Antes de mais nada, estes comentários foram escritos tendo em vista o que a imprensa vem revelando do provável resultado do laudo do instituto de criminalística, no caso Isabella. Ou seja, a agressão teria sido feita pela madastra, e o corpinho da criança atirado por seu próprio pai. A conduta dos dois supostos assassinos é bem significativa e emblemática. Desde o início, os dois buscaram eximir-se de qualquer responsabilidade. Sabe-se agora que a irmã de Alexandre Nardoni recebeu uma ligação, enquanto estava com amigos em um bar, e, assustada com a revelação, correu apressada para o banheiro para ouvir maiores detalhes. O pai de Alexandre trocou ligações com os filhos, freneticamente, na noite do assassinato, mas quem ligou para a Polícia foram os vizinhos...Tudo isto revela mais uma faceta de uma conduta infantil, disseminada entre muitos brasileiros: ''eu não tenho culpa'', bradam muitos em alta voz. ''Não tenho culpa'' por dirigir embriagado e em alta velocidade, e atropelar uma família inteira. ''Não tenho culpa'' por eleger maus governantes. ''Não tenho culpa'' pelas enchentes que assolam a cidade, mesmo que eu próprio costume jogar lixo pela janela do carro. ''Não tenho culpa'' pelo trânsito, afinal o meu carro é ''apenas só mais um, não é?''.Nós não somos responsáveis por nada. Isto se disseminou a tal ponto que as próprias pessoas que optam por simular este jogo acabam acreditando um pouco em suas próprias fantasias...'Não temos culpa'', e vão jogando suas misérias nas contas de terceiros...A conduta de Alexandre Nardoni, caso seja mesmo considerado culpado pela Justiça, revela imaturidade. Alguém que, sempre que foi confrontado com problemas, buscou a ajuda do pai, especialista em ''varrer o lixo para debaixo do tapete'' ( advogado...). ''Não tenho culpa'' tornou-se o mantra de Alexandre, a cada emergência. E sempre passando impune. E continuamos acreditando que o pai não matou a menina Isabella- nada nos dá a entender isto. Ele foi cúmplice do ocorrido. Tentou cobrir a conduta de sua mulher, ao invés de contribuir para a solução do fato. Talvez não tenha sequer agido deliberadamente. Mas é irresistível para alguém que bradou a vida inteira ''não tenho culpa''- e sempre contou com a ajuda dos outros para resolver os seus próprios problemas- a idéia de ''tirar a culpa'' de sua própria mulher. Afinal, o mal já estava feito, né? Aparentemente a menina estava morta. Faltava criar uma situação que desse a impressão de que alguma outra coisa pudesse ter ocorrido. ''Vamos jogar o corpo''. Só que a menina não estava morta...Não estava morta sequer quando caiu. A intenção de livrar a própria esposa da acusação de agredir a menina foi tão forte, e de mais uma vez conseguir sair de uma situação problemática ''sem culpa'', que o pai- que não pretendia, repetimos, matar a própria filha- acabou entrando para o centro dos acontecimentos. Como cúmplice. Resistir à tentação de acobertar tudo era demais para um ''expert'' nestes assuntos, né? E ainda houve quem, nos meios de comunicação, manifestasse sua indignação pelo ''pre-julgamento'' apressado do casal...Pobres são linchados, presos por tempo indeterminado, tem seus rostos mostrados na TV- sem escolha- como ''assassino'', ''estuprador'', etc. Mas, para muitas pessoas de classe média, que tem advogados, que impetram ''habeas corpus'' para mantê-los soltos ( com a cumplicidade de diversos membros de Tribunais ), a conversa é outra. Eles ''não tem culpa'', não é? Neste caso, ao que tudo indica, podemos concluir o oposto. A ''família perfeita'', os ''gente boa sem antecedentes criminais, com residência fixa e ocupação determinada ( será?)" TEM CULPA SIM. E não dá para negar, acobertar o que eles supostamente fizeram. Que isto sirva de exemplo para os demais ''inocentes'', ainda não apanhados pelo sistema...
quarta-feira, 16 de abril de 2008
Fantasia X Realidade
Este despretensioso blog aproxima-se do número 100. Atribua-se o fato exclusivamente á megalomania e verborragia de seu criador. Não seria de espantar que, deste jeito, ele chegue aos números 500 ou 1000- seja lido ou não...Apreciado ou não, visto ou não, comentado ou não, ele se tornou UM VÍCIO para quem o iniciou, a tal ponto que começa a imiscuir-se aos pensamentos cotidianos desta pessoa: ''esta idéia serve ou não para um texto no blog?''. É o fim da espontaneidade quando começamos a pensar em um leitor ideal imaginário, existente ou não. Por isto blogs não são diários. Aparentam-se mais a ''auto-biografias'' oficiais, em que o autor ressalta arbitrariamente tal aspecto da realidade, enquanto varre o ''lixo'' para debaixo do tapete...Ou para cima, uma vez que acabamos muito mais levantando poeiras- reais ou imaginárias- do que espanando-as efetivamente...Tudo isto, para introduzir o tema real desta postagem. Imaginem que, por um passe de mágica, nos tornássemos subitamente 100% responsáveis pelo que nos ocorre. Que pudéssemos, de uma hora para outra, ESCOLHER os acontecimentos de nossas vidas, como diretores de cinema escolhem o que veremos nas telas. Fantasias, diriam os críticos. Mas, afinal de contas, se não somos nós que vivemos as nossas vidas, QUEM É que as determina? A idéia de uma força misteriosa exterior, que nos impulsionaria ou tolheria conforme a SUA vontade arbitrária, não seria esta a verdadeira fantasia? Ah, mas você está dizendo que nós, e milhões de outros seres igualmente ''sofredores'', escolhemos inclusive os MALES que se abatem sobre nossas cabeças? Por outro lado, eu rebateria, se não somos nós os responsáveis por tudo, inclusive pelo mal que nos ocorre, quem seria? Seria a idéia de um Poder Maior, de um/a Deus/a, compatível com a idéia de ''mal''? Seria este/a Deus/a responsável pelo mal que habita o coração dos homens? Explicam os religiosos que somos dotados de ''livre- arbítrio''. E este livre-arbítrio, para ser realmente livre, deve ser incondicionado. É em torno desta idéia de liberdade, liberdade incondicionada, que, por incrível que pareça, as noções existencialistas e teístas se aproximam. ''Deus quer o nosso bem. Nós sofremos porque somos dotados de livre-arbítrio, e optamos pelo que nos faz sofrer. Somos livres para escolher entre o que nos faz mal, e o que nos faz bem'', dizem os que acreditam em uma FORÇA MAIOR. ''Deus não existe. Logo o homem é radicalmente LIVRE PARA ESCOLHER o que quiser. O homem é totalmente livre para auto-determinar-se, e escolher o que é melhor para a sua vida'', diriam os existencialistas á lá Sartre. Em suma, ambos concordam que o homem é INTEIRAMENTE LIVRE para auto-determinar-se, para escolher o seu próprio caminho. Esta liberdade prescinde da noção de culpa, que está mais ligada ao erro permanente. De fato, como aprendizes, somos responsáveis pelo que está nos acontecendo. E colhemos exatamente o resultado dos nossos esforços/ações. Mas o erro, por maior que seja, é corrigível. Podemos igualmente OPTAR por mudar o nosso caminho. Aqui lembramos de um trecho de ''O profeta'', de Kalil Gibran, lido há muito tempo. Nele, o autor diz que ''o homem não erra porque é mal, erra porque é preguiçoso". Ninguém nos impede de corrigir os nossos rumos. Mas somos condicionados por idéias alheias, falsas, que nos foram inoculadas inclusive pelas pessoas que mais amamos na vida. E temos preguiça de pensar por conta própria. O maior véu que nos cobre, é causado pelas noções de ''mistério'', ''vítimas'', ''milagres'', ''sorte'', ''acaso''. Imaginemos que um dia pudéssemos escolher os nossos destinos, foi o convite a que eu os submeti no início deste texto. Isto é a realidade, eis a nossa conclusão. Somos livres, radical e absolutamente livres, e nem sequer Deus- para os que acreditam- irá interferir em nossas vidas, mesmo para ajudar-nos- se não for solicitado. Estamos aqui para descobrir isto, mais cedo ou mais tarde, com menor ou maior preço. Se somos livres, e não agimos como tal, quem é, de fato, o nosso maior juiz e carcereiro? ''Complicado'', não???
segunda-feira, 14 de abril de 2008
Mistos-quentes, chororô, sandálias da humildade
As duas primeiras expressões- ''misto-quente'' e ''chororô''- são criações recentes da fértil alma carioca. No campeonato carioca de futebol deste ano, as maiores emoções são reservadas para as decisões de turno. Como os times pequenos foram privados da oportunidade de jogar em seus próprios estádios, houve um desequilíbrio no torneio deste ano. Na tabela, os grandes jogam contra os pequenos e se enfrentam nas últimas rodadas. Vencem os primeiros jogos de goleada e aí, como o clássico geralmente coincide com partidas importantes pela Libertadores ou pela Copa do Brasil, surgiu o tal do ''misto-quente''. O Flu goleou um mistão do Flamengo no primeiro turno, mas não valia nada. O Botafogo ganhou também de um mistão rubro-negro, um ''misto'' entre aspas- pois reforçado de craques como Renato Augusto( então em recuperação). O ''misto'' deu trabalho, e perdeu apenas por 3 X 2. Isto não tira a alegria alvi-negra por ter acabado com um tabú de vários jogos sem vencer o Flamengo. Mas serviu como álibi para a torcida rubro-negra. Ontem os dois clubes se enfrentaram mais uma vez, sem ''mistos''. Botafogo 3 X 0. Nos vestiários as declarações: ''sem desmerecer a vitória alvi-negra, mas o Flamengo estava cansado da viagem ao Perú, onde jogou em uma altitude de 3400 metros''. Ou seja, ''sem desmerecer, mas já desmerecendo...''. Por que o mesmo argumento não valeria para o Fluminense, que jogou na Argentina na quarta-feira e, já no sábado, estava disputando uma vaga na final da Taça Rio contra o Vasco? O argumento até vale, uma vez que o Flu cansou no segundo tempo e ganhou apenas nos pênaltis da QUARTA FORÇA do futebol carioca ( que NEM VICE é mais...). Após cunhar o termo ''chororô'' para sacanear os adversários do Botafogo, derrotados na decisão do Primeiro Turno, parece que o Flamengo está se apegando ao mesmo ''chororô'' para justificar suas derrotas...Enquanto isto o São Paulo, que também disputou fora um jogo pela Libertadores no meio da semana, deu um ''banho tático'' em seus rivais alvi-verdes. A imprensa em sua imensa maioria dava o São Paulo ( tri-campeão mundial e penta-campeão brasileiro )como ''azarão'' para o clássico de ontem. Até mesmo atletas são-paulinos do porte de um Rogério Ceni decidiram calçar as ''sandálias da humildade'', assumindo o suposto favoritismo do adversário ( o mesmo adversário que não ganha dos tricolores paulistas há 12 jogos no Morumbi, e não conquista o título estadual desde 1996...). Como torcedor decidi adotar a mesma tática, na esperança secreta de ver, mais uma vez, os ''favoritos'' derrotados- como acontece de praxe no futebol. E não deu outra! São Paulo 2 X 1. Aqui no estado de São Paulo não há ''chororô'', os times da capital jogam contra os pequenos em acanhados estádios do interior, com gramados esburacados e tudo. Até a última rodada, grandes como o Corínthians ainda tinham chances de classificação. Dois pequenos se classificaram para a semifinal, e pelo menos um deles chegará à tão esperada decisão. Com tantas ''malandragens'' e desculpas, não é de se surpreender o fato de os clubes cariocas estarem sempre lutando, no Campeonato Brasileiro, para não cair. O caminho ''mais fácil'' não fortalece ninguém...E o Paulistão/2008 continua em aberto: ''favoritos'' continuam sendo os ''periquitos'' do Parque Antártica, e favoritos ou não, iremos derrotá-los mais uma vez em sua própria casa!
domingo, 13 de abril de 2008
Zapeadas na TV domingo passado
A TV a Cabo é um vício, do qual nunca nos libertamos. Mas domingo passado, em viagem, acabei passando por um canal que corresponde á antiga TVE-RJ( hoje rebatizado de ''Rede Brasil'' ou coisa que o valha). Domingo à noite, 8 horas, estava passando o ''Conexão Roberto D'Ávila''. Entrevista com o ex-guerrilheiro e hoje ativista do meio-ambiente Alfredo Sirkis. Muito interessante. Logo após, apresentação de um programa que eu não assistia há ''séculos'': o Mesa Redonda carioca, com Márcio Guedes e Bocage. Acho que não o assistia há mais de 10 anos. Nos últimos tempos, em Brasília ainda, conseguia assistir ao Mesa Redonda da CNT, com os melhores lances da rodada do Campeonato Paranaense...Aqui em São Paulo não dá mais para assistir, mas há o ''Mesa Redonda'' da TV Gazeta- domingo ás 9/9 e meia- e os programas do Sportv e da Espn-Brasil ( este com menos recursos, quase um programa de rádio comparado ao outro- que mostra todos os gols, melhores lances, graças ao poder econômico das Organizações Globo ). Mas, enfim, futebol na noite de domingo é o que não falta. Mas o programa de que estava falando é um bom retrato do futebol carioca. Apresentadores que não negam suas paixões clubísticas estão em falta. Mas, lá no Rio, o Bocage é rubro-negro declarado. E o Márcio Guedes nunca negou sua paixão pelo Botafogo- e nem por isto é pior do que os outros jornalistas. Tratar o futebol com intimidade, como se estivéssemos em uma mesa de bar, isto todos os programas atuais da TV procuram fazer: virou uma fórmula garantida de sucesso. Fique registrado que o programa carioca foi o PRIMEIRO a fazê-lo com competência. O primeiro que assisti, mesmo antes do cabo. O primeiro da minha geração, que, infelizmente, perdeu os programas com Nélson Rodrigues nos anos 60...Mesmo com partidas cada vez menos técnicas, e com rendimento tedioso, nunca se discutiu tanto futebol na televisão. Só o Sportv tem programas pela manhã, à tarde e á noite. A qualquer hora que sintonizemos o canal há alguma discussão, mesmo reprisada. E ,ao fundo, o som tão detestado por algumas mulheres de mal gosto: ''GOOOOOOOOOOL''!
Eurico Miranda tem razão!
Segundo o eterno dirigente do Vasco da Gama, após a derrota para o Fluminense por 2 X 1 ( que ele, descaradamente copiando Nélson Rodrigues, afirmou que estava ''escrita há 2000 anos'' ), o Vasco ''não perderia mais neste campeonato''. Acertou em cheio, Eurico! Hoje a quarta força do futebol carioca, com uma campanha medíocre em que não ganhou sequer um clássico, o Vasquinho foi eliminado nos pênaltis pelo Fluminense. Não chegará sequer a VICE este ano. Nosso prognóstico é de que, após uma próxima e provável eliminação da Copa do Brasil, a equipe da Colina lutará mais uma vez para NÃO CAIR no Brasileirão. Vasco e Eurico se parecem cada vez mais: Eurico FOR EVER na direção do Vasquinho, pedem os adversários...PS: E pensar que, dez anos atrás, o mesmo time foi campeão carioca ganhando os dois turnos...
sexta-feira, 11 de abril de 2008
Eterna caçada aos ''culpados''
Diante de qualquer evento da realidade- sejam crimes, acidentes, mesmo separação de marido e mulher- a reação dos brasileiros é sempre a mesma: ''onde está o culpado?''. Despendemos tanta energia e tempo em uma eterna busca dos chamados ''culpados'', a tal ponto que é necessário indagar: o que é mesmo a tal da ''culpa''? A chamada ''culpa'' é uma noção de origem religiosa. A culpa pressupõe uma ''natureza'' instintiva e reiteradamente dedicada ao ''mal''. Os ''culpados'', na visão religiosa, são os ''discípulos de Satanás'', os ''perversos'', o contrário do ''bem''. Em função disto, o tratamento jurídico dado aos ''maléficos'' não era nada suave: castigos corporais, suplícios, desmembramento de corpos e até mesmo a pena capital. As leis mudaram, o mundo evoluiu, mas persiste no interior de todos nós a visão de um ''mal'', que deve ser erradicado. O interessante é que o ''mal'' é sempre o ''outro''. Não é uma qualificação que possa ser aplicada a nós mesmos, sequer parcialmente. A vã busca aos ''culpados'' significa, no fundo, que nós não somos responsáveis pelo que está acontecendo. Esta é uma visão enfraquecedora. Em cada brasileiro- seja doméstica, taxista, porteiro, juiz, jogador de futebol- há um crítico, com propostas para mudar o que está ''errado''. Caçamos os ''culpados'', e estes tem diversos nomes: ''os políticos'', ''empresários gananciosos'', ''o sistema'', até mesmo ''o imperialismo norte-americano''. E nós, o que temos a ver com isto? Acaso as coisas se dão em um terreno idílico, distante da nossa realidade? No fundo, os que caçam os ''culpados'' se reconhecem impotentes, fracos. ''O que nós podemos fazer?", eles se perguntam atônitos ao final do diálogo. Mas o que poderíamos fazer, de fato, já foi feito. Os políticos não foram colocados lá por uma força alienígena, e sim com os nossos votos. E não mudaremos um milímetro toda uma estrutura que parece ''errada'' enquanto não assumirmos o nosso papel na construção do que está aí. Autoridades também parecem gostar da tal ''caça aos culpados''. Afinal, identificado UM culpado, elas podem perfeitamente EXIMIR-SE de responsabilidade pelos fatos ocorridos...Somos um país à busca de ''culpados'', em que todos somos coitadinhos e irresponsáveis pelo que ocorre. Ou, como é perfeitamente possível concluir, SOMOS TODOS CULPADOS...Alguém tem uma idéia melhor???
Onde se situam as limitações humanas
Se pudéssemos ver, de verdade, um ser humano- como ele é, de fato- poderíamos vê-lo debatendo-se entre fios invisíveis. Para ele, tais fios são ''reais''. São, em realidade, constituídos da matéria de seus pensamentos. Não há limites para o que um ser humano possa fazer. Mas, onde quer que estejamos, até mesmo em uma roda de bar, sempre uns se colocam como os ''líderes'' e os demais como ''comandados''. Nas salas de aula, não há lugares marcados. Mas os alunos sempre se situam nos mesmos lugares, e ai de quem ousar ''invadir'' um lugar ''alheio''...Mas, voltando às energias que pairam sobre as mentes humanas, a pessoa em tese- que poderia ser eu ou você/s- gasta boa parte da existência debatendo-se com os tais ''fios'' que a estariam prendendo. De fora, externamente, não podemos ver fio algum. Mas ELA os enxerga, e tenta freneticamente desprender-se deles pela força, com reza, promessas, etc. Na cabeça dela, e de muitos de nós, a Divindade poderia ser ''comprada'' com agrados, promessas, oferendas. Isto não é muito diferente da visão dos chamados povos ''primitivos'', não? Mas que ''fios'' são estes que só a pessoa pode ver? Por que nós não os vemos? Não os vemos porque não há limite algum. Não há fio algum. Nada a impede de conseguir o que quiser, EXCETO os seus próprios pensamentos ( que não são apenas dela, mas os de seus amigos, antepassados, as idéias predominantes na sociedade ). O irônico é que, no caso em exame, nós conseguimos ver que não há fio algum. Porque estamos vendo de fora. O mais complicado é que alguém que NOS veja de fora constatará facilmente que estamos lutando á tôa. Não há fio algum nos prendendo. Mas, para nós, aqueles fios são como cordas, ou algemas de metal...E a coisa se prolonga infinitamente. Veremos a pessoa que nos enxerga e analisa, e veremos que não há fio algum prendendo-a. Mas, PARA ELA...
quarta-feira, 9 de abril de 2008
O inferno são os outros. Certo?
Neste enorme oceano de informações que é a internet, este blog ocupa um minúsculo espaço. Sequer sei se é lido por alguém, mas este não é o seu propósito principal. Lido ou não, se aproxima do número 100, e isto é motivo de comemoração: como pode alguém tão instável criar uma coisa constante? Como pude resistir á eterna tentação de ''chutar o pau da barraca'' e deletar tudo de uma hora para outra? Como pude resistir á vergonha de ter os meus pensamentos devassados/devassáveis por todo mundo, isto se houvesse alguém interessado em ler estas besteiras todas?Mas o tema desta postagem não é o meu umbigo. A esta altura já tive tempo de aceitar o meu umbigo como ele é...He, he, he...O tema deste ''post'' é a liberdade. A mais radical liberdade, defendida pelo autor da frase ''o inferno são os outros'' ( Jean Paul Sartre ). Como podemos ser livres sem deixar os outros livres? Se escutarmos as conversas alheias, veremos que elas giram mais ou menos em torno do mesmo tema: ''eles'' não me entendem, ''eles'' ( meus filhos, meu marido/esposa, meu gato, meu cachorro, meu namorado/a/ as/os ). Nós estamos sempre esperando que os ''outros'' se ''emendem'', e ''eles não estão nem aí''. Isto é ser livre? Poderemos ser livres em eterno estado de expectativa quanto à conduta dos outros? Os ''outros'' não vão se ''corrigir', nem ''emendar''. O papel destes outros é mesmo este, o de nos ''atazanar'', ''provocar'', ''maltratar'', até que NÓS descubramos a nossa força. Ser LIVRE é ser FORTE, independentemente da opinião dos ''outros'' sobre nós. O ''comando'' divino é diferente dos vários comandos deste mundo. Nestes, um manda e os outros obedecem. No plano divino, este é o palco em que nós aprenderemos, por bem ou por mal, a viver uns com os outros. Por mais sofrido que seja. É TUDO UMA FARSA, UM TEATRO, mas nós achamos que é sofrido. Dói, mas passa...Depois vem uma nova vida, um novo palco, onde nós, novamente, no momento em que recordemos a verdade, descubriremos uma vez mais a nossa força. Ser livre, enfim, é aprender a revelar o que está dentro de nós, e isto é nossa missão indelegável, e aprender a conviver com os demais como eles são também: seres livres, independentes, DIFERENTES, autônomos, que nós iremos aceitar ou não em nossas vidas se quisermos, e vice-versa. Belo mundo este em que todos podemos ter a nossa própria página pessoal, onde nos revelamos por meio das nossas divagações/perguntas. Discordam? Melhor para vocês...
CSI e o caso da ''menina-Isabella''
Nunca tive uma atração especial pela atividade de médicos. Existem diversas séries famosas e populares na TV a Cabo sobre o assunto, as quais nunca assisti. Porém, depois de descobrir as séries sobre a atividade de legistas na investigação de crimes- as famosas CSI ( normal, Miami e New York )- acabei ficando viciado nas mesmas. A grande atração destas séries é que, em geral, elas tem um formato completo. Em UMA HORA, elas mostram o crime e as várias linhas de investigação, chegando a um resultado completo, definitivo. Os investigadores vão pesquisando, e entrevistando os suspeitos. O cara diz um categórico ''não'', e eles colhem provas de que havia sinais de sua presença no local. Na próxima entrevista, quando ele volta a negar, os investigadores/legistas apresentam as provas, e o cara começa a ''soltar o bico''. Assistir isto nos dá aquela vã mas necessária sensação de que ''o crime não compensa'' e ''os caras maus são punidos no final'', coisas tão distantes do sistema judiciário brasileiro na atualidade...No caso do momento, o da ''menina-Isabela'' ( só se fala no nome dela acompanhado do ''menina'', como que eternamente lembrando ao público desatento e desmemoriado que se tratava de uma menina, "não esqueçam era uma menina"...), caso as investigações fossem feitas ao estilo americano, seria bem simples. Exames de DNA no local, que não teria sido devassado por milhares de pessoas, e no corpo de Isabela. Confronto do DNA com o dos principais e, até aqui, únicos suspeitos: o pai e a madrasta. Bingo! Ou combina, ou não, com 99% de chances. Mas o fato é que a Polícia brasileira costuma apurar, em média, 5% dos crimes cometidos. Enquanto a norte-americana apura mais de 60%. A cena do crime já foi devassada. Diversas pessoas já tocaram na menina após a sua queda. Os supostos criminosos já tiveram tempo de sumir com as provas do apartamento, na hipótese de que sejam mesmo os presumidos suspeitos. Quanto a isto, convenhamos: para asfixiar e bater em Isabela, além de jogá-la das alturas, teria que ser alguém conhecido, que não gostava dela ou da mãe, e não um terceiro que supostamente teria entrado no apartamento...O crime sempre tem um fator psicológico, nestas circunstâncias ainda mais. Confrontando mais uma vez as viciantes séries americanas com a realidade policial brasileira, é este abismo existente entre os dois países que explica porque esta recente estória ainda vai ter muitos desdobramentos- e a cada dia somos confrontados com uma versão diferente...Haja paciência!
quinta-feira, 3 de abril de 2008
Mantra Paulistano
Há uma expressão típica dos paulistanos. ''É complicado''. Mas ela não é dita assim, simplesmente. Fala-se de algum problema, e o paulistano- com aquele ar de mistério daqueles que invocam a Divina Providência- diz pausadamente, com ar de profundidade: ''É c-o-m-p-l-i-c-a-d-o''. A frase serve para definir tudo: o trânsito, o tempo, até mesmo os crimes. A palavra não é nova. Mas o seu uso, e a forma como se usa- como um mantra- é que é tipicamente paulistano. Complicado, não? Viver é complicado...grande descoberta!!! Mas o paulistano faz disto um grande bordão, que serve para praticamente tudo...E ainda posa de ''descobridor da existência''...Este ''complicado'' é revestido de um grande fatalismo, uma vez que não se discute formas de sair da tal da ''complicação''. ''É complicado'' é dito com ar de ''sinto muito, isto está acima das minhas forças; não posso fazer nada para resolver; é a vida''. E o emissor da frase ainda sai com o ar triunfante de quem decifrou os mistérios da existência...
quarta-feira, 2 de abril de 2008
Método Oho'oponoopono
Explicação do autor do livro ''A chave''( Joe Vitale)sobre o método de cura havaiano: (...)"Este é o ponto principal, ou seja, o mundo inteiro está dentro de você. Quando você cura a si mesmo, o mundo exterior fica curado. Você não precisa criar problemas com as outras pessoas. Não precisa ser agressivo com elas. Não precisa achar que elas estão resistindo. Tudo isso na verdade é um REFLEXO SEU( meu grifo). É parte da SUA(meu grifo) própria resistência. O Dr.Hew Len basicamente olhava para dentro de si mesmo e dizia quatro frases para o que chamamos de Divino- poderia também chamar de Deus, Universo, energia vital, força do estado zero, etc. Ele deixava o sentimento que estava sentindo dentro de si se manifestar e repetia: ''Eu te amo'', ''Desculpe'', ''Por favor, me perdoe'' e ''Obrigado''. Você pode considerar essas palavras um mantra, uma prece, um poema ou qualquer coisa que quiser; ele as repetia o tempo todo(...)Vejam bem, ele não dizia essas palavras para a outra pessoa. Ele não as pronunciava em voz alta. Na maioria das vezes, nem sequer olhava para a outra pessoa. Ele dizia essas palavras para a energia maior, não para si mesmo. E repetia várias vezes: ''Eu te amo'', ''Desculpe'', ''Por favor, me perdoe'' e ''Obrigado''. Na verdade, ele estava simplesmente apagar DE DENTRO DE SI (nosso grifo)as convicções que criavam o que ele estava vendo nas outras pessoas. Enquanto fazia isso- tudo isso remete à libertação, o segundo passo da palestra que dei no domingo- , enquanto repetia aquelas palavras, ele estava fazendo um pedido ao Divino, como se dissesse: ''Não sei de onde vieram essas convicções. Desculpe por tê-las. Eu te amo. Por favor, me perdoe por ter trazido essas idéias á minha consciência. Obrigado. Por favor, me perdoe, eu te amo, obrigado. Desculpe, por favor, me perdoe, obrigado, eu te amo''. Simplesmente repetindo essas palavras e mudando a ordem de vez em quando, vocês podem fazer qualquer coisa que quiserem. Se declararem repetidamente ''Eu te amo'', serão capazes de diluir qualquer forma de negatividade(...)Resumindo: não podemos mudar as outras pessoas. Elas têm livre-arbítrio. Mas podemos trabalhar dentro de nós mesmos. Lembrem-se de que as coisas que vemos na realidade, inclusive as pessoas, não passam de PROJEÇÕES''( nosso grifo). De fato, é difícil manter mais de um determinado tipo de pensamento em nossa mente. O amor repele o ódio, e vice-versa. A simples repetição do ''Eu te amo'' torna tudo mais leve ao nosso redor. Boa parte dos nossos problemas é causada pela resistência. Resistimos aos problemas, tentamos combatê-los, eliminá-los. A ''não-violência''' pregada por seres iluminados como Cristo, Dalai-Lama e Gandhi é muito maior do que algo que se limite exclusivamente ao plano físico. Mentalmente é preciso que sejamos não-violentos, pois as ações são mera decorrência dos nossos pensamentos...O que o terapeuta havaiano inventor desta técnica propõe é que ''combatamos'' nossos problemas com amor...Muito louco, não???
Almoço ao som de uma cascata
O lugar nem era um dos ''mais mais''. Apenas um restaurante vegetariano, que fica localizado em um casarão de um dos bairros mais tradicionais. Mas tem um pequeno jardim ao fundo, com uma fonte de água jorrando. A água jorra por quatro pequenas bacias, localizadas umas sobre as outras. E cai em um pequeno tanque. Ideal para relaxar, e esquecer que estamos em uma cidade ''poluída'', ''barulhenta'', ''violenta''...Como os japoneses, os paulistanos também são especialistas no aproveitamento e criação de pequenos espaços que quebram a rotina... Muitas lojas tem apenas uma portinha e uma escada e, quando entramos, se revelam bem maiores e significativas. O fato é que eu almocei ontem ao som da água jorrando, misturado com o som ''new age'' relaxante que toca tradicionalmente nestes lugares...
sexta-feira, 28 de março de 2008
Amor, força universal que dissolve todos os problemas
Um terapeuta havaiano foi designado para um Presídio naquele estado norte-americano, onde estavam alguns dos piores criminosos. Utilizou simplesmente a seguinte técnica: ao invés de falar alguma coisa a ''eles'', passou a pensar em algumas expressões. Como ''sinto muito'', ''perdoe-me'', ''eu te amo''. A técnica chama-se ''O'ho'o'pono'pono''. Os resultados foram impressionantes, e no plano ''externo'', servindo para mudar vários daqueles indivíduos rebeldes e recalcitrantes. Ele usou também a técnica com um garotinho em estado catatônico. Ele ficava simplesmente mudo, sem reagir a pais ou professores. Repetindo mentalmente as expressões acima referidas, em questão de minutos o garoto foi se aproximando e acabou propondo que os dois brincassem de alguma coisa...Tudo isto abala as nossas tradicionais noções de ''eu'' e ''eles'', de ''interior'' e ''exterior''. Estamos todos interligados...Um ''eu te amo'' repetido interiormente tem impacto forte e significativo não só para resolver os nossos problemas internos, mas como também é aplicável a situações difíceis profissionais e familiares. A coisa não precisa ser expressa em palavras, até mesmo porque as palavras ''eu te amo'' estão desgastadas pelo uso repetitivo e mecânico. Não é preciso falar. Basta pensar. É aplicável a tudo, até mesmo quando estamos escrevendo um email...Ou um texto destes...A fonte desta técnica é o livro ''A chave'', do norte-americano Joe Vitale, que fez um livro também com o tal terapeuta havaiano. A técnica é inteiramente simples, e grátis...Vamos utilizar?
quinta-feira, 27 de março de 2008
Gratidão-II
Hoje me passou pela cabeça a ''estranha'' idéia de que, pela primeira vez em minha vida, eu poderia pensar no meu crescimento da seguinte forma: ao invés de partir da tradicional premissa de ''algo está errado, preciso melhorar'', eu poderia pensar ''minha vida está muito boa- como posso melhorá-la ainda mais?". De fato, analisando diversos aspectos de minha existência atual, é indisfarçável- como tenho mostrado inclusive neste blog- que já alcancei diversas coisas que um ser humano poderia querer. Inclusive morar em uma cidade que ama...Ler, escrever, viajar para lugares que gostamos, comer gostosamente, assistir bons filmes- inclusive em casa, no DVD. O fato de estarmos felizes não impede- ao contrário, até favorece- que queiramos APERFEIÇOAR ainda mais esta felicidade. Estou feliz, e quero ser ainda mais feliz- e independente. OBRIGADO!
Gratidão!
Pela leitura de alguns livros de auto-ajuda, podemos ser erroneamente levados a acreditar que, para manifestarmos a nossa gratidão em relação ao Criador, basta dizermos um mecânico e simples ''obrigado''. Ou seja, agradeceríamos formalmente enquanto, por dentro, continuaríamos remoendo as nossas desgraças e misérias. Botando com uma mão, e tirando com a outra...A VERDADEIRA gratidão não mostramos com palavras, e sim com felicidade verdadeira. Religiões podem ter incensado os sofredores como os verdadeiros filhos de Deus. E são, como todos. Mas os verdadeiros Filhos de Deus são os seres felizes. Os Filhos de Deus são aqueles capazes de realizar prodígios com os atributos que foram concedidos a todos. Ele não nos colocou aqui para sofrer. O CULTO da dor, do sofrimento, da cruz, é criação humana. Por paradoxal que seja, se todos estivéssemos COMPROMETIDOS de fato com a nossa própria felicidade, ''egoisticamente'', empregando todos os meios possíveis e lícitos para a nossa própria auto-realização, faríamos muito mais para a felicidade do mundo- como um todo- do que sentindo ''pena'' e ''comiseração'' pelos que sofrem, e tentando ''ajudá-los'' quando somos impotentes para ajudar a nós mesmos...
Espelhos...
A dificuldade de saber se todas as pessoas de cara amarrada com quem cruzo são assim, ou estão reagindo á MINHA cara amarrada. O problema de saber se todas as pessoas ansiosas e apressadas com quem cruzo diariamente são assim por si mesmas, ou estão imitando a MINHA própria pressa e ansiedade. A questão de saber se todas as pessoas que passam ao meu redor fingindo ignorar a existência de outras pessoas são deste jeito, ou estão simplesmente reagindo á MINHA necessidade de ignorar tudo ao meu redor, porque estas coisas me fazem sofrer. A árdua indagação sobre o fato de que todas as pessoas que fazem planos consumistas de adquirir novos carros, imóveis, fazer viagens ao exterior, comprar roupas caríssimas, comer em restaurantes da moda, são consumistas deste jeito mesmo, enquanto eu não sou, ou se somos todos deste jeito- e mesmo quem não tem estas coisas as deseja também. E todas as pessoas vaidosas que estão ao meu redor? Serão elas naturalmente deste jeito por si mesmas, ou elas buscam atrair os olhares de outras pessoas igualmetne vaidosas e pomposas, incluindo eu mesmo? A violência estará fora de mim, exclusivamente, ou dentro de mim mesmo? E as reclamações, como podem ''estas pessoas'', os ''outros'', como podem ficar reclamando o tempo todo de tudo? E isto que estou escrevendo: não será uma outra forma de queixume?
Delícias da Modernidade
Embora eu costumasse LER sobre o assunto, foi só depois de baixar o arquivo Itunes, da Apple, que eu passei a ouvir cotidianamente as mais diversas rádios da Internet. Nós escolhemos por gênero musical. A qualidade é boa, levando-se em conta o tamanho pequeno das caixas de som do meu computador. AGORA eu entendo porque tem tanta gente deixando de comprar CD's...Eu estou viciado em uma rádio que transmite 24 horas por dia- ''Groovera, Low Mercury''- músicas suaves e ''viajantes'', do gênero musical conhecido como ''lounge''. Não interferem nos estudos, e caem muito bem como fundo das leituras em geral. A casa fica repleta de som, de qualidade. Como todas as nossas conquistas, não dá para imaginar a vida sem isto...E olha que estou falando do ''básico dos básicos'' no que se refere á Internet...Não tenho celular, ainda, mas a resistência é cada vez menor à idéia de ter. E estas pessoas todas que vemos tirando fotos com o celular, e depois baixando os arquivos e mandando-os para os outros? Será que vou virar mais um destes maníacos??? A coisa vicia...A (boa)música a que temos acesso GRATUITO vicia...Mas, como sou um cara à moda antiga, anoto o nome de vários destes músicos para pesquisar depois na Amazon.com se eles já tem CD's, estes objetos da que, ao que tudo indica, a ''Pré-História'' da Era Digital...PS: Fazendo uma pesquisa no Google sobre as cores, encontrei um link para meu texto neste blog sobre os times de cor vinho...O mundo fica cada vez menor, e integrado...
quarta-feira, 26 de março de 2008
Sensacional!
Quase todos somos atraídos, no curso de Direito, pela disciplina ''Direito Penal''. Porque as descrições de crimes são as mais espetaculosas possíveis, uma prova da imensa criatividade do ser humano. Peguemos qualquer livro da doutrina alemã desta disciplina, e teremos uma idéia disto. Agora, o que foi noticiado na TV ontem, excede qualquer caso que já tenhamos visto anteriormente. É coisa de filme. Na Itália, um assaltante usou HIPNOSE para levar o dinheiro dos caixas de um supermercado! Não fosse a presença das câmeras, ele passaria inteiramente despercebido...Vejam bem. Ele hipnotizou não apenas um, mas TODOS OS CAIXAS!!! Creio que até vimos, hipoteticamente, este caso no Curso de Direito, mas ver um exemplo destes NA VIDA REAL é espetacular. E os caixas não cometeram nenhum crime. Para haver crime é preciso haver vontade, vontade livre. Os caixas foram instrumentos...O que acontecerá com o criminoso? Será ele um mágico, um psicólogo? A coisa foi espetacular demais para ficar impune, como boa parte dos crimes cometidos no Brasil...
terça-feira, 25 de março de 2008
Chocolate 1/3
Uma vez que foi desfeito o melhor trio de ataque do futebol brasileiro- Washington, Dodô e Leandro Amaral- o ''presente'' de Páscoa do Flu para o timinho presidido por um vice(?)também foi esfacelado. Levaram apenas 1/3 do ovo que lhes era destinado...Como só Washington jogou, o Flu aplicou apenas 2 gols sobre o Vasco. Lamentável a arbitragem, que não marcou um claro pênalti para o esquadrão das Laranjeiras. Eurico, com cara de choro, foi logo ''avisando'' que ''perdeu na hora certa'', e ''certamente o Vasco será o campeão do segundo turno e do campeonato''. O que o Vasco tem mostrado é que é a equipe mais fraca dos grandes do Rio, uma quarta força. Virou saco de pancada de todo mundo. Do Flamengo, do Fluminense...Os adversários agradecem: "Eurico 4 ever" no timinho suburbano!!!
domingo, 23 de março de 2008
Big Brother
Não, me recuso a discutir o ''programa'' de igual nome que passa na Globo...Sequer para criticar, coisa difícil para quem nunca o assistiu ou teve curiosidade para ''dar uma espiadinha''...Estou me referindo ao Grande Irmão do romance ''1984'', de George Orwell. Um autor norte-americano que li recentemente, em inglês, que é crítico da Internet, afirmou que, segundo pesquisadores, o Google está a apenas 5 anos de desenvolver um gigantesco mecanismo UNIVERSAL de buscas, com todos os tipos de informação sobre as nossas humildes pessoas...Isto é possível porque, já atualmente, os sites que frequentamos sub-repticiamente inserem um mecanismo em nossos computadores para buscar informações sobre os nossos gostos. Estes mecanismos chamam-se ''cookies'', ou biscoitos numa tradução literal...Quantos de nós costumamos apagar estes cookies? Determinados sites, como Yahoo e Google, inclusive alertam para o fato de que, sem os tais dos cookies, é impossível acessar as nossas páginas prediletas! Uma coisa incrível é o fato de que, ao mudarmos de cidade, em pouco tempo já somos bombardeados por uma tempestade de telefonemas comerciais bem como propagandas impressas. Quem fornece os nossos dados? Suspeito que seja a TV a Cabo que assinamos...Na Internet, o objetivo é usar as informações sobre os nossos gostos para fazer propaganda. Imagine a cena ''maravilhosa'' : você está passando por determinado lugar, e o seu celular o alertará sobre a proximidade de determinada loja ou restaurante...É de estremecer...O Big Brother pretendido pelos socialistas, e criticado por Orwell, é fichinha perto deste Grande Irmão pretendido pelos capitalistas. Quem viver verá ( ou melhor, será visto- ao vivo e a cores! ). PS: Os nossos dados de saúde serão igualmente públicos. No Brasil, até mesmo o CPF dos contribuintes já foi descoberto pela pirataria e vendido, em CD's, por camelôs em banquinhas dos centros das grandes cidades...
Lei da Atração
É incrível como, conversando com pessoas que manifestam preferência a respeito de uma cor, um objeto, ou uma cidade- como eu com Curitiba- tendem a ver repetidas vezes o objeto de sua predileção por todos os lugares onde andam. Conheço alguém que possuía um carro amarelo, e contava deparar com inúmeros carros da mesma cor pela cidade- por mais rara que seja esta cor em veículos...Isto vale para tudo, e exemplifica o quão forte é a idéia da ''Lei da Atração'': nós só vemos o que nos atrai (ou nos repele fortemente...sei que esta segunda hipótese é de provocar calafrios...mas é verdadeira- queiramos ou não...). Esta é a Lei que rege este mundo. Infelizmente, boa parte do tempo nós passamos às cegas- e ainda proclamamos ''querer'' determinadas coisas , pessoas, situações que afastamos por meio de nossos pensamentos. Êta povinho complicado que nós somos, sô!
Sobre o Vinho
Aos que são chegados a uma garrafa de vinho, uma explicação. O vinho que abordaremos aqui é o vinho como cor...futebolisticamente falando...Mas não dá para deixar de constatar que o vinho, cor, é a tonalidade predileta dos restaurantes franceses e seus toldos ( aqui, de São Paulo, podemos citar ''Le Vin'' e ''La Brasserie Erick Jacquin , assim como a loja DE VINHOS ''Le Grand Cru'', dos Jardins, cuja fachada é inteiramente desta cor...). Aliás, um livro sobre cores que li há algum tempo, informa que o vinho é a cor predileta de apenas 2% da população...Definitivamente não é uma cor de predileção das massas...Por isto a vemos tão pouco. Nos carros, poderia citar no momento apenas um Toyota Corolla que vi meses atrás...No futebol, expressão das massas, a cor vinho- a atual deste blog também, vocês já devem ter notado!- é igualmente rara. Vendo um jogo da Libertadores do ano passado, constatei que um pequeno time argentino- o Lanús, detentor das preferências de apenas 0,3% dos torcedores argentinos, cerca de 35 mil torcedores- tem uma camisa da cor grená. E as arquibancadas de seu estádio também são pintadas da mesma cor. Lanús é o time de uma pequena cidadezinha da pequena Buenos Aires, para quem não sabe. Independentemente da cor, não teria mesmo muita torcida por lá...Aqui em São Paulo, temos a belíssima camisa do ''moleque travesso'', o segundo time de minha predileção após o tricolor paulista: o Juventus, do bairro da Mooca. Ainda hei de adquirir a camisa grená deste nobre clube, detentor de um estádio para meros 3 mil torcedores. Ameaçado de rebaixamento no Paulistão, o Juventus tem feito bonito na Copa do Brasil e já está na segunda fase. Derrotou, aqui, o Náutico(PE)por 2 a 0...Arrancou um empate com o Corínthians, por 2 X 2 , em pleno Morumbi...No Rio de Janeiro, o vinho/grená é uma das 3 cores de um dos maiores clubes: o Fluminense. Na atual Copa Libertadores, o Fluminense tem utilizado o vinho por completo em sua segunda camiseta- com umas listras brancas também. A opção pelo vinho, e não pelo popular vermelho de seu grande adversário- o Flamengo- talvez explique porque o Flu nunca teve uma grande torcida...Enfim, estas são as minhas referências futebolísticas sobre o vinho. Na Europa, suspeito que a camisa do Arsenal, da Inglaterra, se assemelha a esta cor, mas não tenho certeza. Mas não importa. Populares ou não, com muitos títulos ou não, a certeza que fica é que as equipes que optaram pelo grená, e são objeto desta breve crônica, são todas muito nobres com seus garbosos uniformes, que indubitavelmente podem todos constar da galerias dos mais belos uniformes do futebol mundial. Aos que ficarem sedentos por tantas referências ao vinho, saúde! Eu, nesta vida, sou abstêmio...
sexta-feira, 21 de março de 2008
Achado
Outro dia, durante uma de minhas CAÇADAS na Livraria Cultura, deparei-me com uma obra cujo título pareceu-me irresistivel: ''Os livros da minha vida'', de Henry Miller ( Editora Antígona, de Portugal). Antes de quaisquer comentários, algumas observações sobre os Apêndices da obra. Neles, Miller elenca: I) ''Os cem livros que mais me influenciaram''; II) ''Livros que ainda tenciono ler'' ( esta a grande surpresa, que ainda não havia visto em nenhuma obra semelhante); e III) ''Amigos que me ofereceram ou emprestaram livros'' ( esta, então, é uma idéia generosa e deliciosa, da descoberta de livros como uma atividade conjunta, e não solitária...). Outra surpresa da obra são os comentários elogiosos ao indiano Krishnamurti. Surpresa porque normalmente identificamos Henry Miller à ''devassidão'', à sua trilogia iniciada por ''Sexus''. Mas aqui cabe um pequeno reparo: pelas citações, reparamos que a admiração de Miller pelo sábio indiano deve-se à sua independência. Pelas citações escolhidas, defere-se que Henry Miller destacou Krishnamurti por suas frases em defesa da independência do ser humano, até mesmo contra a existência de ''mestres'' e ''gurus'': ''Descobre por ti mesmo quais são os bens e ideais que não desejas. Ao saberes o que não desejas, por eliminação, irás aliviar a mente, e só então entenderá o essencial que está sempre ao seu alcance''. O aprendizado, aqui, é visto por Krishnamurti muito mais como um desfazer-se de coisas/pensamentos/''ideais'' do que como uma acumulação de pretensos ''saberes''. De fato, este desapegar-se é uma das principais conquistas que alcançamos conforme avançamos em idade...Para o mestre hindu ( o único ''mestre contra os mestres'' ), ''o objetivo da evolução é tornar-nos como os Mestres, que são o apogeu, a perfeição da humanidade''. Para isto, ele indaga: ''Por que te preocupas com os Mestres? O essencial é seres firme e forte, o que não é possível se fores discípulo de outrem, se tiveres gurus, mediadores ou Mestres a quem consideres superiores. Não podes ser livre e forte se me fizeres teu Mestre, teu guru. Não quero que isto aconteça...''. Em outro trecho, ele afirma: ''O homem é o seu próprio libertador''. E explica: ''Mestres? Sem dúvida. Homens que abraçaram a vida, não princípios, leis, dogmas, morais e credos. Na realidade, os grandes professores não estabelecem leis, mas desejam libertar o homem''. E define o gênio como ''a capacidade de um indivíduo se libertar das circunstâncias em que está enredado, a capacidade de sair do círculo vicioso. Podem dizer-me que não possuem este tipo de coragem.É esse exatamente o meu ponto de vista. A fim de descobrirem a vossa própria força, o poder que está dentro de vós, têm de estar dispostos a aceitar todos os tipos de experiência. E é isso precisamente o que vocês recusam fazer!''. Sobre a leitura, propriamente dita, Miller menciona as palavras de Gurdjieff- outro líder espiritual- tal como são citadas por seu discípulo Ouspenski: ''Se compreendes tudo o que leste na vida, agora já sabes do que andas à procura''. Para Henry Miller, ''devemos refletir vezes sem conta sobre esta afirmação, pois ela revela a verdadeira relação entre a vida e os livros. Ensina-nos como ler. Prova- a mim, pelo menos- algo que afirmei diversas vezes, ou seja, que a leitura de livros tem em vista o prazer da corroboração, e que essa é a descoberta decisiva que fazemos acerca deles. Quanto à verdadeira leitura- um processo que nunca tem fim- pode ser feita com tudo(...)Todo o universo terá então de se tornar como um livro aberto''. E menciona obras em que ''o drama só tem início quando o homem abre os olhos voluntariamente. Este ato, o único a que é possível atribuir um significado heróico, desloca todo o som e a fúria da substância histórica. Orientado para o exterior, o homem é finalmente capaz de olhar para o interior de bom grado e sem incerteza. Já sem olhar para a vida a partir do plano terreno, deixa de ser vítima do acaso ou das circunstâncias: ''opta'' por seguir a sua visão, por se tornar um todo com a imaginação. A partir deste momento, começa a viajar; e todas as viagens anteriores não passaram de circum-navegação''. Aos que acharem estas discussões parecidas com as que fazemos habitualmente neste blog, alertamos que não se trata de mera ''coincidência''. Aliás, os trechos mencionados foram escolhidos especialmente por mim, e nesta escolha são reveladas preferências temáticas deste que vos fala...O livro de Henry Miller não se esgota nesta conversa. Teremos oportunidade de, posteriormente, voltarmos ao tema, em especial referente aos livros...
quinta-feira, 20 de março de 2008
Mistérios da Alma
Há um clássico do cinema, chamado ''All About Eve'' - traduzido como ''Todas as faces de Eva''. Trata-se da estória de uma mulher com múltiplas personalidades. A psicologia lida eventualmente com problemas semelhantes. O que nos interessa é que é algo puramente subjetivo, uma vez que, no plano material, é claro que só há uma pessoa. Mas o material, o que nos vemos, o que consideramos ''real'' é só uma infinita parte do mundo e de nós mesmos. Se optamos por considerar apenas o material, ''o real'', esquecemos o Universo. Dentro e fora de nós. A psicologia, bem como diversas terapias ditas alternativas, lida com o subjetivo. O interno. O não-palpável. O terapeuta não pode ver todas estas diversas sub-personalidades de Eva, mas lida com elas. Elas se manifestam, e ele busca trazê-las a um plano de certa ''normalidade'' em que elas possam coexistir entre si e com a personalidade dominante. Nas curas alternativas, muitas vezes o terapeuta dá comandos a uma parte da pessoa que só esta conhece. E ela, e esta parte, reagem a estes comandos. Vemos isto até em programas de TV. Um antigo terapeuta e escritor dizia que ''no conflito entre a nossa vontade e a imaginação, prevalece a imaginação''. Talvez isto explique um pouco porque tanta gente boa reclame de problemas como obesidade, uso de drogas, vícios diversos, agindo como se tudo isto fosse a manifestação de algo externo a elas mesmas. Por que tanta gente age de modo auto-destrutivo? E ,depois de descobertos, até manifestam uma sensação de ''alívio'' frente a uma punição iminente? O caso recente do ex-governador de Nova York, flagrado com uma garota de programa, é um bom exemplo. Disseram os jornais que o governador, um ''ultra'' no que se refere à prostituição, que aprovou uma lei severa contra os clientes de prostitutas e que foi conhecido como ''xerife de Wall Street'' pela diligência com que investigava os crimes alheios, inexplicavelmente deixou várias pistas, como se quisesse ser descoberto...O chamado mundo ''exterior'' é de uma pobreza tamanha, que mal renderia dois parágrafos em um livro. São os mistérios do mundo interior, e suas mazelas infinitas, que nos interessam. E é interessante constatar que quase todas as terapias mais eficientes na cura do interior envolvem a imaginação. A hipnose sempre conviveu com a psicologia oficial. E, no que se refere a terapias e curas alternativas, várias descrições de curas ''milagrosas'' de doenças gravíssimas envolvem a visualização da cura. Coisas que a pobre ''razão'' não explica ou rejeita, mas que a ''emoção'' e a abertura para outros planos da vida mostram que em tudo isto há um pouco de verdade. O interessante é que sempre pensamos em conceitos como ''Deus'' , ''Céu'' e ''Inferno'' como coisas longinquas, distantes. Mas parece cada vez mais evidente que todas estas realidades- o material e o espiritual- estão estreitamente, indissoluvelmente ligadas. A Internet- esta estranha entidade que não tem ''lugar'', e permite a conexão de pessoas nos mais diversos lugares do mundo- é mais uma prova de que as nossas tradicionais noções de tempo/espaço estão sendo modificadas gradualmente, sem que percebamos. O homem já inventou inúmeros objetos, visitou a Lua, transformou este mundo em seu ''quintal'' ( onde, infelizmente, tem atirado a sujeira também...). Mas ainda há um enorme lapso no que se refere ás descobertas relativas á mente humana, este outro universo a ser descoberto no século que se inicia...
segunda-feira, 17 de março de 2008
Ruídos...
Difícil afastar a sensação de que quase tudo o que se chama de ''informação'' hoje em dia não passa de ruído, e que tudo isto desgasta ainda mais as pessoas e nos cansa. A tal de ''aldeia global'' , prevista por McLuhan , tem mesmo todas as características de uma aldeia, a principal dela as fofocas intermináveis. Mesmo sem assistir ''Big Brother'' e similares, acabamos sabendo quem disse ou fez tal coisa por que sites sérios, e comentaristas como Marcelo Rubens Paiva, dedicam textos inteiros a este LIXO...Pessoas sérias, principalmente nos EUA, tem combatido esta cultura infanto-juvenil da Internet- e sua busca frenética e incessante por ''novidades'' irrelevantes- mas é como bater boca com crianças: você fala, e elas te enchem com palavrões incontáveis e intermináveis, até você perder a cabeça e...deixá-las falando sózinhas e ir embora...O que poderíamos discutir com quem assiste ''Domingão do Faustão'' e similares? Ou ''Pânico na TV''?!!! Se bem que este último eu até vi algumas vezes...Nesta discussão não há ''inocentes'', uma vez que minha infância foi repleta de coisas ''trash'' na TV- todas do meu agrado, como o ''Show de Calouros'' do Sílvio Santos...Melhor deixar para lá. Estas considerações feitas ás pressas também não deixam de ser ruídos...
terça-feira, 11 de março de 2008
Previsibilidade
Como era de se esperar, o filme que concorreu ao Oscar e ganhou boa parte dos prêmios- ''Onde os fracos não tem vez''- não tem estória. Não tem parte psicológica significativa. Trata-se, na verdade, de um desfilar incessante, por mais de duas horas, de assassinatos cometidos por um psicopata, interpretado pelo ator espanhol Javier Bardem. É diversão, para os que gostam da coisa. Provoca medo e horror, como qualquer filme do gênero. Por mais que a mídia incense os irmãos Cohen, que fizeram esta obra, é de se imaginar que o seu sucesso aponte mais para as mazelas do mundo contemporâneo do que para o mérito dos produtores. Ao menos, ''Sangue Negro'' tem um lado histórico, mostra a corrida pelo ''ouro negro'' nos Estados Unidos, e a falta de escrúpulos dos capitalistas. ''Onde os fracos não tem vez'' não tem lado histórico. Não tem parte psicológica significativa. Não tem nada. Independentemente de serem bons ou não, todas as semanas temos sempre 3 ou 4 ''lançamentos'' cinematográficos, que são objeto de comentários da imprensa, e tem público cativo de milhões de pessoas que querem ir aos cinemas e beber qualquer coisa com um balde de pipoca para acompanhar. ''O espetáculo deve continuar''. De fato, são muitos os filmes- como estes- em que o maior mérito é achar algo que fazer em cerca de duas horas. Depois? Esquecê-los não é muito difícil. Diria mesmo que é recomendável, pois o cétebro tem outra necessidades, e coisas mais importantes com que ocupá-lo...
quarta-feira, 5 de março de 2008
Viagem Submarina, ou entre líqüidos
Quanto líqüido uma pessoa deve beber por dia? Os especialistas divergem. Alguns, dizem que bastam 8 copos, cerca de 2 litros. Para outros, podemos beber entre 3 e 4 litros. Ontem, pelas mais diversas e variadas razões( entre elas uma temperatura de 31 graus)bebi 6 litros de água. Ou 12 garrafas de 500 ml. Sei que devo parar de comprar este tipo de garrafinhas, pois são um desastre para o Meio Ambiente. As garrafas PET levam até 400 anos para se decompor, e infestam cada vez mais rios e mares. Mas há um jeito. Basta guardar uma na geladeira, e enchê-la com água das garrafas grandes de água mineral. Dá trabalho, mas é mais recomendado. Mas beber 6 litros não é nada de mais . Até as 8 da manhã, eu já havia tomado 2 litros, ou 4 garrafinhas. Duas ao acordar, em jejum, e mais duas após o café-da-manhã ( só de frutas, por sinal...). Mais 4 garrafas durante a manhã, até a hora do almoço. Um copinho de 300 ml na rua, seguido de uma jarra que não consegui medir de água mineral, junto com café- outro líqüido- e doces pequenos, tudo isto em uma livraria. Depois, ao voltar para casa, mais 2 garrafas. E outras 2 no final da tarde, junto com o jantar. De modo que foram, na verdade, MAIS de 6 litros, uma vez que não computei o copo de água mineral tomado na rua nem a jarra de água bebida junto com o café. Quanto a este, confesso que tenho o hábito de cochilar durante o dia, fazendo a ''sesta'' após o almoço. Mas a pequena xícara de café ''paulista'' que tomei após o almoço ( em comparação com o café ''carioca'', servido mais suave e mais fraco) sustentou-me durante todo o dia, e parte da noite. Assim, consumindo quantidades muito maiores do que a minha mera xícara de café, as pessoas conseguem sustentar a rotina de seus dias movimentados- muito mais movimentados que os meus...O problema é que o café excita, mas não nos permite descansar realmente. Nos sustenta de pé, mesmo cansados. E, quando vamos dormir ,finalmente, não conseguimos ter um sono relaxante, completo. Os poetas ''românticos'' do século XIX eram movidos a café e absinto. Os ''existencialistas'' sartreanos da Paris pós-Segunda Guerra também eram chegados em um cafezinho, para sustentar suas vidas notívagas. O café também é a base desta civilização ( pòs ? ) industrial em que vivemos, e causa estranheza recusarmos um pequeno café após as refeições. Depois, São Paulo sempre foi chamada ''terra do café''. Hoje é palco de uma verdadeira ''guerra dos cafés'', com a instalação de verdadeiras ''grifes'' de café de qualidade, entre elas a americana Starbucks, a européia Nespresso, e a brasileira Suplicy. Mas o fato é que entre estes dois líquidos se passou mais um dia, e mais uma crônica. Aceitam um cafezinho???
quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008
Tarefa maior- construir a si mesmo
Como vivemos em um mundo de ''fazedores'', em uma cidade de ''fazedores'', é normal que, em um primeiro contato, as pessoas perguntem ''o que você faz''. Isto é suficiente, PARA ELAS. Porém, o personagem principal de ''Na natureza selvagem'' caracterizava-se por uma outra busca: a busca de si. Fazer algo, neste mundo, é trivial: praticamente todos tem de fazê-lo, sob pena de morrerem de fome. ''Quem não trabalha não come'' é a lei implícita deste planeta. Mas estamos aqui não apenas para ''ganhar a vida'' e encher os nossos estômagos. Aliás, animais não morrem de fome e nem ficam desempregados. Porém, não os vemos realizando algo próximo ao nosso ''tripalium'' ( nome de um antigo instrumento de tortura...). E é nesta pequena transição de fazer algo para descobrir algo maior sobre si mesmo que as coisas empacam. É fácil esconder-se sob uma identidade qualquer- como ''professor'', ''médico'', ''advogado''- compartilhada por milhões. Mas há algo mais, algo que temos de especial, único. E deveria ser o principal objeto de nossas buscas nesta vida tão curta. O personagem do filme já mencionado viveu pouco. Porém, neste pouco que viveu praticamente não fez outra coisa senão buscar conhecer-se. Não fez outra coisa senão VIVER, intensamente. O que ocorreu com ele vocês terão de assistir a obra para saber. Mas, certamente, uma pessoa como estas não chegará ao fim da existência arrependida por ''não ter feito'' isto ou aquilo. Instrumentos escapistas como álcool e drogas não seriam tão populares se, ao invés de fugirmos de uma realidade desagradável, buscássemos, ao invés do mundo exterior, descobrir um mundo que não perde em nada em comparação ao espaço sideral: o mundo interior. Estamos todos devendo algo neste sentido, é algo que salta aos olhos. Macacos poluidores de rios, mares e do mundo em geral, guerreiros, inventores de mil e um aparelhinhos eletrônicos de gosto e uso duvidoso, continuamos, neste início de século XXI, desconhecidos de nós mesmos. E não há nenhuma ''ação'' que possa mitigar esta falta. Talvez, isto sim, um pouco menos de ''ação''- já descrita por uma escritora como ''simplesmente pegar as coisas de um lado da mesa e transferí-las para o outro lado da mesa'' - e um pouco mais de silêncio e paz interior. Quem sabe? Nada temos a perder nesta altura da existência, e o ''point of no return'' da natureza se aproxima...
Sabedoria Popular
Antes eu costumava contestar a sabedoria popular, segundo a qual ''os políticos não prestam''. Eu replicava, ''exceto os do Partido x''. O partido ''x'' chegou ao poder, e revelou-se tão ou mais corrupto que os demais. Razão pela qual considero, a esta altura, que realmente o ditado popular não comporta exceções- salvo aquelas notórias e ultra-minoritárias, como Gabeira...
quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008
Ainda ''Na natureza selvagem''
Há uma cena muito interessante no filme, em que o personagem principal vai a um órgão público e descobre que, para descer as corredeiras de um rio, há uma FILA DE INSCRIÇÕES. E que, segundo a ordem da fila, ele só poderia descer o rio em...12 ANOS!!! Não é só no Brasil que estas coisas acontecem...A atitude que ele tomou vocês podem conferir no filme...
terça-feira, 26 de fevereiro de 2008
Natureza Selvagem-continuação
Nós nos encontramos de tal modo perdidos e ''desamparados'' neste mundo, que basta uma única pessoa com um ideal forte- que sabe o que quer- para que nós a consideremos um líder, um fora-de-série. Daí toda a polêmica sobre a suposta ''divindade'' de Jesus. Porque alguém teria de ser ''superior'' para fazer o que ele fez, né? E, separando o ''divino perfeito'' do ''humano inferior'', conseguiram fechar a porta que ele abriu para que outros pudessem repetir ou superar os seus feitos. Daí por diante, necessitaríamos novamente de ''intermediários'' entre os deuses e o homem.Missão cumprida. Mas de vez em quando aparecem seres humanos especiais, que não se enquadram nas regras do rebanho. ''Na natureza selvagem'' trata de um destes seres. Não vamos tirar a surpresa sobre o seu final, porque isto, na verdade, nem interessa. Não interessa o que ele atingiu, nem o que descobriu. O que interessa de fato é o caminho que ele percorreu, as escolhas que fez. Na estória, os únicos que não enxergaram a sua força foram os seus pais. Todos os demais sabiam estar tratando com um ser forte, excepcional- mascarado pelas feições de um adolescente. E toda a comoção que ele provoca nos espectadores do filme é causada pelo choque que podemos visualizar entre os nossos sonhos e o que fizemos de nossas ''vidas''. Ali está alguém que VIVEU de verdade, que ousou sair atrás dos seus sonhos, que pagou o preço desta busca. Isto choca. Comove. Surpreende. Saímos outros deste filme como se, por breves instantes, pudéssemos novamente avaliar o caminho que escolhemos, e nos víssemos diante de uma ALTERNATIVA. A auto-reflexão não é costume dos seres deste mundo, muito mais preocupados em ''fazer'' coisas. ''Na natureza selvagem'' é um filme que faz PENSAR. E PENSAR DÓI...
domingo, 24 de fevereiro de 2008
Na natureza selvagem
Aproveitando o fato de que este blog deveria ser TAMBÉM um diário, eis um relato das minhas atividades no domingão: acordei. Postei uma mensagem no blog, por cerca de uma hora e meia. Estudei até perto de meio-dia. Saí para almoçar, em Higienópolis, só. Meia-hora de caminhada. Almoço com bufê de saladas e pizza. Sorvete de sobremesa. Quando ia voltar rumo à Paulista, constato que está chovendo forte, Pego um táxi. Desço em casa, para pegar um guarda-chuva.A chuva não passa, e faz até um pouco de frio. As ruas parecem córregos. Corro para o Conjunto Nacional, aqui perto, para assistir este belo filme- que dá título a esta postagem. É a estória de um garoto que sonha trocar a ''civilização'' pelo Alaska. Muitos tentam dissuadí-lo, ele chega inclusive a conhecer uma tremenda gatinha de apenas 16 anos- que se oferece a ele na ausência dos pais- mas continua com a idéia fixa. Este é um filme não sobre um objetivo, mas sim sobre o valor da jornada. Emociona. O garoto não perde um ar meio infantil, que aproxima todo mundo: jovens, velhos, hippies. O filme trata da VIDA, com letras maiúsculas. Não uma vida qualquer, como a de milhões, frustrada na raiz, impotente, sem rumos, triste. Mas uma vida integral. O personagem deixa pais, uma carreira promissora nos estudos, rasga dinheiro para, como César, ''queimar todas as pontes" que pudessem possibilitar um recuo em seu projeto. Apesar de jovem, é meio ''anacrônico'' para a época. Ele LÊ, cita Jack London, Thoreau e muitos mais. Isto nos lembra que houve um tempo em que os livros mudavam a vida de muitas pessoas, serviam como GUIAS. Nestes tempos, muito diferentes dos de hoje, as pessoas não se contentavam com a mera leitura. Viam nestes livros um roteiro, um projeto para uma vida nova. ELAS ERAM MOVIDAS POR IDÉIAS, TESES. O personagem principal deste filme é mais um destas pessoas ''de antigamente''. Ele quer conhecer a vida REAL, verdadeira, direta, sem intermediários, e vai atrás. ''Paga o preço'' na luta pelos seus sonhos. Se isto já era difícil no século passado, que dirá nestes céticos dias de hoje? De 1 a 5, dou NOTA MÁXIMA a esta bela obra de mais de 2 horas. Além da estória, interessante e baseada em um caso real, as paisagens são de arrepiar.Com cenas em desertos e no frio do Alaska. Finalmente, para concluir, parece que temos uma boa safra de filmes no mercado, como este, ''Sangue Negro'' e ''Desejo e Reparação''. Eles sabem fazer uma obra de verdade, quando querem...
Pequeno GRANDE livro- II
Como vocês puderam ver, chegou um momento em que eu cansei de digitar TUDO o que havia de importante no livro ''Conversas com Kafka'', atividade que me custou umas DUAS horas pela manhã de sábado. Tomei fôlego, e aqui estou novamente com mais alguns trechos interessantes. ESPERO concluir esta atividade hoje. Ela é muito mais penosa do que a simples leitura do livro, que reputo como o MELHOR já lido neste ano de 2008...IRONIA: (...)É possível que eu dê assim às coisas uma certa claridade, como fazem os iluminadores sobre um palco mergulhado na penumbra. Mas não é nada disso: na realidade na realidade o palco não está mergulhado na penumbra, está inundado pela claridade do dia. É o que faz com que os homens fechem os olhos e vejam tão pouco. -Entre a realidade e a visão que temos dela existe freqüentemente uma distância dolorosa- observei. Kafka aprovou com um sinal e disse: - Tudo é combate, luta. Só merece o amor e a vida aquele que deve conquistá-los todos os dias. Fez uma curta pausa, depois acrescentou a meia voz, com um sorriso irônico: - Dizia Goethe."
SOBRE A ÍNDIA: ''- Os textos sagrados da Índia me atraem e repugnam ao mesmo tempo. Como um veneno, têm algo de sedutor e assustador. Todos esses iogues e mágicos se tornam senhores da vida, em sua contingência natural, não por um ardente amor à liberdade, mas por ódio, não expresso mas glacial, da vida. A fonte dos exercícios religiosos da Índia é um pessimismo infinito'' (p.98).
SOBRE OS ANARQUISTAS: '' - Não leva a sério os anarquistas tchecos? Kafka sorriu embaraçado. - É complicado. Esses indivíduos que se intitulam anarquistas são tão gentis e tão amáveis que não se pode acreditar em tudo o que dizem. Mas, ao mesmo tempo e justamente por causa dessas mesmas qualidades, não se pode acreditar que possam ser realmente esses destruidores que pretendem ser. - Conhece-os, então, pessoalmente? - Um pouco. São pessoas muito gentis e divertidas''. ( p.99)
SOBRE LEITURAS, no caso a do livro "A Cortina Negra, romance das palavras e dos acasos", de Döblin: - Os acasos só existem em nossa cabeça, em nossas percepções limitadas. Eles são os reflexos dos limites de nosso conhecimento. A luta contra o acaso é sempre uma luta contra nós mesmos, e nunca podemos ganhá-la inteiramente. Ora, esse livro não diz nada disso. - Está então decepcionado com Döblin? - Na realidade, só estou decepcionado comigo mesmo. Esperava algo de diferente do que, talvez, ele queria dar. Mas a obstinação dessa espera me cegou de tal maneira que pulei as linhas, as páginas e finalmente o livro inteiro. Não posso então dizer nada desse livro. Sou um péssimo leitor" ( p.106/107).
SOBRE A POESIA: ''Falávamos de Baudelaire. - A poesia é doença-disse Kafka. - Mas fazer baixar a febre não basta para recuperar a saúde. Ao contrário! O fogo purifica e ilumina'' ( p.109).
SOBRE A HUMANIDADE: ''- A maioria dos homens não é ruim, disse Franz Kafka enquanto falávamos do livro de Leonhard Frank, O homem é bom. - Os homens tornam-se maus e culpados porque falam e agem sem imaginar o efeito que terão suas palavras e seus atos. São sonâmbulos, não patifes." ( p.112/113).
SOBRE A DESORDEM: ''- Se me queixo da desordem do escritório e, de maneira geral, da desordem que me cerca , é um truque para tentar dissimular a inconsistência de minha vida aos olhares inquisidores do mundo que me cerca. Na realidade, só vivo graças a essa desordem: ela me permite extrair o pouco de liberdade pessoal que me resta." ( p.117)
DESTINO X ESCOLHA: ''(...)Mas a raiz de todo erro humano é assim, escolher, em detrimento do valor moral que parece difícil de atingir, o não-valor cuja proximidade é sedutora. - Talvez o homem não possa agir de outra maneira, observei. Kafka sacudiu vigorosamente a cabeça. - Não. O homem pode agir de outra maneira. A queda é a prova de sua liberdade." (p.125/126)
O DEUS DOS ALEMÃES: (...)''- Como?- Eu estava perplexo. - Os alemães não são um povo teocrático. Não têm nem Deus nacional nem templo especial. - É o que geralmente se admite, mas a realidade é bem outra- disse Kafka. - Os alemães têm o Deus que faz crescer o ferro. Seu templo é o estado-maior prussiano. Começamos a rir, mas Kafka afirmou que falava seriamente e só ria porque eu mesmo ria. Era um riso contagioso." (p.129)
SOBRE SEU TRABALHO NO ESCRITÓRIO: (...)"O que me falta é um trabalho digno desse nome. - Como?- repliquei, um pouco desnorteado. - O senhor tem seu cargo no Instituto de Seguros, onde é muito estimado...Mas o Doutor Kafka interrompeu-me: - Não chamo isso de trabalhar, mas de apodrecer. Toda vida verdadeiramente ativa, direcionada para um objetivo, preenchendo verdadeiramente um ser, tem o ímpeto e o brilho de uma chama. Mas eu, o que faço? Fico lá, naquele escritório. Ele não passa de uma fábrica de fumaça fedorenta, sem nenhum sentimento de felicidade. Por isso minto tranqüilamente às pessoas que me perguntam como vou, em vez de simplesmente dar as costas em silêncio como o condenado que sou de fato." (p.145/146)
SOBRE A IMPRENSA: ''- A verdade faz parte do pequeno grupo de coisas realmente grandes e preciosas na vida: não podemos comprá-las. O homem a recebe como um presente, como recebe o amor ou a beleza. Ora, os jornais são uma mercadoria, então se faz comércio. - A imprensa serve então para atoleimar a humanidade, observei timidamente. Franz Kafka começou a rir, projetando o queixo com um ar triunfante. - Nao, não! Tudo serve á verdade, mesmo a mentira. As sombras não eclipsam o sol"(...)Disse-me um dia: - Quando se diz em alemão que alguém está enfiado em seu jornal, esta expressão explica perfeitamente a realidade. O jornal apresenta os acontecimentos do mundo justapondo-os como um amontoado de pedras e um amontoado de sujeira. É uma mistura de terra e de areia. Onde está o seu significado? Ver a história como um amontoado de acontecimentos não quer dizer nada. Tudo depende do significado dos acontecimentos, e não o encontramos no jornal, encontramo-lo unicamente na fé, na objetivação do que parece fortuito(...)O Dr. Kafka disse-me um dia- não sei mais em que ocasião- que a leitura dos jornais era um vício ligado à civilização. - É como acontece com o fumo: somos obrigados a pagar aos nossos opressores para termos o direito de nos intoxicar." (p.149/150).
ESTADO X POESIA: ''Falamos das 'Leis' ideais de Platão, que eu lia na edição Eugen Diedericks. Eu achava grave que Platão excluísse os poetas da cidade. Kafka me disse: - É muito compreensível. Os poetas tentam dar ao homem outros olhos, a fim de mudar a realidade. Por isso são elementos realmente subversivos, porque querem a mudança. O Estado e, com ele, todos os seus devotados servidores só querem uma coisa: durar" (p.164).
Àquele(s) que porventura possa(m) ter aguentado chegar até aqui, um abraço.
sábado, 23 de fevereiro de 2008
Pequeno GRANDE livro
Impossível não tratar aqui de uma recente aquisição de livro na Livraria Cultura, que li de uma sentada só. O livro é pequeno- para os meus padrões: ''SÓ'' 228 páginas- mas é daquelas obras que lemos com extrema atenção, sublinhando tudo. Isto porque a obra chama-se ''Conversas com Kafka'', de Gustav Janouch. E Kafka, como podemos verificar na obra, era um frasista genial. Janouch era um jovem aspirante a escritor, que conviveu com Kafka por alguns meses. No prefácio da obra inclusive se informa que tal convivência se deu em alguns limitados lugares- o escritório, passeios pela rua- e que a obra não aborda dois importantes assuntos da vida de Kafka à época: a paixão por Milena Jesenska e a redação da obra ''O Castelo''. Não importa. O pouco de Kafka que foi retratado ali é genial, e serve como excelente amostra. Assim como uma gota de água está para um oceano...À obra, pois, dividida quase sempre por temas ( porém alerto que, tantos foram os trechos destacados, é provável que tenha de voltar ao tema em outras postagens...) : DO PAPEL DO POETA: ''- Você descreve o poeta como um ser de estatura prodigiosa, cujos pés se encontram sobre a terra, enquanto sua cabeça desaparece nas nuvens. É naturalmente uma imagem bem habitual no quadro de representações da pequena burguesia. É uma ilusão, saída dos desejos escondidos e que não tem nada a ver com a realidade. O poeta é na verdade sempre menor e mais fraco que a média da sociedade. Por isso ele sente o peso da existência terrestre muito mais intensa e fortemente que os outros homens. Cantar não passa, para ele pessoalmente, de uma forma de gritar. A arte é para o artista um sofrimento, pelo qual ele se libera para um novo sofrimento. Ele não é um gigante, mas um pássaro mais ou menos multicolorido na gaiola de sua existência'' ( p.15 ). NO ESCRITÓRIO ONDE KAFKA TRABALHAVA: ''(...)Lembro-me que a cada 'Entre!' impertinentemente emitido por aquele colega Kafka tinha um leve sobressalto. Parecia voltar-se para si mesmo e olhava enviesado, com uma desconfiança não-dissimulada, para baixo, como se esperasse de repente receber um golpe. De resto, adotava a mesma atitude quando seu colega se dirigia a ele em tom amável. Via-se que Kafka sofria, a respeito deste Treml, de inibições desagradáveis(...)- Tem medo dele? Kafka deu um sorriso embaraçado e disse: - Um carrasco é sempre suspeito. - Que quer dizer? - Um carrasco, em nossos dias, é um honrado funcionário; o espírito pragmático da função pública assegura-lhe um bom tratamento. Conseqüentemente, por que não haveria um carrasco adormecido em todo funcionário honrado? - Mas os funcionários não matam ninguém! - Oh, sim! E como! - respondeu Kafka abaixando as mãos e batendo-as na mesa. - Eles pegam seres vivos capazes de se transformar e deles fazem matrículas de arquivos, mortos e incapazes da mínima transformação'' (nosso grifo) (páginas 18/19). AINDA NO ESCRITÓRIO, COMENTÁRIO SOBRE O COLEGA TREML: ''Suspirei: - Está bem. O senhor o elogia, mas não gosta dele. Seus elogios só tem por objetivo esconder sua aversão. Kafka piscou os olhos e mordeu o lábio inferior. Completei meus argumentos: - Para o senhor, é alguém de outra espécie. O senhor o vê como um animal estranho em sua jaula. Então o Doutor Kafka me fixou quase desagradavelmente e articulou com uma voz baixa, rouca de tão contida: - Engana-se. Não é Treml, sou eu que estou na jaula. - É compreensível. O escritório...O Doutor Kafka me cortou a palavra: - Não falo somente deste escritório. Falo em geral. - Colocou seu punho direito sobre o peito. - Carrego minhas barras sempre comigo. " (página 20)(...)''Cada um vive atrás das grades que carrega consigo. Eis porque tantos livros hoje falam de animais. Isto exprime a nostalgia de uma vida livre, natural. Mas a vida natural, para os homens, é a vida de homem. Contudo, ninguém vê isto. Ninguém quer ver. A existência humana é demasiadamente penosa, por isto queremos nos livrar dela, ao menos pela imaginação" (pág. 23). JUVENTUDE X VELHICE: ''- Sua novela ( ''O carregador de carvão'', nota)contém tanto sol e bom humor. Há nela tanto amor, embora não se fale nisso. - Não é na novela, mas em seu assunto: a juventude- respondeu gravemente Kafka. - A juventude é que é cheia de sol e amor. A juventude é feliz , porque tem a faculdade de ver a beleza. A perda dessa faculdade marca o começo da triste velhice, da decrepitude, da infelicidade. - A velhice exclui qualquer possibilidade de felicidade? - Não, é a felicidade que exclui a velhice. - Ele inclinou a cabeça sorrindo, como se quisesse escondê-la entre os ombros. - Aquele que conserva a faculdade de ver a beleza não envelhece'' (nosso grifo: página 32). SOBRE A LITERATURA: ''Ficamos quinze dias sem nos ver. Eu lhe enumerava os livros que tinha 'devorado' nesse tempo. Kafka sorriu e disse: - Da vida, pode-se tirar muito facilmente uma série de livros; mas dos livros tira-se pouca, bem pouca vida. - A literatura e assim uma péssima forma de colocar as coisas em conserva- disse eu. Kafka começou a rir, aprovando com a cabeça" (p.35). São tantos os trechos em destaque, que é preciso selecioná-los com ainda mais esmero para não passar o dia em frente à tela do computador. Vejamos: "Quando o Doutor Kafka regressou, contei-lhe o episódio e concluí meu relatório com essas palavras: - Eu deveria ter pegado aquela mulher de jeito e sem moderar minhas palavras. Em vez disso, fiquei mudo. Sou um molenga! Kafka sacudiu a cabeça e disse: - Não fale assim. Você não sabe que energia reside no silêncio. A agressividade não passa de poeira nos olhos, é uma manobra que habitualmente se destina a camuflar, aos olhos do mundo e aos seus próprios olhos, a fraqueza daquele que a ela recorre. A verdadeira prova de energia e constância está em se submeter a ela. Só o fraco perde a paciência e se torna grosseiro. Assim fazendo, perde geralmente toda a dignidade humana" (p.42). As estórias sobre Kafka acabam tornando-se também a estória da fome deste pobre ''taquígrafo''/transcritor, que ainda não tomou- às 8 e pouco da manhã, o seu café neste cinzento dia de sábado...Creio que não darei conta, nesta postagem, de tudo o que vi de bom na obra que transcrevo. Mas, continuando, sobre o uso das palavras: ''Mostrei a carta ao Dr. Kafka, que a empurrou com a ponta dos dedos para a outra extremidade de sua mesa, como um objeto perigoso. E ele disse: - Os insultos tem algo de aterrorizante. Esta carta me faz o mesmo efeito que um braseiro esfumaçado, que nos queima a garganta e os olhos. Todo insulto desmantela a maior invenção do homem: a língua. Aquele que profere um insulto...insulta a alma. É uma tentativa de assassinato, perpetrada contra a Graça. Torna-se disso igualmente culpado aquele que não pesa as palavras com seu peso justo. Pois falar é pesar e delimitar. A palavra é uma escolha entre a morte e a vida. - Que pensa o senhor disso?- perguntei-lhe. - Devo mandar a esse indivíduo uma intimação judicial? Kafka sacudiu a cabeça com energia: - Não! Para quê? Ele não daria a menor importância a uma advertência desse tipo. E mesmo se o fizesse...deixe-o. A ''vaca'' de sua carta cedo ou tarde vai chifrá-lo. Jamais escapamos aos fantasmas que deixamos sair. O mal sempre volta ao seu ponto de partida" ( p.44). Ainda sobre o embate juventude X velhice: ''- Se entendo bem, o senhor é muito cético diante do combate da juventude contra a velhice- observei. Kafka sorriu e respondeu: - Seja eu cético ou não, é um fato que esse combate é só aparente. -Um combate aparente, como é isso? - A velhice é o futuro da juventude, que cedo ou tarde a atingirá, inevitavelmente. Então porque se bater? Para envelhecer mais depressa? '' (p.79). Concluo parcialmente as citações desta bela e apaixonante obra, para poder, enfim, tomar o meu café da manhã. Continuarei fazendo referências ao livro, posteriormente...
sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008
O Caos, e as lojas de departamento
Embora não tenha necessidade de comprar todas aquelas quinquilharias, eu sinto uma verdadeira compulsão por lojas de departamento. Explico. Claro que gosto de coisas finas e requintadas, pela sua qualidade. Mas faço da busca por coisas em lojas de departamento uma verdadeira diversão. As lojas de departamento não tem vendedores chatos e o seu cada vez mais predominante chavão ''posso ajudar?''. Elas não seguem a ''moda'' oficial e seus padrões: ''agora o chique é usar preto, marrom, rosa, bege, etc.''. As araras são cheias de coisas de todos os tipos e cores, a todo tempo. Infelizmente, em contraponto, as coisas são feitas/copiadas com menos esmero: chamo algumas destas roupas de roupas ''quase''. Elas quase fizeram roupas bonitas, não fosse um pequeno detalhe aqui e ali que estraga tudo... Por isto elas são lojas de departamento, e não marcas famosas! Ao lado das lojas de departamento, outra paixão- em qualquer lugar- é entrar nas Lojas Americanas, esta versão moderna dos antigos Mercados Persa...Tenho vários ítens comprados na véspera de natais, como copos e pratos decorados, etc. E aqueles DVD's todos empilhados e comprados a R$ 9,99 ou R$ 12,99 são demais! A última aquisição foi a versão mais antiga de ''Guerra dos Mundos''- aquela que o Tom Cruise estragou na versão mais atual...Lojas Americanas, me desculpem este pequeno comercial involuntário, tem doces, água mineral, xampoos, tudo que sempre quebra o meu galho onde quer eu esteja...É sempre uma boa pedida. E não só eu acho isto, haja vista o crescente sucesso da marca...No Rio de Janeiro há uma versão local chamada Casa E Vídeo, que vende tudo que a Americanas vende, além de cabides, pratos e copos e outras coisas mais. É chegar ao Rio e procurar a Americanas e a Casa E Vídeo. Não dá para evitar, elas me puxam...Tem gente que gosta de comprar lembrancinhas em feiras. Outros, acumulam lembranças de viagem, do mundo inteiro. Eu sou VICIADO em lojas de departamento como a Renner, C&A e Riachuelo, e, principalmente, Lojas Americanas. A gente sempre entra nestes lugares com uma expectativa, e somos surpreendidos sempre com promoções e novidades que nem sabíamos que existiam...Elas satisfazem a minha necessidade de caos e desordem. E gosto, assim como diversas pessoas fazem com peças compradas em feirinhas de artesanato, de alternar roupas compradas a dedo nestes lugares com outras de ''grife''. E gosto ainda mais de receber elogios pela beleza de peças compradas baratinho nestes lugares, que chegam a rivalizar com as de marca...Claro que as utilizáveis são minoria da minoria, buscadas sistemática e criteriosamente em meio a uma multidão de outras roupas ''quase''...
Leituras- Rilke
(...)"Como eu fosse menino, as pessoas me batiam no rosto, chamando-me covarde. Isto porque eu não sabia ter medo. Desde então, porém, aprendi a temer com o verdadeiro medo, que só cresce quando cresce a força que o concebe. Não temos idéia dessa força, exceto no medo. Pois é tão ininteligível, tão completamente hostil a nós, que nosso cérebro se dilacera no lugar em que nos esforçamos por pensá-lo. E, ainda assim, já algum tempo acredito que é a nossa força, toda a nossa força, que ainda é forte demais para nós. É verdade, não a conhecemos, mas não será exatamente aquilo que é mais nosso o que menos conhecemos? Às vezes penso como terá surgido o céu, e a morte: surgiram porque afastamos de nós o que tínhamos de mais precioso, porque havia tanto que fazer ainda, e porque, com nossas ocupações, este tesouro não estava em segurança junto a nós. Eis que os tempos passaram por cima de tudo isso, e nos habituamos a coisas mais insignificantes. Não reconhecemos nossa posse, e horrorizamo-nos com sua extrema dimensão. É possível?"
(...)"Jovem que sentes nascendo em ti algo que te faz tremer, aproveita esta condição: a obscuridade. E se esses que te consideram um nada te contradisserem, e se esses com quem lidas te abandonarem, e te quiserem exterminar por causa dos teus amados pensamentos, que significa esse perigo óbvio, que te concentra em ti, diante da sutil ameaça da glória futura, que te tornará inofensivo porque te disseminará? Não queiras que ninguém fale de ti, nem com desprezo. E quando o tempo passar, e notares que teu nome começa a circular entre as pessoas, não leve este fato a sério mais do que todo o resto que sai de suas bocas. Pensa que teu nome se arruinou, desiste dele, assume outro qualquer um, com que Deus possa chamar por ti à noite. E esconde-o dos demais. Tu, o mais solitário de todos, isolado, encontraram-te tão depressa: e serviram-se de tua glória. Há algum tempo eram contra ti, agora lidam contigo como se fosses um deles. Carregam tuas palavras nas gaiolas da sua presunção, exibindo-as nas praças, e excitam-se todas, no alto da sua segurança. Todas essas tuas terríveis feras(...)".
(...)''É ridículo. Estou aqui sentado em meu quartinho, eu, Brigge, que completei 28 anos, e de quem ninguém sabe nada. Estou aqui sentado, e não sou nada. E, contudo, esse nada começa a pensar, e num quinto andar, numa cinzenta tarde parisiense, pensa esses pensamentos: É possível que ainda não tenhamos visto, reconhecido e dito nada verdadeiro e importante? É possível que tenhamos tido milênios para contemplar, refletir e anotar, e deixássemos esses milênios passarem como uma hora de recreio na escola, em que se come pão com manteiga e uma maçã? Sim, é possível. É possível que, apesar do progresso, da cultura, da religião e da sabedoria universais, tenhamos permanecido na superfície da vida? E que mesmo essa superfície- que em si já seria alguma coisa- esteja recoberta de um tecido tão incrivelmente monótono que nos pareça móveis de sala numas férias de verão? Sim, é possível. É possível que toda a história da humanidade tenha sido um mal-entendido? Que o passado seja falso porque sempre falamos em multidões, como numa reunião de muita gente, em vez de falarmos no único, em torno do qual todos se agrupavam porque ele era estrangeiro e morria? Sim, é possível. É possível termos acreditado na necessidade de recuperarmos fatos acontecidos antes de sermos nascidos? É possível que tenhamos de recordar a cada indivíduo que ele nasce dos antepassados, que portanto contém em si todo esse passado, e que nada tem a aprender com outros homens que pretendem possuir um saber melhor ou diferente? Sim, é possível. É possível que todos esses homens conheçam bem um passado que nunca existiu? Que para eles todas as realidades nada sejam; e sua vida transcorra desligada de tudo, como um relógio num quarto vazio? Sim, é possível. É possível que nada se saiba de donzelas que, ainda assim, vivem? É possível que se diga 'as mulheres', 'as crianças', 'os rapazes', sem pressentir ( apesar de toda a cultura, sem pressentir ) que há muito essas palavras não têm mais plural, mas apenas incontáveis singulares? Sim, é possível. É possível existirem pessoas que dizem 'Deus' e pensem que isso é um ser que lhes é comum? Vejam esses dois meninos de escola: um compra uma faca; o vizinho compra outra idêntica no mesmo dia. Depois de uma semana mostram-se mutuamente essas facas, e acontece que só remotamente ainda se parecem- tão diversamente se desenvolvem em mãos diferentes. ( Sim, diz a mãe de um deles, porque vocês precisam gastar tudo logo?). E então: é possível acreditar que se possa ter um Deus sem usá-lo? Sim, é possível. Mas se tudo é possível, ao menos vagamente possível, então, por tudo que há de sagrado no mundo, algo tem de acontecer. O primeiro a ter esse pensamento inquietante precisa começar a fazer algo do que foi omitido; mesmo se for apenas um sujeito qualquer, talvez nem mesmo o mais indicado: simplesmente, não há outro melhor. Esse jovem estrangeiro insignificante, esse Brigge, terá de sentar-se num quinto andar e escrever, dia e noite: sim, terá de escrever, e este será o fim". ( ''Os cadernos de Malte Laurids Brigge'', de Rainer Maria Rilke, Editora Novo Século ).
quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008
Uso peculiar para livros
Sabemos que os livros podem ser utilizados para os mais diversos propósitos. Mas a estória a seguir mostra uma espécie inusitada de uso : o russo Bakhtin, "não podemos esquecer, foi aquele que fumou um de seus próprios livros(...)Em algum lugar da Rússia durante a Segunda Guerra, depois que uma bomba destruiu a editora que publicava seus livros, Bakhtin viu-se privado de papéis de cigarro- mas não de tabaco. Temos de imaginar a cena: lá estava o tabaco, mas não havia meios de fumá-lo; lá estava o manuscrito, mas não havia meios óbvios de publicá-lo. O que VOCÊ teria feito numa situação destas?" ( Fonte: ''Cromofobia'', de David Bachelor, p.124, Ed. Senac ).
quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008
Coincidências??!
Coincidências, para quem acredita. Eu só acredito que somos buscados por uma coisa: por livros. Defendo a tese que não somos nós que escolhemos determinados livros. Eles é que nos buscam, buscam o seu leitor ideal- quem os aceite e compreenda. Por isto, quando entro em um Templo do Saber- leia-se Livraria- a primeira pergunta que faço é: - ''Qual livro aqui pode ser útil para mim?" Funciona...De resto, somos a soma de nossas obsessões. Não é a ''vida que nos leva'', como se fosse uma entidade divina, enigmática. Somos os construtores de nossas vidas, reforçando ou não algum fato em razão de nossas atrações e repulsas. Tudo isto para contar que hoje, quando saí de casa com destino a Higienópolis, para almoçar em um restaurante natural, ''um livro me buscou''. Explico. Quando estava atravessando uma passarela subterrânea que fica sob a rua da Consolação, deparei-me com um sebo. Um sebo que já havia visto dezenas de outras vezes, e que ocupa toda a passarela subterrãnea- coisas de Sampa. O sebo é grande, com diversas estantes. E, ao olhar para uma pilha de livros em uma estante, meus olhos foram puxados, atraídos violentamente pelo título de um livro de um escritor favorito do qual já li diversas obras, exceto esta: ''Uma noite em Curitiba'', de Cristovão Tezza. Tezza é catarinense, radicado na bela capital paranaense há muitos anos. Como apreciador daquela cidade, já adquiri diversos de seus livros, que tem Curitiba como pano de fundo. Detalhe deste livro: estava na pilha de promoções por UM REAL!!! Rebobinando: eu decido sair um dia, e tomo uma direção- como poderia escolher ''n'' outras. Passo por um sebo, que eu conhecia mas onde ainda não havia comprado um livro. Dentre todas as prateleiras daquele sebo, eu olho para uma específica. Naquela há o livro de um escritor de quem eu gosto, e de quem eu tenho diversas obras. Mas aquela eu não tinha. E ela tinha o título ''Curitiba'' na capa, o que certamente deve ter atraído a minha atenção. E estava na pilha de promoções a UM REAL...Será acaso? ''Coincidência?" Nós somos conduzidos pelas nossas paixões. Certamente se fosse um livro sobre Cuiabá, com todo respeito àquela cidade, eu não teria perdido sequer um segundo ali. TINHA de ser sobre Curitiba. Eu ali, passando por acaso, um livro sobre aquela bela cidade, onde já estive inúmeras vezes, com ótimas recordações- temas de futuros blogs-o livro me puxou, e aqui estou eu relatando todo este fato. Para mim muito significativo. GANHEI O DIA, não só pela economia que fiz- que fique claro...Um livro, seu apreciador em potencial,um encontro bibliófilo amoroso, mais uma ''conquista'' para minha biblioteca particular. E que conquista...!
terça-feira, 19 de fevereiro de 2008
Ações Calculadas
No dia de meu aniversário, estava passeando pelo Conjunto Nacional de Brasília com uma tia. Propus que entrássemos em uma loja Riachuelo. Subitamente, quando entramos na loja, e ao ver que eu me interessara por uma camisa, ela propôs comprar a mesma como presente de aniversário. E aí, um passeio desinteressado passou a ter uma ''finalidade''. A proposta me assustou, e eu não escolhi a camisa que chamou a minha atenção. Propus que olhássemos mais lojas, á procura do presente ''ideal''. Claro que, a partir do momento da proposta, a idéia perdera a sua graça. E eu acabei não escolhendo nada, para a sua decepção. Do mesmo modo, a menor alusão a uma possível publicação dos textos deste blog em um livro me apavora. É gostoso pensar no blog quando tenho alguma idéia. E´gostoso acessar o blog, e escrever dois ou três textos, tendo em mente pessoas conhecidas que possam se interessar por alguma coisa. Mas é de APAVORAR a idéia de começar a medir e calcular o que digo, em razão de uma virtual ''platéia''. O que seria espontâneo vira calculado, e perde a graça, o tom, a leveza. É terrível a função daqueles que vivem de escrever, e dependem do gosto instável da patuléia. É horrível a intenção impossível de que tudo aquilo que escrevamos faça sentido, e agrade sequer a uma pessoa. Pensar que possa haver alguém além de 2 ou 3 amigos lendo isto aqui, é espantoso. Será que sequer este texto faz sentido? O que dirá um monte deles? E porque faria sentido a alguém que não conheço: que misterioso ser faria a conexão entre realidades tão díspares? Tudo que é obrigatório é chato, até o sexo. Ações calculadas tiram o charme dos flertes e, infelizmente, no amor de hoje tudo é precisamente calculado. Enquanto isto, o prazer de digitar algumas letras na tecla de um computador dificilmente se comparará ao prazer que tenho ao ler algum texto escrito por outrem. Sequer imaginei que chegaria até aqui, ou que passaria de 10 pequenas mensagens escritas em um blog. O excesso atribua-se à minha evidente prolixidade e megalomania...
Inferno Astral
Para completar a angústia que antecedeu o aniversário, vários resultados negativos no plano futebolístico: torci para o Fluminense contra o Botafogo, e deu Botafogo. Torci para o Vasco, embora sem muita ênfase, contra o Flamengo. E deu Flamengo. E, de quebra, o São Paulo ainda perdeu para o Marília(?!!!). Do ponto de vista futebolístico, como podem ver, este aniversário foi um desastre. Felizmente a vida é um pouco mais do que o futebol, embora, como todos podem constatar, o futebol sirva perfeitamente para explicar a vida e o mundo...
Aniversário
Por incrível que pareça, ao completar 40 anos não me dei conta da importância do fato- que, na minha infância, era uma data ''decisiva'', na qual eu já teria feito ''n'' coisas, do tipo que as pessoas em geral já realizaram quando chegam a esta idade( casar, ter filhos, ter uma profissão definida, uma cidade definida e escolhida ). Em suma, ''a ficha não caiu''. Só agora, com inacreditáveis 43 anos, parece que todo o peso do acontecimento caiu de vez sobre os meus enfraquecidos ombros: ESTOU VELHO! Não que alguns sinais tenham aparecido somente agora. Na verdade, eles foram se acumulando ao longo dos anos, e um bom observador teria registrado rapidamente o óbvio: a memória cada vez mais falha- recentemente levei longos 5 minutos para lembrar o nome da bela atriz Carolina Dickman- os quilos extras acumulados nos bons restaurantes de São Paulo e cada vez mais difíceis de eliminar, cada vez mais cabelos brancos, uma barriguinha cada vez mais visível, cansaço na hora de subir escadas e ladeiras, um cansaço geral pela existência e pensamentos cada vez mais freqüentes sobre a estupidez e a irreverência dos ''jovens''. É, eu estou definitivamente do ''lado de lá''. Bons os tempos em que eu via com esperança o título de um livro de Artur José Poerner chamado ''O Poder Jovem''. O dia em que os rebeldes do mundo inteiro, a geração pós-68, a minha geração, tomaria o poder para realizar as mudanças nesta ''Era de Aquário''. ''É proibido proibir'', um lema que calou bem fundo naquela época. Hoje estamos todos dispersos, desiludidos, o ''nosso governo''- o governo em que depositávamos todas as esperanças, um governo constituído por diversos membros desta geração de transformadores- enfim, a ''última esperança'' dos 68 da vida pereceu, e já foi tarde. Alguém já disse que ''o Brasil é um túmulo de esperanças''. De fato, mais do que lutar e sonhar por utópicas e sempre adiadas transformações, o cenário atual mais se assemelha ao de uma guerra. E, como sabemos, o mais importante durante uma guerra é sobreviver. A melhor estratégia é a defesa. Defesa, em primeiro lugar, da nossa integridade física e intelectual, ameaçada por todos os lados. O Brasil de hoje não é mais para amadores e ''pollyanas'' e viver, como sabemos os paulistanos, é saber cada vez mais tolerar um universo de pessoas igualmente na defensiva, mal-humoradas, mal-educadas. Viver com o outro, e aparentar ignorar o outro, é este modo de vida típico dos grandes centros que predomina cada vez mais nos nossos tempos hiper-modernos. E neste aniversário, por incrível que pareça, é isto o que mais desejo, e é neste cenário- embora cada vez mais alquebrado fisicamente- que me sinto cada vez mais inserido, ''como um pato na lagoa''. Bom dia a todos!
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