quinta-feira, 5 de abril de 2012

Marcante experiência gastronômica em Santiago: restaurante ''Boragó''...

A existência de um restaurante na capital chilena que segue a culinária ''técnico-emocional'' ou ''molecular'' criada pelo chef espanhol Ferran Adriá chamou minha atenção.
Eu ''tinha'' de conhecer este estabelecimento...
Do Brasil tentei fazer minha reserva. ''Desanimei'' quando pediram um número de telefone no Chile( sequer havia feito a reserva do hotel). E ''deixei isto para lá'' esperando que, ao chegar, pudesse enfim visitar esta exótica casa...
Os teclados de computador usados naquele país também não ajudaram em nada: foi uma missão hercúlea, e ao final impossível, tentar acessar minha conta de email enquanto estive em Santiago. Como teclar o ''arroba''? Lá é bem mais complicado. Os atendentes de cybercafés explicavam: ''tecla isto, depois alt, depois control'', e eu sempre esquecia tudo no final...
O resultado é que decidi ir do jeito que estava, sem reservas nem nada. Ajudou o fato de que a capital chilena estava meio vazia neste final de verão...
Os comensais sem reserva acabaram acomodados em uma área ao ar livre própria para fumantes( talvez esta tenha sido minha única experiência incômoda da noite...).
Como a capital chilena não conta com uma Lei Anti-fumo forte, os adeptos da fumaça acabam ficando com as mais belas áreas dos restaurantes: aquelas ao ar livre...
Prosseguindo, tentei anotar tudo o que passava pela nossa mesa- por incrível que pareça, o Boragó desmente a lenda segundo a qual ''come-se mal em restaurantes de vanguarda''...acabamos, por volta de 24 horas, dispensando alguns ítens de um menu gigantesco...a pessoa que estava comigo quase passou mal de tanto comer...- mas esta era uma missão ''quase impossível''.
Destaque para o pisco sour( invenção peruana? chilena?)de maracujá, ao lado de água mineral colhida da água da chuva no Sul do Chile...
Melhor, como sempre faço neste blog- que não é, ao contrário do que se pensa, ''especializado'' em gastronomia- falar de nossas impressões/sensações...
Ah, e o pequeno ''bonsai'' aí em cima não é só enfeite: comemos as frutinhas espetadas em seus ''galhos''... 
E esta não seria a maior surpresa...
Para aqueles que pensam que comida ''molecular'' é apenas um ''show''- sem preocupação com o conteúdo- é de se destacar que, como os pratos  contém grande quantidade de proteína, a tendência é que fiquemos satisfeitos logo, mesmo em uma sequência de pratos aparentemente pequenos...
Este foi o nosso maior erro: pensamos em pedir um menu maior com medo de ficar com ''fome'', e o resultado foi que não aguentamos toda a sequência...
O Boragó, além da inventividade com que prepara as suas refeições, destaca-se por utilizar muitos elementos de seu país. Valoriza os vegetais, peixes, carnes ''da casa''( leia-se, do Chile...).
Exatamente por isto, ao contrário de algumas redes internacionais de gastronomia, torna-se extremamente difícil ''transplantar'' para outros países pratos que fazem sentido no contexto local.
Em suma: embora a técnica seja internacional, com características que podem levar a comparações com estabelecimentos similares de outros países( vide o ''Manu'' em Curitiba-PR, que mostramos neste blog), o material utilizado na preparação destes pratos valoriza o uso de elementos locais( chilenos)... 
Tudo o que sai da média, dos padrões estabelecidos e respeitados na gastronomia predominante, tende a assumir um caráter de ''tudo ou nada'', de ''pegar ou largar''. Ou seja, o risco assumido por estes empreendedores é bem maior...
No caso do Boragó- que certamente deve insuflar a ''fúria'' dos críticos com lances espetaculosos como o uso da famosa ''fumacinha à mesa''( há inclusive um prato que, quando mordido, faz com que a fumaça saia de nossas bocas)- eu respondo categoricamente: ''pego''. 
Ou seja, não dá para ignorar o que, muito provavelmente, será a sua Experiência Gastronômica( com maiúsculas mesmo)mais marcante na capital chilena...
Alcnol.
PS: Enquanto jantávamos, pude observar uma cena pouco comum. Além de presenciar carros de polícia que passavam com uma frequência pouco usual em nosso país( ou seja, constantemente), notei que, até mesmo depois das 23 horas, havia moradores praticando ''cooper'' ou caminhando pela Avenida Nueva Costanera( local do restaurante). Que, mal comparando, seria uma espécie de ''Avenida Europa''( SP). Quem conseguiria imaginar cenas semelhantes nos Jardins, à noite???!

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