O texto de Millôr Fernandes a que irei me referir foi publicado na ''Veja'' do último dia 6 de agosto, sob o título ''Elogio das Competências Restantes''. Nele, Millôr afirma textualmente que: ''O mundo não foi feito para competentes. Mesmo que apenas 'galera'. A humanidade- estatística minha tão válida quanto qualquer outra- é composta de 95% de debilóides da pátria. Sobram 5%- que podemos discutir. Você, claro, está entre esses. Que não estou aqui para perder leitores. Agora o lado otimista. Temos que admitir que uma pessoa em cada 1000( nosso grifo)nasce com qualidades de excelência e tem meios sociais de levar, desenvolver essas qualidades ao seu ótimum. Temos então no mundo 6000000 ( seis milhões)de pessoas extraordinárias por natureza, e preparadas por condições excepcionais. Fazendo coisas que nos embasbacam, nos deixam perplexos. Nas artes, nas ciências, no esporte, na mais variada das sacanagens do bem''. No fundo, sempre tive uma impressão parecida a esta do Millôr. Mas uma estatística qualquer, um número qualquer- por mais arbitrário que seja- ajuda a clarear os nossos pensamentos. Acredito que o número, aproximado, seja este mesmo, na base de 1 por mil. Pensemos nos números locais também, para aprofundar este raciocínio. Brasília tem cerca de 3 milhões de habitantes. Difícil será achar um destes gênios criadores entre os membros do atual Congresso Nacional...mas, na proporção de 1000 para cada um, dá cerca de 3000 mil criadores na Capital da República. Nos grandes centros, sentimos mais fortemente a presença de todos estes gênios. São Paulo, por exemplo, é pólo de atração para eles, exerce uma forte presença que os atrai inexoravelmente. O ''número mágico'' aqui seria de 15 mil pessoas, considerando o número de habitantes da Grande São Paulo. Não incluímos neste número bastante restrito os ''aspirantes'' a qualquer coisa. Limitemo-nos a listar alguns dos criadores de cada área: Alex Atala e Bel Coelho( Culinária), Nizan Guanaes e Washington Olivetto( Publicidade), Carlos Reichenbach( Cinema), Ignácio de Loyola Brandão, Lygia Fagundes Telles, Marcelo Rubens Paiva(Literatura), Jânio de Freitas, Marcelo Coelho, Marcelo Tas(Jornalismo), Luís Flávio Gomes(Direito). Cada uma destas áreas admitiria inúmeros outros nomes, em uma discussão infindável. Nosso único propósito é exemplificativo. Excluímos todos aqueles alunos do curso de cinema, que freqüentam as mostras da Cinemateca, com seus ares de ''futuros diretores geniais''. Excluímos estudantes de jornalismo e publicidade, que ainda não ''aconteceram''. Excluímos os alunos todos das Faculdades de Design, que escutamos habitualmente em discussões interessantes na hora do almoço. Excluímos inúmeros blogueiros que ainda não publicaram nada, ou músicos que não gravaram nenhum disco...Peguemos apenas os que estão ''maduros'', e produzindo. Este pequeno universo de criadores, em constante contato entre si, separa a humanidade de hoje do homem das cavernas. Não fossem eles- incluindo também um Ruy Castro, e um Nélson Motta(no Rio)- e seríamos ainda um povo de criadores de cabra ou plantadores de café( nada contra estas duas belas, e indispensáveis, atividades...). Queremos chegar á seguinte conclusão: na razoável proporção de 1 para 1000 estabelecida por Millôr no texto mencionado, os criadores buscam estar preferencialmente uns com os outros- por isto as grandes cidades como Rio e São Paulo atraem tanta gente em busca de um ''lugar ao sol'' em cada um destes ramos criativos- e, melhor, eles ''puxam'' e acabam influenciando grandemente todo o resto...Mesmo que dezenas de anos após, todos acabamos nos beneficiando deste contínuo fluxo criativo...Este ''grupo do bem'' tem um poder e influência muito maiores do que o seu número exíguo. Neles residem, de verdade, as maiores esperanças da humanidade em relação a dias melhores. 6 milhões de criadores nos separam da barbárie a nível mundial. Antes de pensarmos em fazer qualquer ''queixa'' diante dos nossos problemas, lembremo-nos daqueles que, mais do que problemas, estão buscando continuamente apresentar soluções para os mesmos...Criar não é uma atividade muito popular, admitimos, porque demolir coisas é muito mais fácil do que construir...
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