Agora que o mundo- aparentemente, com a solitária exceção da América Latina- está definitivamente livre do ''perigo vermelho'', parece que a grande ameaça às liberdades individuais pode advir, quem diria, do chamado ''livre mercado''( mais livre do que nunca...). Mesmo diante da crise econômica mais violenta das últimas décadas, e talvez exatamente por isto mesmo, empresas recorrem cada vez mais a práticas impositivas e duvidosas no trato com o consumidor. Peguemos, como exemplo, outra reportagem da revista ''Veja'' de 17 de dezembro, intitulada ''A Anatomia do Consumo''. Segundo o periódico, ''todas as técnicas vão ao mesmo ponto: são uma tentativa de atrair pela emoção e pelos cinco sentidos. Eis o que fazem alguns shoppings norte-americanos. Com a constatação de especialistas da Universidade Harvard de que em lugares com maior concentração de oxigênio as pessoas tendem a gastar mais, eles decidiram elevar as doses do gás nas lojas, por meio do sistema de ventilação. A razão: o oxigênio ajuda a aumentar a sensação de bem-estar e euforia, associada à compra por impulso( nosso grifo)''. O mais interessante é que, ao invés de negar veementemente tais práticas atentatórias à liberdade dos indivíduos, as empresas até assumem publicamente que isto é verdade mesmo...Ainda segundo a matéria de ''Veja'', ''Dionísio Ferenc, da empresa americana IFF no Brasil, uma das que produzem tais aromas( OBS: destinados a estimular o consumo de produtos)disse que ''o ser humano inspira mais de 5000 vezes por dia. São 5000 oportunidades para estimular alguém a comprar''. Ou melhor, são 5000 oportunidades diárias de manipular a vontade de uma outra pessoa...Entre outras práticas tidas como ''lícitas'' e ''aceitáveis'' está a manipulação de informações, como a adição da palavra ''grátis'' a uma oferta: ''O efeito desmedido da palavra ''grátis'' é um sinal disso. Sua inclusão na embalagem faz o produto vender cerca de 30% mais, conta Sylvia Leão, diretora do Grupo Pão de Açúcar: ''As pessoas tendem a ir direto ao item que vem com brinde, sem fazer conta''. Do contrário, saberiam que, às vezes, ele custa mais caro- como admite Sylvia''. Música, cheiro, informações destinadas a iludir, ''cookies'' instalados nos nossos computadores para rastrear os nossos passos, parece que o ''Big Brother''( estado policialesco descrito pelo escritor britânico George Orwell em seu livro ''1984'')é uma realidade cada vez menos distante, E, pior, com a complacência dos Governos, e a cada vez maior onipresença das mesmas empresas que tanto defendem em seus discursos a ''liberdade de escolha'' e as vantagens do sistema de ''livre mercado''...Alcnol.
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