terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Aniversário

Por incrível que pareça, ao completar 40 anos não me dei conta da importância do fato- que, na minha infância, era uma data ''decisiva'', na qual eu já teria feito ''n'' coisas, do tipo que as pessoas em geral já realizaram quando chegam a esta idade( casar, ter filhos, ter uma profissão definida, uma cidade definida e escolhida ). Em suma, ''a ficha não caiu''. Só agora, com inacreditáveis 43 anos, parece que todo o peso do acontecimento caiu de vez sobre os meus enfraquecidos ombros: ESTOU VELHO! Não que alguns sinais tenham aparecido somente agora. Na verdade, eles foram se acumulando ao longo dos anos, e um bom observador teria registrado rapidamente o óbvio: a memória cada vez mais falha- recentemente levei longos 5 minutos para lembrar o nome da bela atriz Carolina Dickman- os quilos extras acumulados nos bons restaurantes de São Paulo e cada vez mais difíceis de eliminar, cada vez mais cabelos brancos, uma barriguinha cada vez mais visível, cansaço na hora de subir escadas e ladeiras, um cansaço geral pela existência e pensamentos cada vez mais freqüentes sobre a estupidez e a irreverência dos ''jovens''. É, eu estou definitivamente do ''lado de lá''. Bons os tempos em que eu via com esperança o título de um livro de Artur José Poerner chamado ''O Poder Jovem''. O dia em que os rebeldes do mundo inteiro, a geração pós-68, a minha geração, tomaria o poder para realizar as mudanças nesta ''Era de Aquário''. ''É proibido proibir'', um lema que calou bem fundo naquela época. Hoje estamos todos dispersos, desiludidos, o ''nosso governo''- o governo em que depositávamos todas as esperanças, um governo constituído por diversos membros desta geração de transformadores- enfim, a ''última esperança'' dos 68 da vida pereceu, e já foi tarde. Alguém já disse que ''o Brasil é um túmulo de esperanças''. De fato, mais do que lutar e sonhar por utópicas e sempre adiadas transformações, o cenário atual mais se assemelha ao de uma guerra. E, como sabemos, o mais importante durante uma guerra é sobreviver. A melhor estratégia é a defesa. Defesa, em primeiro lugar, da nossa integridade física e intelectual, ameaçada por todos os lados. O Brasil de hoje não é mais para amadores e ''pollyanas'' e viver, como sabemos os paulistanos, é saber cada vez mais tolerar um universo de pessoas igualmente na defensiva, mal-humoradas, mal-educadas. Viver com o outro, e aparentar ignorar o outro, é este modo de vida típico dos grandes centros que predomina cada vez mais nos nossos tempos hiper-modernos. E neste aniversário, por incrível que pareça, é isto o que mais desejo, e é neste cenário- embora cada vez mais alquebrado fisicamente- que me sinto cada vez mais inserido, ''como um pato na lagoa''. Bom dia a todos!

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