Não vou aqui criticar o novo filme ''Star Trek'' em nome do purismo e dos ''velhos tempos''. Mas, diante de uma quase unanimidade de público e crítica- todos louvando a ''boa'' obra do diretor J.J.Abrams( o mesmo de ''Lost'')- algumas ressalvas se fazem necessárias. Comecemos, porém, pelo que há de melhor: a atuação de Zachary Quinto( o vilão ''Sylar'' da série ''Heroes'')como Spock é uma das melhores coisas desta película, assim como a participação especial de Leonard Nimoy( o Spock da série clássica)e a reinvenção da tenente Uhura como uma garota ''sexy'', disputada pelos dois futuros amigos e companheiros de nave...Porém, para se qualificar qualquer obra como ''boa'' ou ''ótima'' torna-se necessário antes fazer uma perguntinha: '' boa em relação a que?''. Estamos falando de ''Star Trek''( Jornada nas Estrelas), série surgida no ano de 1966( 43 anos de história, pois)que durou apenas 3 temporadas na TV e foi encerrada sob inúmeros protestos de seus espectadores( uma minoria qualificada pois, considerando o total de espectadores, a audiência específica da série era ''baixa''- o que não possibilitaria, segundo seus produtores, a sua continuidade). Mas o ardor dos protestos deu ao estúdio uma noção de que haveria ali um ''filão'' a ser explorado. Seis filmes foram feitos com os mesmos personagens, e outras séries surgiram como desdobramento da série original. ''Star Trek'', a mesma série que foi cancelada por falta de público, tornou-se um ícone da nossa civilização. Seus atores originais- William Shatner, o Capitão Kirk, e Leonard Nimoy, o Doutor Spock- permaneceram umbilicalmente ligados à obra que os notabilizou, fazendo inúmeras participações especiais em outras séries e filmes. Feitas estas considerações iniciais, voltemos ao filme que acabou de entrar em cartaz nas salas de todo o Brasil. Ressalte-se que não dá para, neste contexto, considerá-lo isoladamente...O fantasma deste ícone chamado ''Star Trek'' permanece o tempo todo ao lado da obra recente. Lembremos que a série original, além de ''lenta'' para os padrões atuais, tinha um cunho mais filosófico: a ''Federação''( da qual a tripulação da nave ''Enterprise'' era um dos representantes)defendia a paz e a intervenção não-violenta para a solução de conflitos com outros povos, várias referências a diferentes períodos históricos da Terra- como a Grécia Antiga- eram feitas cotidianamente, apesar do baixo orçamento do programa, e os problemas e conflitos colocados eram bem mais complexos- exigindo uma solução não-convencional que ,em geral, era dada nos minutos finais de cada episódio...A ''Star Trek'' atual, aquela que originou o filme que estamos a debater, é uma obra de arte convencional, marcada pelo estilo narrativo da atualidade( muita ação, muitos efeitos especiais, ritmo acelerado e ruído alto). Quem não tem a série dos anos 60 como referência- como não tê-la se todo o seu conteúdo está disponível atualmente em DVD's?- e está acostumado a filmes de ação do gênero sairá satisfeito da sessão. Ao contrário, ao final dos longos 126 minutos de projeção, eu já dava sinais evidentes de cansaço. Tentava fechar os olhos por momentos, para descansar um pouco os mesmos e a mente, mas o barulho incessante de tiros e bombardeios era inevitável...Zachary Quinto, o mesmo que se revelou um bom Doutor Spock com seu temperamento contido, mal revelava o seu ''prazer''( com os mesmos olhos vidrados de ''Sylar'', o vilão de ''Heroes''...)ao eliminar os seus inimigos- os mesmos que mataram sua mãe e destruíram o planeta Vulcano...O ''bad boy'' Capitão Kirk é apenas isto: um adolescente brincando de trocar socos e murros e que, tal como seus iguais, costuma atribuir-se os nomes de seus ídolos( impossível acreditar que ''aquilo'' representava o Capitão Kirk, por mais que tentasse...). Não negamos o caráter de entretenimento, e a capacidade que esta obra tem de divertir o seu público por- digamos- duas horas de projeção. Acostumados que estão a películas semelhantes, é bem capaz que esta gere um movimento por sua continuação( e se verá, pelos anos seguintes, um ''Star Trek 2'', ''Star Trek 3'', etc. ). Isto mais pela força de algo que está no imaginário coletivo contemporâneo do que por este filme em especial...Para julgar se isto é mesmo um bom filme, invertamos a ordem dos fatos para fazer uma pergunta em especial: caso este fosse o marco inicial da série ''Star Trek'', seria capaz de provocar tanto efeito como a série clássica provocou? Seria capaz de, após 43 anos de existência, continuar a causar a admiração de seus fãs e provocar comentários? A ''Star Trek teen'' produzida por J.J.Abrams parece condenada a padecer do mesmo mal da cultura atual: muito barulho, poucas idéias, alguns comentários mais apressados, milhões de dólares de arrecadação para, ao final de tudo isto, restar definitivamente condenada ao esquecimento...''O show deve continuar''...Alcnol. PS: Felizmente, em ''Lost'' J.J.Abrams dispõe de mais tempo para contar uma estória como se deve, em um ritmo mais palatável e com inúmeras surpresas e reviravoltas...
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