quarta-feira, 30 de janeiro de 2008
Futebolísticas...
Vejam só o contraste: enquanto a Lei Eleitoral veda candidatura avulsas, fortalecendo o papel dos partidos, a Lei Pelé permite que empresários sejam ''donos'' dos passes de jogadores, o que enfraquece os clubes. O resultado é que vários clubes que fizeram associação com empresários não foram sucedidos, e os exemplos são muitos: um dos últimos a fazê-lo, o Paraná Clube, depois de fazer dois bons Campeonatos Brasileiros e participar da Libertadores no ano passado, acabou na segundona. A união Palmeiras e Parmalat rendeu títulos, mas o clube nunca mais se recuperou- está há 12 anos sem conquistar o Paulistão- e agora, mais uma vez, acaba servindo de vitrine para os atletas da ''Traffic''. Não é preciso se aprofundar sobre o que a união com a MSI( ?!!!) representou para o agora rebaixado Corínthians. Mesmo equipes fortes como o São Paulo Futebol Clube, que não aceitou participar destes esquemas, acabam servindo como ''pousada para atletas que não vão bem na Europa''. Ou como vitrine para ''grandes'' negócios: o cara mal esquenta o banco aqui, e já é vendido. É alucinante o ritmo de entradas e saídas de jogadores do São Paulo nos últimos tempos. Mas só tem dado certo porque seus dirigentes já se acostumaram á idéia de tomar partido desta instabilidade toda...O clube não exibe um futebol de ''encher os olhos'', muito pelo contrário, mas vence pela regularidade de seu futebol. Este ano as apostas do São Paulo são altas: trouxe Adriano e Carlos Alberto, dois jogadores em declínio. Mas manteve sua base, até agora.Porém Leandro já foi embora, e os clubes investem sobre o ''curinga'' Souza. Os times grandes do Rio, exceto o Vasco, tem mostrado um futebol mais solto, e produtivo: o Flamengo impressiona pela desenvoltura de seus alas Juán e Léo Moura, o Botafogo encaixou bem os seus reforços estrangeiros, e mesmo o Fluminense, após altos e baixos, acaba de golear o Volta Redonda por 5 X 1, com gols do ''ataque dos sonhos'': Washington, Leandro Amaral e Dodô. Não fizeram mais do que a obrigação, pois os times pequenos cariocas não tem a menor estrutura. O Paulistão é muito mais disputado, e vem sendo liderado pela Ponte Preta,equipe do interior. O clássico de domingo- São Paulo X Corínthians- que assisti ao vivo no Morumbi só merece uma linha: um PÉSSIMO JOGO, de baixa categoria, ainda atrapalhado pelo juiz, que anulou as poucas jogadas inspiradas do São Paulo, não marcando o claro pênalti sobre Dagoberto e o belo gol de cabeça de Adriano. De bom o público, de mais de 40 mil pessoas, mesmo com o jogo sendo televisionado para São Paulo. Certamente o bom público foi devido ao novo ânimo da torcida corintiana, de time e comandantes novos. A Gaviões da Fiel impressionou pelo ''gogó'', mantendo um belo duelo verbal com a Torcida Independente do São Paulo. Enfim, muito mais ânimo nas arquibancadas que no gramado...
terça-feira, 29 de janeiro de 2008
O que você faria com um mundo só seu?
Muitos, neste mundo, já responderam a pergunta. Uns mandaram construir pirâmides para quando morrerem. Deste modo, condenaram milhares de construtores à morte durante a construção difícil para satisfazer o seu desejo. Outros pensaram em conquistar este mundo pelas armas, para perecer pelas mesmas. Alguns pensaram em conceitos como ''limpeza racial'' para ter um mundo só com semelhantes. Outros, em ''limpeza de classe'', para eliminar os elementos ''impuros'' da burguesia, e hoje são ainda mais capitalistas que os mais capitalistas dos países. Mas, abstraindo as loucuras deste mundo, o que você faria com um mundo só seu? Como seria este mundo? No mínimo você seria o CENTRO dele, certo? Algumas estátuas, seu nome presente em todos os lugares e bordado em ouro nos tapetes, cerimônias diárias de louvor ao seu nome, missas e homenagens diversas...Estou errado? Aliás, o que você poderia eliminar de ''errado'' neste mundo? A eterna tentação de eliminar ''impurezas'': o racismo, os crimes, as traições, a celulite, a torcida do Corínthians, os dias chuvosos, os dias de sol, o desemprego, a velhice. Que mais você gostaria de eliminar em um mundo ''perfeito'', só seu? É por tudo isto que nós somos o que somos, somos apenas PARTE do todo. Não somos este todo. Porque só alguém com muita grandeza se contentaria em criar um mundo, um universo em que ele estaria presente o tempo inteiro, mas poderia ouvir tolices do tipo ''Deus não existe''. Só alguém muito grande poderia enxergar coisas ruins sem querer corrigí-las de imediato, pois as veria como parte de um grande processo de evolução. Só alguém muito grande resistiria á tentação- comum entre os humanos- de destruir tudo isto, o ''errado'', para começar novamente em nome de alguma ''melhoria''. Só alguém muito grande teria feito o mundo com contrastes, justamente para que os seus habitantes tivessem oportunidade de escolher o melhor- embora isto não seja muito comum...Só alguém muito grande se contentaria em ser o cenário deste mundo, ao invés de ser o seu centro. ''Deus não dá asas a cobras''. Mas também não as mata...
segunda-feira, 28 de janeiro de 2008
Como falar dos livros que não lemos? Homenagem aos amigos Bibliotecários.
Em uma época em que o número de leitores despenca a olhos vistos, um título como estes só provoca desconfiança em uma livraria. Se o autor fosse um norte americano, certamente seria sinônimo de picaretagem...Mas, para nossa surpresa, trata-se de um francês. E mais, um francês professor de literatura francesa na Universidade de Paris e psicanalista! Vencidos os pré-conceitos, não segui o conselho do título e acabei adquirindo a obra. E a li por inteiro. Eis um livro que discute a noção do que é ''leitura'': o que é leitura, ler uma obra por inteiro e não recordar nada, ou ler trechos escolhidos a esmo com um propósito bem definido? Segundo o escritor francês, mesmo que nunca tenhamos lido um autor- como, por exemplo, o célebre James Joyce- ainda assim podemos ter uma idéia de sua obra pelo que ela representa em um contexto, e no conjunto da literatura. ''Lemos'' Joyce nas menções feitas por outros autores, e nos inúmeros artigos já escritos sobre sua revolucionária obra. Para exemplificar, Pierre Bayard lembra que Paul Valéry escreveu um panegírico sobre Proust por ocasião de sua morte, sem nunca tê-lo lido...A leitura não tem início, meio ou fim. É como um almoço que digerimos, que só convencionalmente pode ser dividido em ''entrada'', principal e ''sobremesa''. Dentro de nós não há divisões semelhantes, e tudo vira um só bolo a ser digerido e, virtualmente, expelido. Não conheço ninguém que seja capaz de recitar as palavras todas de um livro. E, mesmo que possível tal proeza, ainda seria necessário entendê-lo, explicá-lo, comentá-lo. Livros são meras aglomerações de palavras, juntas por convenção. São, como tantas outras, meios de comunicação, de transmissão de mensagens. É impossível delimitar dentro de mim mesmo o que eu li em cada livro por onde passei os olhos, e o que ficou de permanente. Além da compreensão formal, o mais importante é o prazer que estas obras todas nos proporcionaram. Prazer gratuito, imensurável, inesquecível. Mas deixemos de intermediar as idéias, para ver um pouco do que o próprio francês diz em sua obra. Ele começa com a visita de um homem a uma Biblioteca, no livro ''O Homem sem Qualidades'', de Robert Musil: ''Percorremos as fileiras daquele depósito colossal e posso dizer-lhe que não me abalei tanto assim: aquelas fileiras de livros não são mais impressionantes que um desfile de guarnição. Mas depois de algum tempo comecei a calcular mentalmente e cheguei a um resultado bastante inesperado. Tinha imaginado antes de entrar, veja você, que se eu começasse a ler um livro por dia, o que seria evidentemente bastante esgotante, terminaria conseguindo num dia ou num outro, e poderia então pleitear uma certa situação na vida intelectual, mesmo que me faltasse algo de tempos em tempos. Mas o que você acha que me respondeu o bibliotecário, quando vi que nosso passeio se eternizava e eu lhe perguntei quantos volumes continha exatamente aquela absurda biblioteca? Três milhões e meio, ele me respondeu! No momento em que ele me disse isso, nós estávamos mais ou menos no número 700 mil: mas a partir dali, fiquei calculando sem parar. Vou poupar-lhe os detalhes; de volta ao Ministério, refiz mais uma vez o cálculo com lápis e papel: da maneira como eu tinha imaginado, levaria mais ou menos 10 MIL ANOS- nosso grifo- para chegar ao final do meu projeto''. Continuando, o personagem do General dá voz ao bibliotecário do lugar: ''Como eu o segurava o tempo todo pelo paletó, eis que ele se aprumou como se de repente tivesse se tornado grande demais para suas calças frouxas e me disse com uma voz que demorava bastante em cada palavra, como se agora fosse me revelar o segredo daquelas paredes: ''Meu General! O senhor quer saber como eu posso conhecer cada um destes livros? Pois eu lhe digo agora: é porque não leio nenhum!''. ''Agora também já era demais!'', pensou o General. ''Diante do meu assombro, ele evidentemente quis se explicar. O segredo de todo bom bibliotecário é, e de toda a literatura que lhe é confiada, jamais ler senão os títulos e os índices. ''Aquele que botar o nariz no conteúdo estará perdido para a biblioteca!'', me informou. ''Pois jamais terá uma visão do conjunto!''. Sem fôlego eu lhe perguntei: - ''Quer dizer que o senhor jamais lê um destes livros?'' - ''Jamais, com exceção dos catálogos''. -''Mas o senhor é de fato Doutor, não?''- ''Claro. Professor universitário, de biblioteconomia. A biblioteconomia é uma ciência em si- ele me explicou.- Quantos sistemas o senhor acha que existem, meu General, para classificar e conservar os livros, corrigir os erros de impressão, as indicações errôneas de páginas, de título, etc.?".
Em um outro trecho de sua obra, Pierre Bayard afirma que ''ser culto é ser capaz de se situar rapidamente dentro de um livro, e esta ação de se situar não implica lê-lo integralmente, muito pelo contrário. Seria até mesmo possível dizer que quanto maior for esta capacidade, menos será necessário ler um livro em particular''. Sobre o esquecimento, o francês diz que ''A leitura não é somente conhecimento de um texto ou aquisição de um saber. Ela está também, e a partir do momento em que se inicia, engajada em um irreprimível processo de esquecimento. No momento em que estou lendo, eu já começo a esquecer o que li, e este processo é inelutável, prolongando-se até o momento em que tudo se passa como se eu não tivesse lido o livro e em que eu passo a ser o não-leitor que poderia ter permanecido caso tivesse sido mais prevenido. Então, dizer que se leu um livro funciona sobretudo como uma metonímia. Nunca lemos de um livro senão uma parte mais ou menos grande, e mesmo essa parte está condenada, em um prazo mais ou menos longo, ao desaparecimento. Assim, mais do que com livros, nós nos entretemos, a nós mesmos e com os outros, com lembranças aproximativas, remanejadas em função das circunstâncias do tempo presente''. Finalizando este belo le polêmico livro sobre livros e sobre leitura, dois assuntos que nos interessam sobretudo, o autor ressalta que ''Poderíamos chamar de biblioteca interior esse conjunto de livros- subconjunto da biblioteca coletiva que habita em todos nós- sobre o qual toda personalidade se constrói, conjunto que organiza em seguida sua relação com os textos e os outros. Uma biblioteca onde certamente figuram determinados títulos precisos, mas que é sobretudo constituída, como a de Montaigne, de fragmentos de livros esquecidos e de livros imaginários através dos quais apreendemos o mundo''. Seja qual for a conclusão, concordem ou não com as idéias deste polêmico autor francês, que este seja um convite à leitura permanente e infindável, seja como for, em que meio se der. A leitura do pequeno livro de Bayard é um prazer, como deve ser toda verdadeira leitura.
sexta-feira, 25 de janeiro de 2008
Atletiba-II: adendos
Como pude esquecer de falar dos queros-queros ( ou quero-queros? ) que eu vi no gramado, inclusive depois do início do jogo? No início eles foram democráticos: 4 no campo do Curitiba, do lado esquerdo, e 3 no campo do Atlético. Depois foram se agrupando em um só dos lados. Mas não deixaram o gramado. O máximo que fizeram foi sair das quatro linhas conforme o jogo ia ficando mais disputado...Mas ficaram por ali, por perto da peleja...No intervalo e no final do jogo, as pizzas que são servidas tradicionalmente, e o cheiro forte dos pastelões que alimentam os torcedores naquela fria cidade. Ao final, quando os torcedores do Coritiba foram forçados a ficar trancados sem poder sair por 15 minutos, eu olhei ao redor e parecia que estava na Alemanha, na Suécia. Era uma brancura só! Algo estranho de ver em estádio de futebol. Só havia visto uma cena assim em Brasília, em um jogo do Fluminense...Isto não traduz a diversidade da própria cidade de Curitiba, que tem muitos orientais e alguns negros. Só mostra que, em primeiro lugar, eu estava no setor das cadeiras, e não nas arquibancadas. E, depois, que- tanto na Arena da Baixada quanto no Couto Pereira- quem freqüenta jogos de futebol é a classe média curitibana, que pode pagar, no mínimo, 30 paus por um ingresso...Depois, a cultura européia e de seus descendentes é muito forte nas cidades do Sul, e não evidencia necessariamente poder financeiro: ouvi uma daquelas pessoas falando com os amigos que ia voltar à pé porque só tinha ''um real''...
quarta-feira, 23 de janeiro de 2008
Não confie em quem escreve...
Não confie em quem escreve. Quem escreve não vive, comenta. Quem escreve se assemelha aos garotos que ''fazem cera'' nos jogos de futebol: a qualquer dividida eles caem gritando como se tivessem levado uma entrada de quebrar a perna. Quem escreve, por seu lado, costuma também exagerar as suas dores, em busca de audiência e simpatia alheias. Quem lê, e escreve, também não viveu as maiores alegrias da vida: não saiu com as meninas mais bonitas, não foi o artilheiro do time da escola, não foi o cara mais popular da Faculdade. Livros, nem sequer os de AUTO-ajuda, não resolvem os problemas de ninguém. Não curam as dores. Não apresentam saídas. Ao contrário. Quem lê muito, e se atreve a escrever qualquer coisa- de artigos de jornal a blogs- torna-se um descobridor de novos problemas. Uma pessoa descontente, de costas para a vida, o real. Ler, ou escrever, não é a saída. É, isto sim, e não é pouca coisa, uma forma de botar as dores para fora, de tentar descobrir as suas origens e devolvê-las para o mundo. Vâ e quimérica tentativa. Escritores e jornalistas de todos os tempos sempre foram pessoas desequilibradas. Neuróticas. Teóricas em excesso. De um deles certamente surgiu aquele texto em que o autor fala que, se vivesse a vida novamente, deveria ter ''feito mais'' isto ou aquilo- tudo, exceto escrever mais. Escritores e pensadores de todas as espécies se assemelham às pessoas que vão às mais belas praias, e ficam discutindo assuntos pendentes dos lugares de origem. Felizes são as crianças, que pulam, riem e curtem o momento. Felizes são os surfistas, de poucas palavras e concentrados no momento, em cada onda que passa. Escritores não mudam o mundo, e muitos sequer mudam a si próprios. Mas o que seria o mundo sem este ''blá-blá-blá'' todo gerado pelos escritores? Sem todos estes livros sobre ''A Arte de Viver'', etc.? Livros não transformam o mundo, mas são um belo ORNAMENTO sem o qual este mundo seria ainda mais insuportável e doentio. Escritores passam por este planeta, sofrem, choram e fracassam como todo mundo, mas deixam um rastro, uma trilha, um caminho inicial por onde seguirão outros escritores, todos eles na ilusão de que deixarão uma obra ''eterna'', ''memorável'', que será lembrada pelas ''futuras gerações''. Uma quimera, mas uma bela e ilusória quimera- cantada em prosa e verso a cada palavra que se deixa em uma página de papel ou, como agora, na Internet...
terça-feira, 22 de janeiro de 2008
Atletiba
Desta vez não estava chovendo quando cheguei a Curitiba. Mas no dia seguinte caiu um temporal pela manhã, e eu tive de comprar mais um guarda-chuva( mais um para a minha coleção de guarda-chuvas comprados lá...). Não dá mais para defender a rodovia Régis Bittencourt, que vai de São Paulo para lá: está em petição de miséria, cheia de buracos, e carros, ônibus e caminhões tem de se desviar o tempo inteiro das crateras, quando dá. Não está em estado diferente ao das rodovias de Minas Gerais, as piores do país. Sábado foi dia de passear e assistir filmes. Vi dois, inclusive o último do Will Smith- ''Eu sou a lenda''- que, por si, daria uma crônica. E tinha a atriz Alice Braga, minha musa, que, por si, daria OUTRA crônica...Mas, voltemos ao jogo...No domingo o dia amanheceu frio e chuvoso, ''típico do verão''. Frio para quem acha, por sinal, pois não acho fria uma temperatura de cerca de 16 ou 17 graus- 13 em um relógio de rua. Sequer cheguei a levar um casaco ou qualquer outra roupa de frio. Os locais, em especial as mulheres, usavam algumas roupas do gênero. Depois de passear pela manhã, e almoçar pizza, na Pizza Hut próxima ao Shopping Crystal, meu ''point'' quando vou a esta cidade, fui andando para o estádio do Coritiba- o Alto da Glória ou Couto Pereira. Como diz o nome, fica em um lugar um pouco mais elevado que a cidade em geral- que é plana. Já havia feito o percurso outra vez, por isto não tive dificuldades em chegar. Levei cerca de 50 minutos, a pé, do hotel onde me instalei ao estádio. Primeiro caminhando em linha reta, e depois subindo uma rua próxima ao campo. Não usei nenhuma peça vermelha ou verde, para não me envolver em possíveis brigas dos torcedores locais. Mas o Coritiba estava mandando o jogo, e reserveu meros 2500 ingressos para a torcida do Atlético-PR, que ficou atrás de um dos gols, isolada, no que corresponde a metade da área atrás do gol. A do Coritiba, em especial a Império Alviverde- mais ruidosa, que dava para ouvir de longe, lembrava a torcida Independente do São Paulo- se concentrou atrás do outro gol( torcedor sofre neste estádio, ficando com os piores lugares...). No meio estavam outros torcedores do Coritiba, uns na parte central, a chamada ''social'', cujo ingresso custa ''meros'' 100 reais(!), e outros- como eu, nas cadeiras Mauá, simples, que ficam no nível do solo. O estádio Couto Pereira tem capacidade supostamente para 50 mil torcedores, mas lotou ano passado na série B com meros 35 mil...Atrás dos dois gols ele é como o Morumbi, tem 3 anéis. Na área das cadeiras sociais, tem 2, e no setor das cadeiras Mauá está incompleto, apenas com dois anéis, um tem umas arquibancadas sobre as cadeiras Mauá, e é projeto da diretoria do Clube completar esta área com mais um anel ( proposta arriscada , quando um ex-presidente do próprio Coritiba propôs demolir o estádio para construir outro- junto com empresários- para mandar jogos na Copa de 2014). O campo é bem mais desconfortável que a Arena da Baixada, do Atlético-PR, mas é o mais tradicional, sede de muitos outros Atletibas como o de domingo...Enquanto o Coritiba fica no ''Alto'' da Glória, os atleticanos se situam na ''Baixada''- em outro bairro de classe média, mas em uma área mais baixa que a cidade em geral: mas não tão baixa quanto algumas áreas de São Paulo, que tem ladeiras para ninguém botar defeito...Do meu hotel para a Arena da Baixada leva-se de 15 a 20 minutos, andando, e ela fica perto de 2 shoppings: Curitiba e Crystal. Pois bem, voltando ao jogo, no início a torcida do Coritiba abafava os gritos dos torcedores atleticanos, em minoria, que foram inclusive proibidos de levar instrumentos de percussão...Depois, á medida em que o Coritiba foi perdendo gols, e foram muitos, os torcedores do meio foram se calando, e só se ouvia os atleticanos- muito animados- e os torcedores da Império Alviverde, do outro lado. O jogo lembrou o São Paulo X Corínthians do Brasileirão do ano passado, de fatídico resultado( os corinthianos venceram por 1 X 0, com gol de Betão no final). No início, o Atlético foi para cima. Logo, os ''coxas-brancas'' se impuseram em seu próprio estádio, e foram perdendo gols. Não que as chances de gol fossem muitas: era um clássico, muito disputado, com muitas divididas pelo meio-de-campo. O MINEIRO Ney Franco utilizou uma velha estratégia: atribuiu o favoritismo aos adversários, e montou um FERROLHO pelo meio e pelas laterais. Os ''coxas'' foram com tudo para o ataque, mas esbarravam na retranca atleticana e na inoperância dos seus próprios atacantes. A torcida foi ficando cada vez mais impaciente e, como a do São Paulo no ano passado, foi se calando, dando gás para os oponentes em minoria. Nos contra-ataques o Atlético se mostrava mais perigoso, dando trabalho ao goleirão Édson Bastos do Coritiba. Enfim, aos 20 do segundo tempo, em um lance inspirado do colombiano Ferreira, o Atlético fez o seu gol, levando a pequena torcida à loucura, com fogos vermelhos e tudo. E eles provocavam os rivais, gritando ''Ei, coxa, vai tomar no...''. Após o gol o Coritiba, de Dorival Júnior, foi ainda mais para o ataque, perdendo ainda mais alguns gols. De vez em quando os torcedores mais próximos ainda se animavam- um chegou inclusive a dizer que seria ''de virada''- mas no final o Atlético, em mais um contra-ataque, bateu o prego final no caixão do Coritiba fazendo 2 X 0. Neste momento vários torcedores alvi-verdes tentaram sair do estádio, e se depararam com os portões fechados. Esperamos, por estratégia da PM, 15 minutos após o final do jogo, para dar tempo de os atleticanos irem embora, evitando maiores conflitos. Eu deixei de pegar táxi nos arredores do estádio pois o trânsito não andava. Depois, ao caminhar por uma das ruas próximas, vi alguns torcedores da Império Alviverde correndo e gritando palavras de ordem, seguidos por policiais. Segui na direção oposta e, ME PERDI. Fiquei andando às cegas, e de noite, por várias ruas, sem saber mais em que direção ficava o centro da cidade. Ao redor ouvia sirenes, buzinas, sinais de um possível conflito entre torcedores. Até que, após meia-hora de caminhada, achei um táxi e me mandei de volta para o hotel para assistir o ''Troca de Passes'' do Sportv. Um pouco de improviso na ''Cidade Modelo'', mas acabei resolvendo tudo, ao final. Minha experiência de ''torcer'' pelo Coritiba não foi bem sucedida, mas ''o primeiro Atletiba a gente não esquece jamais''...
sábado, 19 de janeiro de 2008
Breve, aqui, comentários sobre o Atle-Tiba de domingo...
Por enquanto, as condições climáticas são ''típicas de verão'': chove, a temperatura está em torno de 20 graus. Todos os jornais da cidade falam do clássico de amanhã, onde são esperadas mais de 30 mil pessoas. A ''cota'' de ingressos destinada aos torcedores do Atlético Paranaense- 2500- se esgotou em apenas duas horas. Outros ingressos para atleticanos podem ser liberados caso a torcida do Coritiba compre toda a sua cota. Os preços são absurdos: cadeira social,com a melhor visão do Estádio, custa 100 reais. Optei pela cadeira ''Mauá'', mais popular, em lugar no nível dos jogadores: 30 pilas. Mais detalhes posteriormente.
quinta-feira, 17 de janeiro de 2008
Vocação
Há uma diferença significativa entre vocação e carreira escolhida. Escolher significa ter várias ou pelo menos duas opções igualmente válidas. Vocação significa amar tanto algo que você faria aquilo até de graça. Aliás, faria não. Já o faz. Naturalmente, sem esforço. Muitos dos melhores escritores entraram no ramo como algo compulsivo, meio como o sexo. Que faz sofrer, mas traz alguma satisfação íntima. Eram pessoas problemáticas, muitas loucas, e usavam a escrita como forma de purgar os seus terrores, de lidar com o seu lado ''negro'' interior. A obra inteira de Baudelaire valeu, enquanto vivo, meros 15 mil francos, enquanto outros escritores muito inferiores recebiam 10 vezes mais por um único trabalho...Victor Hugo foi um destes escritores mais populares mas convenhamos, com mérito. Hoje, com a facilidade e a expansão gerados pelo advento da Internet. milhares de jovens escritores se lançam ao mundo. Muitos sequer foram publicados. Outros, se o foram foi devido a algum prêmio em concursos literários, e nem isso é garantia de que serão lidos por um número expressivo de pessoas. Mas não importa. Eles continuarão fazendo isto enquanto puderem. Vários sacrificarão seus parcos bens, parte dos vencimentos recebidos em outras atividades, a sua tranqüilidade e as suas horas vagas pela busca da grandeza que é fazer Arte com A maiúsculo. Não pensem que é fácil a vida dos atores, muito pelo contrário. Harrison Ford foi carpinteiro para sobreviver, e só adquiriu fama e fortuna bem tarde. O talento dos artistas da bola, como um Robinho, também se desenvolveu em diversas tardes prazerosas nos ''terrões'' no meio da rua, com bola de meia. Não que eu esteja querendo me comparar a esta gente toda, aos melhores de cada área, mas escrever um blog, entre milhões, e esperar que alguém leia é quase uma miragem. Eu, como tantos, faço isto em primeiro lugar por mim mesmo, porque gosto. E o faria mesmo que fôsse única e exclusivamente para o meu próprio prazer. Porque me mostro, inicialmente, para mim mesmo, em um processo único de auto-descoberta. Isto não tem preço. Me consola também imaginar que não começamos do nada. Somos parte de um processo infinito de idéias e pessoas com quem dialogamos imaginariamente, uma vez que não podemos vê-los ou partilhar alguns momentos em sua companhia. E esta inclusão nesta vasta confraria não se dá por algum convite exterior: somos nós que nos convidamos, que sentimos falta de fazer parte deste processo. Por mais messiânica que seja, a idéia de que somos portadores de uma espécie de ''missão'' muito maior do que nós mesmos nos faz suportar as provações do destino nesta e em outras infinitas áreas. O mundo nos sustentou, nos colocou onde estamos com algum propósito, e seria um desperdício não retribuirmos tudo isto de alguma forma. Em um mundo onde muitos optam por sujar, das mais diversas formas, que a nossa escrita seja uma reação, por menor que seja, em busca de mais pureza, de ar limpo. Que nos transforme em garis, garis com uma caneta nas mãos e o coração impoluto, apesar da passagem do tempo ainda cheio de sonhos e esperanças vãs...
terça-feira, 15 de janeiro de 2008
O ''negão'', a mulher e o religioso
Os mais experientes devem lembrar desta estória. A cada eleição os ''favoritos'' eram os mesmos, Lula e Brizola. Depois de um certo tempo, surgia um ''tertius'' vindo do nada, e ganhava o pleito. Os esquerdistas tradicionais serviam apenas como um espantalho, para que as pessoas se dessem conta- e eram ajudadas nisto pela mídia- do risco que eles representavam para o sistema. Um dia, se deram conta que era muito melhor entregar as rédeas para um Lula assimilado que renegou todas as suas idéias anteriores, mas esta é uma outra estória. Lembro destes fatos por causa do ''auê'' que tem despertado entre imprensa e incautos a idéia de termos um negro candidato à Presidência dos Estados Unidos. E não só isto: junte-se também a candidatura de uma mulher independente, progressista, que não tem ''papas na língua''. Este seria o cenário ideal, não é mesmo? Porém, as lições de um passado recente brasileiro mostram que, inicialmente, os eleitores gostam de experimentar candidatos mais ousados. No entanto, a viabilidade destas candidaturas dependerá, em boa parte, do comportamento dos adversários republicanos. Entre estes, há um candidato respeitável, de centro- McCain- um mórmon e um evangélico extremista. Caso triunfe nas prévias este último, será um passeio dos democratas. Será Hillary ou Obama o vencedor das eleições. No entanto, a candidatura de McCain tem dado sinais de revitalização. E podemos mesmo arriscar que, sendo este o escolhido, e considerando que a massa de eleitores sempre pende para o centro, os republicanos podem vencer mais uma eleição. Por mim eu votaria em Hillary, mas sabe-se que mulheres na Presidência de países são fatos raros. Mais raros ainda quando se trata de mulheres fortes, determinadas, independentes. Tal como no Carnaval, tudo acabará na próxima terça-feira 5 de fevereiro. Veremos se sou bom de palpites na política, uma vez que no futebol já está perdendo a graça torcer para um time- São Paulo- que ganha todos os campeonatos...
Estorinha...
Sabem da estória do homem que foi para a igreja rezar? ''Deus- disse ele- é só o Senhor me deixar ganhar na Loteria que tudo ficará bem. Não é por mim, Deus, é por minha família. Minha esposa precisa de cuidados médicos intensivos muito caros, e minha filha vai para a Faculdade e não tenho dinheiro para pagar as mensalidades. Sempre fui um homem honrado, e esta é a primeira vez que realmente Lhe peço algo. Por favor, conceda-me este único desejo''. Depois ele foi para casa e esperou. Quando anunciaram os ganhadores da Loteria, seu nome não estava na lista. Então, na semana seguinte, voltou à igreja e rezou novamente. ''Talvez o Senhor não tenha entendido- começou ele- Sempre fui um homem honrado, e este pedido não é para mim, é para a minha esposa e para minha filha. Se o senhor me deixar apenas ganhar na Loteria, poderei dar toda a ajuda de que necessitam''. Mais uma vez ele foi para casa e, depois do sorteio, procurou em vão por seu nome entre os ganhadores. Nada. Então, mais uma vez, ele rezou. ''- Meu querido Deus. Realmente preciso de sua ajuda. Ganhar na Loteria é crucial para que eu tome conta de minha esposa e de minha filha. Sempre fui um bom homem, e nunca pedi nada para mim mesmo. Esta é a primeira vez que Lhe peço algo, e não tenho certeza de que esteja ouvindo. Por que o Senhor não me ajuda?''. Logo depois, uma luz apareceu diante de seus olhos, e ele ouviu a voz de Deus, dizendo: ''- Ajude-me, Saul. Compre um bilhete! ''
quarta-feira, 9 de janeiro de 2008
Voltas que a vida dá...
Há poucos dias, descobri aqui em São Paulo um lugar com um nome incomum: ''O Melhor Bolo de Chocolate do Mundo''. Diz um folheto da doceria que ela surgiu em Lisboa, como um restaurante. Que servia um bolo de chocolate que era elogiado por muitos, que confessavam comer no tal restaurante só para comer o bolo de chocolate como sobremesa. E que os mais entusiasmados o qualificaram como ''melhor bolo de chocolate do mundo''. O apelido ficou, o restaurante fechou e virou doceria, uma jornalista brasileira conheceu e se entusiasmou, trazendo a tal iguaria para São Paulo. A lojinha só serve DUAS espécies de bolo- o tradicional e um com chocolate meio amargo- além de um café expresso e um vinho do porto para acompanhar as guloseimas. O bolo realmente é digno de tal título, embora eu não seja um ''expert'' em chocolates: é leve, leva pouca farinha e açúcar, ao estilo dos doces franceses. Para os curiosos, fica na rua Oscar Freire próxima à rua Peixoto Gomide, nos Jardins. No meio de tantos cafés famosos e docerias, eis uma bela descoberta. PS: Já voltei outra vez para comer o tal bolo, mas não levo para casa para não me empanturrar...
Proposta Interessante
Os que costumam ler este blog, sabem de minha preocupação com o tema dos acidentes de trânsito. Por influência da corrente despenalizadora do Direito Penal, foi aprovado o atual Código de Trânsito. O resultado é que a legislação ficou defasada em relação a uma realidade monstruosa: milhares de vítimas são registradas a cada ano, em decorrência da conduta de motoristas irresponsáveis e/ou alcoolizados. Para fazer frente a esta realidade, instituições como o Ministério Público procuraram utilizar conceitos do Direito Penal- como o de Dolo Eventual - para aumentar as penas dos infratores. Embora correta a conduta do MP, para evitar a impunidade, não há segurança de sua adoção em todos os casos. Juízes venientes e júris emocionais podem não partilhar deste conceito, inocentando os assassinos do trânsito. Além disto, é duvidoso o papel da prisão no Brasil como meio de correção de condutas. Isto se os infratores- muitos de classe média, com condição de contratar bons advogados- forem para a mesma, ao final de um processo cheio de recursos. Em vista de tudo isto, é louvável a discussão iniciada pelo Ministro Tarso Genro sobre multas e confisco. Em um país marcado pela impunidade e pelos comportamentos anti-sociais e desviantes, há que se atribuir um papel crescente à punição pela parte mais sensível do ser humano atualmente: o bolso. Claro que multas confiscatórias tem uma constitucionalidade discutível, e certamente serão criticadas por muitos. E também é de se duvidar de um Governo que atua por meio de ''factóides'': a toda crise eles procuram divulgar propostas mirabolantes, como as feitas após a queda do avião da TAM no ano passado, que são esquecidas logo a seguir. Mas o principal é que se tocou no ponto nevrálgico desta questão: a única solução imediata para esta epidemia de mortes no trânsito, que vem ceifando inúmeras vidas como moscas, é afetar o BOLSO dos infratores, e bem pesadamente. Esperamos que estas propostas não sejam abandonadas mais uma vez, como tantas outras...
Casualidades...
No início do capitalismo, prevalecia a lógica que, com trabalho árduo, se venceria qualquer obstáculo. Com o decorrer do tempo, fomos vendo que esta lógica simples foi dando lugar a outras interpretações. Surgiram os rentistas, os capitalistas que viviam só da renda de suas aplicações( figura ainda muito comum no Brasil de hoje,não acham?). Hoje temos a figura dos ''neo-capitalistas'', que são os bandidos modernos. Eles se espelham no estilo de vida dos ricos e famosos, mas não tem paciência para esperar adquirir o mesmo modo de vida por meios lícitos. Por isto seqüestram e matam, em busca de carrões, tênis e roupas de grife. ''O dinheiro não tem cheiro'', é uma das máximas do Direito Tributário. Do mesmo modo, os ''neo-capitalistas'' do PCC e cia. imaginam poder ocultar-se tranqüilamente em um mundo onde o dinheiro fala mais alto, assim como as aparências. Mas não nos deixemos enganar por aqueles que conseguem dinheiro ''fácil'', seja de que forma for. Mesmo hoje, com tantos corruptos e ladrões, perseguidos pela polícia ou não, o sucesso continua como sempre foi. Uma combinação de espírito empreendedor e trabalho árduo. Os MELHORES triunfam em todos os campos do saber, das artes e do esporte. Falem em um nome de sucesso, e os rastros estão por todas as partes para detectar: trata-se de alguém que soube curar as dores e feridas, um obcecado pelo que faz a ponto de considerar o seu ofício muito mais um ''hobby'' do que um trabalho, um expert no seu ramo. Os nomes são inúmeros. Muricy Ramalho, no futebol. Washington Olivetto, na publicidade. Oscar Niemeyer, na Arquitetura. O saudoso Paulo Autran, no teatro e na TV. O sucesso não é só trabalho árduo- característica do ofício de milhões de anônimos batalhadores do dia-a-dia- e nem é só espírito empreendedor, que não dispensa a prática e os erros. É a soma dos dois. Claro que nem todos os ricos e famosos obtiveram o que tem pela soma destes dois fatores. Mas aqueles que optaram por ''atalhos'' mais ''fáceis'', por quanto tempo manterão suas posições? Qual a solidez do que possuem, em comparação com o resultado do trabalho de um Rogério Ceny, só para citar um exemplo? De quem lembraremos daqui há uma década: de um Renan Calheiros( ou da Mônica Veloso) ou de Rogèrio Ceny? O mundo continua sendo regido pelo mérito, não nos enganemos. Não fôsse isto, já teríamos nos explodido há muito tempo...O mundo continua sendo daqueles que não tremem diante dos obstáculos, daqueles que suam sangue nas batalhas de todos os dias, daqueles que não esmorecem jamais, daqueles que transformam suas dores e lágrimas em obras de arte que entretenem e consolam outros milhões de cidadãos. Daqueles que descobrem, enfim, que estão neste planetinha por algum propósito, e com algum tipo de missão a cumprir. Estes, ainda que não tenham vencido, já estão um passo adiante dos outros milhões que estão pastando às cegas, sofrendo e sem saber porquê, se julgando ''vítimas'' de algum destino que as escolheria ao acaso, beneficiando uns e perseguindo outros por puro arbítrio. Não existem acasos nesta vida. Há uma ordem por trás de tudo, por mais caótico que pareça. Nietzche deve ter enlouquecido em parte por ter concebido a figura do ''eterno retorno'': imaginem o horror que seria reviver as nossas simples vidinhas passo a passo, ainda mais sabendo que somos responsáveis por tudo o que nos ocorre...O bom é saber que este mundo é uma escola, e só precisaremos repetir as lições que não aprendermos por bem...Penas perpétuas, o inferno, o ''eterno retorno'' são ilusões daqueles que ainda não perceberam que tudo é inconstante e passageiro: as más, mas também as boas coisas. Dizia a música que ''tristeza não tem fim, felicidade sim''. A boa nova é que tudo tem fim, toda lição, por mais árdua que seja, tem fim. Todos somos atores em uma peça eterna, em que todas as personagens são passageiras. Hoje mendigos, amanhã reis, em uma linda alternância regida por uma força maior, uma ordem em meio ao caos aparente...
quinta-feira, 3 de janeiro de 2008
Cenas antigas, na memória
De um antigo episódio da série ''Twilight Zone''( Além da Imaginação ),em que havia um personagem viciado em leitura. Não por acaso um ''quatro olhos'', com grossas lentes. O patrão vivia perseguindo-o por causa do seu ''vício'', enquanto ele sonhava com um dia em que poderia viver só para ler. Então ocorre uma Guerra Mundial, e o fanático por leitura sobrevive. Seu sonho está próximo de se realizar. Ele encontra um lugar cheio de livros, onde já foi uma biblioteca. O drama- oh raça dramática esta nossa!- é que ele teve destruídos os seus óculos na guerra, e não conseguiria mais ler...Falando em leitura, há um episódio da clássica série Star Trek( Jornada nas Estrelas- a série clássica )em que um personagem é achado no meio do espaço e trazido para a nave. Brevemente ele manifesta um desejo forte por aprender mais sobre o modo de vida terráqueo. Lê livros e mais livros( detalhe: todos projetados em telões como os nossos modernos computadores...mas a série foi feita nos anos 60...). Ele vai apreendendo todos os conhecimentos disponíveis na espaçonave, a ponto de se tornar perigoso para os demais tripulantes. O desafio será deixá-lo em algum lugar distante do espaço, de onde ele não possa sair...Como é perigoso, por vezes, o conhecimento...O terceiro episódio foi aquele da série Planeta dos Macacos, quando o Charlton Heston sai cavalgando por uma praia deserta, supostamente em outro planeta, e então descobre uma Estátua da Liberdade em plena areia da terra. A expressão de surpresa em seus olhos é fantástica: ele se dá conta de que sempre esteve no Planeta Terra. Só havia viajado alguns séculos à frente...
quarta-feira, 2 de janeiro de 2008
Era dos Automatismos
Outrora já se vislumbrou uma era em que, por conta do avanço da técnica, os seres humanos seriam cada vez mais livres para criar e adquirir conhecimentos de todas as formas. Seria o ''Século das Luzes'', o triunfo da razão. Os anos vão passando, e esta era tão esperada vai ficando cada vez mais distante. O que se vê é um reforço dos automatismos, sob as mais diversas formas. Ano após ano, conforme o calendário avança, as pessoas vão entrando no frenesi das datas criadas pelo comércio. Mesmo este escriba, que está longe de ser um admirador do Natal- data em que faço questão de ir para o lugar mais distante possível- não pode escapar da ''lavagem cerebral'' natalina. Na TV, nos shoppings, nas ruas, somos invadidos por um frenesi de músicas natalinas, celebrando a fraternidade cristã e o amor universal. Multidões se atropelam na busca das tradicionais ''lembrancinhas'' baratas para presentear amigos e parentes (aliás, por que não se faz uma pesquisa sobre o grau de satisfação de quem recebe presentinhos cobrados na rua 25 de março e outros camelódromos que infestam o país afora?). É programa da Xuxa, especial com Roberto Carlos, peru de Natal, ceia de Ano Novo, tudo igual, ano após ano. Depois, como os feriados de fim-de-ano são mais prolongados que o normal, a massa sai em fuga para o litoral. Resultado: falta de água no litoral paulista, e uma espera de mais de 7 horas para o retorno à cidade de São Paulo. Ruas cheias no litoral, mercados super-lotados, falta de inúmeras mercadorias, inflação artificial dos preços das mesmas, sob o velho argumento da ''lei da oferta e da procura''. Quando as estradas estão ruins, as pessoas reclamam dos perigos. Depois, quando o governo asfalta algum trecho, o resultado são as inúmeras mortes ocorridas em Santa Catarina, um estado que tem algumas das melhores estradas do país...É duro fugir do automatismo, das repetições. Quem sabe alguns dos eventuais leitores destas linhas, se existirem, se lembrem de já terem lido este mesmo autor fazendo as mesmas digressões há alguns meses, ou anos...Talvez daí surja o grande fascínio que o Ano Novo exerça sobre a maioria das pessoas. A oportunidade de, enfim, após um ano de correrias, fugas e frenesis consumistas, poderem refletir sobre o que fizeram, fazendo até mesmo planos. Mas, como dizia o poeta, ''o tempo não pára''. Já é chegada a hora de agir, de recomeçar e, quando olhamos o calendário, já perdemos alguns dias deste novo ano fazendo tantos projetos. Perdemos horas ou dias tentando voltar para casa por estradas cada vez mais perigosas e aeroportos super-lotados. Se não retomamos o fio da meada com todo vigor, já somos hipnotizados novamente pelo alterar das datas ''importantes'': Aniversário de São Paulo, Carnaval, Páscoa, etc. E o jogo continua, até o próximo final de ano...Felizes os que podem se gabar de agir conscientemente, e não como autômatos. Os primeiros podem ser contados na ponta dos dedos. Os segundos são a maioria: cega, surda e muda. Nós, humanos, somos mera ''titica de galinha'', porém achamos que fomos feitos ''à imagem do criador''.Não seria esta a maior de todas as blasfêmias? Mas, ''atire a primeira pedra'' aquele que não levar uma vida cheia de automatismos e repetições...Feliz Ano Novo!!!
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