticas que recebem- acabam desenvolvendo uma espécie de ''couraça'' contra os comentários do ''lado de fora''. Desculpem-me os autistas pela comparação grosseira, mas há uma doença muito mais grave e sem cura chamada ''autismo político''. É assim que o ex-prefeito Paulo Maluf, processado mas ainda não condenado em última instância, desfila para cima e para baixo com uma bandinha de música para abafar a voz de seus críticos na rua. Outros se fingem de desentendidos. Outros, e isto é bem comum em vários componentes do atual Congresso Nacional, vivem em um ''mundo à parte'' do resto da população brasileira. Falamos em violência, miséria, inchaço dos grandes centros, estradas mal-conservadas, aeroportos em péssimo estado de conservação, enquanto eles discutem os assuntos próprios deles em seus gabinetes ou nos restaurantes de luxo do Planalto Central. Por isto, é cada vez mais difícil fazer como outrora e ler os tais colunistas políticos que, coitados, tem de conviver diariamente com tudo isto. Fingir que são sérias as conspirações em torno do nome ''x''ou ''y'' para concorrer a um cargo qualquer. Esta é a política com ''p'' minúsculo. No entanto, como deixei claro no início deste ''post'', não dá para generalizar. Abster-se significa contribuir para que esta situação se eternize. Afinal, eles estão lidando com os nossos interesses. São, ou deveriam ser, não os servidores de si próprios, mas os servidores da coisa pública. Os nossos servidores. Houve uma época em que bastava votar em uma legenda, que identificávamos com a ética e a coragem. Hoje não dá mais para fazer isto. Os partidos, todos eles, tem inúmeros grupos e alas lutando entre si pelo poder interno e externo. Hoje, mais do que nunca, há que se estudar para poder votar tanto quanto se estuda para uma prova. Investigar. Perguntar. Confrontar propostas. A Internet facilita isto, muito mais do que o cada vez mais modorrento horário eleitoral. Não me arrependo das vezes em que fiz este trabalho de ''detetive'', motivo pelo qual não sou daqueles que, uma semana após as eleições, dizem ''não se lembrar'' do político em que votaram...Não é falta de memória, aliás, é vergonha mesmo...A política é cada vez mais incômoda porque nossa maior motivação acaba sempre sendo, no caso das candidaturas majoritárias como Prefeito, Governador e Presidente da República, votar em fulano ''contra'' sicrano. Este é um comportamento criticado. Diz-se que o ideal, ao menos no Primeiro Turno, é votar no melhor candidato. No segundo, já seria outra coisa... Mas, e se o Segundo Turno reservar-nos a indesejável tarefa de escolher entre dois candidatos medíocres? Você vota no melhor, e acaba tirando as chances de um mais razoável disputar o Segundo Turno e o cargo executivo. Não espere aqui uma solução. A Política nos reserva, e continuará a reservar por muito tempo, dilemas desconfortáveis como este. Porém, se flexibilizamos por este lado, isto não significa que- como muitos políticos o fazem corriqueiramente- estejamos tolerando qualquer espécie de negociata ou desvio de recursos públicos. É justamente para manifestar a nossa hojeriza a este tipo de coisa que não devemos abandonar a Política...na mão de muitos destes políticos atuais...

Integrados X Apocalípticos

Já antevejo os mais puristas, como o meu caríssimo amigo ''Dudaleu'', torcendo o nariz para as novíssimas fotos publicadas no blog. Afinal, aqui você poderá encontrar também um texto em que faço um enorme louvor à palavra, o que há de mais importante no mundo. A nossa razão de existir, inclusive deste blog. Mas, comparando com o que vou relatar aqui em instantes, as poucas fotos que incluí no último post não são nada. Apenas uma adesão tardia a algumas comodidades da tecnologia. Segundo a interessante revista ''Veja Tecnologia'', o cientista Gordon Bell arquiva no disco rígido tudo o que ouve, diz, vê- ou sente. Ele, segundo a matéria, ''é um dos precursores da era da digitalização total, em que todas as experiências de uma vida podem ser convertidas em bits''. Ainda de acordo com a reportagem, ''transformado em bits, Bell ocupa um espaço de 180 gigabytes(GB). Ou seja, pode ser armazenado num PC convencional. Os registros feitos pelo cientista incluem conversas com amigos, fotografias de viagem, documentos, artigos, cartas, telefonemas, recortes de jornal, livros e- surpreendentemente- detalhes de sua navegação na Internet. Há cópias de 176733 páginas consultadas na web e de 136675 e-mails trocados. Outras 800 páginas oferecem um perfil da saúde do pesquisador, com informações sobre a duração da bateria de seu marca-passo( Gordon Bell tem 74 anos...). São mais de 460000 mil ítens. Bell digitaliza sua vida desde os anos 90( nosso grifo). No início, a curiosidade o motivou. ''Eu queria saber qual o tamanho da minha memória em bits'', disse a Veja''. Curioso: ''desde 2003, Bell usa uma câmera, batizada de SenseCann, pendurada no pescoço. A máquina tira 200 fotos por hora'( nosso grifo). O engenheiro de computação Deb Roy, diretor do grupo de máquinas cognitivas no laboratório de mídia do MIT, foi além: completou em julho a gravação- em áudio e em vídeo- de grande parte dos três primeiros anos de vida de seu filho. Segundo a ''Veja Tecnologia'', ''Roy instalou em casa 11 câmeras(!)comlentes grande-angulares, que permitem total monitoramento do ambiente, e 14 microfones(!). Gravou 70% de toda a vida do filho quando acordado. Os arquivos incluem 16 milhões de sons e palavras balbuciados pelo garoto''. ( ''Veja Tecnologia'', setembro de 2008, Editora Abril, ''Quero ser digital'', páginas 30 a 35- trechos selecionados). Diante disto tudo, as pequenas mudanças que faço aqui parecem pré-históricas...Grande coisa: aprender a fotografar com celular, quando até crianças pequenas já fazem isto...E, em caso de dúvida, resolvem os ''pepinos'' para seus pais...Nem ''integrados'' nem ''apocalípticos'', ou melhor, talvez um pouco de cada. A tecnologia nos fascina e atemoriza ao mesmo tempo. No rumo em que as coisas andam, isto é até compreensível...

Comendo ''fora de São Paulo''

Como já foi dito aqui inúmeras vezes, uma das mais marcantes características da cidade de São Paulo é a criação de ambientes ''exóticos''. De preferência, que nos dêem a impressão de estarmos FORA DE SÃO PAULO. No último fim-de-semana fui caminhar no Parque da Aclimação. Ao sair, deparei com uma placa de um restaurante vegetariano. Na hora, pensei que ele não abria no domingo, e decidi voltar durante a semana. O lugar é muito mais do que eu pensava à primeira vista: ele tem 3 ambientes, uma lanchonete na entrada, o restaurante logo acima, e no segundo andar um local com diversos ambientes, incluindo um ao melhor estilo japonês- onde se come sentado no chão e com mesinhas bem mais baixas...Pode-se escolher entre comer dentro e fora, em um jardim à sombra de belas árvores( aliás, tive a impressão de que as árvores do Parque da Aclimação e as do restaurante formavam um ambiente só, embora haja uma rua passando em frente ao estabelecimento...O nome do lugar, e não tenho nenhum receio em divulgá-lo sob risco de ser acusado de fazer propaganda- uma vez que se trata de um lugar ''alternativo'' de altíssima qualidade- é ''Anna Prem'', bistrô e restaurante natural. A culinária e o ambiente são fortemente influenciados pela cultura indiana, embora eles tenham abertura suficiente para escolhermos entre pratos exclusivamente vegetarianos, lacto-vegetarianos e aqueles com peixes ou frango. Tudo muito saudável, com alimentos orgânicos e sem aditivos químicos ou conservantes. A chamada ''culinária viva''. O prato já vem montado. Escolhi uma espécie de macarrão. Em uma pequena valise, a salada. Com suco de limão e gengibre. Muito bom. Enquanto comia, só eu na parte de fora porque estava um pouco frio e os demais clientes preferiram refugiar-se no interior do restaurante, ventava um pouco, e o sol abria de vez em quando- espalhando seus raios por cima de algumas mesas. Como estas estavam prontas de antemão, alguns talheres foram parar no chão- obrigando as atendentes a recolhê-los. Ao fundo, o som de água caindo- de uma pequena fonte instalada no jardim- e de uma belíssima e suave música ''new age''. ''Trapaceei'' para repetir a sobremesa. Em cima, junto com o almoço, comi duas bolas de sorvete de côco com tapioca. Ao sair, e passar pelo entreposto e lojinha natural da entrada, pedi mais uma sobremesa- um ''olho de sogra'' dos deuses( o doce, não a sogra...). De quebra ainda dei uma pequena passada no Parque, onde tirei algumas fotos. O folheto do restaurante traz no verso uma propaganda do Parque, uma das maravilhas paulistanas- o meu preferido. O Parque da Aclimação é bem pequeno, sendo percorrido em não mais de 10/15 minutos. O descobri quando ele foi mostrado em alguma das novelas- uma com a Cláudia Raia- da Globo, gravada em Sampa. Alguém poderia perguntar por que alguém iria a um Parque para caminhar só cerca de 10 minutos em seu interior. O mais bacana, para falar a verdade, é o caminho até lá. De onde moro, na Paulista, levo cerca de uma hora andando, nos finais de semana. E há várias opções: ir e voltar de metrô, ir andando e voltar de metrô, e ir e voltar andando... O caminho é bacana, pois cruzo toda a Avenida Paulista até a Rua Vergueiro, onde por sinal há um belo ipê amarelo nas proximidades de um prédio do Metrô e do Centro Cultural São Paulo, e desço as várias''ladeiras'' situadas no caminho. Uma foi batizada por mim de ''ladeira da morte'', uma vez que é bem íngreme. Claro que, para batizá-la assim, a primeira vez que passei por ela foi de volta do Parque, subindo...

If the world could vote( ''se o mundo pudesse votar'')

Não há a menor sombra de dúvida sobre qual é a ''vontade popular mundial'' sobre as eleições americanas. Se você quiser quantificar esta vontade, ou mesmo manifestar-se e sentir o gostinho do voto ''lá'', há uma maneira. Acesse o site www.iftheworldcouldvote.com . Nele é possível constatar algumas peculiaridades: John McCain ganha em um único país, a Geórgia, com 66, 7% dos votos dos internautas. Na República Tcheca, há um virtual empate entre os dois, com pequena margem pró-Obama de cerca de 10 pontos percentuais. Os dois estão literalmente empatados em Israel ( diferença pró-Obama de 3 pontos, dentro da ''margem de erro'' da maior parte das pesquisas oficiais), Quênia( 4 votos no total, 50% para cada um) e Namíbia( apenas 2 votantes ao todo, com 1 voto para cada um). Antes que você faça alguma gracinha do tipo ''está vendo? os africanos gostam mesmo é de John McCain'', o número ínfimo de votos nos dois países não permite uma visão mais aprofundada sobre qual é a opinião de seus habitantes...''Grande surpresa, o mundo quer Obama''. Correto. Mas o mundo não vota. Nós não votamos. E ficamos aqui ''roendo as unhas'', torcendo para que os norte-americanos não apostem mais uma vez na ''mesmice'' republicana...

Faz sol. E está gelado!!!

O fenômeno não é novidade para quem vive lá no Sul. Com a chegada da mais recente frente fria, no último sábado, atravessamos no momento uma seqüência de dias gelados. Os primeiros, com muitas nuvens. E chuva. Ontem, ao meio dia, o tempo começou a abrir. Andei pela Avenida Paulista em meio à massa humana que costuma cruzá-la nestas horas. Detalhe: apesar do solzinho, estávamos todos com pesadas roupas de frio...O sol até aqueceu um pouco, proporcionando a máxima do dia de 17 graus. Mas nem pensar em tirar casacos nesta hora, uma vez que um vento geladíssimo vindo lá do extremo sul do continente soprava com toda a sua força...Às 9 e pouco da noite, quando voltei para casa, os relógios de rua marcavam ainda menos: cerca de 10 graus...

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

O maior risco é não se arriscar...

O trecho a seguir foi extraído do livro ''A vaca roxa'' (Purple Cow), de Seth Godin: ''A Vaca é rara porque as pessoas tem medo. Se você for notável, provavelmente algumas pessoas não gostarão de você. Faz parte da definição de ''notável''. Ninguém consegue, jamais, elogios unânimes. Para um tímido, não há nada melhor do que passar despercebido. Somente os notáveis recebem críticas. Onde você aprendeu a ser reprovado? Se você for como a maioria dos americanos, na escola de primeiro grau. É a partir daí que se aprende que ser enquadrado é a coisa mais segura a fazer. É muito mais seguro colorir dentro dos limites do desenho, não fazer muitas perguntas em classe e, o que quer que aconteça, certifique-se de que o trabalho de casa enquadra-se no formato solicitado. Nossas escolas são administradas como fábricas. As crianças fazem fila em linhas retas, são separadas em grupos( chamados graus)e nos esforçamos para que não haja desalinhamentos. Ninguém deve se destacar, ficar para trás, se adiantar ou fazer bagunça. Fazer tudo de modo seguro, de acordo com as regras. Essa parece ser a melhor maneira de se evitar o fracasso. Na escola, pode até ser. Infelizmente, essas regras estabelecem PADRÕES para a maioria das pessoas( o seu chefe, por exemplo?) e esses padrões são perigosos. São essas regras que, em última análise, podem levar ao insucesso. EM UM MERCADO SUPERLOTADO, ENQUADRAR-SE É FRACASSAR; NÃO SE DESTACAR É O MESMO QUE ESTAR INVISÍVEL''( nosso grifo). Continuando, em outro trecho o autor afirma que ''fomos educados com base em uma falsa crença. Acreditamos, de maneira equivocada, que a crítica leva ao fracasso. Desde os tempos de colégio somos induzidos a acreditar que ser notado é quase sempre ruim. E´algo que nos leva ao gabinete do Diretor, e não a Harvard. Ninguém diz: '' É isto aí! Eu gostaria de me preparar para reagir à crítica séria!''. Apesar disso...esta é a única maneira de se tornar notável(...)Com freqüência reagimos à nossa aversão a críticas procurando nos esconder e evitando fazer coisas que possam desencadear respostas negativas. Dessa forma, garantimos( ironicamente) o nosso insucesso! Se ser notável é a única maneira de se destacar na multidão e ser tedioso, mas estando seguro, a única maneira de se evitar críticas, bem, aí está uma escolha e tanto, não é mesmo? ( nosso grifo). Você não é o projeto. Críticas ao projeto não são críticas a você. O fato de precisarmos ser lembrados disso é uma evidência do quanto estamos despreparados para a era da Vaca. Aqueles cujos projetos jamais serão objeto de crítica são os que, em última análise, fracassam''( ''A Vaca Roxa'', Seth Godin, Editora Campus, páginas 72 a 75, trechos selecionados). Seth Godin é Publicitário. Mas quem disse que suas sábias palavras não se aplicam a muitas outras carreiras???

Campos de concentração no Rio de Janeiro...

Não sou eu que eu estou inventando isto. Segundo o jornal ''O Globo'' de 16/9, o novo presidente do Tribunal Regional Eleitoral( TRE-RJ)do Estado do Rio de Janeiro, se diz chocado com estado de pavor e coação que encontrou em favelas da Zona Oeste da ''Cidade Maravilhosa''. O desembargador Alberto Motta Moraes, segundo o periódico, afirmou que conheceu ''um campo de concentração sem arame farpado''. Motta Moraes, ainda segundo a reportagem, ''comentou ainda sobre a moradora de nome Cristina que conversou com ele, agradecendo a presença das tropas federais na ''Coréia''. Segundo o magistrado, a moradora contou que está deixando o local onde vive há anos por imposição do tráfico, que também teria lhe tirado o pequeno comércio que o marido falecido deixou: - Ela disse que estava feliz porque vai pegar um ônibus para o Ceará na terça-feira e, como as tropas federais ficam no local até a terça, ela poderá retirar seus pertences de casa. E chegou a me confidenciar que pretende queimar tudo o que construiu para não deixar para os traficantes(...)''. O desembargador aproveitou para criticar a questão da segurança pública no estado, lembrando que não existe a idéia de ''espaços vazios'': ''Se a autoridade não se faz presente, alguém se faz presente. Não existe ausência de autoridade, o que existe são tipos de autoridade. Infelizmente, lá a autoridade que manda não somos nós, nem as forças federais. Somos nós enquanto estamos lá; quando sairmos, serão outros os que mandam. Infelizmente é assim''. Me digam: isto que estamos vivendo se assemelha a um ''Estado Policial'', como dizem lá nos gabinetes de Brasília? Um bando armado se apodera de vastas regiões da segunda maior cidade do país, impondo o seu terror e as suas próprias leis, transformando os moradores daquelas ''comunidades'' em reféns e confiscando bens. Qual é o nome disto? Seria isto ''caso de polícia''? Isto é- sem meio-termo ou palavras conciliatórias- TERROR, TERRORISMO...Uma autoridade visita um destes lugares e o compara a um campo de concentração, tal o pavor e o pânico de seus moradores, mas também deixa claro que a atual presença do Poder Público tem hora e data certas para acabar...Cuidado, senhores governantes: a História mostra que as situações de ''dualidade de poder'' não se sustentam por muito tempo. O MAIS FORTE SEMPRE ACABA VENCENDO. Vá perguntar para algum daqueles milhares de moradores- ou melhor, PRISIONEIROS- quem eles consideram o lado ''mais forte''...

Boa, Jabor!

O colunista Arnaldo Jabor, em sua coluna nos jornais ''O Globo'' e ''O Estado de São Paulo'' publicada às terças-feiras, afirmou algo que eu já suspeitava há muito tempo: ''ele aparece todos os santos dias na TV, rádio e jornais, pois descobriu o Brasil real e aí está o seu gênio- descobriu algo que ninguém mais viu antes: que o Brasil não precisa de governo; basta parecer que tem'' ( extraído do texto ''Lula é o nosso único acontecimento'', de 16/09/2008). Mas cuidado, Jabor. Hoje em dia os leitores costumam interpretar literalmente tudo o que lêem, sem margem para nuances e ironias. Assim, os mais apressados podem pensar que ''até o Jabor aderiu''...

''Perigo! Batatas fritas- II ''

''Coincidentemente'', boa parte dos que defendem o chamado ''Estado Mínimo'' pertencem aos estratos mais poderosos da sociedade. Como assim? As empresas defendem a não intervenção do Estado na economia, em nome do chamado' 'livre mercado''. Mas haveria um direito ilimitado a reajustar preços? Haveria um direito ilimitado a vender mercadorias de qualquer modo, sem padrões mínimos de qualidade e desatendendo normas públicas de saúde? A intervenção estatal, respaldada por instrumentos como o Código de Defesa do Consumidor, visa proteger em especial os mais fracos, os ''hipossuficientes''. O consumidor, em seu litígio contra as empresas, é usualmente a parte mais fraca. O CDC assumiu claramente a sua defesa, e estabelece inclusive a chamada ''inversão do ônus da prova'': o Juiz pode determinar que a empresa, que tem livre acesso e controle sobre os dados técnicos dos produtos que vende, prove ''que não agiu de determinada forma'', ''que o produto não é lesivo à saúde do consumidor'', etc. Isto é severo, draconiano, mas plenamente justificado pela desigualdade entre as partes. Como irá um consumidor provar que um produto é lesivo? Custeando caríssimos testes de laboratório? Efetuando pesquisas, pagas do seu próprio bolso? A intervenção ''parcial'' do Poder Público, amparada pela lei, justifica-se no sentido de que visa ''reequilibrar o jogo'' entre dois jogadores que tem características muito diversas: as poderosas empresas, e os consumidores. Alguém questiona este tipo de intervenção estatal? Alguém, salvo as empresas, claro, vislumbra neste tipo de ação um ''risco à liberdade individual''? Toda a reclamação em torno da chamada ''Lei Seca'' funda-se em argumentos semelhantes. Os proprietários de veículos motorizados, não casualmente pertencentes aos estratos economicamente mais elevados da população, reivindicam o ''direito'' de conduzir os seus carrões livremente. No entanto, antes da Lei, diariamente os meios de comunicação noticiavam inúmeros casos de acidentes causados por condutores alcoolizados. Que interesses estavam em jogo? De um lado, o dos motoristas. De outro, o de suas vítimas: crianças, ciclistas, idosos, pedestres em geral - neste país ''coincidentemente'' pertencentes às camadas mais pobres da população- bem como até mesmo os condutores de outros veículos menos ''possantes''( motocicletas e ''fuscas'' ,atingidos por caminhonetes SUV e caminhões...). O que é a ''Lei Seca''? Uma iniciativa, patrocinada pelo Estado e com o apoio inequívoco da sociedade, no sentido de regular o uso de veículos automotores. O consumo de álcool continua livre. Mas não ao volante...Por que se quer proibir o consumo de cigarros em lugares públicos? Para proteger os fumantes passivos que, segundo as pesquisas médicas, são as grandes vítimas de todo este ''fumacê'' produzido pelos fumantes inveterados...Elimina-se o direito dos fumantes fumarem? Não, condiciona-se. Para defender o interesse daqueles que não fumam...E as batatinhas fritas? Há muito se sabe que a gordura vegetal hidrogenada- gordura ''trans''- usada em sua preparação é altamente letal à saúde. Aqui a ação do Estado requer, além da repressão e proibição do uso destas substâncias venenosas e cancerígenas, também a educação das pessoas para que não consumam produtos preparados desta forma. Padarias, pizzarias, lanchonetes tem feito ''ouvidos de mercador''. Não tem aplicado as recomendações estatais no sentido de não utilizar estas substâncias no preparo de alimentos. Em decorrência, o Ministério da Saúde tem acenado com uma virtual proibição total da gordura ''trans'', no longo prazo de ''3 a 5 anos''. Foi contra isto que se insurgiu aquele artigo da Revista ''Época''. Pergunto: o direito dos comerciantes de substâncias tóxicas pode se sobrepor ao DIREITO À SAÚDE das pessoas em geral? Os operadores do Direito são corriqueiramente colocados diante de conflitos como este. A melhor saída sempre é PONDERAR, sopesar os direitos em conflito, tentar reequilibrá-los por meio de uma ação do Poder Público que resguarde os interesses de todas as partes. E o ''perigo'' de todas estas intervenções do Estado, em contraposição aos direitos individuais, por mais legítimas e justificadas que sejam? Se você ainda não vislumbrou, diante do visível ''encolhimento'' do Estado nos últimos anos e da privatização de diversos serviços outrora públicos, um outro risco, um risco ainda maior- o de sermos manipulados e controlados por todos estes oligopólios privados que agem cada vez mais desenvoltamente no terreno econômico- faço questão de dar-lhe as boas-vindas a este ''mundo novo''. Mas claro que, inteligente como você é, e temeroso de idenficar-se nos modernos ''lugares públicos'' como a Internet, em que grandes empresas e anônimos usualmente captam os nossos dados e passos com propósitos obscuros, você já deve ter ''sacado'' de onde podem advir os maiores riscos para as liberdades individuais...Será que as grandes empresas- que atualmente fazem inúmeros testes no sentido de estudar o comportamento dos consumidores por todas as formas- caso elas descubram uma maneira ''infalivel'' de vender os seus produtos, poderemos confiar que terão a capacidade de ''auto-regular-se'' e usar estas técnicas sem violar a vontade dos consumidores? Poderemos, caso esta hipótese se concretize- e não estamos muito longe disto- estar novamente diante de um conflito entre liberdades: a ''liberdade de vender'' versus a ''liberdade de escolher o que comprar e de adquirir ou não um produto''. Que liberdade seria mais digna de proteção por parte do Poder Público? De que lado você se posicionaria?

terça-feira, 16 de setembro de 2008

''Educação vem do berço''

Ainda é dia. Eu, com duas sacolas de mercado, volto para casa. Eis que, ao cruzar uma esquina, percebo que um mendigo vem em minha direção. No curto espaço de tempo fico refletindo sobre a atitude mais correta a adotar. Ignorar, dizer que não tenho trocados, dar uma desculpa qualquer, dizer algo ''inspirador''. Enquanto penso sobre tudo isto, não tiro os olhos daquela potencial ''ameaça''. É asim que, surpreso, vejo o mendigo passar por mim, também com suas sacolinhas- que contém sabe-se lá o que que ele coletou pelas ruas e lixeiras- e dizer um gentil ''- Boa tarde''. Juro que quase caí para trás. Há muitos ''grã-finos'' e mesmo gente de classe média que sequer olham nos olhos de quem passa por eles. Que não cumprimentam sequer os ''inferiores'' que os servem: mordomos, porteiros, empregadas...E este mendigo, aquele surpreendente mendigo, além de não pedir nada- não era uma nova estratégia para ''arrancar dinheiro'' dos outros- ainda sorriu gentilmente ao passar por mim...''Somos humanos'', ele estava dizendo com o seu belo gesto, ''somos todos apenas humanos''...

Coisa de Paulistano: feijoada às quartas-feiras(???!)

Ninguém que eu conheça sabe me explicar por que aqui- e só aqui- costuma-se servir feijoada aos sábados e também às quartas-feiras. Não é uma iniciativa isolada. Quase todos os restaurantes aderem a esta feijoada das quartas...Sabemos que a feijoada, este típico prato nacional, surgiu por iniciativa dos escravos. Eles as preparavam com as sobras dos banquetes de seus ''donos''...Feijoada hoje é um grande negócio. Além de uma casa especializada na Avenida Cidade Jardim- o ''Bolinha'', que ainda não conheço- ela é um prato democrático por excelência: é servida desde os ''cinco estrelas'' até os restaurantes naturais( ''naturalmente'' com produtos similares à carne e ao toucinho)e os botecos da esquina, junto com os ''pratos-feitos'' do dia...Feijoada não é novidade. Feijoada às QUARTAS-FEIRAS, isto sim. Isto, ao que eu saiba, só em São Paulo se faz. O que eu vou comer amanhâ? Feijoada, em algum destes lugares todos citados...PS: Não seria normal, para acompanhar a tradição de usar as ''sobras'' de comida, que a feijoada fosse feita às segundas-feiras??? Aceito palpites para tentar resolver mais este ''mistério paulistano''...

Requiém...

Agora está na moda montar restaurantes. Todos os dias surge um novo. Hoje, caminhando pela rua Bela Cintra, deparei com um que está para ser inaugurado: um restaurante irlandês( e desde quando o Reino Unido se caracteriza pela qualidade de sua comida?, pensei no íntimo, embora possamos ressaltar que hoje Londres passou Nova Iorque como centro cultural e, inclusive, gastronômico- é o que dizem as revistas...). A mortalidade de todos estes novos empreendimentos gastronômicos também é alta. É comum descobrir que algum, inclusive de nossa apreciação, acabou de fechar. Muitos porque seus donos pensam que montar um restaurante é apenas alugar um local qualquer, enchê-lo de objetos luxuosos, servir pratos ''da moda''- mas CADÊ A ALMA? Comer é apenas parte daquilo que tanto apreciamos em uma saída para almoçar, em especial nos finais-de-semana. Você quer trocar idéias com as pessoas que o estão atendendo, na medida do possível. Quer chegar a um lugar, pela quinta ou sexta vez, e ser reconhecido. E não tratado como o cliente ''número 1005''...Você quer, ao comer fora, se sentir bem naquele ambiente. Ver e ouvir outras pessoas interessantes. Tudo isto é um delicioso RITUAL. Acompanhado de um belo vinho( êpa! eu defendo a ''Lei Seca''; por coerência, troquemos por uma água mineral com gás...), e com uma bela conversa. Restaurantes, ao menos os melhores, não são simples ''fazedores de comida''. Eles criam ambientes, no qual gostamos de ser recebidos...Enfim, há todo um segredo para se fazer um bom restaurante. Não basta ter ''trabalhado com o chefe X'' ( quantos anos o chef famoso levou para aprender tudo o que sabe? e para estabelecer relações com todas aquelas pessoas que fazem questão de prestigiá-lo a cada almoço ou jantar?). Muitos fecham por merecimento. Não tem alma. Não se distingüiram em nada. Ganharam, quando muito, uma notinha de jornal na semana de sua inauguração. Mas às vezes, e isto é que nos incomoda mais, um excelente restaurante também fecha. Este é o caso do ''Saint Tropez'', uma casa especializada em frutos do mar. Fechou no mesmo ano em que abriu, e colocou a engraçada plaquinha ''desde 2008''. O dono já tem duas outras casas, e decidiu criar um ambiente ao melhor estilo das cidades do interior. Lamparinas como as de cidadezinhas, paredes pintadas de amarelo, tudo me lembrava a Bahia. Mas ele ousou fazer mais do que um outro restaurante de comida baiana. Os pratos levavam nomes que aludiam ao Caribe. A moqueca, suave e com bastante leite de côco, era chamada de ''baiannaise''( pronunciava-se ''baianése''). Pastéis variados de entrada, incluindo um de camarão, caldo de peixe, sobremesas inesquecíveis. Uma ocasião marcante foi quando- não por minha iniciativa, claro- em um dia de sol fomos comer no segundo andar. A mesa, em frente a uma janela. Pela janela, mal sentamos, começaram a entrar os abundantes raios de sol, cobrindo toda a mesa. Aquele ''sol de restaurante paulistano''( quando os ''incomodados'' são aconselhados pelo garçom para mudar de mesa, ele já sumiu por detrás dos prédios...). Esta maravilha toda não ''pegou''. Pergunto-me por que. Muito ''descontraído'' para os paulistanos, com bastante luz natural. ''Informal demais''. Ou simplesmente uma novidade a mais em meio a uma multidão de estabelecimentos com muito mais tradição. O dono também não quis arriscar demais, e pode tê-lo fechado antes mesmo que tivesse a chance de dar certo. O ''Bira''- do conjunto de jazz que acompanha o Jô Soares em seu programa de TV- tocou lá, às terças-feiras à noite. Uma pena o fechamento do Saint Tropez. Entre tantas coisas, tantas coisas para lembrar e reviver, ele vai deixar saudade. Perdemos a nossa chance de ''viajar para a Bahia'' sem sair de São Paulo...

Almoço na (Avenida)Ipiranga...

Hoje peguei o metrô para ir ao centro. Embora veja sempre alguém lendo alguma coisa dentro do metrô- no último sábado vi inclusive um grupo de rapazes comprando o clássico ''A Arte da Guerra'' em uma das maquininhas de venda de livros- hoje, para minha surpresa, deparei com 3 pessoas lendo jornais. Jornais mesmo, não aqueles distribuídos de graça como o ''Metro''. Duas leitoras da Folha, e uma jovem(!!!?)saindo do vagão com um ''Estadão'' nos braços. JURO que não estava sonhando...Bom, o local escolhido por um grupo de amigos foi um misto de bar e restaurante no centro, em plena Avenida Ipiranga, chamado ''Dona Onça''. O lugar é decorado com charges daquele velho personagem ''O Amigo da Onça'', assim como uma charge de Laerte no banheiro( também homenageando o tema do bar, a onça...). Como o dia começou e terminou gelado- mal passando de 16 graus quando saímos do restaurante, com uma sensação térmica de 10...- tive a impressão, olhando para fora, que estava em outro pais, outro lugar. Todas aquelas pessoas caminhando com seus gorros, cachecóis, sobretudos, uma imagem para nenhum apreciador do frio como eu botar defeito...Escolhi como prato algo que não comia desde criança: fígado, acebolado. Muito bom, nada pesado. Algumas companheiras de mesa, incluindo minha mãe, estiveram em Campos de Jordão este final de semana. Lá não puderam apreciar o frio: durante o dia fez até 28 graus centígrados...Neste final de inverno pudemos enfim, após longos e insuportáveis dias de calor acima dos 30 graus, apreciar uma ótima ''seqüência de dias frios''. Desde sábado, e sem previsão de terminar...Aqui está mais frio do que no Sul. A justificativa da meteorologia é que ''uma massa de ar frio vinda do litoral derrubou as temperaturas na capital''. Quando vem do interior, esquenta...Voltando ao almoço, uma das sobremesas era chamada de ''trio elétrico'': pudim, quindim e brigadeiro( claro que para encarar tudo isto a porção tinha de ser pequena: um ''pouquim'' de cada coisa...). Deixei-as no metrô República- em obras graças à futura ''linha amarela'' do metrô paulistano- e fui resolver o que tinha de resolver, às pressas como todo mundo.

Casa Cheia...

O restaurante, onde como ao menos uma vez por semana, funciona em sistema de bufê. Por um preço fixo, é possível tomar uma sopa de entrada, comer à vontade, tomar sucos e comer sobremesa( também livremente). Normalmente, sei que até por volta de meio-dia e meia ainda sobram lugares no segundo andar da casa. Por isto, entrei despreocupadamente e enchi o meu prato e um de sobremesa junto para não ter de descer novamente...Quando subi para o primeiro andar, surpresa total. Estava lotado! Mesmo a mesinha junto à escada, que nunca vejo ocupada, ontem ela estava. Percorro os 3 ambientes do andar de cima, sem sucesso. Desço com os pratos na mão, e tento procurar lugares na parte de baixo- justamente a que enche primeiro...Sem sucesso. Falo com uma funcionária do restaurante. Ela aconselha que eu...''procure no andar de cima''. Digo que estou voltando de lá, e ela dá um sorriso amarelo...Mais procura, e uma fila gigantesca vai se formando junto às porções de comida. A massa de funcionários dos escritórios e empresas vizinhas acaba de chegar...Aciono uma outra funcionária do restaurante. Esta foi ainda mais ''genial'': disse que ''o senhor vai ter de esperar''(com os pratos na mão!!!?). Uma nova procura, até que uma cliente me avisa que já está se retirando. Foram 10 minutos de agonia. São estas coisas que a gente mais procura evitar em uma grande metrópole. Uma diferença de poucos minutos pode implicar momentos de ''céu'' ou ''inferno''( este a situação por que passei). O coração ainda batia agitado quando comecei a comer, fruto de tanto desconforto. Mas acalmei a tempo( ou por causa?)de comer a sobremesa de doce de banana cremoso...

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Não se pode ajudar- verdadeiramente- ninguém...

Há duas espécies de ajuda: a material e a moral. Ajudar os outros materialmente é muito mais fácil e viável. Com alimentos, abrigo, roupas, as formas são infinitas e bem variadas. Necessitados, neste plano, não faltam. Mais difícil é ajudar alguém ''por dentro''. Isto porque não se pode dar amor a quem não aceita ser amado, não se pode fazer companhia a quem prefere viver só, não se pode animar quem faz pouco de nossos conselhos, não se pode ''transferir'' um pouco de nossa alegria a quem prefere- de todas as formas- sofrer...Aliás, a ''doença'' mais compartilhada pela humanidade é o sofrimento. Além de todas as formas de sofrer naturais- provocadas por furacões, enchentes, doenças, deficiências físicas, etc.- o ser humano ainda acrescentou inúmeras outras por sua conta. Como diz uma tia: ''viver é fácil, a gente é que complica''...Prendemo-nos ( voluntariamente nos algemamos)continuamente ao nosso mundo particular de ilusões. Nossas estórias, as estórias que estamos contando o tempo inteiro por meio da literatura, dos filmes, das músicas, da TV, da Internet, estão quase todas repletas de dor e de mágoas. Às vezes, é muito mais apropriado deixar alguém ''sofrendo'' do que tentar tirar aquela pessoa da estória que ela escolheu viver, e à qual se apega como uma criança ao seu brinquedinho...O sofrimento vicia...

''Blindness''( Ensaio sobre a Cegueira)

Confesso que não li a famosa obra do escritor português José Saramago. Ou qualquer um de seus outros livros. Nenhuma implicância. Só não li, ainda. Por isto, meus comentários sobre o filme recém-lançado do diretor Fernando Meirelles não podem conter qualquer espécie de comparação- método clássico da crítica- entre a obra literária e a cinematográfica. Assisti ''Blindness'', por isto mesmo, meio ''às cegas'' ( desculpem a piadinha infame, mas há vários exemplos de ''humor negro'' na película, entre eles uma brincadeirinha com o cantor norte-americano Stevie Wonder...). O filme não é fácil. Evitem-no em dias difíceis. Óbvio, uma vez que a estória já foi comentada inúmeras vezes em diversos ensaios e agora nas matérias de imprensa sobre o filme, seria falar que se trata de uma estória sobre uma epidemia de cegueira. Na metrópole do filme( indisfarçavelmente São Paulo: com as cenas gravadas na Drogaria Onofre da esquina da Rua Pamplona com a Avenida Paulista, a referência ao luxuoso hotel Emiliano e as cenas de apressados ''motoboys que arrancam no sinal verde, quase atropelando um pedestre que ainda estava na faixa...), um a um os seus habitantes vão perdendo a visão. Mas não é uma cegueira clássica- aquela em que há uma escuridão completa- e sim uma cegueira em que só se vê uma luz branca no lugar de tudo...O filme, cena após cena, assemelha-se à descida ao inferno de Dante Alighieri. Primeiro o Governo trata de tranqüilizar a população, enquanto os enfermos são instalados em hospitais- sob quarentena. Depois, com a multiplicação dos casos de cegueira, dá-se o pânico, e os locais são definitivamente isolados, como em campos de concentração. Dentro, as pessoas dedicam-se às piores baixarias- como é comum em situações extremas. Um grupo se apodera dos poucos víveres, e aproveita-se do fato- e da posse de uma arma- para chantagear os demais ''internos''. As cenas, incluindo estupros, são fortes. Porém, em meio a tudo isto, também presenciamos comportamentos da mais alta nobreza. De solidariedade, de sacrifício, de amor. Há uma expectativa de redenção. A ''cegueira''( ou barbárie), só em alguns é completa. Alguém não perde a visão, nem a dentro nem a de fora, e acaba se tornando a líder de um grupo de pessoas. As cenas de uma metrópole esfacelada e do caos reinante não ficam a dever em nada aos filmes estrangeiros. Talvez por isto Meirelles tenha optado por diálogos em inglês, com legendas em português. É um filme para exportação...Saindo dali, ainda impactado por tantas cenas com uma forte luz branca, olhei para o céu e, em um dia frio típico de inverno com temperaturas na faixa dos 14/12 graus, tudo estava meio enevoado. Em síntese, branco...Aquelas antenas altas todas da região da Paulista estavam cobertas por uma forte névoa, em um cenário raro e surreal...Filme e cenário ''real'' se juntaram para me dar esta impressão de que ainda não havia saído da fantástica estória. Estaríamos todos, a esta altura, igualmente ''cegos''? Na vida, ao contrário dos filmes, é mais difícil apontar uma ''saída''...

''Hora do Recreio''

Aqueles funcionários engravatados todos, que saem animadamente para o almoço, ocupando quase toda a calçada da Avenida Paulista e arredores com a sua presença e suas vozes ruidosas, mais parecem colegiais na hora do recreio. Contidos que estavam em suas empresas, cujos diretores lêem com avidez os mais recentes tratados de Administração e Marketing, eles mostram com sua atitude o quanto estamos distantes de aplicar no cotidiano as mais modernas técnicas empresariais...''Devemos dar a voz a todos'', ''ambiente participativo'', ''voz ao cliente'', e os funcionários ali, na hora do almoço, aliviados por sair por instantes do ambiente em que, claramente, se sentem intimidados e temerosos...

A oposição acabou?

Este é o título de uma matéria do jornal ''O Globo'' de ontem, 14/9. Na matéria, o senador Sérgio Guerra, Presidente do PSDB, afirma que ''a oposição no Brasil foi revogada, saiu de moda''. Destaque-se que a ''nova postura'' dos partidos de oposição tem até razão de ser: as últimas pesquisas apontam para uma popularidade de cerca de 64% para Lula, inclusive nos grandes centros e lugares outrora refratários como São Paulo. A coluna ''Painel'',da Folha de São Paulo de ontem, estampa como título um surpreendente ''Lula tudo bem''. Segundo a colunista Renata Lo Prete, os tucanos pretendem utilizar em suas campanhas eleitorais o inusitado slogan ''Lula tudo bem. O problema é o PT''. a frase, martelada em um dos comerciais da nova fase da propaganda de Geraldo Alckmin, indica um tom que vai além da campanha paulistana, ditado pelo recorde histórico de aprovação ao presidente em pesquisa Datafolha. O comando do PSDB já sinalizou que fará vista grossa ao esforço de seus candidatos, por todo o país, para se associarem ainda que 'de lado' à imagem de Lula. O mesmo se passa com o DEM, cujo candidato em melhor situação nas capitais( ACM Neto, líder em Salvador)não se cansa de fazer mea culpa pelas críticas do passado e de repetir que, se eleito, terá plenas condições de trabalhar ''em parceria com o Planalto''( nosso grifo). Será então que, salvo as vozes isoladas dos jornalistas Diogo Mainardi e Reinaldo Azevedo- colunistas da revista Veja- viramos então todos ''lulistas''? E isto seria bom ou ruim para o país? Notem que, na matéria de ''O Globo'' há uma voz distoante em todo este processo. O senador Cristovam Buarque ( PDT-DF, ex-membro da bancada petista), ressalta que ''Não dá para negar que Lula avançou, mas sua capacidade de aglutinação representa hoje um retrocesso no nível de consciência do país. Os anos Lula serão lembrados como anos de silêncio intelectual''. Repete-se hoje, com novos nomes, a mesma euforia dos anos da ditadura. Do chamado ''milagre econômico''. ''A economia vai bem, danem-se os escrúpulos''. Note-se que a adesão entusiástica ao governo( qualquer Governo, seja Federal, Estadual ou Municipal)é uma característica típica do brasileiro. As pesquisas revelam que boa parte dos atuais prefeitos candidatos à reeleição tem grandes chances de vitória. Daí a verdade daquele artigo de Diogo Mainardi, comentado aqui, que falava do ''comportamento de rebanho'' de nosso povo. Isto se reflete até no futebol: da ''metade para cima'' do país( centro-oeste, norte e nordeste)quase todos torcem para o Flamengo. QUAL A GRAÇA DE TORCER PARA UM TIME PELO QUAL QUASE TODOS TORCEM? O brasileiro acha graça disto, prefere estar do lado ''da maioria'', do ''lado vencedor''...''Então está ruim?'', vocês poderiam perguntar. Não está ruim, inclusive para mim mesmo. O país vai bem, no sentido econômico da coisa. Continua crescendo. Tem credibilidade lá fora. Mas ainda tem muitos problemas( segurança, saúde, educação, etc.), que não justificam qualquer tipo de ''euforia'' momentânea. O ideal é típico de nações mais evoluídas e civilizadas. O certo é termos eleições polêmicas, concorridas, acirrados debates, ''claques'' organizadas de um lado e de outro. Nestas horas, acho que o Brasil caminha para trás, e dá vontade de ser ''gaúcho''( com bombachas, chimarrão e lenço vermelho)...Mas o brasileiro, - como no Plano Cruzado, no Governo Collor, nos Anos FHC- este gosta de embarcar em massa em qualquer canoa. Até o barco afundar e aí sim, toda a provisória ''maioria'' acordar e subitamente tomar-se de escrúpulos tardios e começar a criticar- como se não tivessem feito parte ''daquilo''. Festa e desilusão. Espero sinceramente que não afunde mais uma vez, já que estou nele. Mas quando quase toda a tripulação e os passageiros se movimentam em um só sentido de um navio- desequilibrando-o- nestas horas é difícil manter-se à tona...Já afundamos moralmente, este é o sentido das sábias palavras do senador Cristovam Buarque, um primeiro passo para o naufrágio definitivo. Nestas horas, é melhor treinar para uma virtual sobrevivência na ilha de Lost...

''Faça o que eu digo, mas não o que eu faço''

Segundo a mais recente edição da revista de negócios ''Dinheiro'', o governo Bush acaba de tomar o controle das duas principais companhias de crédito imobiliário dos Estados Unidos, a Fannie Mae e a Freddie Mac, injetando a bagatela de US$ 200 BILHÕES para evitar a quebra das duas. Segundo o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Henry Paulson, ''Fannie Mae e Freddie Mac são tão grandes e tão entranhadas em nosso sistema financeiro que a quebra de qualquer uma delas poderia causar uma grande turbulência nos mercados aqui e ao redor do mundo''. Certo. Mas surpreendente, tendo em vista que os americanos tradicionalmente se dividem em 3 posturas ideológicas, apenas 2 delas representadas nestas eleições: a primeira, a dos chamados lá de ''libertários'', defende a desativação quase que por completo do Estado, salvo uma ou outra função essencial como segurança( o Estado é um ''mal'', eles dizem, ''o Estado mais prejudica do que auxilia a sociedade, que pode auto-regular-se de modo muito mais eficiente'': o pré-candidato republicano Ron Paul defendia esta tese do ''Estado Mínimo'', que em outras partes do mundo identificamos com a ideologia Liberal ''clássica''); a segunda posição- estigmatizada como ''liberal'' pelos conservadores norte-americanos- é representada pelos democratas como Hillary e Obama: mais taxação sobre os ''ricos'', mais gastos sociais em prol da pobreza, maior intervenção do Estado na área econômica, sob a justificativa de que ''o mercado não é capaz de auto-regular-se''; e, enfim, a posição dos republicanos, tradicionalmente ligados à tese de ''menos impostos e menor intervenção do Estado na economia'' mas, concomitantemente, mantendo o peso e a força do Estado em setores como o das Forças Armadas, prontas para intervir em qualquer conflito ao redor do mundo. A vida nos reservou esta surpresa de ver justamente os republicanos, tão partidários da tese de ''não intervenção, e menos impostos'', injetarem até agora quase MEIO TRILHÃO de dólares para salvar a economia norte-americana...''Alguém terá de pagar esta conta'', deveria estar se perguntando o eleitor médio daquele país, ao invés de ler comentários sobre a beleza e o novo corte de cabelo da vice republicana Sarah Palin- uma grande jogada de marketing...''Alguém irá pagar esta alta conta'', e toda esta dinheirama terá de sair de algum lugar. É melhor, a esta altura, que os republicanos passem a dar menos ênfase a esta estória de ''menos Estado, menos impostos''...

domingo, 14 de setembro de 2008

Operações de guerra...

Calma, não estou falando de Sarah Palin e seu grupo de ''falcões''( linha dura) republicanos...Ontem, em Moema, vi uma estranha agitação em frente a uma conhecida loja de móveis. Os carros estavam ''estacionados'' em 3 fileiras- melhor dizendo, colocados uns atrás dos outros- enquanto um grupo de manobristas os recebiam dos clientes, parados em uma considerável fila. Eis uma coditiana ''operação de guerra'' na cidade de São Paulo...O espaço era pouco. Não sei como eles faziam para tirar aquele carro posto lá na frente, tirando os dois ou três logo atrás. Mas a complexidade destas manobras dá uma idéia do que é fazer compras, comer, passear por aqui. Hoje em uma ''padoca''( padaria) da moda, no caminho para o Parque da Aclimação, deparei com outra operação grandiosa do gênero. Os carros por toda a calçada, impedindo a passagem de pedestres, enquanto o grupo de manobristas fazia movimentos frenéticos para estacioná-los ou entregá-los para os clientes. Na hora do almoço, na reformada rua Avanhandava, reparei que a cantina Mancini tinha cerca de 10 manobristas, todos vestidos de verde e posicionados um ao lado do outro- prontos para entrar ''em ação''. Tudo muito eficiente, e geralmente ''invisível'' para os beneficiários. Milhares de pessoas trabalham só neste setor, que garante a viabilidade de outros milhares de estabelecimentos. ''Operações de guerra'' do dia-a-dia de uma grande metrópole. Para quem paga resta também um verdadeiro ''rombo'' no orçamento: são dez( reais)aqui, dez ali...

Vendedores de ilusões( e sabonetes)...

O que foi o lançamento da candidata a vice de George Bush III, digo John McCain, senão uma genial jogada de marketing? Já questionamos aqui a ''inatacável'' candidatura de Obama que, ao que tudo indicava e quase todos esperavam, em meio a discursos triunfais para estádios lotados e ao apoio generalizado das mega-estrelas de Hollywood, caminhava a largos passos para uma esmagadora vitória. Só esqueceram de combinar com os adversários...Lembram-se dos massivos desfiles nas ruas de militantes com camisas e bandeiras vermelhas nas sucessivas derrotas de Lula e do PT? Derrotados por hordas de ''invisíveis'' cansados de tanta ''agitação''? Obama foi incensado pela mídia, e depois ''feito em pedacinhos''. Diante de sua figura, inúmeros cidadãos- inclusive jornalistas- desmanchavam-se em lágrimas diante daquele que parecia a materialização de um ''sonho''. O sonho de uma América multi-racial, da ''mudança'', e de um mundo sem guerras. Obama é ''o cara'', as pessoas ''sentiam''. E não havia argumento político, da parte de seus oponentes, que pudesse se contrapor a isto. Então os republicanos, que aliás quase sempre mantiveram-se próximos nas pesquisas mesmo nos piores momentos, decidiram retrucar o ''marketing'' com outro ''marketing''. Lançaram, para surpresa geral, uma mulher ( na tentativa não sutil de captar os votos de eleitoras de Hillary descontentes)''caipira'' do Alaska. Pasmo geral: uma ex-miss, bonitinha, e ''desbocada''. Assim como parecia quase impossível atacar um negro muito popular, qualquer ataque a uma mulher interiorana será tomado como uma ''ofensa pessoal'' por seus adeptos. As idéias de Palin, porta-voz da ala mais radical do partido republicano, não estão em questão. Desde sua indicação na convenção republicana, ela comete ''gafe'' após ''gafe''. Diz que o aquecimento global ''não importa''. Defende o uso de armas contra a Rússia de Pútin. Quem se importa? Palin sacudiu o que parecia um pleito modorrento e tedioso. Deu voz a todos aqueles que estavam calados até então: os evangélicos, os grupos contra o Aborto, contra o ''casamento gay'', contra o sexo antes do casamento. Os comícios republicanos mais parecem shows agora, com todos aqueles novos ''fãs'' de Sarah Palin...Contra Obama, o ''rei sol'', levanta-se toda uma América escondida nas ''sombras''. Uma América rancorosa e isolada do resto do mundo e, talvez por isto mesmo, incrivelmente forte e auto-confiante. Quem quer saber de idéias e programas políticos, afinal? Os democratas ascenderam pelo uso de competentes técnicas de marketing, do predomínio da ''emoção'' em detrimento de argumentos políticos ''racionais'', e podem perecer vítimas do próprio remédio...Nada, a não ser a sutil manipulação, é capaz de explicar as súbitas ''guinadas eleitorais'' que estamos presenciando em toda parte. Um candidato ''cai 10 pontos'' em uma semana, enquanto seu adversário ''sobe 12''. Políticos são vendidos como sabonetes, com o uso das mesmas técnicas. Sabem o ''ÃO'', da propaganda do ''Estadão''? Um marqueteiro fez uma versão parecida, rimando Alckmin com ''SIM''...A campanha da Marta Suplicy é quase a mesma- à exceção do competente bordão ''deixa o homem trabalhar''- da de Lula. E Kassab, o atual prefeito, dobrou suas intenções de voto com um programa, e principalmente, com um marqueteiro competente. Vá lá tentar conversar com alguém que ''sente'' que tal político é ''legal'', ''competente'', ''honesto'', ''realizador''. A emoção, exacerbada e manipulada, representa o fim de qualquer possibilidade de diálogo. ''Liberais'' tendem a ouvir/ler seus parceiros ideológicos, e ''conservadores'' idem. Nos fechamos em guetos, grupelhos, do qual só somos retirados e agitados um pouco pelas técnicas de mídia...PS: Agora Palin está no centro do palco, e terá sua vida vasculhada pelos ''tubarões'' da imprensa. Obama ainda não está morto. Provavelmente prepara um fulminante contra-ataque ''midiático'', nos mesmos moldes impactantes utilizados na Convenção Republicana...

''Cavalo Paraguaio'' gaúcho?

Quando todos já pareciam apontar o Grêmio como provável campeão brasileiro deste ano, eis que a equipe gaúcha apronta uma destas: perde para o Goiás, por 2 a 1, em pleno estádio Olímpico...Note-se que o tricolor gaúcho vem em declínio, e não é de hoje. Nos últimos 7 jogos, segundo um comentarista do Sportv, fez cerca de 10 pontos em 21( menos de 50%, sem contar nestas estatísticas a derrota de ontem...). Após a impressionante ascensão do Botafogo, sob o comando do competente Ney Franco, não está longe o momento em que gaúchos e cariocas( sem descartar também os mineiros do Cruzeiro e os paulistas do Palmeiras)provavelmente se equivalerão em número de pontos na tabela...Entre altos e baixos destas equipes todas do chamado ''G-4'', o Brasileirão está mais indefinido do que nunca. E o São Paulo, será que não engrena mais?

Fragmentos...

Antes da projeção de um dos filmes da Mostra Alain Resnais, no CCBB de São Paulo, um espectador vira-se para o vizinho e fala: ''99% do que é visto neste país, a título de cinema, é LIXO. Não fossemos nós, não fosse isto aqui, e estaríamos entregues à barbárie...''. Gostaria de tê-lo contraditado publicamente, na hora, mas está difícil...A peça ''Dois Irmãos'', baseada no romance do escritor amazonense Milton Hatoum, é boa. Mas, quando consultei o relógio ao final da apresentação, constatei que sua duração é de incríveis DUAS HORAS...Talvez por isto ouvíssemos sonoros, vindos evidentemente da platéia, bocejos...Será que não dava para ter condensado a interessante peça em menos tempo??? Enquanto isto, finalmente temos um inverno ''com cara de inverno''. Com garoa, tempo em declínio e sem perspectiva de sol para os próximos dias. Eufórico eu encerro por aqui estas pequenas reflexões, e corro para baixo das mantas...

''Perigo! Batata frita''

Nas bancas, a Revista ''Época'' circula esta semana com reportagem de capa sugestiva ligando 3 recentes iniciativas- a chamada ''Lei Seca'', uma Lei Estadual paulista que proíbe o fumo em qualquer lugar fechado, público ou privado, e a intenção do Ministério da Saúde de estabelecer um prazo entre 3 e 5 anos para que 100% dos alimentos fabricados no país deixem de utilizar gordura trans. O tom da matéria é ''choroso'' e tendencial: o objetivo( aliás qual seria o propósito por trás de tal ''reportagem''? Um propósito público, o de defender liberdades ''ameaçadas'', ou simplesmente veicular o pensamento de anunciantes privados atingidos por tais medidas?)aparentemente é o de alertar para as crescentes intervenções ''do Estado'' na vida dos indivíduos. Uma foto mostra um bar semi-vazio na outrora ''badalada'' Vila Madalena, aqui em São Paulo, seguida da informação de que o movimento em lugares semelhantes ''caiu 40%'' . Os bares estão se esvaziando cerca de 1, 1 e meia da manhã, vejam só que ''absurdo''! Detalhe: na vizinha Diadema, com o propósito de combater a crescente criminalidade, implementou-se uma Lei Municipal forçando os bares a fechar MEIA-NOITE. Os resultados foram marcantes...O fato é que, enquanto nos gabinetes de Brasília defende-se a exdrúxula tese de que estamos vivendo- graças à proliferação dos chamados ''grampos'', escutas telefônicas clandestinas- em um ''Estado Policial''(???!), na realidade o Estado nunca foi tão enxuto neste país. Atividades típicas de Estado foram transferidas- aliás com grande êxito- para as mãos da iniciativa privada nos últimos anos: saúde, educação, manutenção de rodovias, mesmo segurança( com a proliferação de um verdadeiro ''exército de seguranças profissionais'' , paralelo ao das forças de segurança oficiais, nos grandes centros do Brasil). Estas seriam as chamadas ''funções típicas de Estado'', uma verdadeira justificação moral e ética para a existência do mesmo. Se não cumpre bem sequer estas funções...deixa pra lá...O fato concreto é que, ao lado destas funções, o Estado também exerce uma Função Reguladora. Amparado no que em Direito chamamos de ''Poder de Polícia''. O Estado, órgão impessoal que é, não tem interesses ''próprios''( pode ser manipulado para defender o interesse de grupos particulares ou de seus dirigentes, mas aí já é outra conversa...). No ''Poder de Polícia'' o Estado- que em um Estado de Direito democrático é a representação eleita do povo- pode restringir/limitar direitos ou prerrogativas de indivíduos ou grupos de interesse em prol dos interesses maiores da coletividade. É o chamado conflito entre interesse público X interesse particular. Enfatizamos que o poder é de limitar, não de extingüir...As iniciativas apontadas pela revista Época na matéria das ''batatinhas fritas'' não passam, afinal, de legítimas iniciativas- seja do Parlamento livremente eleito pela população ou do Poder Público- no campo de sua atuação regulatória. A Lei Seca pode até ter sido proposta pelo Governo, mas foi encampada por uma maioria parlamentar e votada. Hoje, em decorrência disto, não é mais uma simples interferência ''do Governo'' na vida do cidadão, como quer fazer parecer a revista Época, e sim uma política pública no interesse da maioria da população. Os resultados estão aí, e foram muito maiores que o esperado. Os brasileiros entenderam o sentido da Lei, e a apóiam em grande número. A proibição do uso de cigarros em lugares públicos ainda é um projeto de lei, de iniciativa do Governador José Serra, mas já obteve, segundo uma pesquisa, o apoio de 90% das pessoas. Note-se que iniciativas como a da proibição da gordura trans, altamente lesiva à saúde aliás, nos alimentos são corriqueiras em outros países. Nos Estados Unidos, por exemplo, uma nação altamente ciosa das liberdades individuais, discute-se a proibição de alimentos gordurosos nos lanches das escolas. Não sem razão: nos últimos anos, diversas redes de ''fast food'' infiltraram-se no ambiente escolar através de ''convênios'' com as direções das escolas. O resultado é que atualmente CRIANÇAS estão apresentando elevados níveis de colesterol...Problema particular? Não, de saúde PÚBLICA...Ingleses já restringiram o horário de funcionamento dos bares há muito tempo. Diversos países do mundo aplicam sanções ainda maiores e mais severas que as nossas em relação ao uso de álcool na condução de veículos motorizados. O que a revista Época faz nesta tendenciosa e simplista ''reportagem'' é na verdade, sabe-se lá movida por que espécie de interesses, talvez simplesmente o de ''fisgar'' leitores desavisados com uma capa ''chamativa'', um desserviço à população e, em particular, aos seus leitores. Esperamos que este discurso liberal ''clássico'' - ''até que ponto o governo deveria controlar a nossa vida?""- não encontre eco nos Gabinetes lá de Brasília, em particular nos Tribunais...