quinta-feira, 17 de janeiro de 2008
Vocação
Há uma diferença significativa entre vocação e carreira escolhida. Escolher significa ter várias ou pelo menos duas opções igualmente válidas. Vocação significa amar tanto algo que você faria aquilo até de graça. Aliás, faria não. Já o faz. Naturalmente, sem esforço. Muitos dos melhores escritores entraram no ramo como algo compulsivo, meio como o sexo. Que faz sofrer, mas traz alguma satisfação íntima. Eram pessoas problemáticas, muitas loucas, e usavam a escrita como forma de purgar os seus terrores, de lidar com o seu lado ''negro'' interior. A obra inteira de Baudelaire valeu, enquanto vivo, meros 15 mil francos, enquanto outros escritores muito inferiores recebiam 10 vezes mais por um único trabalho...Victor Hugo foi um destes escritores mais populares mas convenhamos, com mérito. Hoje, com a facilidade e a expansão gerados pelo advento da Internet. milhares de jovens escritores se lançam ao mundo. Muitos sequer foram publicados. Outros, se o foram foi devido a algum prêmio em concursos literários, e nem isso é garantia de que serão lidos por um número expressivo de pessoas. Mas não importa. Eles continuarão fazendo isto enquanto puderem. Vários sacrificarão seus parcos bens, parte dos vencimentos recebidos em outras atividades, a sua tranqüilidade e as suas horas vagas pela busca da grandeza que é fazer Arte com A maiúsculo. Não pensem que é fácil a vida dos atores, muito pelo contrário. Harrison Ford foi carpinteiro para sobreviver, e só adquiriu fama e fortuna bem tarde. O talento dos artistas da bola, como um Robinho, também se desenvolveu em diversas tardes prazerosas nos ''terrões'' no meio da rua, com bola de meia. Não que eu esteja querendo me comparar a esta gente toda, aos melhores de cada área, mas escrever um blog, entre milhões, e esperar que alguém leia é quase uma miragem. Eu, como tantos, faço isto em primeiro lugar por mim mesmo, porque gosto. E o faria mesmo que fôsse única e exclusivamente para o meu próprio prazer. Porque me mostro, inicialmente, para mim mesmo, em um processo único de auto-descoberta. Isto não tem preço. Me consola também imaginar que não começamos do nada. Somos parte de um processo infinito de idéias e pessoas com quem dialogamos imaginariamente, uma vez que não podemos vê-los ou partilhar alguns momentos em sua companhia. E esta inclusão nesta vasta confraria não se dá por algum convite exterior: somos nós que nos convidamos, que sentimos falta de fazer parte deste processo. Por mais messiânica que seja, a idéia de que somos portadores de uma espécie de ''missão'' muito maior do que nós mesmos nos faz suportar as provações do destino nesta e em outras infinitas áreas. O mundo nos sustentou, nos colocou onde estamos com algum propósito, e seria um desperdício não retribuirmos tudo isto de alguma forma. Em um mundo onde muitos optam por sujar, das mais diversas formas, que a nossa escrita seja uma reação, por menor que seja, em busca de mais pureza, de ar limpo. Que nos transforme em garis, garis com uma caneta nas mãos e o coração impoluto, apesar da passagem do tempo ainda cheio de sonhos e esperanças vãs...
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2 comentários:
É isso aí. Vamos escrever sempre, sem olhar quem nos está olhando, ou lendo. O diletantismo pode, um dia, chegar as vias de fato.
Chegar ''às vias de fato'' é crime...He, he, he... Mas entendi o que você quer dizer. Acho que cheguei a um ponto em que sinto uma COMPULSÃO por escrever, algo que é mais forte que a minha vontade. Há uma propaganda da CBN em que diversas personalidades como Heródoto Barbeiro e Juca Kfouri sobem em um banquinho no centro de São Paulo e começam a abrir o verbo, e logo se forma uma multidão para ouvi-los. Isto é vocação...
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