O ano está ainda pela metade. Mal passou a febre dos filmes que conquistaram o Oscar, e superamos em um período de ''entresafra'' no qual as estréias se limitavam a uma ou duas por semana- geralmente sem maior relevância- e enfim podemos afirmar que vimos um grande filme. E só podia ser de origem asiática( japonesa, para ser mais preciso...). Estamos falando de ''A Partida'', filme japonês que ganhou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro este ano( esta informação eu não conhecia antes de assisti-lo...). Confesso que hesitei antes de me debruçar ante esta estória sobre um músico que acaba transformando-se em embalsamador de cadáveres em uma cidade do interior do Japão. Isto porque prefiro, em geral, estórias que se passam em grandes centros( pode ser Paris, New York, Buenos Aires, Tóquio, etc.), e a profissão de embalsamador de cadáveres não é lá muito popular( ainda que todos tenhamos de ''passar desta para melhor'' algum dia...). Parece banal, não é? São os detalhes que fazem desta estória simples uma obra-prima, quiçá o ''Filme do Ano''. ''A Partida'', do diretor Yojiro Takita, é a estória de um jovem inseguro, dispensado de sua função como violoncelista em uma orquestra, que se vê diante do desemprego e decide voltar para a cidade de sua mãe, no interior. Lá, em uma rapidíssima entrevista de emprego, lhe é oferecida a função de embalsamar corpos de pessoas recém-falecidas. No início, claro, ele reluta. Após um lento processo de amadurecimento, ele compreende estar diante do ''emprego de sua vida'', e luta contra a rejeição de seus conhecidos( incluindo a própria esposa)para seguir o seu caminho nesta inusitada área profissional. Este é um dos ''ganchos'' da estória. Por outro lado, guarda também mágoa do pai que abandonou a família quando ele era apenas um garotinho. Tudo isto narrado à ''maneira oriental''- com um estilo repleto de silêncios, comunicação por meio de expressões mais do que por diálogos, com várias cenas junto a cerejeiras, rios, e toda a exuberante natureza do Japão- faz deste filme um programa imperdível. Não espere compreender ''tudo'' por estas breves palavras, assim como eu mesmo até agora não consegui fugir do impacto causado por esta narrativa. ''A Partida'' também é um filme repleto de simbolismo, e das contradições que fazem parte da vida: amor e ódio, vida e morte, rejeição e desejo. Ao contrário de nós, ocidentais, que tentamos o quase o tempo inteiro ''solucionar'' tais oposições, a alma oriental compreende melhor que não há ''ying'' sem ''yang''...''A Partida'' é fruto deste tratamento mais harmônico, equilibrado de tais problemas...Só não afirmo aqui, categoricamente, estar em definitivo diante do ''Filme do Ano'' porque ainda estamos um pouco distantes da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo( geralmente no mês de outubro). Até lá, quem sabe não assistamos mais um filme com este toque de genialidade que só o cinema do Oriente é capaz de proporcionar? Alcnol.
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