quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Impressões sobre a China

Provavelmente você não achará aqui nenhuma declaração ou posição ''originais'' sobre aquele país do Oriente. A China, a mim como a meio mundo, fascina e atemoriza ao mesmo tempo. Em uma matéria sobre ''As Catedrais de Xangai'', publicada na revista ''Veja'' do último dia 06 de agosto, em meio a inúmeras informações sobre aquela interessante metrópole chinesa, somos informados que ''Desde 1992, mais de 3000 prédios com mais de trinta andares foram construídos em Xangai. Sim, você leu certo: mais de 3000. É a maior concentração de arranha-céus que existe. O governo teve de conter a fúria dos incorporadores, em 2003, porque o solo da cidade estava afundando sob tanto peso(nosso grifo). Mas conter, na China, significa diminuir a velocidade de 300 para 200 quilômetros por hora. Xangai contabiliza, nestes meados de 2008, dez dos 100 edifícios mais altos do planeta. Está empatada com a rival Hong Kong''. Nada mau para pessoas como eu, fascinadas pelas megalópoles como São Paulo(onde vivo), New York e Tóquio( que só ''conheço'' das imagens dos filmes...). Esta China pujante, ultra-moderna, nos empolga. Mas não nos enganemos: trata-se de um pequeno enclave dentro de um país gigantesco, que abriga- como o Brasil- cenas da mais completa modernidade assim como inúmeras práticas medievais...A China é contraditória, bem mais que o restante do mundo...O mais interessante desta ''nova'' China que está sendo apresentada ao mundo nestas Olimpíadas é o fato de um país ainda formalmente ''comunista'' conseguir despertar bem menos desconfianças e ódio que seus antecessores russos... Não, não vamos aqui levantar suspeitas sobre imaginários planos chineses para ''conquistar o mundo'', e levar o seu ''regime socialista'' para todos os lugares...Longe disto. A China atual é, na prática, um país capitalista como todos os outros. Mais do que com sonhos de uma ''utopia socialista'', os dirigentes chineses atuais estão verdadeiramente preocupados é em ganhar dinheiro. Custe o que custar...O maior perigo neste país ,que faz a largos passos a sua transição para o capitalismo, é a permanência de antigos e arraigados hábitos mentais. Não sei onde surgiu esta frase outrora atribuída aos comunistas: ''o fim justifica os meios''. Nenhum pensador socialista jamais afirmou isto. A prática dos grupos pró-Moscou é que se encaixava perfeitamente neste ''pensamento''. O regime soviético, por exemplo, foi um dos primeiros a reconhecer- movido mais por interesses comerciais do que por outra coisa- o regime chileno do General Augusto Pinochet, após o Golpe de Estado de 1973...Os chineses, apesar de todo o gosto que tem mostrado pelo lucro, mantém vivas igualmente formas de pensar que bem se amoldam á frase acima citada( diga-se de passagem que todas as empresas ocidentais que lutam para estabelecer-se no mercado chinês a todo custo, em que pese a pirataria a céu aberto e a repressão a nações livres invadidas pela China, como o Tibete, só reforçam a impressão de que a frase ''o fim justifica os meios'' não é popular apenas entre os comunistas...). Diariamente somos informados sobre o ''caos ambiental'' derivado do grande crescimento do ''Tigre Asiático'': extrema poluição em Pequim, uma ''nuvem'' que cobre não apenas aquele país bem como uma imensa região asiática- e que é perceptível do espaço- rios poluídos e, alguns, com ameaça de secar...Além disto, a ditadura chinesa é pioneira- segnndo nos informa o número de julho da revista ''Rolling Stone- Brasil''- no uso massificado de 2 milhões de câmeras em uma única cidade, considerada a ''mais segura'' do mundo. O resultado disto é que, diante dos últimos protestos no Tibete, os policiais chineses limitavam-se a FILMAR tudo o que estava acontecendo. Depois, os principais líderes dos protestos- devidamente registrados e documentados- foram sendo presos aos poucos...A ditadura, que já controla o acesso à Internet, ameaça agora criar um sistema perfeito de repressão ''high tech'', com o auxílio de empresas ocidentais de tecnologia...A China, este país surpreendente e de mil faces, que produz bilhões de produtos baratos e de baixa qualidade que vem invadindo os mercados do mundo todo, é a mesma que, segundo os jornais, também já ocupa o primeiro lugar na exportação de bens manufaturados de alta tecnologia...À guisa de ''conclusão''- algo praticamente impossível no que se refere ao gigante chinês que desponta- afirmamos categoricamente que nenhuma dominação é boa. Porém, há níveis e níveis de dominação, umas mais ''suaves'' que as outras. Não nos enganemos: a face bela e ''sorridente'' do país oriental, mostrada neste evento espetacular que é as Olimpíadas, mal consegue mascarar o fato de que, movidos por idéias confucionistas e pragmáticas, os chineses estão literalmente ''dispostos a tudo''- como nenhum outro país em qualquer outra época- para atingir os seus propósitos... Como irmãos siameses, estamos cada vez mais misturados aos humores e sinais que vem daquela emergente nação- um espirro lá, como naquela bela estória da borboleta que ao agitar suas asas causa um tufão no outro lado do mundo- pode produzir solavancos inesperados aqui...

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Expressões...

Por costume, formalidade, ou mesmo medo de que alguém nos confronte com um direto ''discordo, isto é completamente absurdo'', costumamos utilizar, quando afirmamos algo em público, termos singelos e bem-educados como ''me parece'', ''acredito que'', ''salvo melhor juízo''. Infelizmente não somos tão precavidos no nosso próprio diálogo interior. Não afirmamos, a nós mesmos, que ''temos a impressão'' de que algo é de determinada forma. Não. Aquela pessoa é ''boba'', e ponto. Tal cidade é ''horrível'', e não admitimos ouvir opiniões contrárias. Meu time ''é o melhor'', e acabou...O maior RISCO reside justamente nestas nossas impressões de objetividade...Questionar-se, questionar as próprias idéias e certezas pré-estabelecidas, pareceria ''coisa de louco'', certo? Mas ''loucos'' não são justamente aqueles que se apegam a idéias e conceitos fixos? Justamente por isto, um outro termo apropriado para ''louco'' não seria ''maníaco''? Reflitamos...

Papel dos criadores...

O texto de Millôr Fernandes a que irei me referir foi publicado na ''Veja'' do último dia 6 de agosto, sob o título ''Elogio das Competências Restantes''. Nele, Millôr afirma textualmente que: ''O mundo não foi feito para competentes. Mesmo que apenas 'galera'. A humanidade- estatística minha tão válida quanto qualquer outra- é composta de 95% de debilóides da pátria. Sobram 5%- que podemos discutir. Você, claro, está entre esses. Que não estou aqui para perder leitores. Agora o lado otimista. Temos que admitir que uma pessoa em cada 1000( nosso grifo)nasce com qualidades de excelência e tem meios sociais de levar, desenvolver essas qualidades ao seu ótimum. Temos então no mundo 6000000 ( seis milhões)de pessoas extraordinárias por natureza, e preparadas por condições excepcionais. Fazendo coisas que nos embasbacam, nos deixam perplexos. Nas artes, nas ciências, no esporte, na mais variada das sacanagens do bem''. No fundo, sempre tive uma impressão parecida a esta do Millôr. Mas uma estatística qualquer, um número qualquer- por mais arbitrário que seja- ajuda a clarear os nossos pensamentos. Acredito que o número, aproximado, seja este mesmo, na base de 1 por mil. Pensemos nos números locais também, para aprofundar este raciocínio. Brasília tem cerca de 3 milhões de habitantes. Difícil será achar um destes gênios criadores entre os membros do atual Congresso Nacional...mas, na proporção de 1000 para cada um, dá cerca de 3000 mil criadores na Capital da República. Nos grandes centros, sentimos mais fortemente a presença de todos estes gênios. São Paulo, por exemplo, é pólo de atração para eles, exerce uma forte presença que os atrai inexoravelmente. O ''número mágico'' aqui seria de 15 mil pessoas, considerando o número de habitantes da Grande São Paulo. Não incluímos neste número bastante restrito os ''aspirantes'' a qualquer coisa. Limitemo-nos a listar alguns dos criadores de cada área: Alex Atala e Bel Coelho( Culinária), Nizan Guanaes e Washington Olivetto( Publicidade), Carlos Reichenbach( Cinema), Ignácio de Loyola Brandão, Lygia Fagundes Telles, Marcelo Rubens Paiva(Literatura), Jânio de Freitas, Marcelo Coelho, Marcelo Tas(Jornalismo), Luís Flávio Gomes(Direito). Cada uma destas áreas admitiria inúmeros outros nomes, em uma discussão infindável. Nosso único propósito é exemplificativo. Excluímos todos aqueles alunos do curso de cinema, que freqüentam as mostras da Cinemateca, com seus ares de ''futuros diretores geniais''. Excluímos estudantes de jornalismo e publicidade, que ainda não ''aconteceram''. Excluímos os alunos todos das Faculdades de Design, que escutamos habitualmente em discussões interessantes na hora do almoço. Excluímos inúmeros blogueiros que ainda não publicaram nada, ou músicos que não gravaram nenhum disco...Peguemos apenas os que estão ''maduros'', e produzindo. Este pequeno universo de criadores, em constante contato entre si, separa a humanidade de hoje do homem das cavernas. Não fossem eles- incluindo também um Ruy Castro, e um Nélson Motta(no Rio)- e seríamos ainda um povo de criadores de cabra ou plantadores de café( nada contra estas duas belas, e indispensáveis, atividades...). Queremos chegar á seguinte conclusão: na razoável proporção de 1 para 1000 estabelecida por Millôr no texto mencionado, os criadores buscam estar preferencialmente uns com os outros- por isto as grandes cidades como Rio e São Paulo atraem tanta gente em busca de um ''lugar ao sol'' em cada um destes ramos criativos- e, melhor, eles ''puxam'' e acabam influenciando grandemente todo o resto...Mesmo que dezenas de anos após, todos acabamos nos beneficiando deste contínuo fluxo criativo...Este ''grupo do bem'' tem um poder e influência muito maiores do que o seu número exíguo. Neles residem, de verdade, as maiores esperanças da humanidade em relação a dias melhores. 6 milhões de criadores nos separam da barbárie a nível mundial. Antes de pensarmos em fazer qualquer ''queixa'' diante dos nossos problemas, lembremo-nos daqueles que, mais do que problemas, estão buscando continuamente apresentar soluções para os mesmos...Criar não é uma atividade muito popular, admitimos, porque demolir coisas é muito mais fácil do que construir...

Lembranças...

O blog é assim, tal como a Internet: não tem seqüências, ''inícios'', meio ou ''fim''. Pode ser lido em qualquer ''ordem''. Do mesmo modo as coisas funcionam na cabeça de seu ''criador''. Posso falar aqui de coisas que aconteceram há 3 meses ou mais, mas que estão sendo ''pensadas'', relembradas neste instante. Uma delas eu considero o melhor filme brasileiro deste ano, que ficou meras DUAS semanas em cartaz aqui em São Paulo. Trata-se da obra ''Otávio e as Letras'', de Marcelo Masagão. Uma película decididamente ''esquisita'' e ''anti-comercial'': mostra uma capital paulista- certamente filmada nos finais de semana e em horários pouco usuais- soturna e VAZIA. E o que faz este ''Otávio'', o personagem principal? ''Otávio'' é visto comprando revistas e livros usados em sebos. Em casa, ele freneticamente recorta palavras e as cola em folhas de papel- que depois são enroladas e deixadas em lugares estratégicos pelas ruas. Estas são as ''armas'' e as ''bombas culturais''( este é o termo utilizado no filme) do nosso personagem ''Otávio''. De que ele vive não se fala. Sabemos que tem poucos recursos, já que ele pede usualmente ''descontos'' para os proprietários dos sebos e mora em um lugar muito simples, recursos estes todos utilizados nesta prosaica ''guerrilha pelo saber''. Outro personagem interessante é um motorista de táxi que dirige um velho fusquinha. No teto do carro foi colocado um mapa da Cidade de São Paulo. Enquanto dirige o seu estranho táxi, ele vai contando a história de cada uma daquelas ruas para os passageiros que, interessados, fazem algum comentário sobre o mapa no teto interior do veículo...''Otávio'' tem uma interessante vizinha que- suspeitamos, pelas viagens noturnas que ela faz de táxi- vive de ''programas''( sexuais, não televisivos...). Ela entrará na vida de ''Otávio'' em determinada hora do filme, e isto é o mais próximo que temos de uma estória ''convencional''...O que nos interessa nesta descrição toda de ''Otávio e as Letras'' é que esta obra é uma narrativa de alguém que faz o mesmo que todos os blogueiros, porém usando métodos tradicionais, ''do passado''( é triste pensar em um mundo onde livros e palavras escritas e publicadas em meios tradicionais como o papel referem-se ao ''passado'', mas esta é uma forte tendência da atualidade...). Lançar aqui e ali inofensivas ''bombas culturais'', com referência a fatos estranhos e alheios à realidade de seus receptores, é o esporte favorito de todos os que escrevem- seja de que forma for. A palavra, tanto no filme mencionado como na realidade crescentemente dominada por meios audiovisuais de grande apelo, como ato de subversão. De resistência. Assumidamente ''demodeé'', ultrapassados, lançamos aqui e ali nossas palavras ao vento, como náufragos que mandam uma mensagem dentro de uma garrafa para fora da ilha deserta onde fomos jogados...As palavras são as nossas pontes, nossas balsas, nossos foguetes e aviões, enviados mundo afora como sinais de vida, de existência. ''Penso, logo existo''. E escrevo, para lembrar-me desta existência cada vez mais fluida e ''virtual'' ,em meio a um mundo de imagens e lembranças. Nossas ''bombas'', felizmente, não tem ''inimigos'', nem ''alvos'' a destruir. Como dizer que a leitura está em ''declínio'' ,em um meio dominado pela palavra, lida e escrita? Enquanto houver alguém querendo escrever- seja de que modo for- e alguém querendo ler algo em forma de palavras, isto é sinal de que nem tudo está perdido. ''Otávio'', este ser estranho e indefinido cuja única atividade na vida é soltar aqui e ali as suas ''bombas culturais'' cuidadosamente confeccionadas durante suas leituras, é um interessante exemplo de mediador: ele envia as palavras escritas e reunidas ao ''acaso'' para seus potenciais leitores, que podem estar em qualquer lugar. Faz a junção entre o que foi escrito e criado e aqueles que possam estar, eventualmente, interessados nestas informações. ''Antiquado'', pelo meio, e ''moderno'', pelo papel que executa, ''Otávio'' é a cara desta nossa pós-modernidade extremamente veloz e ''técnica'', mas ainda indefinida. A vida não tem, para infelicidade de uns e alegria de outros entre os quais me incluo, ''Manuais de Instrução''. Nosso grande ''método'' ainda é este: ''erro'', correção, ''erro'', correção, ''acerto'', novo ''erro''...

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Vida vivida, pensada, imaginada, vista...

Enquanto somos soterrados por toneladas de informações, dados, em um carnaval contínuo e incessante de imagens, torna-se cada vez mais difícil separar o que é ''real'' ou ''imaginário''. É impressionante como este simples escriba, assim como diversas pessoas de seu meio, vai se revelando cada vez mais incapaz de distingüir entre ''realidade'' e ''ficção''. Incorporamos todos- nas nossas cotidianas referências a programas de TV, livros, filmes, comerciais- o que está ao redor, nos alimenta e se alimenta de nossas carências, o imaginário e o imaginado( por alguém). A nossa vida, hoje, é isto. É inseparável disto. Mesmo os nossos mais profundos sonhos já estão colonizados por isto. Sonhamos com atrizes da TV- interagindo com elas, beijando-as, sendo beijados e amados por elas- como se tudo isto fosse ''a mais real das realidades''. A única surpresa, aqui, é que o inconsciente reserva pequenas surpresas: a atriz que ''amamos'' nos nossos sonhos não é a mesma ''favorita'' dos nossos pensamentos cotidianos...Citamos, aqui e ali, ''personalidades'' imaginárias do ''mundo dos sonhos'' como se fossem personagens de carne-e-osso: ''Capitão Kirk'' e ''Doutor Spock'', ''Kwai Chang Kane''( da série Kung Fú, sucesso nos anos 70...), ''As Panteras'', ''Batgirl e Mulher Gato'', ''Pinguim'', ''Charada'', e por aí vai. Mesmo a mais simples peça de teatro, apesar da reação e estranheza iniciais, captura invariavelmente os nossos sonhos, faz-nos acreditar que aquele sujeito ali, ao lado de uma simples cadeira e amarrado a esta por uma corda, é o tal de ''escritor contemporâneo''; que aquelas duas mulheres, acompanhadas por uma simples mesa e duas cadeiras, além de um carrinho que transporta imaginários e deliciosos ''pratos de comida'' de um restaurante ideal, estão ali naquele palco servindo pessoas ''de verdade'' logo ali ao lado...Quem não se pegou freqüentando lugares e países aonde nunca esteve, e com toda a naturalidade? Quem não visitou outras épocas e mundos? Que ''velho'' não se vê ainda como jovem, a cortejar mulheres ideais? Que ''jovem'' não se imagina feliz e realizado, habitando uma casa especial na praia dos seus sonhos, adquirida com o suor de seu trabalho? O ''faz-de-conta'' cotidiano- transformado em modo de produção- nos engana. Sabemos disto. Somos ''enganados'' porque queremos isto, não podemos viver sem isto tudo. Cativos em nossos sonhos mais recônditos, ''explorados'' no nosso imaginário, por vezes não trocaríamos estes ''últimos dos prazeres'' por uma gota de ''realidade''...''A vida é sonho'', dizem os budistas. E hoje, entre o sonho ''real'' e o sonho ''imaginado'', é cada vez mais difícil estabelecer qualquer distinção...E quem deseja isto, de verdade?

Brasil: país de classe média(??!!!)

Este dado surpreendente foi revelado, como todos devem saber, por uma recente pesquisa da Fundação Getúlio Vargas. Segundo o critério utilizado, para ser membro da ''classe média'', no Brasil, basta auferir rendimentos entre MIL e quatro mil e quinhentos reais. Elástico este conceito, não? Mil e trezentos DÓLARES é a ''linha da pobreza'' nos Estados Unidos: abaixo disto é miséria mesmo...Na Argentina, para ser de classe média, é preciso ganhar no mínimo dois mil reais. No Brasil o critério é este, e segundo o critério da pesquisa apontada, 52% dos brasileiros já estão na classe média. Somos um país de classe média! Eu não acredito nisto, diga-se de passagem, nem as pessoas da periferia entrevistadas por alguns jornais: ''inacreditável'', ''ridículo'', ''sem pé nem cabeça'' ,foi o que ELAS disseram, espantadas...Algumas até ganhavam mais do que o valor mínimo apontado. Algo entre 2 mil e 3 mil reais. E, morando em um subúrbio distante, sem o menor apoio do Poder Público, acossadas pelo crime, sem condições de fazer coisas que são consideradas habitualmente como atividades de classe média( comer fora, ir ao shopping, freqüentar cinemas, etc.), estas pessoas se sentiram insultadas. Quem sou eu para contradizê-las? Os conceitos de classe são um pouco mais complexos do que o fator econômico. Vejamos a ''pirataria''- hoje sinônimo de indústria das cópias, falsificações. O conceito clássico de ''pirata'' referia-se a navegadores que, sem bandeiras que os ligassem a reinos ou nações, dedicavam-se a singelas atividades como assassinatos e pilhagens. Ladrões e bandidos, entenda-se, atuando em alto mar...Por mais rico que fosse, jamais um pirata ou ex-pirata poderia se igualar à nobreza, entrar no seu meio. A aristocracia, mais do que um conceito econômico, era um modo de vida, uma maneira de pensar e existir. Copiava-se os nobres e os aristocratas, uma vez que eles eram referência no que se refere a maneiras e bom gosto. Hoje, para nosso desprazer, as coisas estão muito mais misturadas. Com a proliferação de ''novos ricos'', a aristocracia- embora continue a existir- fechou-se a quatro portas. Podemos, quiçá, identificá-los em algum lugar público( shopping, restaurante cinco estrelas): eles estarão falando em viagens a Aspen, no Colorado( EUA), a Paris e a algum lugar exótico no Oriente como nós falamos em ''viagens'' para a Baixada Santista...Eles costumam freqüentar os mesmos lugares( clubes, Jockey Clube, Academias seletas), e conhecem bem uns aos outros. Embora a situação atual mais pareça um Faroeste, em que marginais de diversas espécies dedicam-se diuturnamente a uma constante caça ao ''butim'', caça ao ouro como se este fosse capaz de camuflar as suas maldades e perversidades, um Fernandinho Beira-Mar ou um Abadia- bem como diversos de nossos políticos- JAMAIS farão parte da chamada ''classe A''...Não tem cacife para isto. Não é simplesmente o dinheiro que caracteriza a nobreza: mesmo tendo seus bens expropriados pelos bolcheviques após a Revolução Russa, os nobres daquele país constituíram comunidades de refugiados no exílio europeu que se apoiavam mutuamente. Um ''Comissário do Povo'' na recém-criada União Soviética, embora vivendo nababescamente em meio aos palácios, quadros e objetos de valor confiscados, jamais conseguiu emparelhar-se ao mais empobrecido dos nobres. Exagero? De onde vem o ditado ''quem foi Rei nunca perde a majestade''? Voltemos à atualidade. Alguém pode enriquecer subitamente, pelos mais diversos meios- lícitos ou não. Esta pessoa pode até mesmo adquirir os bens, a mansão de uma antiga família de aristocratas subitamente empobrecida. Mergulhar em sua piscina. Dormir em suas camas. Sentir a maciez de seus travesseiros, enquanto fuma um charuto qualquer para dar um ''ar'' de seriedade às suas ações. Mas o que é a aristocracia? Seria apenas possuir um bocado de dinheiro? Não é simples copiar as ações e hábitos de um grupo que representa a História. Que herda não apenas os bens de seus pais- objetos que, embora valiosos, são dispensáveis, substituíveis- mas também um ''jeito de ser'' e viver. O aristocrata de hoje é filho do de ontem, e neto do que antecedeu o seu pai no mesmo meio...Talvez isto tudo soe romântico, saudosista. Vamos nos limitar, exemplificativamente, apenas ao conceito de ''classe média'', objeto deste post. Um conceito tradicionalmente fluido, indefinido. Um professor, embora mal remunerado, sempre pareceu muito mais classe média do que o motorista de uma ''van'' que se dedica ao chamado ''transporte alternativo'' nos grandes centros, ou um camelô...Ser de classe média, embora esteja ligado também à posse de um determinado nível financeiro, requer também um fator cultural. Estamos todos muito eufóricos com o retorno ao crescimento econômico consistente do Brasil, após anos de estagnação. Milhões de pessoas tornaram-se consumidoras de uma hora para outra. Felizes, as pessoas percebem que, com a inflação baixa, podem fazer compras a perder de vista. E vão enchendo suas casas de aparelhos que, em outros tempos, seriam inacessíveis aos mais pobres: televisores, computadores, geladeiras, fornos micro-ondas, máquinas de lavar roupa. Isto é muito bom. Quiçá o nosso crescimento seja ainda maior, e duradouro, a ponto de que todos os brasileiros possam fazer isto algum dia. Porém o ''nó'' de tudo isto, o ponto que nos separa não de países do chamado ''Primeiro Mundo'' mas de outros que começaram no mesmo nível em que estamos mas podem ser chamados hoje, tranqüila e inapelavelmente, de ''nações de classe média'' ( caso da Coréia do Sul) é a Educação. Sem a Educação, sem um ensino de qualidade, continuaremos a ser ''bárbaros'' bem vestidos, nutridos, mas ainda assim ''bárbaros''. As pessoas entrevistadas na periferia, que rejeitaram prontamente o fato de economicamente serem classificadas como ''classe média'', conhecem muito mais o que falta para atingirem este padrão( e modo de vida, existencial, mental)do que os institutos de pesquisa. Não nos iludamos. Ainda falta muito para nos tornarmos, como é desejável, uma nação de pessoas bem nutridas, vestidas- com residências confortáveis, seguras- com acesso à Internet, mas sobretudo, acima de tudo, LEITORAS. Capazes de ler e compreender textos, consumidoras de bons livros, peças de teatro, filmes. Que saibam, porque são bem educadas, identificar as falácias e mentiras dos políticos que elas costumavam eleger. Educação não é sinônimo de ''classe média'', ressalve-se. Ignorância não é privilégio nem exclusividade dos mais pobres. Diversas pessoas formalmente ''pobres'' tem um jeito de ser muito mais elevado do que o de vários ''ricos'' que andam circulando por aí...Educar, educar-se, educar-nos para ler e saber CONVIVER junto aos nossos semelhantes de maneira civilizada, é a principal, e ainda desprestigiada e relegada a segundo plano, tarefa de uma nação que pretende crescer, atingir os mais elevados níveis. Não nos enganemos: o Brasil , por mais que cresça economicamente, ainda está longe de atingir o padrão ''classe média'' das nações...Por que não COPIAR - já que a moda é esta atualmente no mundo da produção- o que está dando certo na Coréia do Sul e na Finlândia?

domingo, 10 de agosto de 2008

Em busca de um ''lugar ao sol'' na fervente São Paulo cultural...

''Lugar ao sol'', vocês sabem, é mera força de expressão. Chove desde quinta-feira, e a temperatura média está- no meio da tarde- em torno de 15/16 graus. Mas comprei sexta-feira um ingresso para a peça de teatro ''Literatura Contemporânea'', de Fernando Bonassi( horário de exibição: 20 h de sábado), e pretendia completar o programa assistindo o filme ''Lemon Tree'', outra estréia deste fim-de-semana. Almoço na Avanhandava, vendo a chuva cair lá fora e pessoas passando com casacos de frio é cachecóis( os mais exagerados...). Saio do restaurante quase 4 da tarde, e vou andando pela Rua Augusta até chegar á Paulista. Tenho de escolher entre os cinemas Belas Artes e Reserva Cultural. Decido pelo último, pela possibilidade de fazer um ''programa casado'' com a Fnac. Compro o ingresso, para 5 e meia, e fico fazendo hora na loja que é um misto de livraria com produtos eletrônicos. Já foi inaugurado um ''corner'' com produtos exclusivos da Apple, bastante concorrido. Olho para os Ipods todos, sonhando com mais uma queda de preço...Saio da loja com antecedência para o horário do filme, sonhando em comer algum doce no Starbucks. Chove forte. Abro meu guarda-chuva. Ao entrar no café, percebo que há uma fila imensa, e todos os lugares estão ocupados. Desisto imediatamente...Vou para o cinema sem comer nada...Para falarmos do filme ''Lemon Tree'', é preciso informar previamente que há um ''Festival do Cinema Judaico'' em cartaz, mais um fato a agitar a semana cultural paulistana. Este filme foi exibido no Festival,e agora estréia no circuito aberto. As ''amostras'' que assisti do Festival Judaico foram muito boas, e mostram uma não usual abertura de pensamento do povo hebreu: em ''O Pequeno Traidor'', baseado em romance do escritor israelense Amos Oz, um garotinho de 11 anos, ''membro da resistência'' judaica contra a presença dos soldados ingleses na Palestina, vê seus ideais colocados em cheque quando faz amizade com um soldado ''inimigo''( eis um belo filme contra o fanatismo); já o filme francês ''Má Fé'' mostra uma difícil relação entre uma judia, que espera um filho, e um filho de palestinos, ambos morando em Paris( a película traz imagens, na TV, de comunidades livres habitadas por judeus e por palestinos na Cisjordânia...). Ela revela aos pais o relacionamento, e o fato de que também espera uma criança. A mãe ''passa mal'' e deixa a mesa...Ele esconde da máe, muçulmana, o fato de estar se relacionando com uma judia...Brigam também por causa do nome do bebê, que ele deseja ser o mesmo de seu pai muçulmano radical...Eis outro filme que mostra todas as intolerâncias, e a dificuldade de junção entre ''opostos''. ''Lemon Tree'' é outro filme da Mostra. Também foi feito para comemorar o aniversário do Estado de Israel. Também foi patrocinado com verbas do Estado judaico. O que torna tudo mais estranho...A estória é sobre um Ministro da Defesa de Israel que decide morar próximo à fronteira com os palestinos. Ao lado de sua mansão, há uma plantação de limoeiros de propriedade de uma mulher palestina que herdou tudo de seu avô. Após instalar-se com todos os seus seguranças, muros, câmeras e guaritas, o Ministro percebe que a humilde plantação de limões é uma ''ameaça'' á sua segurança. Dali ''poderiam ser iniciados atentados contra a sua casa''...''Generosamente'' os judeus propõem retirar a mulher palestina dali, oferecendo uma indenização. Ela recorre a todas as vias, inclusive à ''Justiça Militar'' ( entre aspas mesmo, como se militares fossem capazes de julgar com isenção questões referentes aos civis...)israelense, sempre sem sucesso. Após chegar à última instância da Justiça Comum, sem nenhum resultado, e assessorada por um jovem advogado recém-chegado da Rússia, ela opta por entrar com um apelo na Corte Suprema de Israel...Como retaliação, os seguranças do Ministro da Defesa cercam toda a sua plantação de limões, e a impedem de continuar a cultivá-los...Ela não obedece. Continua a, sorrateiramente, ver como estão os seus cada vez mais secos limões. A briga jurídica continua, mas a briga pelo cultivo da terra parece cada vez mais difícil em meio a todo o conflito. Para ''complicar'', ela vai se envolvendo com o jovem advogado palestino- com cerca de metade da idade dela...Não vou contar o final. Apenas menciono, de passagem, a frase do advogado ao final do processo: ''finais felizes só mesmo em filmes americanos''. O filme é bastante forte, impactante. E produzido pelo Instituto de Cinema de Israel...Isto sim é cultura: cultura é saber rir de si mesmo, das suas próprias insãnias e erros. Enquanto isto, este espírito de questionamento e abertura, permanecer, a cultura judaica( saliento: não sou judeu, nem filho de judeus, sequer conheço alguém desta comunidade; assisti os filmes citados por amor à ''sétima arte...)continuará viva. Muito mais viva do que a dos vários adversários que buscaram, em vão, ''eliminá-la''...Terminado o filme eu saí às pressas rumo ao teatro. Antes uma nova passada no café norte-americano mencionado. Continua cheio, mas a fila é menor. Consigo um lugar recém-abandonado por seus ocupantes. Dá tempo de tomar um chocolate quente e comer um sanduíche de queijo, junto com uma barrinha de côco com doce de leite...Faltam 15 minutos para a peça...Ando apressadamente. São 10 minutos de caminhada até a Unidade Sesc Provisória da Avenida Paulista. Lá, a peça será exibida no décimo terceiro andar. Subimos de elevador...Por que faço tanta questão de assistir esta peça? Pelo nome- ''Literatura Contemporânea- vocês já devem ter alguma idéia...A montagem mostra, em breves porém densos 60 minutos, as agruras de um personagem que não tem nome. Refere-se a si próprio como ''escritor contemporâneo''. Em um cenário simples( uma cadeira, uma corda, uma parede em branco onde ele vai escrevendo letras a pedido da platéia, uma lata de tinta)ele desfila as suas misérias: quem sustenta a casa do ''escritor contemporâneo'' é a mulher, que tem um emprego ''de verdade''; ele, mal pago e frustrado por vender ''centenas e não milhões de suas obras'', é obrigado a fazer contorcionismos para manter sua coluna diária na imprensa. Como criar algo, se não se vive de verdade? De que é feita esta ''sua'' criação, recheada de palavras alheias de outros mais célebres escritores? Este ser ''desajustado'' anseia por uma vida ''normal'', ele que tem uma existência que poderia parecer ''invejavel'' a muitos profissionais de escritório...A peça não é fácil. Não tem ''apelo comercial''. Não tem outros atores contracenando: é um simples monólogo. Parece mais um desabafo. Atraiu para os poucos lugares do teatro uma platéia que não chega a preencher os mesmos, mas mostra uma grande simpatia pelos temas que são discutidos ali. Ainda impactado por esta encenação, desço o elevador para constatar lá embaixo, e já a bons metros de distância, que havia esquecido o meu guarda-chuva. Começa a chover, e eu procuro a próxima estação de metrô. Esta noite chuvosa, fria, alguém poderia pensar que eu poderia fazer um paralelo entre isto- esta situação habitualmente tida como ''triste''- e a dura vida de escritor da imprensa diária, ''paga''. Enganam-se. É apenas o final de mais um ''sábado cultural'': a única ''frustração''- comum a quem vive nestes lugares, e tem de escolher entre centenas de programas igualmente válidos e interessantes- é não poder ver tudo, ter tudo. Se você puder acostumar-se a esta ''frustração'', e ainda puder ''gabar-se'' perante os amigos por viver em uma cidade que possui quase 300 cinemas e cerca de 100 peças de teatro sendo exibidas( esconda o fato de que, neste dia, você ''só'' poderá assistir, na melhor das hipóteses, um ou dois filmes e uma peça...), então este será o lugar perfeito, o momento perfeito e, após passar na banca para comprar os jornais de ''amanhã''( domingo), mais um dia se encerra...

sábado, 9 de agosto de 2008

Interpretações...

Interpretar é algo que fazemos o tempo inteiro. De tal modo que, por ser uma atividade cotidiana, acaba muitas vezes passando despercebida. De nós mesmos. Choveu forte nos últimos dois dias em São Paulo. Após um mês e pouco da maior seca que esta metrópole já teve nesta época do ano, chove e faz um pouco de frio. Ontem fazia 15 graus no meio da tarde na Avenida Paulista. Marca esta que caiu para 14 no fim de tarde. Contrariadas, as pessoas botam mais uma vez todas as suas roupas de frio guardadas nos armários, sabe-se lá se conservadas com naftalina...E voltam os mesmos velhos comentários de como ''o tempo está feio, ruim''. Para mim, o tempo nunca esteve TÃO BOM! É assim que eu o interpreto. Em um plano maior, não há tempo ''bom'' ou ''ruim''. A alternância entre dias frios e quentes faz parte de qualquer ecossistema equilibrado. O perigo é justamente o fato de estarmos perdendo cada vez mais estas alternâncias...Tudo é interpretável. Mesmo o assassinato, maior dos crimes, pode ser justificável diante das circunstâncias. Assim entende o sistema juridico. Por isto, as decisões dos Tribunais são repletas de termos como este: ''por si só''. O fato y, ''por si só'', não justifica a ação x. Até poderia, dependendo do caso concreto...Voltando ao tema interpretação, um dos campos que mais dá campo a interpretações é o campo da espiritualidade. Por isto, o mundo está cheio das mais distintas e exóticas religiões. Peguemos, para exemplificar o ato de interpretação, uma expressão comum em determinada ordem religiosa familiar a nós todos. Uma frase de uma oração bem popular, o ''Pai Nosso'': ''Seja feita a Vossa Vontade''. Costuma-se proferir tal frase como se estivéssemos indo para a forca. ''Nada deu certo. Rendo-me. Seja feita a Vossa Vontade''...Profere-se estas palavras com tristeza, e um profundo fatalismo...Porém, como tudo na vida, estas simples palavrinhas comportam um mundo de interpretações. Lidamos com um Universo aparentemente misterioso. Como pode um Poder- e entendemos esta palavra em termos humanos- não interferir diante do ''mal'', ''ralhar'', ordenar, comandar, destruir os nossos ''inimigos''? A fé que temos está entrelaçada o tempo inteiro com dúvidas e questionamentos semelhantes. Utilizamos nossos termos- expressões como ''Pai'', ''Poder''- para tentar compreender coisas muito maiores, além da nossa simples compreensão. Pensamos em Deus como ''alguém'' que está em ''algum lugar'', não é? E é para este ''ser'' que dirigimos os nossos mais desesperados apelos e queixas, muitas vezes ''não ouvidos''...Afinal, um Poder comum tem Palácios, certo? Tem uma Capital, o mais das vezes luxuosa. Tem uma ''corte'', onde estão os nobres que assessoram o Rei a governar. Tem Leis que, caso não obedecidas, implicam em severas punições para os seus ''transgressores''...Um Poder, nos nossos termos, tem de mandar. Deve mostrar toda a sua força. Atemorizar seus inimigos. Pensar em um Poder não-local( está em tudo, em todos os lugares, mesmo aqui dentro de nós), que não busca comandar ou explorar, que admite ser negado ou contestado, que parece ''invisível'', que não se mostra para que todos o obedeçam, que aceita a nossa plena liberdade- até mesmo para que cometamos os piores e mais indefensáveis atos- isto tudo dá um ''nó'' em nossas mentes, certo? Aqui entram os'' Quatro Compromissos''. Um deles afirma taxativamente: ''Não acredite em si mesmo''. Louco isto, não? Precisamos calar as nossas ''vozes interiores''- a nossa ''estória pessoal'' de tristezas, insucessos, dor, sofrimento- para alcançar os nossos maiores sonhos. Não é Deus que nos impede de atingir nossas metas: somos nós próprios...Aqui, o ''seja feita a Vossa Vontade'' já começa a ganhar um novo e possível significado: ''sabemos que os Vossos Planos para as nossas vidas são muito MELHORES do que os MAIORES planos que nós possamos ter concebido algum dia. Decidimos suspender as nossas barreiras, os campos de força ( os fãs de Ficção Científica conhecem bem o conceito...)que criamos ao nosso redor, com propósitos defensivos, mas que estão neste exato momento nos impedindo de receber as inúmeras dádivas que o Senhor concebeu para nossas existências''. Aos que crêem, de verdade, como poderia a vontade Dele ser contraposta à nossa? A única ''batalha'' está em nossas mentes...Podemos escolher como nos sentimos. Certos dias, ficamos tão felizes que parece que vamos ''explodir'' de tanta alegria. Não conseguimos sequer colocar isto em palavras que os outros possam compreender. Quem nos ouviria, de fato? Quem estaria disposto a ouvir os nossos uivos de felicidade? Sentimos, nesta hora, que é preciso utilizar uma linguagem comum à de nossos semelhantes. ''Baixamos'' a nossa energia- que estava em um estado semelhante ao de quando éramos CRIANÇAS- para podermos nos comunicar melhor com nossos amigos e conhecidos. Se quisermos ''platéia'', nestas horas, temos de falar de nossa ''dor''. Ouvimos suas lamentações, suas mágoas, para replicar com as nossas. Insano, não? Os praticantes disto dizem que dá um ''alívio''...A grande dificuldade é que tentamos atingir um estado de ''Felicidade'' por meio das nossas dores e sofrimentos...O ''seja feita a Vossa Vontade'' suspende as barreiras, não as elimina( nem à nossa autonomia e liberdade). Devolve-nos ao nosso estado natural, estabelece um ponto inicial de diálogo com um Criador que é pura Alegria. Ao final deste processo, nos tornamos todos crianças novamente- brincando animadamente ao redor de nossas ''bolas'', ''carrinhos'' e ''bonecas'' ( metáforas para exemplificar os nossos desejos) pelos quais pedíamos e suplicávamos com tanta tristeza e rancor...

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Festival de Cinema Espanhol, de graça...

Foi a primeira vez que visitei o Centro Cultural da rua Vergueiro. O único ''inconveniente'' é ter de retirar os ingressos com uma hora de antecedência. De resto, o lugar é de fácil acesso, fica ao lado de uma das estações do Metrô. O programa ontem, e até o próximo domingo, era uma mostra dos filmes do cineasta espanhol Bigas Luna. De graça...Ontem assisti a película ''Son de Mar'', de 2001. É a estória de um professor de literatura que chega a uma pequena localidade espanhola. Aos poucos, usando toda a sua ''lábia literária''( citando clássicos como ''Eneida'', de Virgílio), ele conquista uma bela jovem, que também é cortejada por um rico empresário( vitória- improvável no mundo ''real''- das letras...!). Ela fica grávida, e eles planejam se casar. Compram um barco, que ela exige seja batizado com o seu nome: ''Martina''. Embora replique que ''isto dá azar'', é isto que ele prontamente faz. Um belo dia, o barco aparece partido na praia. Nenhum sinal do Professor...Anos após, a bela Martina surge casada com o mesmo empresário que a cortejava incessantemente, mesmo após o casamento com o Professor. Porém, a idílica vida de milionária é sacudida pelo retorno do Professor, que era dado como morto. Ele liga várias vezes. Diz que ''cruzou os mares do mundo todo, só para descobrir que não podia viver sem ela''. Martina se torna ''amante'' do ex-marido oficialmente ''morto''...A citação favorita dele, que ela adora, envolve serpentes que se entrecruzam em uma cena trágica. Isto está ligado ao desenlace do filme. É profético...Eis uma obra-prima de um Diretor competente, que já conhecíamos de outras películas. Saímos todos da sala em formato de estádio( 144 lugares)''lamentando'' apenas que, como tudo na vida, também esta estória deveria ter fim...Pretendo virar freqüentador ''de carteirinha'' desta sala de cinema do Centro Cultural São Paulo...

Mistérios...

Como funcionam os aviões? Se você não trabalha no setor da aviação, terá um pouco de dificuldade para explicar...E os celulares? E a Internet? E os automóveis? Lidamos, quase que o tempo todo, com coisas misteriosas, que sabemos utilizar mas cujas bases científicas nos escapam...O que seriam as religiões senão tentativas de explicar, em termos humanos, forças muito maiores que estão ao nosso redor, mas que possuem um modus operandi muito diferente? O Poder humano- como sabemos- atua por meio de ordens, comando, centralização, punição. A vingança é um sentimento bastante humano. Assim como o ciúme, e a inveja. Porém, como descrever um Poder que nos dá total liberdade para sermos como nós quisermos? Que é não-localizado, que está aqui ao nosso lado- bem como dentro de nós- assim como em todo o Universo, mas admite mesmo que o neguem, que duvidem de sua própria existência? Que não busca mandar, explorar ou dominar? Isto tudo é muito sutil. Não há ''Manuais'' que tirem todas as nossas dúvidas sobre o Poder Divino. Todos os livros, de todas as religiões, refletem mais as nossas dúvidas do que as nossas certezas sobre este tema...A maior obra do Criador não está nos livros (caso contrário deveria estar na primeira pessoa: ''Eu, Deus...'', e não na terceira, indireta)mas sim na realidade que nos circunda. A maior, e talvez única, ''prova'' de devoção que nos é exigida é sermos felizes, aproveitarmos ao máximo as nossas vidas A melhor forma de honrarmos ao ''Pai'' é tratando da melhor forma possível os seus Filhos, nossos semelhantes. O método Oho'oponoopono é algo que desperta, ainda, mais dúvidas do que certezas, Paradoxalmente, isto é bom. Ao afirmarmos- aqueles que porventura decidiram experimentar a proposta- ''eu te amo'', a quem estamos nos dirigindo neste processo de auto-cura? A nós mesmos, eis uma possibilidade. Mas por que não usamos o mais apropriado ''me''? Ao Criador, ao Universo, eis outra interpretação um pouco mais complexa, uma vez que estas figuras não se adaptam propriamente ao pronome pessoal ''te''. Mas tudo bem, admitamos ser esta uma forma de comunicação com forças maiores do que nós...Ainda há uma terceira possibilidade, que torna a coisa toda ainda mais interessante. Ao andarmos pelas ruas, como eu ando fazendo nos últimos tempos, repetindo diversas vezes ''eu te amo'', reparamos que algumas pessoas, misteriosamente, olham para trás como se aquela afirmação silenciosa, puramente mental, fosse dirigida diretamente a elas...E, melhor, por que não estaria sendo dirigida também aos outros, nossos ''espelhos''? Somos como animais, captando o tempo todo com nossas ''anteninhas'' as mais diversas informações e vibrações. O resultado disto são as nossas idéias, às vezes positivas e outras vezes nem tanto( vide ''Os quatro compromissos''...). Somos todos telepatas. Sentimos, mesmo sem ouvir a declaração diretamente da boca da outra pessoa, quando alguém gosta de nós, ou nos odeia...O amor que emitimos para o Universo, eis aonde quero chegar, ''não tem endereço certo''. Não é divisível, separável, apropriável por apenas um ser determinado- mesmo que seja a nossa pessoa...Entenderam aonde quero chegar? Ao pensarmos ''eu te amo'', estamos entrando na mesma esfera vibracional do Criador...Estamos ''pensando como Ele'', e esta é a nossa principal missão nesta vida: descobrir que somos, igualmente, Criadores, Filhos Dele( gosto muito de uma frase que li na traseira de um caminhão: ''Eu não sou o dono do mundo, mas sou filho do dono''...)Ao contrário do plano das Coisas- que nos parecem limitadas, divisíveis, escassas, ''difíceis de adquirir''- o plano do Amor, a essência do Divino, é ilimitado. O amor da simples frase ''eu te amo'' é, para a nossa surpresa, enviado para todo o Cosmo...Quando entramos de verdade neste campo, somos tomados mais por perguntas do que por certezas. As coisas parecem nos escapar, fugir ao nosso ''controle''. Nestas horas vem à mente a famosa frase de Sócrates: ''Eu sei que NADA sei''...Estamos todos aqui para aprender, algum dia...

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Blogs X Diários

Ainda consigo me surpreender com a altura das conversas em celulares, no meio da rua ou em almoços de negócio. Caso eu fosse membro de uma empresa CONCORRENTE à daqueles executivos que discutem seus assuntos internos animadamente, para que todos os demais comensais do restaurante possam ouvir de modo inconfundível, imaginem o que poderia fazer com todas aquelas informações...O avião acaba de pousar, e todos aqueles passageiros já vão sacando seus celulares de bolsos e bolsas, e dando todas os detalhes de seus próximos passos: ''me espere na rua tal'', ''me espere no lado de fora do saguão, em tal lugar'', ''te encontro no hotel x''. Falar alto ao celular, nestas horas, é, ao mesmo tempo, uma atitude desagradável para quem escuta certas conversas inconvenientes, mas também algo extremamente ingênuo, quase pueril. Em um mundo de tanta violência, em que as pessoas sentem tanto medo, o telefone celular consegue, como que por milagre, fazer com que elas dissolvam suas barreiras, assumam um comportamento meio infantil. Imaginem se há um malfeitor ao redor, poderíamos perguntar? Um executivo dá pelo celular todos os detalhes de seus próximos passos, enquanto um potencial seqüestrador ouve tudo, e passa as informações para seus comparsas do lado de fora do Aeroporto/Restaurante/Shopping? É muita paranóia da minha parte, né? Porém é algo possível, e eu não teria tanta certeza quanto estas pessoas de falar tão à vontade em lugares públicos sem ser ''interceptado'' de alguma forma...Aqui chegamos ao tema do post. A Internet é como uma destas ruas, ou saguões de Aeroporto... No mundo ''real'', físico, estamos apenas digitando algumas letrinhas em frente a uma tela qualquer. Não há contato com ninguém. A sensação é de uma absoluta ''solidão''. Diante de uma situação como esta, as escolhas parecem ser ,em diversos casos, de duas espécies( faço remissão aqui ao texto ''Não confie em quem escreve, já publicado neste blog): ou a pessoa ''exagera'', inventando uma vida pessoal que pareça ''emocionante'', repleta de ''aventuras'' de todas as espécies para quem a possa ler eventualmente( uma espécie de diário ''quente''), ou ela recorre, e isto é o mais difícil, ao que está ''dentro''. Seus pensamentos, reflexões, angústias. E isto não é, ao contrário do que possa parecer, mais ''confiável'', ''espontâneo'', ''realista''. Todo fato- intermediado pela escrita, por uma fonte que tem pensamentos próprios- tende a ser exagerado, ou minimizado. Nossas idéias interagem com o ''real'', mas também ganham vida própria. Há uma brincadeira, comum entre advogados, no sentido de que ''o papel aceita tudo''. De fato, é esta sensação que temos ao percorrer qualquer Livraria ou Biblioteca. Ali estão dispostas todas as formas de pensamento, ali estão expostos os mais variados relatos sobre existências as mais variadas possíveis. E, assim como na nobre profissão da Advocacia, é o CHOQUE, A COMPARAÇÃO entre todos estes inúmeros relatos que pode, eventualmente, produzir uma ''verdade final'', ainda assim provisória e relativa. Diários, pela sua própria natureza, pretendem ser realistas, pretendem relatar fatos e situações reais, na visão de seus autores. Os blogs, na minha visão, tendem, ao contrário, mais ao subjetivo, ao interior. Podem até descrever fatos, situações, notícias. Mas o blog é, por sua natureza, assumidamente tendencioso, subjetivo. Blogueiros não são repórteres, por mais que queiram...Ou talvez até sejam, mas ''jornalistas'' de uma outra espécie: narram o que está dentro, relatam suas paixões e amores( sexuais, futebolísticos, regionalistas, culinários,etc.), defendem suas ''posições''( Don Miguel Ruiz alerta-nos, em contrapartida, para a necessidade de não acreditarmos sequer em nós mesmos, e em todo o ''lixo'' que acumulamos por toda uma existência na forma de ''nossos'' pensamentos mais arraigados...). Blogueiros não tem nenhuma obrigação de ser ''realistas'', ''fiéis à realidade'', ''razoáveis''. ''O papel''( assim como a tela de computador)''aceita qualquer coisa'': quem escolhe o que fará com tudo isto é você, leitor e ''juiz'' final...PS: Fazer um ''diário'' seria ,para mim, como conversar alto ao celular, expondo todas as irrelevâncias do meu dia-a-dia. Porém, nos saguões abertos dos Aeroportos, Restaurantes, Shoppings e da Internet, já há ''ruído'' demais neste sentido...

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Voltando aos ''Quatro Compromissos''

Acaba de ser publicado mais um livrinho da série ''Filosofia Tolteca'', de Don Miguel Ruiz. O título é ''O domínio do amor''. Destaco aqui um trecho em que ele sintetiza ainda mais suas idéias, resumindo-as a 3 simples recomendações. Ei-las: ''Quase tudo neste mundo de ilusão é mentira. É por isto que peço aos meus discípulos que sigam três regras que lhes permitirão descobrir o que é verdadeiro. A primeira é: Não acreditem em mim. Ninguém tem de acreditar em mim, mas, sim, pensar e fazer suas próprias escolhas. Que as pessoas acreditem no que quiserem acreditar, baseadas no que eu digo, mas apenas se acharem que minhas palavras fazem sentido, que as deixam felizes. Se o que eu digo ajuda-as a despertar, elas que escolham acreditar. Sou responsável pelo que digo, mas não pelo que os outros entendem. Cada um de nós vive num sonho completamente diferente. O que eu digo, mesmo que seja absolutamente verdadeiro para mim, pode não ser para as outras pessoas. A segunda regra é mais difícil: Não acreditem em si mesmos. Não acreditem em todas as mentiras que contam a si mesmos, porque foram programados para acreditar nelas, não tiveram opção. Não acreditem em si mesmos quando dizem que não são bastante bons, fortes ou inteligentes. Não acreditem nas próprias limitações. Não acreditem que não merecem a felicidade ou o amor. Não acreditem que não são bonitos. Não acreditem em nada que os faça sofrer. Não acreditem em seus próprios dramas. Não acreditem no juiz ou na vítima que existem em você. Não acreditem naquela voz íntima que diz que vocês são estúpidos demais, que seria melhor suicidarem-se. Não acreditem, porque não é verdade. Abram os olhos, o coração, os ouvidos( nosso grifo). Quando ouvirem o que o coração diz, indicando-lhes o caminho para a felicidade, façam sua escolha e permaneçam fiéis a ela. Mas não acreditem em si mesmos, só porque dizem que têm de acreditar, pois mais de oitenta por cento das coisas em que acreditam são mentiras( nosso grifo). De fato, a segunda regra, que diz para não acreditarem em si mesmos, é muito difícil de seguir. E esta é a regra número três: Não acreditem em ninguém. Não acreditem nas outras pessoas, porque estas mentem o tempo todo. Quando vocês não tiverem mais feridas emocionais, quando não tiverem mais necessidade de acreditar nos outros só para serem aceitos, verão tudo com mais clareza. Verão se algo é preto ou branco, ou não. O que é certo agora talvez não seja mais dentro de alguns momentos. O que agora não é certo, pode ser daqui a alguns instantes. Tudo muda rapidamente, mas vocês terão consciência disto, verão a mudança. Não acreditem nos outros, porque eles usarão essa sua estúpida credibilidade para manipular suas mentes(...)Não acreditem nestas histórias mitológicas. Criamos nosso próprio sonho de céu, ninguém pode criá-los por nós. Nada, a não ser o bom senso, nos levará à felicidade, nossa própria criação. A regra de número três é difícil, porque temos necessidade de acreditar em outras pessoas. Não acreditem em ninguém(páginas 129/130 do livro ''O Domínio do Amor'', de Don Miguel Ruiz, Editora Best Seller). Perdoem o longo trecho selecionado, mas acreditamos que a síntese das idéias deste original escritor pode ser encontrada neste trecho da obra. Eis um livro para ler e reler, e seu impacto inicial não é diminuído nestas releituras...Ele só aumenta...É com este espírito, influenciados pelas recomendações de Don Ruiz, que desejo que vocês leiam qualquer texto deste blog. Caso a idéia seja boa, usem-na sem o menor pudor. Apliquem-na, se for bom para vocês. Mas não acredite em ninguém, a priori, e vejam com maior atenção várias das SUAS idéias. O que será verdadeiramente ''seu'' no que você pensa? Serão as ''suas'' próprias idéias boas ou maléficas para o seu crescimento pessoal? Quando a coisa começa dentro da gente, quando começamos a fazer este tipo de indagação, é dolorido, não? É como uma cirurgia, de onde pode se originar , quiçá, alguma espécie de ''cura'' e regeneração. Não apenas nossa, mas planetária...

terça-feira, 5 de agosto de 2008

A estranha ''tranqüilidade'' de São Paulo

Não foram poucos os alertas e piadinhas quando eu anunciei que iria morar na Capital Paulista. Afinal, é o que mostram estatísticas e noticiário, a cidade é um dos centros mais violentos do país. O PCC surgiu aqui, e há pouco mais de um ano praticou ATENTADOS que chegaram inclusive a esvaziar as ruas da cidade mais agitada do Brasil em uma noite...No entanto, como tudo em São Paulo, a criminalidade daqui não age âs abertas. Parece quase invisível. Explico-me. Enquanto no Rio os criminosos costumam agir de modo espetacular, de dia e de noite, fechando túneis e vias públicas, com grande estardalhaço, aqui o crime age como formiguinha. Não presenciei- e nem pretendo, diga-se de passagem- nenhuma cena violenta em todos os meus anos como fiel visitante( desde 1982)e nem nos quase 2 anos como morador. O noticiário já registrou: assalto a banco na Avenida Ibirapuera( onde já estive diversas vezes)deixa menina tetraplégica, sujeito saca dinheiro em agência bancária na Avenida Paulista( perto de onde moro e onde passo todos os dias)e é seguido por marginais e baleado em estação do metrô, troca de tiros perto da Praça da Sé( onde vou pelo menos uma vez por semana como freqüentador de uma livraria jurídica das imediações), ''arrastões'' cotidianos em prédios de luxo, assalto a um ''flat'' nas imediações da Avenida Paulista leva à morte de um dos criminosos e a um cerco com mais de 20 viaturas da Polícia que interditaram prontamente todo um quarteirão, seqüestros relâmpago, etc. etc. etc. Talvez influenciados por todo este clima de medo e violência, quando fazem seus programas externos os paulistanos costumam preferir lugares fechados como cavernas: bares e restaurantes tem mesinhas na calçada, prontamente dispensadas pela maior parte dos fregueses...E dentro, mesmo com áreas mais arejadas junto a janelas, o pessoal costuma sentar nos lugares mais distantes, e de costas para a rua...Talvez, mais do que por medo, seja este um costume tipicamente cultural desta localidade. Afinal, em pleno Rio de Janeiro, os cariocas dão grande importância à construção de belas varandas, onde possam ver todos e ser vistos, em um nível pouco acima do da rua. Este é o modelo, que aprecio, em Ipanema e Leblon. Em plena ''zona de guerra'', as pessoas tomam o seu café da manhã de domingo em belos e abertos cafés e padarias, com mesinhas por toda a calçada...Talvez todas estas pequenas diferenças sejam causadas mesmo por fatores culturais: o carioca é extrovertido, piadista, bem-humorado, bom de prosa, paquerador. Já o paulistano é mais fechado, meio ''antipático'' em um primeiro contato, ''reclamão'', prefere cores escuras e discretas, e aprecia lugares fechados e ''seguros''. O próprio teatro reflete estas diferenças apontadas: o teatro ''mainstream'' do Rio de Janeiro abusa de piadas e alusões ao sexo( claro que toda regra tem exceção...), enquanto peças de teatro em São Paulo tendem à seriedade,melancolia e tristeza ( com as exceções ''engraçadinhas'' de sempre...). O paulistano é ''low profile'' por natureza. Por fatores culturais ou por simples estratégia de defesa, ele camufla suas mazelas e é capaz de passar incólume pelas maiores desgraças. Vejam os poluídos rios Tietê e Pinheiros. Apartamentos, prédios comerciais e shoppings de luxo são construídos nas margens de dois rios que são verdadeiras ''latrinas a céu aberto''. Imagino que os felizes proprietários não possam se dar ao prazer- como eu faria se estivesse no lugar deles- de deitar-se em confortáveis redes instaladas em suas varandas. O cheiro infernal não deixaria...As duas ''latrinas'' estão para a cidade como estariam dois banheiros fedidos em uma bela residência. Você convida seus amigos, e eles entram naquela bela casa: com ''home theater'', TV de Plasma último tipo, obras de arte instaladas nas paredes, ''carrão'' importado na garagem mas, pasmem, ao entrarmos nos chiques sanitários- no qual empregou-se os materiais mais caros e luxuosos- sentimos um ''fedor dos diabos''...Esta é a espantosa ''tranqüilidade'' de São Paulo: ergue-se o shopping mais luxuoso do país, ao lado de uma favela...Percorre-se de carro aquelas enormes avenidas instaladas na margem dos dois rios, repletas de prédios belos e ''chiques'', enquanto sentimos um fedor danado...Passeamos por um bairro arborizado e ''tranqüilo'' onde certamente boa parte dos prédios já foi assaltada...São Paulo é beleza e medo juntos, não dá para separar uma coisa da outra. Certamente não esgotaremos o tema nesta breve crônica. Esta é uma megalópole que requer tratados sociológicos para melhor compreendê-la. Gostamos daqui, e não sentimos medo. Talvez sejamos como todos aqueles exploradores que gostam de escalar o Everest, por mais perigoso que seja. Quanto maior o risco, maior será a recompensa( não apenas no sentido monetário da coisa). Enquanto digitamos estas linhas helicópteros e aviões circulam sobre nossas cabeças, o metrô transporta cerca de 3 milhões de passageiros por dia, 6 milhões de veículos trafegam pelas nossas ruas, e até este momento não foi registrado nenhum acidente no dia de hoje. Isto é São Paulo: um misto de medo, e esperança...

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

In and Out( Para dentro e para fora)

Manhã de um domingo chuvoso. Após 47 dias sem cair o menor pingo, São Paulo volta ao normal. Em um dia como estes, nada melhor do que ir para um ambiente fechado. A rede francesa de ''livrarias''(?!)parece ser um programa ideal. Escolho ir para a loja de Pinheiros, com 5 andares. Um apenas com CD's e DVD's. Outro com produtos de informática e revistas, além de um belo café. Outro com TV's. E(ufa!)livros no TERCEIRO ANDAR...Mas aconteceu algo interessante e exemplificativo do que direi neste post, e isto ocorreu no andar das TV's: com todos aqueles aparelhos último tipo e ''home theaters'' instalados no andar, além de tentadores sofás em cantos estratégicos, é natural que os clientes se sintam motivados a utilizá-los. Não achei lugar em um dos sofás, mas fui ''fisgado'' pelas imagens que passavam em um dos aparelhos. Enquanto quase todos os outros mostravam filmes de ação- como ''Missão Impossível''- este, singelamente, exibia imagens com duas belas jovens. Nestas, às vezes com incríveis ''closes'' , elas iam de um ambiente a outro- na praia, em um campo de golfe, em uma mansão, no deserto. Eu, devidamente ''fisgado'' e ''embasbacado'', ia junto. Só ao fim daquela ''sessão non-sense'' comecei a refletir sobre o poder das imagens. Uma simples projeção havia feito com que eu, com o propósito inicial de ver exclusivamente livros, passasse cerca de 10 minutos vendo um ''filme'' sem o menor sentido...Ao final de cada ''cena'', aparecia a propaganda da marca de TV's. Eu não sabia na hora, mas era um pequeno ''gancho'' para que pudéssemos sair. Porém, nâo utilizei adequadamente a oportunidade que eles me deram de ''fugir'' dali...A qualidade das imagens- o corpo das modelos, suas faces, as praias paradisíacas mostradas, o campo de golfe, as mansões- era tudo MAIS BELO DO QUE NA REALIDADE...Lamento ''mundo real'', mas desta vez você perdeu! Aquela loja, aquele verdadeiro ''mercado persa'' que vende de tudo, e concilia coisas aparentemente inconciliáveis( por isto ela não è, de longe, a minha LIVRARIA predileta)apareceu, naquele momento, como um pequeno retrato da realidade maior que estamos vivendo a nível global. Há uma realidade ''externa'' aparentemente caótica e ''perigosa'', refletida em todos os noticiários. Este lado externo também se reflete na busca por dinheiro, fama e beleza, os ''alimentos espirituais'' de uma multidão ao redor do Planeta Terra. A onipresente imagem se tornou quantificável. Peguemos as modelos, e certas ''atrizes'': ''do que você vive?'', perguntariam. ''Eu vivo da minha imagem'', elas responderiam ou deveriam responder. ''Meu 'capital' é minha imagem. Eu vendo a minha imagem''. A imagem, nesta altura do campeonato, aparece como um fator de capital tão importante quanto fábricas e imóveis. Há toda uma INDÚSTRIA da imagem, deste ''mundinho'' das chamadas ''celebridades''. E isto é bastante rentável...Claro que isto aumenta a ansiedade dos demais, que não se enquadram nos chamados ''padrões'' estabelecidos pela ''indústria das imagens''. Mas mesmo isto, inclusive esta ansiedade por não estar dentro do que é convencionalmente chamado de ''belo'', acaba gerando um novo sub-produto, igualmente rentável: o mundo das cirurgias plásticas...Sintetizando todo este lado ''exterior'', diríamos que é uma incessante corrida para aperfeiçoar, melhorar o que está do lado de fora. Mesmo que o ser humano sempre tenha se caracterizado pela vaidade, que o digam os gregos antigos, poderíamos afirmar sem a menor sombra de dúvida que este ''frenesi'', esta ânsia por ser ou parecer belo e jovem, já atinge níveis inéditos. De ''solução'' começa a passar a problema- problema mental...Mas o mundo exterior não é só movido pelo estético. Também somos bombardeados diariamente por inúmeros ''gadjets'': é o celular ''último tipo'', Ipod, TV( o que prevalecerá? LCD ou Plasma?), DVD( já não está ''ultrapassado''?). Os lugares públicos transformaram-se, de lugares de interação que deveriam ser, em locais de bastante ruído- e exibição de ''aparelhinhos'' de todos os tipos...Com quem se ''comunicam''- por meio de seus laptops e celulares- estas pessoas, ao mesmo tempo em que fazem questão de ignorar todo o resto ao redor? Como conheceram estes seres com quem falam? Certamente deve ter sido em outra época, antes do surgimento de todos estes aparelhos ''de comunicação''...Embora o ''ruído'' de todos os nossos sonhos, pensamentos e emoções- canalizados pela indústria da comunicação de massa- seja enorme, ele não ocupa tudo. Em contrapartida- incrivelmente capitaneada por uma Internet que também é o terreno perfeito para a venda de produtos de todas as categorias e a propagação de estórias fantásticas e aterrorizadoras, assim como para a exibição dos ''egos'' de seus usuários ( ''pecado'' do qual não excluímos inclusive este humilde ''escriba'')e a disseminação de fofocas sobre o mundinho das chamadas ''celebridades''- são estes mesmos meios, é a mesma Internet, que também possibilitam uma incrível ''viagem'' voltada para dentro. Nas minhas séries favoritas de ficção científica dos anos 60- ''Túnel do Tempo'', ''Terra dos Gigantes'', ''Perdidos no Espaço'', ''Além da Imaginação'', ''Jornada nas Estrelas''- buscava-se mostrar um ''futuro'' onde o homem se transformaria em um colonizador do infinito e distante espaço sideral. Mais de 40 anos após, estamos muito longe disto. No entanto, e este lado é o melhor de tudo o que está acontecendo, viajamos cada vez mais para ''dentro'' de nosso Planeta Terra. Integramos cada vez mais tudo o que está acontecendo, vertigiosamente. Para o bem e para o mal, nunca estivemos tão ''juntos''. Estamos, cada vez mais, nos preparando para transformações que atingirão o planeta como um todo, e esperamos que sejam mudanças positivas...A Internet é o mundo ''paralelo'', onde participamos todos de uma espécie de ''baile de máscaras'': é o sujeito forte e ''machão'' que pode entrar em um chat identificando-se como uma garota, é o ''nerd'' feio e cheio de espinhas que navega por aqui como um peixe dentro d'água, é a adolescente gorda e tímida que- em um site de namoros- posta uma foto de uma modelo loira, magra e alta como se fosse ela mesma, é o sujeito que aqui ''brinca de escritor'', descrevendo um mundo ''real'' no qual ele se sente, às vezes, pouco à vontade...A Internet é uma possante ferramenta para que conheçamos o nosso lado de dentro. Ela age como um antídoto para todas estas ''exibições'' no plano externo descritas anteriormente neste post. É, como todas as ''vacinas'', um misto de vírus e remédio...Tem efeitos colaterais: pode viciar e até mesmo matar...Após todos estes discursos psicanalíticos e de auto-ajuda que se disseminaram após a revolta dos anos 60, estamos todos cientes da importância dos nossos egos. Inflam os nossos egos, para vender-nos todas as espécies de produtos. Fala-se muito do ''eu'': ''eu isto'', ''eu aquilo'', ''isto ME feriu'', ''isto não ME serve''. Vivemos, aparentemente, em um mundo de ''EGO-istas'', um mundo a serviço do ''eu''. No entanto, todos estes anos de discurso a favor de um ego ferido ainda não serviram para curarmos os nossos próprios ''eus''. O mundo virou, em certos momentos, um campo de batalha em que cada ego busca triunfar sobre os demais. Buscamos ainda um distante ponto de equilíbrio. O nosso ''eu ferido'' precisa, por instantes, de um pouco de silêncio, para que possamos- no meio de toda esta vertigem de tempos acelerados- tomar um pouco de fôlego. Um EU- continuemos sim na busca deste eu ideal- necessita demarcar o próprio terreno. Construir o próprio espaço. Ter o seu próprio ''condomínio'' no plano mental, o seu ''castelo'' onde ele possa por instantes olhar para si mesmo e descobrir-se. Mas nenhum ego feliz, independente e auto-realizado pode ser construído longe dos demais. Os ''outros''não são apenas o ''inferno'' vislumbrado por Sartre em sua famosa frase( ''O inferno são os outros''). Os ''outros''- estas ''estranhas'' e ''indecifráveis'' frações de nós mesmos- nos atemorizam mas também nos fascinam. Nenhum triunfo, nenhuma conquista verdadeira- seja no plano interno ou no plano externo- será completa sem que tenhamos, ao menos, uma ''platéia'' para assistì-la. De nada serviria sermos- mesmo que com mansões, carros último tipo, TV's LCD ou Plasma- como no filme ''A lenda'', os últimos habitantes do Planeta Terra...Atônitos em meio ao ''caos'' da atualidade, em seus múltiplos aspectos, ainda assim creio que estamos avançando...Dois passos à frente, um para trás, mesmo assim continuamos avançando, trôpegos e inseguros como ''bebês cósmicos'' que somos...

domingo, 3 de agosto de 2008

Novo Templo do Consumo em São Paulo...

Atenção: se você ficou mais à vontade com o post sobre a 25 de março, e prefere ler sobre passeios à pé ou nos ônibus de Curitiba, talvez seja melhor pular este texto. Falarei aqui sobre o mais novo Templo de Consumo paulistano: o shopping Cidade Jardim...Esta não a primeira visita que fiz a este shopping. Logo após a inauguração- no final de maio- não contive a curiosidade e estive lá para dar uma ''espiadinha''. A primeira impressão, em meio ao esperado engarrafamento de ''carrões'' de luxo e de pessoas com aparência chique e ''esnobe'' nos seus corredores circulando com ''narizes empinados'', não foi das melhores. Ao contrário dos demais shoppings, este não tem uma praça de alimentação exclusiva. Cafés e lojas estão dispostas ao longo dos corredores, com poucas mesinhas à frente. Uma loja tinha apenas 3 mesas, todas devidamente ocupadas e cobiçadas por uma multidão de passantes...Fazia frio e, como o shopping é aberto- dispondo de uma bela área verde bem no meio, com vista para o céu da capital paulista- a sensação térmica era desagradável. Muitas pessoas reclamavam do ''gelo''. Este é até um ponto positivo deste centro comercial: enquanto os demais não passam de caixotes fechados, com muita luz artificial, que buscam ''tirar'' de seus clientes a noção do mundo exterior- a ponto de perdermos a noção das horas enquanto caminhamos por seus corredores- o shopping Cidade Jardim é repleto de luz natural. Enfim, após uma breve caminhada- e constatando, desanimados, que a livraria ainda não havia sido inaugurada, os cinemas idem, e não havia sequer um café onde instalar-nos, a primeira impressão não podia mesmo ser das melhores. Ontem, mês e meio após a inauguração, decidi ir novamente ao mesmo shopping. As coisas, agora, pareciam ter voltado ao ''normal''. Sem engarrafamentos e filas extensas na entrada. Corredores semi-vazios. Lojistas ''na espera'', loucos para que alguém entre em seus estabelecimentos. Cafés, sorveterias e a loja Baked Potato( onipresente em quase todos os demais shoppings, aqui batizou-se de ''butique'')agora tem MAIS mesas e cadeiras para nos instalarmos. O shopping, claro, foi feito para abrigar lojas exclusivíssimas como Chanel, Daslu, Sony, Lacoste. No entanto, o mix trouxe algumas outras bem mais comuns, em versão reestilizada. É assim que a barateira Zara também está presente. Assim como a Centauro. A Lanchonete da Cidade ganhou uma versão ''classe A'', com balcões e mesas com vista para a Marginal Pinheiros. No andar dos cinemas pode-se também ter uma bela vista para a cidade. Porém, como os paulistanos não apreciam muito vistas e ambientes abertos, o restaurante do grupo Fasano, sem vista alguma, fica no térreo...E só podemos observar , no andar em que há um jardim a céu aberto, o que está fora lutando para elevar os olhos acima de uma murada de concreto, com plantas na frente, que dificulta toda esta atividade...Há apenas um pequeno trecho com vidro na frente, que deveria ser o padrão...No jardim interno do shopping há uma bela área com chão de pedras e cadeiras para nos esparramarmos. Tudo ao som, caso possamos escutar, das fontes de água espalhadas no interior do Cidade Jardim. Mas o MELHOR de tudo, o que já justifica este retorno a um lugar que não seria normalmente de nossas preferências, longe de tudo e SEM ACESSO PARA PEDESTRES, é que a sucursal da Livraria da Vila já foi aberta... Ainda tem um forte cheiro de tinta, e o café só será inaugurado no final do mês de agosto, mas é uma megastore. Uma das âncoras do shopping, talvez o grande motivo para retornarmos ali algum dia...Espaçosa, com dois andares, confortável- podemos sentar em algum dos sofás para espiar uns livros. E a bela loja ainda tem vista para fora, para o rio Pinheiros. A Livraria ''da Vila''( Vila Madalena, onde está instalada a sua matriz)ganha mais uma filial, transformando-se em mais um dos gigantes do meio literário- como Cultura, Fnac, Martins Fontes, Saraiva- que se digladiam neste disputado mercado paulistano. Da livraria, enquanto mal consigo suportar o forte cheiro de tinta, ''escapo'' para um dos cafés instalados no andar de baixo. Bebo uma água com gás, com café e uns doces, enquanto espio as pessoas que circulam pelo Cidade Jardim. Algumas (belas) mulheres usam calças justíssimas, talvez adquiridas em uma Diesel ( que não está aqui)da vida...Passei cerca de 3 horas ao todo no shopping, até pouco se comparado ao tempo que ficamos nos demais. O ''culto ao novo'', bem popular no mundo e em especial nesta cidade, tem um efeito colateral severo: dois meses após a sua instalação transformaram o mais recente shopping- feito para ser um estabelecimento ''AAA'' em comparação com o tradicional Iguatemi, até então o estabelecimento mais luxuoso de São Paulo- em algo já familiar, ''assimilado''. O ''show de novidades'' deve continuar. Enfastiados, os milionários- público alvo do Cidade Jardim- ou ainda estão esquiando em Aspen, Bariloche, ou curtindo os últimos dias de inverno em Campos do Jordão. Enquanto isto, os corredores do ''seu'' shopping estão cada vez mais vazios...E comerciantes reclamam, como nas duas reportagens sobre o shopping Cidade Jardim na Folha de São Paulo de hoje, que pessoas menos abonadas estariam se ''misturando'' ao público, vejam só que ''pecado''! Devem ter percebido, apesar de todo o capricho que dei à indumentária para poder circular livremente neste ambiente, a nossa presença...

sábado, 2 de agosto de 2008

''A Reserva''

É sexta à noite, e eu decido ir ao teatro. Assistirei ''A Reserva'', peça com Irene Ravache. Como o espetáculo só iniciará às 21 horas e 30 minutos, temos de fazer aquele típico ''programa casado'' para passar o tempo. Comer, e depois pegar o metrô para chegar ao Teatro Cosipa- quase no final da linha sul do metrô( estação Conceição). A peça- claro, com este título- é sobre uma dona de restaurante. De início, quando percebi que eram só 3 atores e mais um cenário meio ''pobre'', além do fato de a funcionária do restaurante fazer o tipo ''empregada engraçadinha'' dos programas de TV, pensei: eu vou ODIAR esta peça. Impressão equivocada. Não é uma comédia, embora tenha elementos cômicos. O espetáculo gira em torno do velho e insolúvel dilema entre ''criar por amor ao que se faz'', correndo o risco de ver a sua obra ignorada, ou ''fazer algo esperando um retorno comercial''. A mãe, papel de Irene Ravache, é dona de um, inicialmente, concorrido restaurante. É surpreendida pela ''debandada'' do filho, que opta por estudar cinema no Canadá...Lá o filho é seduzido, em primeiro lugar, pela lucratividade do ramo da propaganda. Larga o cinema. Casa-se com a filha do diretor de uma firma que produz comerciais...Enquanto isto, a mãe permanece com o velho restaurante. Em uma viagem do filho ao Brasil, a mãe descobre- para sua surpresa- que a nora também é chef. E, para seu horror, uma chef daquelas que preparam pratos de comida de ''vanguarda'', seguindo a linha dos espanhóis. Aqueles pratos de ''comida molecular'', com pouca comida e muitos elementos de impacto visual- como espuma, etc. ''Os meus netinhos estão esqueléticos'', ela comenta. ''Também, comendo aquele tipo de comida...''. Porém, é a nora que faz um imenso sucesso com sua comida de vanguarda. Enquanto o restaurante da mãe, fiel aos seus princípios, vê debandarem boa parte dos clientes, ela é informada que a nora vai abrir o TERCEIRO restaurante de sua rede...A mãe luta por manter seu estabelecimento aberto, ante tantos contratempos, enquanto o filho vê, surpreso, um jovem talentoso recusar uma oferta milionária para trabalhar em sua produtora para...dirigir filmes...o grande amor de sua vida, aquilo que ele havia recusado em nome do dinheiro...Não há um ''final feliz'', para nenhum dos dois lados. Optar pelo ''sucesso'', pelo que é rentável, deixa um vazio. A criação exclusivamente por amor, no caso da mãe, acaba soçobrando pelo cancelamento de uma reserva feita no dia das mães pelos últimos clientes...Porém, é a fala da mãe que ''vale'' por todo este espetáculo teatral, que rejeitáramos inicialmente: ela fala da dor de todo criador- seja ou não do ramo de culinária- a dor de criar e ser, eventualmente, ignorado por todos. Um escritor não lido, um músico não escutado, um restaurante que, em meio aos milhares de estabelecimentos semelhantes em um grande centro como São Paulo, não é freqüentado por ninguém...Podemos soçobrar em meio à dor. Quando ela é maior do que o prazer de criar, o resultado é que cedemos ao fracasso. Mas nem tudo é dor: aquele mesmo jovem que havia recusado a proposta milionária da produtora de comerciais, em nome de seu amor ao cinema, torna-se um diretor bem sucedido...Fazer o que se ama não é garantia de nada na vida. Pode-se ser, ou não, ''bem-sucedido''( do ponto de vista vulgar, exclusivamente monetário) nesta árdua empreitada. O grande critério do sucesso, no ramo da criação, é o empreendimento em si. É o amor que se sente ao lançar o seu ''filho''( um artigo, um livro, uma peça de teatro, um filme, um prato de comida muito especial, o projeto de um edifício, etc.) para o mundo. Criar é uma forma muito interessante de junção com o CRIADOR MAIOR de todas as coisas, que está por trás de todos os nossos empreendimentos. Quando sentimos aquele ''arrepio'' por criar algo muito além de nossas próprias forças, algo que só poderia provir Dele, já estamos neste momento devidamente ''pagos''. O resto é lucro...PS: A peça me surpreendeu lançando todas estas questões, após um início meio vulgar. É um espetáculo interessante, que vale a pena. Uma criação que, para nossa alegria, felizmente veio à tona, realizou-se, concretizou-se, contrariando o maior medo de todos os criadores...

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Ranking do Blog

Graças aos dois pequenos marcadores inseridos no blog, é possível obter dados como, por exemplo, quais são os textos mais acessados e em quantos países e cidades o site já está sendo acessado. Nada que invada a intimidade de seus leitores. São apenas motivadores para o seu criador. Quero, aqui, dividir estas informações com vocês, em especial com aquelas pessoas que podem ter, neste momento, um primeiro contato com o blog. Os 5 textos mais acessados são: 1- ''Método Oho'oponoopono''( 13 acessos ); 2- ''Céu ou Inferno: do amor divino e do humano''( 10 acessos); 3- ''O Grande e o Pequeno''(9 acessos); 4- ''Homenagem aos Lugares Frios''(8 acessos); 5- ''Primeira Vez em Campos do Jordão''(7 acessos). Os marcadores de acessos, que já indicam um número maior que 500, não devem iludir. Eles marcam os meus acessos também. Logo, vamos dar um desconto. São 203 textos até agora, sem contar aquelas vezes em que dou apenas uma ''espiadinha'' no blog para ver como estão as coisas...Mesmo assim, dados os devidos descontos, é possível notar que esta página assume cada vez mais um caráter ''internacional''. É estranho, embora confortador ao mesmo tempo, constatar que uma página escrita exclusivamente em português e sem muitas imagens tem o seu maior número de leitores nos Estados Unidos...O mapa de acessos fornecido pelo stat.counter aponta já( desconte-se o fato de que um único acesso por 5 segundos já conta como tal...)leitores do blog em 7 cidades norte-americanas...Uma saudação especial a vocês. Fico imaginando quem podem ser: brasileiros residindo nos Estados Unidos, estudantes americanos de língua portuguesa, curiosos, etc. Em segundo lugar, lógico, vem o Brasil. Aqui, o mapinha indica que o blog está sendo lido em 5 diferentes cidades( Rio. São Paulo, Curitiba, Belo Horizonte, Brasília). Na Europa, já fomos acessados em Portugal, na Espanha e na Alemanha. Antes que vocês pensem: ''mal começou a escrever, e o cara já começa se auto-bajular'', quero única e exclusivamente ressaltar que a função deste post é mostrar que não estamos sós. Mesmo que o blog não se caracterize pela presença de inúmeros comentaristas, que as pessoas prefiram permanecer em silêncio, é possível captar as suas preferências, saber do que elas mais gostam. Sinto-me grato por poder atender às suas expectativas, mesmo que por alguns momentos. O blog continua sendo o que é: um ''diário de idéias/ pensamentos''. Foi feito para agradar, em primeiro lugar, a mim mesmo. Que vocês, ao seu modo, também se identifiquem com algumas destas idéias é prazeroso. Sintam-se bem-vindos. Todo ''escritor'' produz visando um ''leitor ideal'', que irá compreendê-lo. A UNIÃO entre autor e receptor é algo não-físico. Pertence ao plano das idéias, e transcende os limitados conceitos de espaço e tempo. NESTE PLANO IDEAL, NÃO-FÍSICO, ESTAMOS TODOS UNIDOS NESTE EXATO MOMENTO. O blog foi o instrumento que possibilitou esta nossa junção. Saúdo a todos, com um fraterno e caloroso abraço. Alcnol.

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Efeitos da ''Lei Seca''

O mais evidente deles é a queda de 63% no número de acidentados no trânsito. Mesmo aqueles que manifestam certa oposição a mais esta intervenção estatal na vida do cidadão- como o colunista da Folha de São Paulo Marcelo Coelho, no artigo de ontem- não deixam de louvar estes efeitos...E acabam por apoiar a nova lei. Nos restaurantes, é maravilhoso ouvir diversas pessoas pedindo, entre outras coisas, soda limonada...Vejam bem: um país não é feito por autoridades. Quase todos os países do mundo tem governantes que estão aquém das qualidades de seus povos. Uns mais, outros menos. Um país é feito por seus habitantes. É a nossa conduta, no cotidiano, que pode influenciar as coisas no sentido de maiores transformações. A conduta da maior parte dos brasileiros, no que se refere à chamada ''Lei Seca'', tem sido exemplar. As pessoas estão mudando seus hábitos: reservando um amigo abstêmio para dirigir pelo grupo, utilizando o serviço de motoristas dos bares e restaurantes para voltar para casa, pegando mais táxis. Aos teimosos e recalcitrantes, hoje mais do que nunca, a fria letra da lei. Prisão, cassação da carteira, multa de mil reais. Nada disto será preciso para quem entendeu a necessidade destas duras medidas. Ah, sim. Bares e restaurantes estão reclamando devido a uma queda no consumo de bebidas em torno de 30%. Cada vez que vamos comer, por sinal, o garçom sempre dá um ''jeitinho'' de estimular o consumo de bebidas( um vinho, uma cerveja). Estas bebidas são lucrativas para os donos destes estabelecimentos, muitas vezes equivalendo ao preço das refeições...O ''choro'' deles é compreensível. Porém, notamos que a quantidade destes bares cresceu enormemente nos últimos anos, a ponto de nos questionarmos: será que precisamos de tantos bares assim, praticamente um a cada esquina? Montar um bar é a coisa mais fácil que há. Basta comprar umas mesas e cadeiras, freezers, bebidas, e pronto. Temos mais um bar. Difícil, sim, é MORAR perto de um destes milhares de bares. Seus freqüentadores falam a todo volume, buzinam enquanto circulam com seus veículos noite afora. Não pensam que alguém tem de ''pagar a conta'' por viver perto de tantos bêbados. Depois, ao anoitecer, eles voltam para suas residências e, aí sim, querem dormir em paz...Deveríamos ter regiões específicas dentro de cada cidade, o mais longìnqüas possíveis, para abrigar tantos ''beberrões''. Infelizmente não temos...De modo que, sim, estamos comemorando a mudança de hábitos, a queda no consumo de bebidas, o fato de que- enquanto os bares tiveram queda significativa no número de freqüentadores- os cafés estão lotados, o aumento no número de corridas de táxi. O efeito geral é muito positivo, mais do que o esperado. Que esta lei( simples, concisa, sem as inúmeras ''exceções'' que caracterizam as leis brasileiras)sirva como exemplo. Os brasileiros mostram que podem respeitar leis sim, desde que sejam feitas visando o benefício da comunidade, e não de grupos de poder...

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Os Quatro Compromissos...

Dentre as inúmeras leituras dos últimos meses, gostaria de ressaltar uma em especial. O autor é Don Miguel Ruiz, e os dois pequenos( em tamanho)livros são ''Os quatro compromissos: o livro da filosofia tolteca'' e ''A Voz do Conhecimento''( ambos foram editados pela Best Seller). Embora sejam classificados usualmente como ''auto-ajuda'', tais obras transcendem o significado habitual dado ao termo. Por que não tratados filosóficos condensados? Por que não ''Manuais sobre o bem-viver''? Na introdução destas obras explicam que ''milhares de anos atrás, no Sul do México, os toltecas eram conhecidos como 'homens e mulheres de sabedoria'. Antropólogos se referem a eles como uma nação ou raça, mas na verdade eram cientistas e artistas que se associavam para explorar e conservar a sabedoria espiritual e as práticas dos antigos. Encontraram-se como mestres( nagual)e estudantes em Teotihuacan, a cidade antiga das pirâmides, próxima à Cidade do México, conhecida como o lugar onde o homem ''se torna Deus''. Don Miguel Ruiz é nagual, parte desta tradição. Vejamos, sinteticamente, quais são os quatro compromissos defendidos pelos toltecas: O primeiro, Seja impecável com a palavra. O segundo, Não leve nada para o lado pessoal. O terceiro, Não tire conclusões. E o quarto, Dê sempre o melhor de si. Antes que se pense nestas obras como mais alguns daqueles manuais de conduta tão populares e tão pouco seguidos, o DIFERENCIAL de Don Miguel Ruiz em relação a todos os demais autores é o alerta que ele faz em relação ao extremo valor que damos aos nossos próprios pensamentos...Preocupamo-nos tanto em não sermos invadidos pelas ações, palavras e idéias alheias, que não nos damos conta do grande perigo que representam os ''nossos'' próprios pensamentos( que não são propriamente nossos, mas de nossos pais, professores, patrões, amigos, e muitos mais...). Don Miguel Ruiz, que eu saiba, é o primeiro autor a propor uma total modificação no plano da nossa própria ''história pessoal''. Vejamos alguns trechos interessantes e auto-explicativos, extraídos da obra ''A voz do conhecimento'': ''(...)Posso até dizer , eu 'conheço você', quando a verdade é que não lhe conheço de jeito nenhum. Só conheço a história que criei sobre você. E demorei um tempo até entender que só conheço a história que criei sobre mim mesmo. Durante anos achei que me conhecia, até descobrir que essa não era a verdade. Eu sabia o que acreditava a meu próprio respeito. E então descobri que não sou aquilo que acreditava ser! E foi muito interessante, além de assustador, descobrir que de fato não conheço ninguém, e ninguém tampouco me conhece" ( p.71). Bota ''assustador'' nisto...É incômodo, muito incômodo questionar as próprias certezas. Acreditamos que elas são como os alicerces da construção do nosso ''eu''. Abalados os alicerces, é o nosso maior temor, toda a construção pode vier abaixo. De fato, o grande mérito de Don Ruiz é propor justamente isto...Tanto que ele propõe, como ''Regra número um: NÃO ACREDITE EM SI. Porém, mantenha a mente e o coração abertos. Dê ouvidos a si, ouça sua própria história, mas NÃO ACREDITE NELA, porque agora já sabe que a história que você está escrevendo é ficção. Não é real. Quando ouvir a voz em sua mente, não leve para o lado pessoal. Você sabe que, em geral,o conhecimento lhe está mentindo. Escute, e pergunte se ele estará ou não falando a verdade. Se não acreditar nas próprias mentiras, elas não sobreviverão, e você poderá fazer escolhas melhores, apoiando-se na verdade''( p.97). Isto é profundamente subversivo. Vai contra a idéia mais arraigada em todos os seres humanos: a de que seus pensamentos estão fincados na realidade...Parece ''louco'' negar os próprios pensamentos, não é? Mas não seria uma loucura muito maior crer, sem maiores questionamentos, no que cremos? Neste mundo, mesmo os maiores ''cientistas'' costumam apegar-se às próprias idéias de modo quase religioso...Que dirá o ser humano comum...Prosseguindo com as idéias revolucionárias de Don Miguel Ruiz, vejamos um interessante diálogo que ele teve com seu avô: (...)O resultado de acreditar em mentiras e defender essas mentiras cria o que chamamos de ''mal'', cria o fanatismo. Acreditar em mentiras cria toda a injustiça, toda a violência e a agressão, todo o sofrimento, não só na sociedade, mas também no indivíduo. O universo é tão simples quanto ELE É, OU ELE NÃO É, mas os humanos complicam tudo(...)Miguel, todo o drama que você sofre em sua vida pessoal é o resultado da crença em mentiras, principalmente a respeito de si mesmo. E a primeira mentira em que acredita é que você NÃO É: NÃO É como deveria ser, NÃO É competente, NÃO É perfeito. NÓS NASCEMOS PERFEITOS, CRESCEMOS PERFEITOS E MORREMOS PERFEITOS, PORQUE SÓ EXISTE A PERFEIÇÃO( nosso grifo). Mas a grande mentira é que você não é perfeito, que ninguém é perfeito. Daí você começa a buscar uma IMAGEM de perfeição na qual nunca poderá se converter. Jamais alcançará perfeição naquele grau, pois a imagem é falsa. É mentira, mas você investe sua fé naquela mentira, e depois constrói toda uma infra-estrutura de mentiras para sustentá-la. ''Apesar da vontade de acreditar no que meu avô dizia, minha crença nele foi só fingida. E era tão lógico que eu disse: - ''Ah, sim, vovô, tem razão. Concordo com o senhor''. Mas eu estava mentindo; tinha na cabeça tantas mentiras que não podia aceitar algo tão simples quanto a verdade. Então meu avô me olhou carinhosamente e disse: - ''Miguel, vejo que está tentando muito me impressionar para provar que está à altura. E precisa fazer isto, porque no seu próprio conceito você não está á altura''. Isso doeu! Ele me acertou direitinho. Não sei porque, mas me senti como se ele me tivesse apanhado na mentira. Eu nunca havia percebido que meu avô conhecia minhas inseguranças, sabia da autocrítica e da auto-rejeição, da culpa e da vergonha que eu sentia. Como pôde saber que eu estava fingindo ser o que não era? Vovô estava sorrindo novamente quando me disse: ''- Miguel, tudo o que você aprendeu na escola, tudo o que sabe sobre a vida, isto é só conhecimento. Como você pode saber se o que aprendeu é a verdade ou não? Como pode saber se é verdade o que acredita a respeito de si mesmo? (páginas 32/33/34, trechos selecionados). Voltamos ao que Sócrates afirmou na Grécia Antiga: ''- Eu sei que NADA SEI''...O ponto de partida da jornada em busca da sabedoria é saber que começamos do zero. Aprender é, na verdade, desaprender...Alguns de nós notam isto com o tempo. Ou optamos por ficar presos ao solo, com todo o peso do nosso ''conhecimento'', ou largamos todo o lastro para decolar como balões soltos ao vento...Ouçamos o ''convite'' de Don Miguel Ruiz para todas as pessoas: ''Todos os seres humanos são contadores de histórias, cada um com seu ponto de vista exclusivo. Quando entendemos esse fato já não precisamos impor aos demais nossa própria história, nem defender aquilo em que acreditamos. Em vez disso viramos artistas e, como tal, temos o direito de criar nossa própria arte''(página 40). Os blogs, entre outras coisas, partem dest premissa: a vida não mais como crença, fé, e sim como arte. Fusão de arte e vida, não mais privilégio de uns poucos considerados ''artistas''...Para Don Miguel : ''agora mesmo você está sonhando sua vida. Você percebe não só seu próprio sonho, mas também o sonho do artista supremo refletido em tudo o que você percebe. Você reage e tenta encontrar sentido naquilo que percebe. Tenta explicá-lo de sua própria forma, dependendo do conhecimento armazenado na memória de sua mente. A meu ver, isso é maravilhoso. Você vive na história que está criando, e vive na história que crio. Sua história é sua realidade- uma REALIDADE VIRTUAL QUE SÓ É VERDADEIRA PARA VOCÊ, AQUELE QUE A CRIA( nosso grifo: página 62). Na visão de Don Miguel Ruiz, ''o personagem principal de sua história é você, mas o papel que está interpretando não é você. Por ter passado tanto tempo interpretando o papel você já dominou a interpretação. Tornou-se o melhor ator do mundo, mas posso lhe garantir que você não é aquilo que acredita ser. Graças a Deus, pois posso lhe garantir que você é muito MELHOR( nosso grifo)do que aquilo que acredita ser. Lembro-me quando meu avô me disse: ''- MIGUEL, VOCÊ SÓ SABERÁ O QUE É LIBERDADE QUANDO NÃO PRECISAR SER VOCÊ''( nosso grifo; página 119). À guisa de ''conclusão'', se é que uma bela obra como esta - um verdadeiro livro ''de cabeceira'' pode ter alguma espécie de conclusão, fiquemos com estas duas frases de Don Ruiz: ''Depois que você encontra a si mesmo, encontra o que você realmente é, já não consegue explicar o que é, por falta de palavras para explicá-lo''( uau!)- e ''Se você não percebe o amor, não consegue reconhecê-lo, é porque só reconhece o veneno dentro de si. Sou responsável por aquilo que digo, mas não sou responsável pelo que você entende. Posso lhe dar meu amor, mas você pode interpretar o fato como sinal de que está sendo alvo de julgamento, ou sabe-se mais o quê. SÓ QUEM SABE É O SEU CONTADOR DE HISTÓRIAS. QUEM DEIXA DE ACREDITAR EM SUAS PRÓPRIAS HISTÓRIAS, ACHA BEM MAIS FÁCIL GOSTAR DOS OUTROS''( página 172 ). Ficamos por aqui. Neste momento , nesta hora de reflexão sobre tais idéias, não há mais nada a ser dito. Continuemos lendo Don Miguel Ruiz, e seus belos livros ''Os quatro compromissos'' e ''A Voz do Conhecimento''. Apenas o segundo foi citado neste texto.

Post número 200

Chegamos aqui. Nem foi tão difícil assim, dada a prolixidade do autor deste blog...Fosse este um site sobre a vida deste autor, talvez não tivesse rendido sequer 20 posts...Mas a idéia, exposta desde o início, era a de fazer um blog sobre idéias, pensamentos. Vocês sabem que, durante um único dia, temos cerca de 25 mil( só?) pensamentos. A imensa maioria vem e passa. Apenas uns poucos são dignos de laboração e, destes, talvez um ou dois sejam publicados aqui ao final...Escrever assemelha-se a fecundar. Geramos milhões de espermatozóides para, enfim, termos em média um filho... Claro que, para os tradicionalistas contrários às pesquisas com células-tronco, a masturbação seria equivalente a um ''genocídio''...Para criar algo não podemos ter medo de eliminar, ''matar'' determinados temas no nascedouro. Outras vezes cortamos, aqui e ali, sem dó- para que chegue algo minimamente compreensível ao blog. NÃO TEMOS UM TEMA DEFINIDO NO QUAL NOS ENQUADREM, E ISTO SE DEVE ÙNICA E EXCLUSIVAMENTE À CONFUSÃO MENTAL E DILETÂNCIA DESTE ESCRIBA. Podemos, sem nenhum pudor, falar um dia sobre futebol, o outro sobre ''auto-ajuda'', e o seguinte sobre viagens, passeios, livros de autores ''sérios'' ou não, refeições memoráveis, programas ''trash'' de TV. Não há nenhum tema proibido. Falo, ilimitadamente, quase sempre apenas sobre o que me interessa e apaixona. O pano de fundo é a cidade onde vivo. Ela é o grande personagem, mais do que eu. Ela fornece, o tempo inteiro e sem limites, todos estes temas e estórias. Nela vivo como um peixe dentro d'água. Felizmente a ''água'' não é a dos rios que a percorrem, senão estaria morto a esta altura...A cidade grande também tem grandes mazelas...Fazer um blog é bem diferente de ser jornalista. Não temos obrigação de ser ''fiéis'' á realidade( como se os jornais o fossem...). Podemos chegar um dia aqui e anunciar, desvaladamente, que ''Piracicaba é a melhor cidade do mundo''. E é, para quem o acha...É possível amar Piracicaba, Pindamonhangaba, Carolina-MA, Cajazeiras-PB, Vitória-ES, e qualquer outra cidade do planeta. Do mesmo modo que outros amam Las Vegas, Paris, Tóquio...O que amamos não recebe passivamente o nosso amor. Este objeto de nosso amor nos envolve, devolve-nos este amor ilimitadas e infinitas vezes, reconstruindo a nossa existência. Eu amo ler, mais do que tudo na vida. E este amor, mesmo após tantos anos de convivència, não diminuiu sequer um milímetro. Não se enjoa de ler, após adquirido o hábito. E este gosto pela leitura, para quem compartilha deste prazer, não tem preço. Não o venderíamos nem trocaríamos por nada, nem para, retrospectivamente, ser aquele cara mais ''popular'' da escola na juventude. Quem é esta pessoa hoje? O que ela fez de sua vida? O que ela fará com o resto de sua existência, passada a fugaz ''belezinha'' da adolescência? Na corrida da vida, os leitores são os mais lentos. Parecem ser os menos ''práticos'' e ''eficazes'', comparados aos demais. Porém, a longo prazo, assemelham-se à tartaruga que vence, por sua persistência, a prova contra a veloz lebre. Para isto, temos todo o tempo do mundo...Cada fato, tudo o que fazemos está voltado para estes momentos inesquecíveis em que esquecemos o chamado ''mundo real'' para mergulharmos nas galáxias de nossos livros. ''O que você faz?'', perguntam insistentemente os néscios. Eu SOU um leitor, respondo aos embascados. Também escrevo, nas horas vagas...O que quer que façamos para ganhar a vida, seja o que for caso não seja a profissão dos seus sonhos, não chegará aos pés deste prazer incomensurável que é a leitura. Não se é ''pequeno'', façamos o que façamos profissionalmente, quando se é um leitor. E nunca se será efetivamente ''grande'', façamos o que façamos- sejamos Lordes, Magistrados, Empresários, etc.- sem a leitura nossa de cada dia...Como afirma um autor antigo que muito prezamos,o americano James Allen, ''você não pode viajar por dentro e ainda continuar parado por fora''. Abramos, por intermédio dos nossos livros, as portas e janelas da existência. E partamos, com um único aviso: esta jornada do conhecimento não tem fim...

terça-feira, 29 de julho de 2008

Cotidiano

Hora do almoço. Decido comer em um restaurante natural perto de casa, para me ''limpar'' um pouco dos estragos gastronômicos cometidos no Paraná...Boto muitos vegetais no prato até o momento em que, antes de encaminhar-me para uma das mesas, deparo com uma ENORME travessa cheia de doce de banana em calda...Nota: no restaurante come-se à vontade por um preço fixo. A sobremesa é livre...No prato normal há uma espécie de nhoque( hoje é dia 29, e acredita-se que comer nhoque neste dia ''dá sorte''). Devoro o prato, pensando no doce que me espera lá em baixo...Para devorá-lo, apropriadamente, há uma grande tigela. Ignoro, simplesmente, as demais sobremesas. Só há lugar, física e mentalmente, para o doce de banana em calda- um desejo antigo...Os super-mercados paulistanos oferecem inúmeras espécies de doce, alguns até importados. Há uma versão para mercados do doce de banana, mas a calda caramelizada tem gosto artificial...Por tudo isto, este doce que devoro hoje, sem culpa, me parece fantástico. No final da primeira tigela- final que pareceu extremamente ''breve'' para mim- o dilema. ''Você quer perder peso após um final-de-semana de total relaxamento gastronômico. Deveria contentar-se com apenas uma tigela de doce de banana'', diz o meu lado ''bonzinho''. Ao que o lado ''diabólico''/ Coringa replica: ''Não está bom? Deixa este papo de dieta para depois...Meta a mão na massa! Ou melhor, no doce!''. Cruel dilema...Não atendi totalmente nenhum dos dois personagens: desci após estas breves divagações e peguei um prato raso de sobremesa. Nele coloquei o que podia do inesquecível doce, e mandei ver a reduzida versão da bananada...Sem brincadeira: COMER ESTE DOCE DE BANANA EM CALDA MUDOU O MEU DIA...Até aquele momento eu oscilava entre o bem-estar que estava sentindo após voltar para a minha cidade e o noticiário ''pesado'' dos jornais e telejornais diários. APÓS O DOCE fui envolvido por uma nostalgia, uma saudade daqueles melhores dias da infância que não voltam mais. Mas isto não me deixava triste. Ao contrário, foi uma bela recordação do melhor que há nesta vida. A partir deste almoço, e da realização deste desejo, o resto me pareceu muito mais belo. Nem ligava mais para o trânsito pesado, as buzinas. Passei na banca de jornais, e o jornaleiro- torcedor do Santos- me provocou logo dizendo que ''o São Paulo não vai muito longe não''. Que o seu time( só porque goleou o fraco time do Vasco da Gama por 5 a 2 na Vila Belmiro)estava iniciando uma ''histórica virada rumo às primeiras colocações''. Eu, cruelmente mas feliz como nunca graças ao doce, repliquei de imediato que o ''peixe'' já estava entre os primeiros times do Campeonato Brasileiro, ''se olhássemos a tabela de baixo para cima''...Estava tão feliz, continuo, que nem liguei para o fato de que o dia ensolarado também prometia uma alta temperatura, com máxima próxima de 30 graus. Olhava embasbacado, como na primeira vez, para todos aqueles prédios altos da Paulista, agora reformada e com canteiros no meio da pista...O sol, aquele mesmo astro-rei que tanto denigro e de que tanto fujo, na hora de alegria serve como fonte de inspiração...''Uso'' o sol para provar que as coisas estão normais, belas, perfeitas como nunca. Mesmo as pessoas, se excluirmos aquele aspecto competitivo e meio ''antipático'' já retratado neste blog, pareciam bem, harmônicas em meio à confusão nossa de cada dia...Aqui as pessoas não andam de short, durante a semana, salvo os turistas ou mais jovens, nem são pródigas em sorrisos, mas são animadas e amigas quando conhecemos novos amigos. Sigo pela Paulista até a Pamplona, onde enfrento o tradicional ''engarrafamento de gente'' de todos os dias: leva-se até 10 minutos para cruzar o quarteirão que separa a Paulista da Alameda Santos, passando por inúmeras lojinhas, McDonald's e Correios. No quarteirão seguinte a lojinha de doces- tão comum por aqui- está lotada, com fila. As ''formiguinhas'' paulistanas se enchem com todas as espécies de doces e um tal de picolé ''coreano'' que faz bastante sucesso por estas bandas...Nem pensar em mais um doce hoje...