Em meio ao concorrido mercado cinematográfico, repleto de ''blockbusters'' internacionais e nacionais, foi discreta a estreia do filme brasileiro ''Praça Saens Peña''. Uma sala no Rio de Janeiro, na Tijuca, e outra em São Paulo( HSBC Belas Artes, na esquina da Paulista com a Consolação, onde- na segunda semana em cartaz- passou a ser exibido apenas em um horário: 18h30m).
Mas não se deixe levar pelas aparências: eis uma belíssima estreia. ''Praça Saens Peña'' foge aos estereótipos dos filmes brasileiros, caracterizados normalmente pelo que uma conhecida chamou de ''escracho''( muito sangue, muito sexo, piadinhas chulas, tudo excessivamente explícito...).
Estrelado pelo par de atores acima da média Chico Diaz e Maria Padilha, ''Saens Peña'' recorre, o que não é muito comum em filmes brasileiros, ao lado psicológico. Em uma estranha mistura de ficção e documentário( tem até uma imperdível entrevista com o músico tijucano Aldir Blanc que vale, digamos, metade do filme...), ficamos encantados com a forma pela qual o cineasta entrelaça os destinos de um bairro e uma praça( Tijuca, Praça Saens Peña)com os de seus moradores. O casal principal é formado por um professor e uma vendedora. Ele recebe uma proposta de um Editor para fazer um livro de estórias sobre o bairro- projeto no qual acaba se envolvendo completamente. Ela, ambiciosa, primeiro se orgulha do potencial do marido- e aposta que, com o sucesso deste, os dois poderão comprar finalmente o seu apartamento próprio.
O filme é a estória do desencontro entre os projetos dos dois personagens, entremeado de muitas estórias sobre os arredores do apartamento onde vivem- na Praça Saens Peña. Ficamos constantemente em estado de ''suspense'', refletindo o tempo inteiro sobre como o cineasta resolverá todas aquelas estórias nas entrelinhas sobre favelas, ''balas perdidas'', traficantes que matam ou expulsam moradores para ficar com seus imóveis...
''Praça Saens Peña'' também é uma boa forma de ''passear'' por áreas históricas da cidade do Rio de Janeiro que, graças à violência, estão ficando cada vez mais inacessíveis para moradores da Zona Sul ou de outras cidades. O filme é uma excelente oportunidade de transpor os limites e proibições implícitos de uma ''Cidade Partida''- devolvendo-nos o prazer de circular pelos chamados ''subúrbios'' da Cidade Maravilhosa. Sabiam, pelo que li recentemente no jornal ''O Globo'', que a Tijuca possui em algumas de suas calçadas reproduções das notas das composições de Noel Rosa?
''Praça Saens Peña'', enfim, é um filme acima da média. Esperamos que transponha os obstáculos de um circuito de exibição que privilegia as obras comerciais, para que possa fazer o sucesso que merece. Precisamos de mais filmes como este...
Alcnol.
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