quarta-feira, 28 de julho de 2010

Como fazemos nossas escolhas, e em que isto afeta o nosso voto...

Embora não gostemos de admitir isto nós, seres humanos, não perdemos de todo nossa origem ''animal''. E compartilhamos com os demais entes da natureza determinados comportamentos.
Chamemos estas práticas de ações ''pré-cognitivas''. Nestes momentos, como ao conviver com pessoas desconhecidas em lugares públicos, costumeiramente agimos de modo ''instintivo''. Muitas vezes outras pessoas totalmente ''estranhas'' mostram sinais de ''simpatia'' ou ''antipatia'' umas com as outras- mesmo sem possuir elementos conscientes que corroborem ou não estes ''sentimentos''.
Por vezes, como quando andamos pelas ruas, isto é absolutamente necessário. Nestas horas, longe de termos uma postura equilibrada e equidistante- como a que é exigida de um Juiz, por exemplo, para quem ''todos são inocentes até prova em contrário- mais do que nunca se faz necessário confiar em nossa intuição. Dois menores sem camisa estão seguindo-nos em uma rua semi-deserta? É hora de ligar o sinal de ''alerta''...Inúmeros outros exemplos semelhantes poderiam ser citados, claro. E isto ocorre não só nas ruas, mas também em momentos importantes de nossas vidas: ao nos enamorarmos de alguém, ao fecharmos um importante negócio, estamos sempre utilizando-nos de nossas habilidades inconscientes...
Podemos dizer a esta altura que, quando menos escolarizado for um indivíduo, mais ele se deixará levar pelo lado ''emotivo'' de seu cérebro. Publicitários sabem, e usam isto, todo o tempo. Paixões humanas como ''cobiça'', ''ódio'', ''exibicionismo'' são manipuladas o tempo todo para motivar nossas decisões. Multidões costumam agir costumeiramente de modo instintivo. Em grupo, sabe-se há muito tempo, um indivíduo pode praticar ações- inclusive criminosas- que ele não faria sem estar ''acobertado'' pelos demais. Em uma multidão, paixões violentas costumam ''liberar-se'' pela cobertura de um grupo( normalmente dirigido por alguém que tem pleno conhecimento do que estamos discutindo...).
Toda esta introdução se faz ainda mais necessária quando o que pretendemos discutir, propriamente, é a nossa forma de escolha política. Não vivemos em um país escolarizado, em que as pessoas- devidamente informadas pela leitura de jornais e demais periódicos- façam suas escolhas políticas de modo consciente e ''racional''.
Ao contrário: quanto menor for o grau de escolaridade de um indivíduo, mais ele se deixará levar por emoções como as descritas acima. Decisões políticas são tomadas não em função do passado, das realizações de um determinado candidato, de sua ideologia, e sim do que ele subconscientemente transmite ao eleitor: ''força'', ''firmeza'', ''simpatia'', etc.
Depois de 3 tentativas seguidas( 1989, 1994, 1998), o Presidente Lula acabou aprendendo a lidar brilhantemente com as emoções desta maioria ''instintiva'' da população brasileira. Conheço pessoas que, ao contrário da imensa maioria,  consideram Lula um ''horror'', um ''lobo em pele de cordeiro'', um ''falso''. Emoções comumente tem este efeito: ''ama-se'' ou ''odeia-se'' um mesmo indivíduo, sem saber direito por que...
Aos ''admiradores'' incondicionais do atual Presidente, de nada adianta argumentos racionais como o da crescente violência, do péssimo estado de nossos Aeroportos e estradas, a saúde e a educação à míngua, entre outros...
Leitores de jornal, em que normalmente predomina o lado dito ''racional'', costumam também, logicamente, usar argumentos políticos do gênero. Em que citam tudo isto. Certos candidatos, inclusive, costumam apelar para argumentos semelhantes. E terão sucesso, ou não, de acordo com o eleitorado que eles desejem atingir... 
Os adeptos incondicionais do Presidente Lula, espalhados por todo o território nacional( em especial nas regiões Norte e Nordeste), não estão interessados em questões como estas que citamos- que normalmente embasam o discurso de seus ''críticos''. A estes interessam elementos subconscientes, ''pré-cognitivos'', referentes à imagem de seu líder político- ao que este ''passa'' para eles em seu discurso e em suas aparições públicas. 
Embora tenha um patrimônio declarado que supera a casa de um milhão de reais, e gostos sofisticados( lembram do episódio do vinho caríssimo da campanha de 2002 ?), Lula aposta em um discurso emotivo, ''olho no olho'', buscando- através de várias alusões a sua origem ''humilde''- a identificação com seus interlocutores.
Bom mas, em que pese tudo isto, o atual Presidente não será candidato nas eleições de outubro. Em seu lugar teremos dois candidatos ''cerebrais''( Dilma e Serra), pouco carismáticos, e uma candidata ''carismática''- amada por seus eleitores- mas desconhecida do grande público( Marina Silva).
Do lado do Governo, o Presidente Lula ensaia entrar na campanha como o grande impulsionador de sua candidata, buscando dar-lhe um pouco de ''gás'' para que o eleitorado não se dê conta de seus principais defeitos: discurso vazio e pouco articulado, postura autoritária, histórico quase inexistente em cargos públicos. Com suas características carismáticas há pouco descritas, Lula pode suprir estas falhas de Dilma- estabelecendo um diálogo com a maior parte do eleitorado.
As chances de José Serra, que competentemente vem ensaiando um discurso dirigido aos chamados ''formadores de opinião''- com várias alusões a um dos ''calcanhares de aquiles'' do Governo do PT: sua política externa, as alianças com ditadores ''de esquerda'' como Hugo Chávez - residem na capacidade que o PSDB tenha de estabelecer um diálogo com a maioria passional e ''intuitiva''. A um ''carisma''( Lula), é preciso contrapor outros( por que não presenças conjuntas de Aécio Neves no programa de TV?). Acostumada com as atuais ''benesses'', a população não irá trocar de comando a não ser que a oposição consiga lidar com competência na mesma área: a proposição de novos, e ousados, programas sociais...
Enfim, é preciso- para ter alguma chance de vitória- que os tucanos consigam articular com habilidade todas estas propostas, dirigindo-as com precisão para cada público em particular: ''racionais'' ou intuitivos''. Para estes últimos, José Serra terá de ''vibrar mais'', fazer um discurso mais emotivo...
Com uma ressalva: não há ''purezas'' quando se trata do ser humano,  dada a sua complexidade. Todos temos um pouco de um ou outro destes lados, com predominância maior de um deles. Com a fortíssima influência atual da Televisão, e seu discurso fortemente ''emotivo''( ''pré-cognitivo''), temos um cenário ideal para uma campanha eleitoral ''sanguinolenta''. Afinal, o medo sempre foi útil nestas horas, e a atual campanha não será diferente...
Alcnol.
PS: Sei que falei pouco da Senadora  Marina Silva, prejudicada até aqui por um cenário de forte polarização entre as principais forças políticas( PT e PSDB). Embora também seja carismática- em um nível bem mais reduzido da população- a Senadora Marina possui um discurso altamente racional e equilibrado. Critica a polarização, promete escolher quadros das principais forças políticas para auxiliá-la em seu eventual Goveno, aposta na discussões de temas atuais e modernos(como o do Meio Ambiente).
Seus pontos fracos são a fraca estrutura partidária- que lhe dará um horário na TV de pouco mais de 1 minuto- e o discurso ''racional''( que tem efeito sobre uma porção reduzida da população, justamente os ''formadores de opinião'' em que Marina Silva tem uma forte margem de apoiadores...). Embora não seja bem o seu estilo, Marina terá de ''bater'' um pouco mais em seus adversários, ''subir o tom'', e encontrar um discurso mais adequado para agradar a maioria de ''intuitivos''/ ''emocionais''. Justamente por não ser este bem o seu estilo, e o ser humano tem uma dificuldade extrema de mudar suas características, as tarefas de Marina Silva são as mais árduas. E em um tempo extremamente reduzido de campanha( 60 dias)...

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