Como vivemos em um mundo de ''fazedores'', em uma cidade de ''fazedores'', é normal que, em um primeiro contato, as pessoas perguntem ''o que você faz''. Isto é suficiente, PARA ELAS. Porém, o personagem principal de ''Na natureza selvagem'' caracterizava-se por uma outra busca: a busca de si. Fazer algo, neste mundo, é trivial: praticamente todos tem de fazê-lo, sob pena de morrerem de fome. ''Quem não trabalha não come'' é a lei implícita deste planeta. Mas estamos aqui não apenas para ''ganhar a vida'' e encher os nossos estômagos. Aliás, animais não morrem de fome e nem ficam desempregados. Porém, não os vemos realizando algo próximo ao nosso ''tripalium'' ( nome de um antigo instrumento de tortura...). E é nesta pequena transição de fazer algo para descobrir algo maior sobre si mesmo que as coisas empacam. É fácil esconder-se sob uma identidade qualquer- como ''professor'', ''médico'', ''advogado''- compartilhada por milhões. Mas há algo mais, algo que temos de especial, único. E deveria ser o principal objeto de nossas buscas nesta vida tão curta. O personagem do filme já mencionado viveu pouco. Porém, neste pouco que viveu praticamente não fez outra coisa senão buscar conhecer-se. Não fez outra coisa senão VIVER, intensamente. O que ocorreu com ele vocês terão de assistir a obra para saber. Mas, certamente, uma pessoa como estas não chegará ao fim da existência arrependida por ''não ter feito'' isto ou aquilo. Instrumentos escapistas como álcool e drogas não seriam tão populares se, ao invés de fugirmos de uma realidade desagradável, buscássemos, ao invés do mundo exterior, descobrir um mundo que não perde em nada em comparação ao espaço sideral: o mundo interior. Estamos todos devendo algo neste sentido, é algo que salta aos olhos. Macacos poluidores de rios, mares e do mundo em geral, guerreiros, inventores de mil e um aparelhinhos eletrônicos de gosto e uso duvidoso, continuamos, neste início de século XXI, desconhecidos de nós mesmos. E não há nenhuma ''ação'' que possa mitigar esta falta. Talvez, isto sim, um pouco menos de ''ação''- já descrita por uma escritora como ''simplesmente pegar as coisas de um lado da mesa e transferí-las para o outro lado da mesa'' - e um pouco mais de silêncio e paz interior. Quem sabe? Nada temos a perder nesta altura da existência, e o ''point of no return'' da natureza se aproxima...
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