Enquanto somos soterrados por toneladas de informações, dados, em um carnaval contínuo e incessante de imagens, torna-se cada vez mais difícil separar o que é ''real'' ou ''imaginário''. É impressionante como este simples escriba, assim como diversas pessoas de seu meio, vai se revelando cada vez mais incapaz de distingüir entre ''realidade'' e ''ficção''. Incorporamos todos- nas nossas cotidianas referências a programas de TV, livros, filmes, comerciais- o que está ao redor, nos alimenta e se alimenta de nossas carências, o imaginário e o imaginado( por alguém). A nossa vida, hoje, é isto. É inseparável disto. Mesmo os nossos mais profundos sonhos já estão colonizados por isto. Sonhamos com atrizes da TV- interagindo com elas, beijando-as, sendo beijados e amados por elas- como se tudo isto fosse ''a mais real das realidades''. A única surpresa, aqui, é que o inconsciente reserva pequenas surpresas: a atriz que ''amamos'' nos nossos sonhos não é a mesma ''favorita'' dos nossos pensamentos cotidianos...Citamos, aqui e ali, ''personalidades'' imaginárias do ''mundo dos sonhos'' como se fossem personagens de carne-e-osso: ''Capitão Kirk'' e ''Doutor Spock'', ''Kwai Chang Kane''( da série Kung Fú, sucesso nos anos 70...), ''As Panteras'', ''Batgirl e Mulher Gato'', ''Pinguim'', ''Charada'', e por aí vai. Mesmo a mais simples peça de teatro, apesar da reação e estranheza iniciais, captura invariavelmente os nossos sonhos, faz-nos acreditar que aquele sujeito ali, ao lado de uma simples cadeira e amarrado a esta por uma corda, é o tal de ''escritor contemporâneo''; que aquelas duas mulheres, acompanhadas por uma simples mesa e duas cadeiras, além de um carrinho que transporta imaginários e deliciosos ''pratos de comida'' de um restaurante ideal, estão ali naquele palco servindo pessoas ''de verdade'' logo ali ao lado...Quem não se pegou freqüentando lugares e países aonde nunca esteve, e com toda a naturalidade? Quem não visitou outras épocas e mundos? Que ''velho'' não se vê ainda como jovem, a cortejar mulheres ideais? Que ''jovem'' não se imagina feliz e realizado, habitando uma casa especial na praia dos seus sonhos, adquirida com o suor de seu trabalho? O ''faz-de-conta'' cotidiano- transformado em modo de produção- nos engana. Sabemos disto. Somos ''enganados'' porque queremos isto, não podemos viver sem isto tudo. Cativos em nossos sonhos mais recônditos, ''explorados'' no nosso imaginário, por vezes não trocaríamos estes ''últimos dos prazeres'' por uma gota de ''realidade''...''A vida é sonho'', dizem os budistas. E hoje, entre o sonho ''real'' e o sonho ''imaginado'', é cada vez mais difícil estabelecer qualquer distinção...E quem deseja isto, de verdade?
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