O que você acharia de conhecer uma pessoa vegetariana, de pendor artístico( chegou inclusive a pintar vários quadros), com inclinação para a leitura de textos filosóficos e ocultistas e detentor de uma biblioteca com cerca de 16 mil volumes? Estamos falando, por incrível que pareça, do ditador alemão Adolf Hitler, o mesmo que conduziu o mundo a um conflito em que pereceram dezenas de milhões de pessoas- entre as quais 6 milhões de judeus, mortos em campos de concentração...Aqui deparamos com a primeira grande dificuldade: é possível lidar com o ''ser humano'' Hitler, independentemente de nossa opinião sobre a sua ideologia e suas práticas políticas? O autor Timothy W. Ryback, autor do recém-publicado livro ''A Biblioteca Esquecida de Hitler''( Editora Companhia das Letras) faz-nos pensar que sim. Paradoxalmente, o mesmo homem que incentivava as fogueiras públicas para a queima de livros ditos ''subversivos''- tal como feito no período medieval da Inquisição- era capaz de ler de um a dois livros por noite, ''mesmo quando ia para a cama tarde''...Após a queda do regime nazista em Berlim, as tropas aliadas- incluindo os soviéticos- saquearam a biblioteca acumulada pelo ditador em todos os seus anos de existência. Um especialista avaliou-a em cerca de 16 mil volumes...A vida política de Hitler, ficamos sabendo pela leitura desta reveladora obra, é inseparável da de seu mentor, o escritor Dietrich Eckart. Descobrimos que, por incrível que pareça, ''o próprio Hitler admite que, antes de conhecer Eckart, havia sido exposto apenas de passagem às idéias ou à retórica antissemita. Contou que o pai teria considerado um sinal de ''atraso cultural'' usar o termo ''judeu'' em casa. Hitler se lembra de ter ficado ''horrorizado'' com as observações antissemitas ouvidas ocasionalmente na escola. ''Só quando fiz catorze ou quinze anos comecei a deparar com a palavra ''judeu'' com certa frequência, em parte ligada a discussões políticas'', disse. ''Isso me enchia de uma aversão branda( nosso grifo), e não conseguia me livrar de uma sensação desagradável( nosso grifo)que sempre surgia quando discussões religiosas ocorriam na minha presença''(...)''Como sempre nestes casos, comecei a tentar mitigar minhas dúvidas através dos livros'', Hitler observou. ''Por alguns hellers, comprei os primeiros folhetos antissemitas da minha vida''. Ele os desprezou como ''não científicos''( nosso grifo). Agora, o antissemitismo de Hitler ganhou forma e ardor sob a tutela de Eckart(...)Em particular, Hitler atribuiu a Eckart a associação entre judeus e bolcheviques''( página 63). A biografia de Eckart mostra incríveis traços de semelhança com a do ''Führer'': ''Quando leu pela primeira vez o poema épico de Ibsen''( OBS: a obra ''Peter Gymt'', que adaptaria com grande sucesso para o teatro)''Eckart era um escritor fracassado de 44 anos que desperdiçara seu talento artístico e recursos financeiros, e era obrigado a dormir em bancos de praça em Berlim''( nosso grifo)( OBS: Tal como o próprio Hitler tivera de sobreviver em Viena, nos anos anteriores à Primeira Guerra Mundial...).''Somente a morte do pai e a herança resultante o livraram da miséria. A estória do ''Fausto nórdico'', de Ibsen, o impressionou. O protagonista homônimo parte de uma aldeia norueguesa isolada cheio de confiança juvenil, resolvido a se tornar o ''rei do mundo''( sic). Percorre a Europa e o norte da África, o mundo mágico dos ''trolls'' e a corte dos reis, deixando em sua esteira vidas arruinadas e promessas traídas, apenas para voltar para casa no fim da vida arruinado e envergonhado( OBS: ''qualquer coincidência'' com a biografia de Hitler...). Ali encontra a amada abandonada mas fiel, Solveig- seu nome significa ''caminho da alma''- esperando por ele e oferecendo-lhe a salvação''( página 66). Como se vê, a semelhança da trajetória de vida dos dois homens- que encontraram-se em determinado momento no comando do Partido Nacional- Socialista nos anos de sua fundação- e de seu ideário foi decisiva para a futura trajetória do líder alemão. ''Hitler'', continua a contar-nos Timothy Ryback, ''não familiarizado com a obra quando conheceu Eckart no outono de 1918, teria sentido ressonâncias semelhantes às que atingiram Eckart. Na juventude, à semelhança de Gymt, Hitler fora tomado por um desejo de viajar, alimentado em grande parte pelas estórias de aventuras, como a série de romances Leatherstocking Tales( Contos dos Desbravadores), de James Fenimore Cooper, ''Robinson Crusoe'', de Daniel Defoe, ''Através do Deserto'', de Karl May, e as aventuras da vida real do explorador sueco Sven Hedin, que nas primeiras décadas do século XX atravessou algumas das últimas regiões inexploradas da Terra e retornou com relatos fascinantes de povos desconhecidos e perigos incontáveis''( página 67). Nos próximos posts continuaremos a comentar mais um pouco sobre este fascinante livro( ''A Biblioteca Esquecida de Hitler'', de Timothy W. Ryback, Editora Companhia das Letras). Alcnol.
Nenhum comentário:
Postar um comentário