quarta-feira, 2 de janeiro de 2008
Era dos Automatismos
Outrora já se vislumbrou uma era em que, por conta do avanço da técnica, os seres humanos seriam cada vez mais livres para criar e adquirir conhecimentos de todas as formas. Seria o ''Século das Luzes'', o triunfo da razão. Os anos vão passando, e esta era tão esperada vai ficando cada vez mais distante. O que se vê é um reforço dos automatismos, sob as mais diversas formas. Ano após ano, conforme o calendário avança, as pessoas vão entrando no frenesi das datas criadas pelo comércio. Mesmo este escriba, que está longe de ser um admirador do Natal- data em que faço questão de ir para o lugar mais distante possível- não pode escapar da ''lavagem cerebral'' natalina. Na TV, nos shoppings, nas ruas, somos invadidos por um frenesi de músicas natalinas, celebrando a fraternidade cristã e o amor universal. Multidões se atropelam na busca das tradicionais ''lembrancinhas'' baratas para presentear amigos e parentes (aliás, por que não se faz uma pesquisa sobre o grau de satisfação de quem recebe presentinhos cobrados na rua 25 de março e outros camelódromos que infestam o país afora?). É programa da Xuxa, especial com Roberto Carlos, peru de Natal, ceia de Ano Novo, tudo igual, ano após ano. Depois, como os feriados de fim-de-ano são mais prolongados que o normal, a massa sai em fuga para o litoral. Resultado: falta de água no litoral paulista, e uma espera de mais de 7 horas para o retorno à cidade de São Paulo. Ruas cheias no litoral, mercados super-lotados, falta de inúmeras mercadorias, inflação artificial dos preços das mesmas, sob o velho argumento da ''lei da oferta e da procura''. Quando as estradas estão ruins, as pessoas reclamam dos perigos. Depois, quando o governo asfalta algum trecho, o resultado são as inúmeras mortes ocorridas em Santa Catarina, um estado que tem algumas das melhores estradas do país...É duro fugir do automatismo, das repetições. Quem sabe alguns dos eventuais leitores destas linhas, se existirem, se lembrem de já terem lido este mesmo autor fazendo as mesmas digressões há alguns meses, ou anos...Talvez daí surja o grande fascínio que o Ano Novo exerça sobre a maioria das pessoas. A oportunidade de, enfim, após um ano de correrias, fugas e frenesis consumistas, poderem refletir sobre o que fizeram, fazendo até mesmo planos. Mas, como dizia o poeta, ''o tempo não pára''. Já é chegada a hora de agir, de recomeçar e, quando olhamos o calendário, já perdemos alguns dias deste novo ano fazendo tantos projetos. Perdemos horas ou dias tentando voltar para casa por estradas cada vez mais perigosas e aeroportos super-lotados. Se não retomamos o fio da meada com todo vigor, já somos hipnotizados novamente pelo alterar das datas ''importantes'': Aniversário de São Paulo, Carnaval, Páscoa, etc. E o jogo continua, até o próximo final de ano...Felizes os que podem se gabar de agir conscientemente, e não como autômatos. Os primeiros podem ser contados na ponta dos dedos. Os segundos são a maioria: cega, surda e muda. Nós, humanos, somos mera ''titica de galinha'', porém achamos que fomos feitos ''à imagem do criador''.Não seria esta a maior de todas as blasfêmias? Mas, ''atire a primeira pedra'' aquele que não levar uma vida cheia de automatismos e repetições...Feliz Ano Novo!!!
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