Ainda consigo me surpreender com a altura das conversas em celulares, no meio da rua ou em almoços de negócio. Caso eu fosse membro de uma empresa CONCORRENTE à daqueles executivos que discutem seus assuntos internos animadamente, para que todos os demais comensais do restaurante possam ouvir de modo inconfundível, imaginem o que poderia fazer com todas aquelas informações...O avião acaba de pousar, e todos aqueles passageiros já vão sacando seus celulares de bolsos e bolsas, e dando todas os detalhes de seus próximos passos: ''me espere na rua tal'', ''me espere no lado de fora do saguão, em tal lugar'', ''te encontro no hotel x''. Falar alto ao celular, nestas horas, é, ao mesmo tempo, uma atitude desagradável para quem escuta certas conversas inconvenientes, mas também algo extremamente ingênuo, quase pueril. Em um mundo de tanta violência, em que as pessoas sentem tanto medo, o telefone celular consegue, como que por milagre, fazer com que elas dissolvam suas barreiras, assumam um comportamento meio infantil. Imaginem se há um malfeitor ao redor, poderíamos perguntar? Um executivo dá pelo celular todos os detalhes de seus próximos passos, enquanto um potencial seqüestrador ouve tudo, e passa as informações para seus comparsas do lado de fora do Aeroporto/Restaurante/Shopping? É muita paranóia da minha parte, né? Porém é algo possível, e eu não teria tanta certeza quanto estas pessoas de falar tão à vontade em lugares públicos sem ser ''interceptado'' de alguma forma...Aqui chegamos ao tema do post. A Internet é como uma destas ruas, ou saguões de Aeroporto... No mundo ''real'', físico, estamos apenas digitando algumas letrinhas em frente a uma tela qualquer. Não há contato com ninguém. A sensação é de uma absoluta ''solidão''. Diante de uma situação como esta, as escolhas parecem ser ,em diversos casos, de duas espécies( faço remissão aqui ao texto ''Não confie em quem escreve, já publicado neste blog): ou a pessoa ''exagera'', inventando uma vida pessoal que pareça ''emocionante'', repleta de ''aventuras'' de todas as espécies para quem a possa ler eventualmente( uma espécie de diário ''quente''), ou ela recorre, e isto é o mais difícil, ao que está ''dentro''. Seus pensamentos, reflexões, angústias. E isto não é, ao contrário do que possa parecer, mais ''confiável'', ''espontâneo'', ''realista''. Todo fato- intermediado pela escrita, por uma fonte que tem pensamentos próprios- tende a ser exagerado, ou minimizado. Nossas idéias interagem com o ''real'', mas também ganham vida própria. Há uma brincadeira, comum entre advogados, no sentido de que ''o papel aceita tudo''. De fato, é esta sensação que temos ao percorrer qualquer Livraria ou Biblioteca. Ali estão dispostas todas as formas de pensamento, ali estão expostos os mais variados relatos sobre existências as mais variadas possíveis. E, assim como na nobre profissão da Advocacia, é o CHOQUE, A COMPARAÇÃO entre todos estes inúmeros relatos que pode, eventualmente, produzir uma ''verdade final'', ainda assim provisória e relativa. Diários, pela sua própria natureza, pretendem ser realistas, pretendem relatar fatos e situações reais, na visão de seus autores. Os blogs, na minha visão, tendem, ao contrário, mais ao subjetivo, ao interior. Podem até descrever fatos, situações, notícias. Mas o blog é, por sua natureza, assumidamente tendencioso, subjetivo. Blogueiros não são repórteres, por mais que queiram...Ou talvez até sejam, mas ''jornalistas'' de uma outra espécie: narram o que está dentro, relatam suas paixões e amores( sexuais, futebolísticos, regionalistas, culinários,etc.), defendem suas ''posições''( Don Miguel Ruiz alerta-nos, em contrapartida, para a necessidade de não acreditarmos sequer em nós mesmos, e em todo o ''lixo'' que acumulamos por toda uma existência na forma de ''nossos'' pensamentos mais arraigados...). Blogueiros não tem nenhuma obrigação de ser ''realistas'', ''fiéis à realidade'', ''razoáveis''. ''O papel''( assim como a tela de computador)''aceita qualquer coisa'': quem escolhe o que fará com tudo isto é você, leitor e ''juiz'' final...PS: Fazer um ''diário'' seria ,para mim, como conversar alto ao celular, expondo todas as irrelevâncias do meu dia-a-dia. Porém, nos saguões abertos dos Aeroportos, Restaurantes, Shoppings e da Internet, já há ''ruído'' demais neste sentido...
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