Na teoria tudo parecia perfeito: almoço no restaurante ''Cheiro Verde'' da Peixoto Gomide, e ida ás pressas até o Shopping Frei Caneca para assistir mais um filme da Mostra. Comprei o ingresso de cinema pela Internet, e bastava apenas passar na bilheteria e entrar. A execução do plano foi um pouco mais ''complicada'': cheguei ao restaurante por volta de meio-dia e vinte de um domingo chuvoso e, pior, agora com ''horário de verão'' ( uma hora a mais que o normal, nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste). Escolhi um prato de panqueca de ricota com espinafre chamado ''Olívia''. Estava excelente. No entanto, restaurantes naturais não são lanchonetes ''fast food''. Preparar uma refeição como esta leva tempo. Quando saí do restaurante, faltavam apenas 8 minutos para 13 horas( horário do filme). Neste instante, fiz uma das caminhadas mais aceleradas de toda a minha vida. Cerca de 15 minutos, até o shopping. Elevador. E, para minha surpresa, já havia uma fila considerável de pessoas na minha frente( destaque: UMA DA TARDE de domingo...). A essa altura já havia passado de uma hora. Peguei enfim o ingresso, sem maiores problemas, e corri para a sala de cinema. Eram 13h15 minutos. Para minha felicidade, o filme havia começado naquele instante. Feliz atraso! O filme que eu queria assistir chamava-se ''La Buena Vida'', do Chile. Um belo painel paralelo com personagens como um músico recém-retornado ao país para concorrer a uma vaga no Conservatório; uma mãe separada e seus conflitos com a filha adolescente; um cabeleireiro que vive com a mãe e a pressiona para ser avalista de um empréstimo para adquirir um carro novo e uma mulher aflita e não-idenficada que inicialmente se prostitui para ganhar a vida. Nada melhor do que a imagem de uma Orquestra para descrever esta obra-prima do cinema latino-americano. O Diretor, como um competente Maestro, parece saber o que faz, e trabalha harmonicamente com as distintas estórias...Ao fundo as imagens de uma bela Santiago, fria e chuvosa( e daí? isto é tempo bom para mim...). O cabeleireiro acaba descobrindo que deve prorrogar a permanência do pai falecido em um cemitério, o que dá lugar a uma das melhores cenas de todo o filme: uma agente funerária passa os dedos freneticamente por uma tela de computador, mostrando todos os planos possíveis- ''se quiser tal coisa, são tantos mil pesos'', ''se optar por aquilo, são mais tantos mil pesos'', ''se não puder pagar mais pela permanência de seu pai no jazigo tudo bem, resta o sistema público- porém, se quiser uma última lembrança dele, são mais x pesos''...Eis o fio condutor velado da estória: salvo a médica que tem problemas com a filha, todos os demais personagens tem dificuldades financeiras- bem ao contrário das notícias alvissareiras que lemos sobre o Chile...O músico é obrigado a raspar a cabeça e entrar para uma orquestra militar para sobreviver a duras penas, o cabeleireiro hesita entre o carro novo e o túmulo do pai, mulheres se prostituem para ganhar a vida: a realidade mostrada é dura, mas dentro do contexto da estória. O resultado é ''redondo'' como um concerto bem executado. Valeu a ansiedade, a correria após o almoço, a espera. Este La ''buena'' vida merece ser visto. Não foi selecionado à toa. Além disto, a visão das belas galerias de rua de Santiago transportam-nos mentalmente a este lugar que todo turista digno do nome deveria conhecer um dia...Alcnol.
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