No suplemento ''Mais'' da Folha de São Paulo( 17 de maio), as sombrias palavras do historiador Luiz Felipe de Alencastro: ''maior credora do Tesouro americano, cortejada pelo mundo inteiro, a China pode dar tempo ao tempo. Isso se aplica também às suas relações comerciais com o Brasil, atadas a um anel de ferro em que as commodities brasileiras são trocadas por manufaturados chineses. Neste sentido, o fato de que a China tenha se tornado a maior parceira comercial do Brasil não muda grande coisa. Já perdemos esse jogo antes. A China também. Só que agora ela é a dona da bola( nosso grifo)''. Neste sentido, empreguei ,para me referir à potência oriental, a expressão ''abraço de urso'': ursos, para matar as suas presas, abraçam-nas fortemente. A impressão, para quem vê de longe, é a de um gesto carinhoso. Na verdade, estão esmagando-as- e as presas não conseguem se desvencilhar...Há muito a China conseguiu isolar convenientemente os críticos de suas violações aos Direitos Humanos e de sua colonização do Tibet. A volúpia das empresas ocidentais, em busca do novo ''Eldorado'' chinês- o ''maior mercado do mundo''- falou mais alto. Assim, na busca de mais lucros, fechou-se os olhos para a pirataria à luz do dia, e para as práticas ditatoriais( afortunadamente Saddam Hussein não tinha nada a dar em troca, e foi derrubado...). Hoje pode-se dizer que estamos indissoluvelmente atados ao destino da nação chinesa- ''para o bem e para o mal''. Enquanto Estados Unidos e Europa sofrem com a mais forte recessão dos últimos tempos, sinais de crescimento na China soam como música aos nossos ouvidos. A China acaba de ultrapassar os americanos, tornando-se a maior parceira comercial do Brasil. Empresários brasileiros mostram-se, ao mesmo tempo, surpresos e eufóricos com a crescente aquisição de nossos produtos, em especial das ''commodities'' agrícolas( soja, carne)ou não( ferro, etc.). Se a China está impulsionando a economia brasileira neste momento, impedindo-a de cair na recessão, quem haveria de criticar aquele país? Tal como os comunistas de antigamente, também os capitalistas poderiam ser qualificados como adeptos daquele ditado ''os fins justificam os meios''...Por que, então, qualificamos o trecho do artigo de Luiz Felipe de Alencastro de ''sombrio''? Exatamente porque, na nova ''Ordem Mundial'' sob o comando da potência oriental, o nosso papel não muda: continuamos, tal como em todo o período qualificado como ''colonização''( quantas vezes não ouvimos pessoas ''de esquerda'' chamando os norte-americanos de ''imperialistas'' e ''colonizadores''?), como os índios que trocavam bens como ouro por bugigangas dos invasores europeus. Hoje exportamos bens ''in natura'' para a China- em grande quantidade e a preços baixos- em troca de bens manufaturados. A história nos mostra que, em uma relação como esta, o momento em que o ''superávit'' se transforma em crescente ''déficit'' comercial não costuma tardar...Também, tal como o ''abraçado'' pelo urso, não temos muita escolha: caso o comprador não goste dos preços praticados por nosso país, poderá encontrar outros parceiros a preços bem mais em conta mundo afora...Em um momento em que a China possui cerca de U$ 750 bilhões de dólares em títulos do Tesouro Americano, quem haverá de- naquele país- defender a proteção das empresas e dos empregos norte-americanos, ameaçados pelo parceiro asiático? Vendo as coisas em perspectiva, o ''urso'' abraça-nos mais forte enquanto se prepara para vôos cada vez mais altos, inclusive na área militar. Por enquanto o novo domínio chinês se mostra ''suave'', ao menos enquanto não tivermos as nossas espinhas quebradas...Alcnol. PS: Impossíbilitadas de competir com os vis preços chineses, várias indústrias calçadistas gaúchas fecharam as portas aqui para construir fábricas por lá- no coração do ''urso''- onde poderão praticar preços mais competitivos. Mais desempregados por aqui, mais subempregos por lá, e os empresários- daqui e de lá- vão se adaptando...
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