quinta-feira, 30 de abril de 2009
Banca grafitada na Avenida Angélica...
Ao contrário das pichações- daquelas incomprensíveis que são feitas mais ao bel prazer de seus autores, que não se preocupam em sujar prédios públicos e monumentos artísticos- os grafites normalmente são pequenas obras de arte- e contribuem para deixar a cidade ainda mais bonita. Vejam só esta grafitagem feita em uma banca de jornal da Avenida Angélica, local de grande circulação de automóveis e pedestres...A boa grafitagem também afasta a ação de pichadores, e isto não é pouco...Alcnol.
Lugares que fazem referência ao Rio de Janeiro...
Bem ali na Rua Bela Cintra- sentido centro- nas proximidades do restaurante ''Tordesilhas''( local do almoço de ontem), está localizado mais um estabelecimento que, em seu próprio nome, faz uma homenagem ao famoso bairro da capital fluminense: ''Bar Leblon''. E São Paulo não se cansa de louvar as maravilhas do Rio de Janeiro- sentimento, infelizmente, não recíproco...Vejam só o nome desta loja do centro da capital paulista. ''Bolsa carioca''. Mais claro impossível...
Ainda sobre a gripe ''suína''...
Uma vez que estamos inseridos em um ambiente natural, todas as doenças são provenientes de algum dos seres vivos que habitam este ambiente. Algumas doenças são de origem aviária, canina, bovina, suína e, pasmem!, até mesmo humana...Nem por isto deixaremos de ter qualquer tipo de contato com seres humanos por medo de contrair doenças...O fato é que o nome atribuído à chamada gripe ''suína'' pode dar lugar a inúmeros mal-entendidos. O maior, a idéia de que podemos ser contaminados à partir do consumo de produtos animais, em especial a carne de porco. O modo de transmissão desta doença que já surgiu, já existe, é pelo contato com pessoas já infectadas, e não com porcos...Destacamos, em meio às inúmeras informações provenientes dos meios de comunicação, o artigo de Vinicius Torres Freire- colunista da Folha de São Paulo( edição de 29 de abril)- ''Porcos no espaço, gente lunática''. Segundo Vinicius, ''gripes novas no mundo têm matado menos gente que a dengue no Brasil, mas pessoas correm às farmácias''. De acordo com o articulista, ''basta um passeio por 14 farmácias da zona oeste e do centro da cidade para ouvir relatos de atendentes e farmacêuticos sobre a aumento maluco do número de pessoas a pedir antivirais, gel para limpar mãos, sabonetes antissépticos, remédios para sintomas de gripe e máscaras para proteger o rosto(...)Numa farmácia da Avenida Angélica, em Higienópolis, um homem de máscara comprou três caixas de antiviral, gastando o equivalente a um salário mínimo. Tomar antiviral sem estrita recomendação médica é uma estrita idiotice. As pessoas estão doidas''. Ele acrescentou que ''em 2008 585.769 pessoas tiveram dengue no Brasil. Nesse ano, apenas a dengue hemorrágica matou 223 pessoas no país'', e nem por isto houve um surto de pânico semelhante ao de uma doença que está centralizada em uma nação localizada vários milhares de quilômetros ao norte da nossa...E indaga: ''será mais um caso de doença como metáfora? O mundo quer se distrair dos perigos mais evidentes e imediatos que produziu, como crises financeiras e fome?''. Para concluir: ''o vírus é por ora apenas ''informacional''. A nosso ver todo este desespero é também a expressão de algo bem comum no mundo em que vivemos: por qualquer motivo se toma um remédio...A auto-medicação é bastante generalizada em nosso país, apesar das tímidas tentativas de conter esta prática. A medicina moderna, também, costuma recorrer em excesso ao uso de medicamentos, na parte repressiva das doenças, e menos na parte preventiva...Acostumados que fomos todos ao uso constante de ''drogas'' artificiais( medicamentos, alimentos industrializados, entorpecentes legalizados ou não), sem contar a impaciência típica de um mundo cada vez mais acelerado que crê em soluções ''mágicas'' ao toque de um botão ou ingerir de uma pílula, é natural que ao pânico se siga uma corrida maluca em busca dos medicamentos ''milagrosos''. Um problema: estamos longe de descobrir um remédio ''universal'' que combata todos os problemas...Viver é arriscado...Alcnol.
(Nem) ''Tudo é real''...
Este blog certamente não poderia ser feito à bordo de um automóvel. O motivo? É nas andanças periódicas que fazemos pela cidade que colhemos as mais interessantes expressões da cultura de São Paulo e de seus habitantes. Nomes de edifícios e edifícios. lojas diferentes, restaurantes, exposições, filmes, e até mesmo pichações estão entre os objetos que costumam atrair a nossa atenção durante estas caminhadas. Esta pichação, por exemplo, foi feita no viaduto sobre a Avenida 9 de Julho, Rua Luís Carlos do Pinhal( ou seria ''São'' Carlos do Pinhal? sempre troco o nome desta rua...). ''Tudo é real'', está escrito. Ou imaginamos alguém extremamente crédulo em relação às coisas, a um mundo marcado pelas réplicas e pela dissimulação em meio a uma aparente transparência, ou embarcamos profundamente na ambiguidade desta expressão- que pode possuir mais de uma interpretação possível...''Tudo é real'' pode ser, e acreditamos mais nesta hipótese- até mesmo em respeito à inteligência de seus criadores- uma crítica sagaz à materialidade do mundo em que vivemos. ''Tudo é real'', tudo acaba sendo reduzido a uma expressão monetária qualquer que, em nosso país, é a moeda- o real...Genial a idéia destes pichadores, não? Um verdadeiro ''tapa na cara'' na cultura materialista em que estamos inseridos...Pena que fizeram isto na cor verde, que tem um impacto visual reduzido em comparação a outras cores mais fortes- mas esta é uma outra estória...PS: Acredito que minha interpretação certamente não é a única possível. Esta é a verdadeira beleza de se lidar com o mundo das palavras, de suas ambiguidades, de seus inúmeros sentidos cabíveis. O mundo moderno não foi feito para ''crentes''( não os adeptos de determinada religião, e sim os que acreditam piamente em qualquer informação sem submetê-la a um exame mais acurado)e ''incautos''...Alcnol.
Hotel em fatias...
Ao que se saiba a principal caracteristica de um Hotel- esta tentativa de reproduzir parcialmente o conforto da nossa própria residência- e a localização específica. Uma cidade pode possuir várias filiais de um mesmo hotel, mas o que dizer de um hotel cuja principal característica é a de estar ''espalhado'' por vários locais de uma mesma cidade? A revista ''Expressions''( do cartão American Express), em sua edição de abril/maio, sob o título ''Um hotel em pedaços'', mostra um hotel austríaco( o Pixel Hotel, localizado na cidade de Linz)cujos quartos encontram-se ''espalhados por fiferentes pontos da cidade, entre eles locações inusitadas como um barco, uma galeria de arte e uma garagem( nosso grifo). Projetado para atender os turistas que visitarão Linz em 2009, eleita atual capital européia da cultura, o estabelecimento oferece ambientes artísticos e ousados, decorados por diferentes arquitetos. Suas diárias, a partir de 250 dólares, incluem o café da manhã, servido em estabelecimentos vizinhos aos quartos e parceiros do projeto''( ''Expressions'', edição 46, abril/maio, página 29). Aos que tiverem maior curiosidade, o site do hotel é www.pixelhotel.at . Como exemplo, vejam só a foto de um quarto localizado com certeza na garagem...Ou foi o carro que acabou transportado para dentro de um quarto normal???
quarta-feira, 29 de abril de 2009
Almoço de hoje: costeletas de porco...
Não saí planejando fazer isto. De inicio, após passar em uma agência dos Correios, meu projeto era almoçar na região de Higienópolis- até em função das inúmeras opções oferecidas por ali( Ici Bistrô, AK Delilatessen, Bar des Arts, Ráscal, Bio e Carlota, entre outros...). No entanto, ao pegar o sentido da Rua Bela Cintra, sentido centro, a vontade de rever o restaurante ''Tordesilhas''- já mostrado aqui em outro post- foi irresistível. E, ao pegar o cardápio, a primeira opção que me veio à mente foi ''costeletas de porco''. ''- Você está louco'', já ouço os comentários. ''Deste jeito logo será um EX- blogueiro...''. Mas foi a forma prática de materializar os meus comentários sobre a tal gripe ''suína''. Uma coisa é afirmar, teoricamente, que não acreditamos que a carne de porco possa causar mal a seres humanos. Outra coisa é ''botar a mão na massa''( ou melhor, a BOCA na massa...)para provar a nossa tese de que a carne suína não tem a menor relação com a doença que está afetando o mundo. Explico. Esta não é a primeira doença dos últimos anos. Já tivemos uma ''gripe aviária''( restrita ao Oriente), uma doença da ''vaca louca''( quantos deixaram de comer carne bovina após a mesma?), e agora o noticiário fala de uma ''gripe suína''. Segundo o ''Bom Dia Brasil'' a doença é provocada por um vírus que sequer é 100% de origem suína( dizem que seria 80%, com parte também proveniente das aves...). Um médico veio a público afirmar que a alta temperatura com que a carne de porco é preparada é capaz de matar qualquer espécie de vírus, inclusive o da tal gripe ''suína''...O mais importante, nestas horas, é indagar por que estamos sendo afetados por tantas doenças, em tão curto período de tempo. Nosso modo de vida ajuda a explicar isto. Em primeiro lugar, a quantidade excessiva de remédios que vão minando o nosso sistema imunológico. Remédios para dor-de-cabeça, dor de estômago, etc. Todos estes remédios- estas drogas legalizadas- são compostos por inúmeras substâncias químicas desconhecidas. Em função disto, e de uma alimentação artificial, nossos corpos se tornaram verdadeiros ''laboratórios humanos''. Até quando poderemos aguentar isto? As chamadas ''doenças'' são um indicativo de que não podemos aguentar por muito tempo...Em função deste raciocínio, comer ou não carne suína neste momento é e continuará a ser mera opção. A carne bovina, por sinal, não está livre de fenômenos semelhantes. Haja vista o livro ''Fast Food Nation''- que inspirou um filme de mesmo nome- que mostra a falta de higiene nos abatedouros clandestinos de carne na fronteira dos Estados Unidos com o México...Concentremo-nos, neste momento, no fato de que não são os animais que estão causando inúmeras doenças capazes de afetar os seres humanos. São os seres humanos que, em busca de cada vez mais lucros, estão afetando o ciclo de vida dos animais que servem para a nossa alimentação a qual, em função disto, torna-se cada vez menos segura...Baseado nestes raciocínios, comi sim a minha costeleta de porco , que estava deliciosa... Acompanham fotos do restaurante, da decoração das mesas, da ''manteiga de garrafa''( usada para temperar os pratos), da forte pimenta e, enfim, da deliciosa costeleta... suína...Alcnol.
Nomes de lugares que remetem ao Rio de Janeiro( série infinita...)
Outro dia mostramos um edifício ''Ipanema Palace'' em plena Avenida Brigadeiro Luís Antônio...Prédio simples, não chamaria a atenção salvo por este nome pomposo, digno de um hotel 5 estrelas à beira-mar... Este aqui está situado em Higienópolis. ''Edifício Leblon' Palace''...Pelo padrão de vida dos moradores daquela região poderia até ser possível traçar paralelos entre os dois bairros- exceto pelo fato de que o similar paulistano não tem praia...Mas a homenagem foi feita e aí está: ''Edifício Leblon Palace'', Higienópolis, São Paulo- SP...Deste jeito fica difícil não lembrar do Rio de Janeiro o tempo todo...Alcnol.
Gripe ''suína''...
Ainda estamos longe de uma explicação completa o suficiente para poder entender o que está por trás desta ''Gripe Suína''. No entanto, é possível fazer uma pequena pergunta neste instante: caso o vírus fosse proveniente de gado, seria dada uma ênfase tão grande ao nome desta doença? Imaginemos: ''Gripe Bovina''...Bilhões de pessoas ao redor do Globo hesitando ao tomar seus copos de leite no café da manhã ou comer os seus iogurtes e queijos, como fazem todos os dias, ou ao comer seus inocentes e habituais ''bifinhos'' na hora do almoço...Interesses poderosíssimos afetados, prejuízos gigantescos para os criadores de gado...Acho que, antes disto, ligações telefônicas urgentes seriam feitas para as autoridades encarregadas que, ao final de um curto processo de reflexão, decidiriam rebatizar o vírus para algo mais trivial e inocente como ''Gripe Mexicana''...É ''absurdo'' fazer reflexões como estas? ''Suíno'' afeta menos interesses que ''bovino'' neste mundo em que vivemos...Alcnol.
O que há de comum entre Curitiba e o Rio de Janeiro?
Certamente não é o clima... Os 850 km de distância entre as duas capitais marcam também uma diferença climática de quase 15 graus de temperatura, entre um Rio onde é comum chegar-se a quase 40 graus e os ''vinte e poucos'' da capital paranaense...Também não é o sotaque: curitibanos dão ênfase aos finais de palavras com a letra ''e''( ''leitê quentê''), enquanto os cariocas falam com aquele chiado todo( ''maish ou menosh'', ''Vaishco da Gama'', etc.). Enquanto o atual Prefeito da Cidade Maravilhosa tenta aplicar um ''Choque de Ordem'' contra a crônica desordem que caracteriza a capital fluminense, difícil pensar em algo semelhante na bela capital paranaense onde, reconheçamos, a ordem ainda é mais comum que a desordem...O que há de comum entre as duas cidades especiais- que já foram tema de inúmeros posts neste blog- é o barulho...Tanto que este tema foi objeto de duas reportagens distintas nos principais jornais das duas cidades no mesmo dia( domingo, 26 de abril). Segundo ''O Globo'', ''Barulho, o mais democrático problema carioca: moradores de quase todas as regiões da cidade reclamam de ruídos causados por bares, restaurantes e festas''. De acordo com o periódico carioca, ''só no primeiro trimestre de 2009 o serviço de Disque Denúncia recebeu 1131 reclamações relacionadas ao problema- um aumento de cerca de 45%( quarenta e cinco por cento)do número de reclamações no mesmo período do ano passado''. E acrescentou que ''em 2007 e 2008 o barulho ocupou a sexta posição da lista de telefonemas. Os bares e casas noturnas foram apontados como a maior origem deste barulho(27,92%). Em segundo lugar ficou o barulho produzido em residências( 16,67%). Bailes ''funk'' ocuparam a terceira posição''. Prédios vizinhos a favelas são os mais afetados, mas já foram registrados incidentes inclusive no Baixo Leblon, eu acrescento. Mesmo durante o dia é possível ouvir os elevados ruídos provenientes de um daqueles bares a mais de um quarteirão de distância, como constatei em minha última visita ao Rio...O jornal paranaense ''Gazeta do Povo'' dedicou uma página inteira ao tema, sob o título ''Psssiuuuu! Não perturbe!''. O periódico informou que ''trens, ônibus, fábricas, baderneiros, casas noturnas, templos, vizinhos e cachorros são os vilões da cidade quando o assunto é barulho. E em muitos casos não adianta reclamar''. É de impressionar o caso de um morador que afirmou que ''já sei que nos fins-de-semana é impossível dormir dentro de casa por causa do som dos carros que ficam atrás do meu prédio. Uma garotada vira a madrugada fazendo arruaça e obrigando todo mundo a ouvir a sua música'', comenta o corretor de imóveis Jorge Eli de Barros Lima, 48 anos, morador da Vila Guaíra, que já chegou a se mudar de travesseiro e cobertor para dentro do carro. ''Lá eu consigo dormir''. ''Segundo Mário Sérgio Rasera, superintendente de Controle Ambiental da prefeitura( OBS: já é alguma coisa ter um cargo como este, inexistente em outras localidades...), 65% das reclamações recebidas pelo 156 são referentes à poluição sonora(...)Os principais alvos da fúria e reclamação dos moradores são as casas noturnas e os carros de propaganda''. Ainda segundo o ''Gazeta do Povo'', esta quarta-feira será celebrado o Dia Internacional de Conscientização Sobre o Ruído. E em Curitiba serão realizadas ações de alerta sobre as consequências da exposição a ruídos, entre elas um minuto de silêncio entre as 14h25 e 14h26, palestras e triagens auditivas( testes sobre a nossa capacidade auditiva)gratuitas. ''Segundo Rita de Cássia Guimarães Mendes, médica otorrinolaringologista do Hospital das Clínicas, os ruídos já são a segunda causa mais importante da perda auditiva, em decorrência de lesão irreversível do ouvido interno por barulho continuado ou abrupto(...)Estes carros com alto-falantes poderosos chegam a 110 decibéis de potência, igual a uma turbina de avião''. Claro que ocorrências do gênero não são comuns apenas em Curitiba e Rio de Janeiro. Citamos estas cidades pois a situação ali já é tão grave que virou tema de reportagens dos dois principais jornais locais. O problema é comum a metrópoles como Rio e São Paulo, bem como a cidades médias como Brasília, Curitiba e Belo Horizonte. Já ouvi reclamações inclusive de parentes que moram em cidades pequenas, com pouco mais de 50 mil habitantes...Assim como se fala em ''epidemias'' e ''pandemias'' na área da saúde, é preciso reconhecer que estamos diante de uma ''epidemia'' nacional de barulho- que deve ser fiscalizada e combatida por nossas autoridades e pela própria população. Moro em um lugar alto, mais alto do que a média dos apartamentos em que já vivi. No entanto, mesmo em um lugar situado no décimo quinto, décimo sexto andar de um edifício, não é possível passarmos incólumes a sirenes, buzinas, caminhôes, aparelhos de som potentes que abundam em automóveis que percorrem a cidade durante toda a noite. Para dormir, mesmo aqui, é preciso ligar um aparelho de ar condicionado para tentar abafar tudo isto...O que dizer, então, dos moradores vizinhos aos bares da Vila Madalena? Dos vizinhos aos milhares de bares e casas noturnas que abundam na cidade de São Paulo? Dos vizinhos às obras do Metrô? O mais grave, eu diria, é que as pessoas que estão perdendo sua capacidade auditiva ao frequentar determinados ambientes onde a música é tocada a todo volume, ou costumam ouvir os seus Ipod's no volume máximo, ou possuem aparelhos de som nos carros que tocam a toda potência( como ''trios elétricos individuais''), precisam cada vez mais falar berrando umas com as outras- e nem sequer percebem que estão incomodando( e muito)os demais...O barulho é apenas mais um sintoma da desordem pública e social que assola este país, que não será resolvida de uma hora para outra e que, principalmente, depende em especial do comportamento de cada um de nós...Alcnol.
''Os perigos de São Paulo'' ou ''A Queda''...
Outro dia estava em um restaurante, me preparando para almoçar, quando ouvi dois garçons conversando. O assunto era ''o perigo de se viver em São Paulo''. Já ouvi inúmeras vezes esta expressão, embora não saiba muito bem o porquê de tanta ênfase. Esta cidade não é mais perigosa que as demais( em qualquer comparação com o Rio de Janeiro, por exemplo, ganha disparadamente neste quesito...). Mas o assunto, para minha surpresa, não era propriamente este...O tema não era a Segurança Pública e os assaltos. Um deles, certamente recém-chegado à capital paulista, manifestou sua preocupação com o elevado ''risco de quedas''. Nesta hora, de súbito, entrei no meio do debate para perguntar que ''quedas'' eram aquelas. Os dois falavam em sentido figurado- do risco abstrato de ''cair'' na vida, dos altos e baixos da existência- ou literalmente, do risco de se tropeçar nas calçadas paulistanas? Era justamente das calçadas que eles falavam, e aqui cabe um parêntese: as calçadas da cidade de São Paulo são realmente péssimas, e constituem sem dúvida um fator de risco para os seus habitantes. O motivo é que sua criação e manutenção não são responsabilidade da Prefeitura, e sim de cada morador de casa ou prédio. Em virtude disto, andar pelas calçadas daqui equivale a passar por uma ''colcha de retalhos''. Inúmeros buracos, desníveis bruscos entre a frente de um prédio e de outro, um verdadeiro ''show de horrores'' que já causou inúmeras lesões aos moradores daqui- enquanto a ''culpa'' é jogada da Prefeitura para comerciantes e moradores, e vice-versa...Mesmo assim, dificilmente eu me lembraria deste assunto inocente discutido pouco antes de um ótimo almoço se não tivesse eu mesmo me tornado mais uma vítima destas calçadas irregulares. Isto porque este assunto não é propriamente uma ''novidade'' daquelas que alimentam os cronistas. Caminhar por aqui envolve, instintivamente, estar continuamente em alerta contra riscos do gênero. Desviar-se de buracos, postes e árvores às vezes instalados no meio de uma estreita calçada, disputar espaço com automóveis que costumam sair bruscamente de garagens. Fazemos isto tantas vezes durante o dia que isto acaba se tornando inconsciente. No entanto no último domingo, quando descia as calçadas da Avenida da Aclimação com destino ao Parque de mesmo nome, tive de súbito a idéia de procurar algo em um dos bolsos da bermuda. E, justo naquele instante de breve distração, estava passando por uma daquelas irregularidades típicas das calçadas que criam verdadeiros ''degraus'' entre um nível e outro. O resultado? A queda, e não foi uma queda qualquer. Senti, tal a surpresa, uma pontada no estômago, e a sensação de ter torcido o pé direito. Minha sorte foi ter caído para trás, o que impediu-me de ter projetado todo o peso do corpo sobre o pé afetado. A sensação foi, claro, horrível. Passantes perguntaram-me se estava tudo ''OK'', e eu respondi às pressas que ''sim''. Experimentei levantar e continuar a andar como se nada tivesse ocorrido e, por incrível que pareça, foi o que fiz. Com nada além de uma pequena dor no pé, que não me impediu de dar a volta completa pelo pequeno Parque( cerca de 10 minutos de caminhada)e voltar para a Avenida Paulista andando...Evidentemente que, depois de ter sido vítima destas calçadas irregulares da cidade de São Paulo- tema até mesmo de conversas horrorizadas de garçons recém-chegados a esta terra- fiquei bem mais sensível ao tema. Decidi registrar, apenas exemplificativamente, algumas destas milhares de irregularidades que vemos no nosso dia-a-dia. Os garçons estavam, reconheço, corretos em sua análise. Como é ''perigoso'' viver na cidade de São Paulo, admito. Também, com estas calçadas...Alcnol.
terça-feira, 28 de abril de 2009
Apelo desesperado na Rua Luís Murat, Pinheiros...
Passando pela Rua Luís Murat, Pinheiros, proximidades do Cemitério São Paulo e da Avenida Henrique Schaumann, deparei com este desesperado cartaz aí em uma casa( ou loja). ''Pago para ter meus documentos de volta''. Que documentos? Do carro? Pessoais? Profissionais? E como eles sumiram? Foram furtados em casa? Ou em plena rua? Foram perdidos? Se foram furtados, o autor deste cartaz espera que o ladrão volte ao mesmo lugar para buscar a ''recompensa''? Coisas estranhas da cidade grande, que geram muito mais perguntas que respostas...Alcnol.
Um carro interessante...
Hotel pintado é destaque no centro da cidade de São Paulo...
Volta e meia fazemos questão de mostrar casas e lojas pintadas que, além de adquirir destaque, ainda contribuem para tirar da cidade de São Paulo o rótulo de ''cinzenta''. Acreditamos que as mudanças que esta metrópole e este país tanto necessitam não se darão de modo súbito ou violento, mas através de um longo e gradual caminho feito de pequenas transformações que começam em nós mesmos e nos arredores de onde vivemos. Às vezes basta uma mão de tinta para mudar toda uma região. Vejamos este hotel antigo do centro, na Rua Barão de Limeira. Como ele ficou bonito pintado de verde...Imaginemos uma rua repleta de prédios pintados de cores vivas, e como isto iria repercutir no humor das pessoas que transitam por ali- à pé ou de carro...Por enquanto o que temos, infelizmente, são apenas prédios descascados e com péssima aparência, mas este hotelzinho aí- que não conheço por dentro- mostra que um outro caminho é possível...
segunda-feira, 27 de abril de 2009
Fim do passeio pelas Laranjeiras...
O Fluminense- esta bela extensão do tricolor que é o bairro de Laranjeiras e a Rua Paissandu- termina, para nossa surpresa, em um boteco chamado ''Garota do Flamengo''. Antes que alguém diga ''Quanto mal gosto!'' é preciso esclarecer: chegamos ao final da bela Rua Paissandu, e estamos agora no bairro vizinho do ''Flamengo''. Um eterno Fla-Flu, uma rivalidade que persiste até mesmo nas imaginárias fronteiras bairrísticas da cidade do Rio de Janeiro...Mas que fique bem claro para os que não conhecem o Rio: o Clube de Regatas do Flamengo está situado no bairro do Leblon, vizinho à Lagoa Rodrigo de Freitas(a vários quilômetros de distância do bairro do ''Flamengo''...)
Continuando o passeio por Laranjeiras, nos arredores da sede do Fluminense...
Nada de tiroteios, ''arrastões'', balas perdidas e outras mazelas que assolam a bela cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Estamos na Rua Paissandu, arredores da Sede do Fluminense. Botamos nossa cartola( símbolo daquela tradicional equipe) na cabeça, calçamos nossas polainas, cachecol no pescoço e tudo( apesar do calor de quase 40 graus...), sem contar a bengalinha na mão para dar um pequeno apoio, e saímos com o intuito de fazer uma pequena viagem no tempo- até o início do século passado. Pois Laranjeiras remete a isto. Aos bons e velhos tempos ''áureos'' do Rio. Nada de camelôs pelas ruas e pivetes interessados nos nossos bolsos. Somente cidadãos bem vestidos podiam andar nos bondes ou frequentar as matinês nos cinemas. Estamos andando pela Rua Paissandu, em Laranjeiras, este pequeno refúgio em meio ao ''caos'' da atualidade. Uma âncora...Vejam só como os arredores do Fluminense Football Clube vestem as cores e remetem a esta época áurea que também marcou o surgimento desta equipe...Casarões antigos, prédios altos e baixos circundados por palmeiras imperiais, tranquilidade e silêncio. Dir-se-ia estarmos passando por ''outro'' Rio de Janeiro que não o dos noticiários dos jornais e das TV's. Que bom que este Rio tradicional ainda persiste, resiste em meio aos muros e conflitos sanguinolentos que marcam a realidade daquela bela cidade. E de dia até parece seguro, pelo menos nas imagens que registramos na última viagem que fizemos ao Rio...Alcnol.
Falando em futebol, passeio pelo bairro de Laranjeiras- no Rio de Janeiro...
Já mostramos aqui um pouco da parte interna do Fluminense. Um clube antigo( 1902), cuja sede social possui vários vitrais clássicos. Aliás, falando no Tricolor das Laranjeiras, tudo remete ao passado: a sede do clube mais parece um palácio( está localizado nas proximidades do Palácio Guanabara, aliás, sede do Governo do Estado do Rio de Janeiro...), e o estádio- para cerca de 8 mil assistentes- foi construído no início do século XX. Até aí nenhuma novidade. Interessante é descobrir que os arredores do clube, o bairro de Laranjeiras, também possuem esta ''cara vintage'' do Fluminense...Bairro e clube- além das inúmeras manifestações individuais pelo time, como bandeiras penduradas nas janelas- estão intrinsecamente ligados. Não dá para falar de um sem mostrar o outro. Fiquemos, então, com os arredores do Fluminense Football Clube- localizado na Rua Álvaro Chagas, Laranjeiras, Rio de Janeiro. Cruzando a rua, daremos um passeio pela Rua Paissandu- nos arredores. Começamos( de baixo para cima)com o Palácio Guanabara( sede do Governo do Estado). Do outro lado da Rua Pinheiro Machado, Laranjeiras, avistamos a Rua Paissandu( nosso destino, pelos próximos posts). Falando em Rua Paissandu, que palmeiras altas estas aí, heim? Chegam a emparelhar com a altura dos prédios que, por sinal, não são muito altos...No alto de um prédio, na janela, olha ela lá: a bandeira do Fluminense, claro...Ao passear por esta tranquila Rua Paissandu nos sentimos de volta aos tempos áureos da cidade do Rio de Janeiro. Bondes, homens e mulheres bem vestidos, polainas e chás às 5 da tarde. Para penetrar neste mundo imaculado, no mundo do Fluminense criado em 1902, atletas negros foram forçados a usar pó-de-arroz( hoje símbolo da torcida do clube) para disfarçar a cor da pele...Recurso, aliás, de pouca duração em uma cidade quente como o Rio de Janeiro, em que estamos transpirando o tempo todo...Mas, voltando ao passeio, só faltou uma charrete...O Fluminense e seus arredores no bairro de Laranjeiras, ao menos aparentemente, é uma ilha de civilidade em uma cidade na qual a Prefeitura é obrigada a criar um ''Choque de Ordem'' tal a quantidade gritante de ilegalidades praticadas no cotidiano- por pessoas de todas as classes...Simpatia pelo Flu? Quem é mais antigo irá se lembrar da ''máquina tricolor'' de 1975/76- com Rivelino, Gil e Paulo César Cajú- que encantou meio mundo...Hoje aquelas ''feras'' estão eternizadas inclusive no Museu do Futebol( Estádio do Pacaembu, cidade de São Paulo), descritas por outras ''feras'' do mundo cultural como o jornalista- e torcedor do Fluminense, claro- Nélson Motta...Mas voltemos aos arredores do Flu, no bairro de Laranjeiras. Aparentemente um ''oásis'' de tranquilidade- ao menos na hora em que passei por ali- na conturbada cidade do Rio de Janeiro...Alcnol.
Roteiro repetido em mais uma vitória do Corínthians e de Ronaldo...
Quem disse que ,em futebol, não vale repetir determinados esquemas à exaustão? Desde, óbvio, que eles funcionem...Este é o caso do time do Corínthians. Não dá para questionar o valor de uma equipe que, segundo dados revelados ontem pelo jornalista esportivo Paulo Vinícius Coelho( o ''PVC''), está invicta a cerca de 45 jogos( a única exceção a estes números seria uma derrota em um amistoso após o final da disputa da Série B do ano passado, quando a maior parte do time já havia entrado de férias...). Repetir esquemas em futebol tanto não é ''pecado'' que o São Paulo tri-campeão seguido do Brasileiro( Hexa no total)cansou de repetir o mesmo estilo de jogo, por exemplo, na conquista do título de 2007, sob o comando de Muricy Ramalho. Tanto o São Paulo daquela época quanto o Corínthians de hoje caracterizam-se pelo jogo retraído, esperando o adversário atacar. Cansei de ver o São Paulo de Muricy tomar um ''banho tático'', ser atacado o tempo todo pelos donos da casa, para dar um golpe mortal e, em questão de minutos, vencer a partida por 1 x 0, 2x0. O ''segredo'' deste estilo de jogo, ''coincidentemente'' aplicado com competência tanto por um treinador gaúcho quanto por outro muito bem sucedido no comando do Internacional de Porto Alegre, é a defesa sólida. O futebol, ao contrário de muitos outros esportes, não é decidido pelo mérito. Nem sempre o melhor ganha, e esta é a graça. Números expressivos de escanteios, bolas roubadas, chutes a gol não decidem os jogos. Vale uma simples máxima: decisiva é a bola na rede, dentro do gol...E o que assistimos ontem foi, mais uma vez, a expressão disto. De nada adianta à torcida são-paulina chorar o fato de que, na segunda partida das semifinais( disputada no Morumbi), o tricolor criou muito mais oportunidades de gol. Criou mas não fez. O Corínthians, em dois contra-ataques mortais, matou o jogo. Um deles em uma incrível arrancada do ''gordo'' Ronaldo. Ontem uma vez mais assistimos a repetição deste filme. Corínthians 2 X 0 logo de cara, e num dos gols o ''bico'' dado por Chicão caiu exatamente nos pés do Fenômeno- que finalizou sem dó do goleiro Fábio Costa. Jogo decidido? Longe disto. A partir daquele momento, o Santos criou uma quantidade incrível de chances de gol. Fez um, em uma falha do quase perfeito goleiro Felipe. E pressionou à exaustão, enquanto assistíamos a continuação da incrível ''saga'' de Kléber Pereira( o ''Rei dos gols perdidos''...). Quando tudo indicava que o gol de empate sairia inevitavelmente o ''gordo'' pegou outra bola na ''banheira'' e, mostrando toda a sua habilidade, encobriu o goleiro santista que estava quase que na linha da grande área. ''Fim do jogo'', e provavelmente da disputa pelo título. Vitória do ''melhor?''. Nem sempre. O fato é que precisamos reconhecer: este ''feijão com arroz'' praticado pelo Corínthians sob o comando de Mano Menezes tem se revelado até aqui quase imbatível. Além de virtual Campeão Paulista o alvi-negro parte para o Campeonato Brasileiro como um dos favoritos ao título( assim como o atual Campeão- o São Paulo- e os campeões estaduais de Minas- alguém ainda duvida?- o Cruzeiro, e do Rio Grande do Sul, o Internacional). Há pouco tempo dizia-se que o Corínthians de Mano Menezes ''não vence clássicos há cerca de um ano''( período em que, reconheça-se, também não andou perdendo muito para os rivais...). Agora, desandou a vencê-los mesmo que, para a crítica esportiva em geral, não pareça lá muito ''brilhante''( a mim também continua não parecendo, mas fazer o que? Derrotou duas vezes seguidas o atual Campeão Brasileiro...). O esquema de Mano lembra, por sua simplicidade, o de um ''rachão'': time fechadinho lá atrás, esperando a melhor oportunidade, e o ''gordinho'' lá na frente na banheira. A única diferença( e que diferença!)é que o ''gordo'' aqui chama-se Ronaldo, que sabe fingir-se de ''morto'' como ninguém- e está mostrando que ''quem é Rei nunca perde a majestade''...Na pelada o gordinho só faz número. Na vida real, nos jogos do ''Timão'', pode-se dizer que são 10 guerreiros e um ''gordo'' genial, o rei da Grande Área. Esquema aparentemente simples e óbvio, mas que até aqui tem funcionado muito bem...Alcnol.
domingo, 26 de abril de 2009
Reflexões sobre o tempo...
Reflexões sobre o tempo, usualmente, servem como um ''quebra gelo'', um início de conversa. Motoristas de táxi, por exemplo, estão sempre reclamando do tempo( e de tudo, aliás...). ''- Que tempo horrível'', dizem quando não faz sol. ''- Que calor insuportável'', é o comentário quando o sol aparece e com ele os seus acompanhamentos inevitáveis. Na contramão de quase todos neste país ensolarado, prefiro abertamente dias nublados. E não escondo esta preferência...'Tempo bom'', para pessoas como eu, apenas quando chove e a temperatura cai para menos de 20 graus...Algo, diga-se de passagem, cada vez mais raro na cidade de São Paulo e até mesmo em lugares mais ao Sul como Curitiba e Porto Alegre...Gostar do que todos odeiam pode parecer um caminho certo para a infelicidade. Por algum motivo nascemos nestas paragens, e não em uma praia deserta e gelada nas imediações da Patagônia. Ingleses reclamam de tudo, é a revelação do recém-publicado livro ''Geografia da Felicidade''. Ao responder que estava naquele belo país para pesquisar sobre a ''Felicidade'', seu autor foi tratado quase como um terrorista...E o que mais gostam de fazer estes ''intratáveis'' britânicos? Reclamam de tudo, inclusive de um tempo que faria a alegria de pessoas como eu( quase sempre chuvoso)...Resumindo: a insatisfação parece ser inerente à espécie humana. Melhor seria contentar-nos com o que temos, e não com o que aspiramos. ''Mais vale um pássaro na mão do que dois voando'', diz o ditado. Outro dia destes estive em uma cidade bastante quente do Sudeste- Vitória/ES- e estava fazendo cerca de 32 graus. Mas só percebi um certo incômodo ao caminhar pelas ruas à procura de um táxi. Dentro do táxi, assim como de restaurantes, hotéis e shoppings, a temperatura estava bem agradável e...fria...graças aos aparelhos de ar condicionado...Outro dia, um dia chuvoso e meio frio aqui em São Paulo, escolhi ficar na varanda externa do restaurante ''Dalva e Dito''. E, enquanto degustava a minha ''galinha d'angola'', ouvia sistematicamente diversas pessoas preparando-se para sentar nas mesas mais próximas e desistindo na última hora ''por que estava muito frio''. Detalhe: todos estavam mal agasalhados para aquele tipo de temperatura...Em especial as mulheres, que costumam andar com menos roupa do que nós, homens... Como não podiam pedir para ''desligar ou diminuir o ar condicionado'', desistiam e corriam prontamente para o interior do estabelecimento...O ser humano procura sempre evitar o incômodo. Para muitos, o ''frio'' em uma varanda de São Paulo. Para outros, como eu, chato é ter de andar molhado de suor em um dia ensolarado e quente. Mas detalhe: alguém da família já descobriu que, no Rio de Janeiro, eu não reclamo de nada...Alcnol.
Melhor matéria do fim-de-semana...
Sem dúvida nenhuma outra matéria publicada nos jornais do último fim-de-semana é capaz de superar a ''Tempo, tempo, tempo, tempo''( de autoria de Karla Monteiro), publicada na revista do jornal ''O Globo'' de domingo, 26 de abril. O tema é a Aceleração dos tempos modernos. Entrevistou-se tanto a monja Cohen( budista)quanto o sociólogo polonês Zygmunt Bauman( autor, entre outros, dos livros ''Modernidade Líquida'' e ''Amor Líquido). Reproduzimos aqui, com todo o respeito à autoria da matéria, alguns trechos desta excelente entrevista com Bauman. SOBRE OS JOVENS: ''(...)Esse ritmo é o ritmo do tempo em que habitam, um tempo que abortou o que eu chamaria de tempo livre, o tempo não preenchido com o consumo de imagens, sons, gostos e sensações táteis(...)Nós somos seres que se escoram no que vem de fora. Perdemos a capacidade de nos auto-estimular. Estar sozinho- a liberdade de gastar o tempo com nossos próprios pensamentos, perseguida e sonhada por nossos ancestrais- é identificado hoje com solidão, com abandono, com a sensação de não pertencer. No MySpace, no Facebook ou no Twitter, o ser humano enfim conseguiu abolir a solidão, o olho no olho consigo mesmo''( nosso grifo, página 36). NOVA FASE DE ORGANIZAÇÃO DO TEMPO, NEM CÍCLICA NEM LINEAR: ''(...)uma forma de vivenciar a passagem do tempo que não é nem cíclica nem linear, um tempo sem seta, sem direção, dissipado numa infinidade de momentos, cada um deles episódico, fechado e curto, apenas frouxamente conectado com o momento anterior ou o seguinte, numa sucessão caótica. As oportunidades são imprevisíveis e incontrolájveis. Então a vigilância sem trégua parece imprescindível. Esse tempo da modernidade líquida gera ansiedade e a sensação de ter perdido algo. Não importa o quanto tentamos, nunca estaremos em dia com o que aparentemente nos é oferecido. Vivemos um tempo em que estamos constantemente correndo atrás. O que ninguém sabe é correndo atrás de quê( nosso grifo)''.- O que o senhor apontaria como o epicentro da aceleração que tornou o mundo tão rápido e tão raso ao mesmo tempo? ''- A sociedade pegou a estrada de uma vida orientada somente pelo consumo. O ser humano autossuficiente e satisfeito nas suas necessidades materiais ou espirituais perdeu o jogo para o mercado. Qualquer caminho que satisfaça os desejos e que não esteja ligado a compras e lucros é amaldiçoado. Vivemos o tempo do conecta e desconecta''( página 36 da revista de ''O Globo''). Concluímos com o interessante depoimento do matemático Marcos Cavalcanti, pesquisador da Coppe/UFRJ e integrante do Novo Clube de Paris: ''- Não adianta ter só informação. Um computador manipula melhor do que qualquer ser humano o conhecimento explícito. O que o computador não sabe é se está faltando uma pitada de sal para realçar o doce do bolo. E esse tipo de conhecimento só é gerado com reflexão, concentração, investimento pessoal( nosso grifo), diz Cavalcanti. - Aí entra a questão do tempo. Em vez de correr para não perder nada, o ideal nesse momento é consumir pouca informação e parar para pensar. As pessoas que desenvolverem a capacidade de gerar conhecimento tácito estarão bem no futuro, valorizadas e insubstituíveis. A sociedade da informação está migrando para a sociedade do conhecimento''( nosso grifo, página 32). Sabedoras disto, inúmeras empresas- como o Google- se preocupam menos com o tempo de trabalho de seus funcionários do que com sua produtividade. E não é verdade que temos as melhores idéias quanto estamos relaxados, fazendo alguma outra atividade- como caminhar, correr, fazer amor, cochilar- não relacionada com o ''trabalho'' propriamente dito? Alcnol.
''Small is beautiful''...
Lembro-me de ter lido uma vez, há muito tempo, o texto de um economista- escrito nos anos 60 do século passado- defendendo as vantagens dos pequenos empreendimentos. Aquilo me marcou. A tal ponto que, tantos anos após, é irresistível a comparação entre esta receita- das pequenas coisas- e a tão difundida prática no Brasil das obras ''faraônicas''. São Paulo, por exemplo, tem uma predileção por ''Prefeitos- Engenheiros''. Daqueles que, sob qualquer pretexto, vendem como ''solução'' para os infindáveis engarrafamentos a construção de mais elevados e túneis...Se as ruas andam sujas como nunca não importa. Façamos uma nova ponte, construamos uma nova estrada, alarguemos as Marginais...São Paulo não pode parar! Um ex-Governador do Distrito Federal revelou em um debate pela TV com seu oponente que ''obras abaixo da superfície não dão votos''. As tais obras, e ele mostrou isto através de sua prática como governante, devem ser vistosas, aparentes. Mesmo que super-faturadas...A julgar pela leitura dos jornais, que impressiona os mais incautos, o país está uma m...''Nada dá certo'', ''nada funciona'', ''estamos todos entregues nas mãos de corruptos'', eis a ladainha que ouvimos todos os dias. Ouso afirmar algo contrário a isto, ao menos parcialmente. O país está repleto de boas iniciativas( já sinto o rosnar de alguns...). No entanto, estas boas iniciativas estão isoladas como ilhas. O papel de um bom governante seria o de fomentar projetos como o do fechamento de bares às 11 horas da noite, que garantiu um expressivo declínio no número de ocorrências policiais em Diadema- SP. Algo bem simples, compreensível pela população em geral, e factível sem ter de empregar fortunas do dinheiro público. Neste exato momento, alguns municípios do interior de São Paulo estão começando a aplicar um ''toque de recolher'' para menores de idade. Todos devem voltar para suas residências a partir de um determinado horário. Nada de menores frequentando bares e postos de gasolina desacompanhados ou acompanhados de amigos que igualmente fazem consumo de elevadas doses de substâncias entorpecentes, sob as vistas grossas de comerciantes inescrupulosos. Ótima iniciativa. A lamentar apenas o fato de se tratar de práticas isoladas. Onde estão os demais governantes que não imitam estes belos gestos? Sabem qual é o maior ''mal'' do Brasil? É o fato de nossas autoridades e lideranças políticas estarem o tempo todo tentanto ''inventar a roda''. Tratam o país como se fosse uma ilha perdida e isolada do restante do mundo. O tempo inteiro estamos inventando novas leis, enquanto não garantimos sequer que as anteriores sejam conhecidas e cumpridas pela população. Quando algo não dá certo, e ocorre um ''acidente'', apela-se para as tradicionais promessas de ''investigar tudo e punir os culpados''. Pois em um país de Terceiro Mundo é necessário sempre achar um ''culpado''. Confesso estar cansado a esta altura de minha vida de caçar estes eternos ''culpados''. Que tal nos preocuparmos mais em resolver problemas? Em buscar- sem medo de copiar descaradamente como é comum em países como o Japão e a China- os melhores modelos e soluções onde quer que se encontrem no mundo inteiro, e transplantálos para cá com as devidas adaptações às nossas especificidades? Boas iniciativas e práticas- como a relatada na última crônica de Ignácio de Loyola Brandão em sua coluna no ''Estadão'' da última sexta-feira, em que descreve uma escola pública em Teresina( PI)na qual os estudantes lêem cerca de 10 livros por mês, muito mais do que inúmeras pessoas ditas ''escolarizadas'' de classes mais elevadas inclusive...- não faltam. Só o Estado- bem governado, claro- pode contribuir para descobrí-las e fomentá-las, disseminando-as por todo o território nacional. E dizer que a cerca de 40 anos atrás estávamos no mesmo nível da Coréia do Sul...Por que paramos? Por que estagnamos? Por que repetimos as piores práticas de Terceiro Mundo ao invés de nos nivelarmos a um grupo reduzido de nações que constituem um exemplo para o resto? É hora de redescobrir que ''small is beautiful''( o pequeno é belo)...Alcnol. PS: O nome japonês para pequenas e contínuas mudanças, para melhor, é ''Kaizen''...Graças a estas práticas cotidianas, hoje a maior montadora de automóveis de todo o mundo é a Toyota, e não a Ford ou a GM...
Que tal darmos uma voltinha?
Em tempos de crise, a indústria automobilística inventa de tudo: desde carros chineses ''fabricados''( ou montados?)no Uruguai, até o veículo indiano fabricado pela Tata Motors com preço de apenas 2 mil dólares, sem contar o pequeno ''Smart'' da Mercedes Benz( vendido aqui por quase 60 mil reais...). Em uma rápida volta pelo centro da cidade de São Paulo, flagrei um veículo que pode ser a ''solução'' para problemas que afligem a civilização moderna- como os engarrafamentos...''Que tal darmos uma voltinha?''. Os mais céticos replicariam: ''será que ele anda?''. Alcnol.
Quem diria: segundo economista o funcionalismo público é ''exército anticrise''
Estamos acostumados aos tradicionais posicionamentos dos veículos de comunicação- em especial a revista ''Veja''- contrários ao ''inchaço'' da máquina pública e às ''mordomias'' dos ''marajás do serviço público''. Contrariando estes clichês da imprensa nacional o jornal paranaense ''Gazeta do Povo''- em sua edição deste domingo, 26 de abril- publica em manchete que, segundo um economista, o ''Funcionalismo é exército anticrise''. Segundo o periódico, ''a consultoria paulista LCA vai na contramão do mercado ao prever um aumento de 0,9% no Produto Interno Bruto( PIB)brasileiro em 2009''. O motivo desta surpreendente previsão, que contraria estimativas do mercado que variam de 0,5% a 1%( previsão do FMI),está relacionado ao poder de compra dos servidores públicos. Ainda segundo o ''Gazeta do Povo'', ''a partir de dados do IBGE, a LCA chegou à conclusão de que servidores públicos, juntamente com aposentados e pensionistas, respondem por 35%( trinta e cinco por cento)da ''massa de rendimentos'' do país. Ou seja, quase um terço da renda nacional seria ''imune'' ao movimento de demissões e reduções de salários observado no setor privado desde o estouro da crise. ''Grande parte da renda não depende do mercado. Por isso, emprego público, aposentadorias e pensões amortecem a queda do consumo'', argumenta o economista Francisco Pessoa da LCA. ''Esses amortecedores, e outros fatores positivos como a queda da inflação, não estão sendo considerados nas projeções mais pessimistas''. Destaque-se que, normalmente, o discurso dominante defende a privatização e o fim do ''inchaço'' na máquina pública. No entanto em tempos de crise, em que a reação do ''mercado'' tem sido a pior possível( demissões e cortes de salário nem sempre justificados), uma vez mais o sistema recorre aos cofres publicos. A revista de negócios ''Dinheiro'' desta semana- edição do dia 29/4- revela que até agora os Governos ao redor do mundo já gastaram cerca de U$13 TRILHÕES( 13 TRILHÕES DE DÓLARES)para tentar debelar a atual crise financeira...Outra prova de que o economista citado acima pode estar certo é que, enquanto diversas outras capitais de Estado tentam lidar com a ameaça de recessão, em Brasília- cidade que possui o maior número de servidores públicos de todo o país- o mercado imobiliário não para de crescer, assim como a venda de automóveis...Tão condenados anteriormente o Estado e seus servidores- quem diria?- agora são vistos como ''salvadores'' no contexto de uma crise gerada no interior do ''onipotente mercado'' que, dizia-se com frequência, deveria ser ''liberado de suas amarras'' para conduzir o país ao desenvolvimento...Alcnol.
O dia em que não odiei o sol...
Conversando com um amigo proveniente de minha cidade natal- Brasília- constatei que a preferência por lugares mais frios comporta até mesmo posições ainda mais radicais que a minha. ''Não suporto o sol'', ele disse. Na hora achei engraçado, e depois até repassei o que havia ouvido para uma conhecida admiradora do sol e de climas quentes, que ficou horrorizada...Esta sexta-feira o tempo paulistano conseguiu simplesmente agradar a todos nós ao mesmo tempo: um início de dia chuvoso, seguido por um sol aberto- momento em que decidi atravessar a Paulista para almoçar. Estava ensolarado mas não quente, para meu prazer e surpresa. 22 graus marcava o relógio de rua em frente ao Conjunto Nacional. Um dia típico de outono em que descobri um novo matiz em minha relação com o sol: percebi que, ao menos por alguns minutos, podia sentir o prazer de caminhar por baixo de seus raios e me inebriar com o calorzinho que ele emanava. Sem pensar sequer em sacar de pronto o meu protetor solar do bolso...A razão de tanta tranquilidade? Este passeio tinha tempo marcado para terminar...Mal cheguei à esquina da Paulista com a Augusta, e decidi descê-la no sentido Jardins, optei de pronto pelo lado com sombra...Sequer pestanejei ao fazê-lo... Minha fugaz relação alegre com o sol - contrariando a tradicional preferência por dias nublados e frios -estava encerrada...Algumas passadas e, 5 minutos após, estava no Zucco- ''bombando'' àquela hora. Espera necessária, no que aproveitei para dar uma folheada nos suplementos de final-de-semana que são publicados na ''Folha de São Paulo'' e no ''Estadão'' às sextas-feiras. No do ''Estadão'' vou logo para a coluna da última página, para os hilários comentários sobre cinemas do ''Cri-crítico'' e para a página sobre novidades na parte de restaurantes. Minha espera de cerca de 30 minutos, às duas da tarde, comprova que o ''Zucco'' parece ter escapado do cruel destino que o público paulistano dá aos lugares ''da moda''( super-lotados de início, não resistem a alguns meses de mesas semi-vazias...). Ao degustar lentamente o prato que pedi- costeletas de porco- entendi muito bem por que: gosto suave, amenizado pelo molho, e carne tão macia que derretia na nossa boca. Não costumo comer carne de porco, mas estou mudando meus hábitos por conta de um amigo quiroprata( Doutor Lincoln, que se reveza entre Brasília e São Paulo, afirma que ela é muito mais saudável do que a carne bovina cheia de hormônios para crescimento...). Enquanto me entretia com aquela carne de porco tão deliciosa que mais parecia carne comum, bovina, o incrível tempo paulistano continuava a aprontar das suas. De repente, todas as pessoas que passavam pela varanda do ''Zucco'' passaram a ostentar solenes guarda-chuvas. O sol de meia-hora atrás, aquele sol suportável, já havia se escondido para dar lugar a nuvens e chuva...Mas não deu tempo sequer de terminar o cafe para o mesmo sol dar as caras novamente, justo na hora em que me preparava para subir a Rua Augusta rumo à Avenida Paulista. Peguei algumas contas e correspondência em geral em meu antigo edifício e, ao me aproximar do Conjunto Nacional, nova mudança de tempo: outra chuva, bem mais forte que a primeira. Para não molhar os documentos, o jeito foi comprar um guarda-chuva( mais um para a coleção)por 10 reais com um dos camelôs que sempre aparecem como que por ''mágica'' nestas horas...E assim permaneceu o tempo, nesta inesquecível sexta-feira de outono na cidade de São Paulo: abre e fecha, com intervalos curtíssimos entre uma coisa e outra. Ilustro este post com algumas fotos tiradas no final da tarde entre prédios da região dos Jardins, que dão uma boa idéia do que é um ''pôr-do-sol''( com a agradável exceção daquela praça com este nome no Alto de Pinheiros)entre os inúmeros ''espigões'' que abundam nesta cidade e que, ao chegarmos de avião, nos dão um ar de ''pós-tudo''( um misto de admiração e receio pela loucura que o ser humano é capaz de criar): em uma hora de emergência, qual será a instrução que pilotos de avião recebem? Onde pousar? Qual será a ''brecha'', o ''atalho'' utilizado para evitar uma colisão de maior profundidade? Naquele vôo da TAM ,que vinha de Porto Alegre e colidiu nas proximidades do Aeroporto de Congonhas, nada foi possível fazer...Alcnol.
sexta-feira, 24 de abril de 2009
Rua Pamplona no feriado...
O feriado nem foi este. Foi outro, o da Sexta-Feira Santa e da Páscoa. Mas o resultado é uma surpreendente Rua Pamplona, uma das vias mais movimentadas da cidade de São Paulo, deserta. No alto de um dos prédios o apelo ou mensagem de cunho religioso: ''Jesus. Ama''. O que significaria isto? Amemos a Jesus, eis um dos possíveis significados. Ou um apelo a Deus- ao filho de Deus, como é melhor conhecido- para que ame mais seus outros irmãos. Ou, tirando quaisquer pontos ou vírgulas, um simples ''Jesus Ama''( afinal, somos todos ''filhos de Deus''- assim como Jesus. Será que isto significaria que somos ''irmãos'' de Jesus Cristo, mas sem todos os seus atributos, ou ''filhos'' dele? Como se vê, questões religiosas são necessariamente ''complicadas''...será que o autor da frase tinha consciência de todas estas minúsculas questões decorrentes?). A única coisa concreta é que, neste dia, estávamos em uma Rua Pamplona semi-deserta, e São Paulo sem multidões se acotovelando pelos cantos é um pouco menos São Paulo...Alcnol. PS: Poderia o amor de Jesus ser dirigido a um objeto concreto, a um ser em especial? Afinal, não era ele um pouco humano, tal como todos nós? Que mania de complicar as coisas...
O ''Muro da discórdia''
Mal começou sua construção, e o ''muro'' inventado pelas autoridades da cidade do Rio de Janeiro já começou a ser ''torpedeado'' por seus opositores. É o que nos mostrou o ''Estadão'' do último dia 19 de abril, na reportagem ''Favelas vão à Justiça contra muros''. ''O simbolismo do muro é muito ruim', reclama o presidente da Federação das Favelas do Rio Rossino de Castro. ''Querem transformar as comunidades em gueto''. Entrevistado, o Mestre em Antropologia Luiz Antônio Machado vai além: afirma que ''o muro é parte da situação de criminalização dos favelados''. De outro lado, o diretor da Empresa de Obras Públicas do Estado do Rio, que comanda a construção dos 14 quilômetros em concreto jura que este não é o objetivo: ''Pelo amor de Deus. Já fizeram comparação até com o Muro de Berlim. Isto é uma loucura''. Ícaro Moreno Júnior garante que a decisão de construir os muros ''tem dois objetivos: proteger o meio ambiente e, limitando o crescimento da favela, abrir chance para um planejamento urbano''. Segundo o Estadão, ''o voverno não vai fechar o acesso às comunidades, que não ficarão cercadas. No Santa Marta, por exemplo, o muro está sendo construído em apenas uma lateral da favela, a que faz divisa com a mata. A questão é se o muro vai realmente conter a expansão das favelas ou se será destruído para a construção de mais casas(nosso grifo). ''Ele será um indicador fácil à fiscalização'', defende Moreno Júnior. ''Se alguém invadir a área será logo identificado''. Dura a situação do verde restante na cidade do Rio de Janeiro. Sua defesa, mais do que urgente, transformou-se- uma vez mais, diga-se- em ''questão de Estado''. Aos moradores daquelas ''comunidades'' não afeta a destruição iminente de morros como o Dois Irmãos, assolado por uma favela vizinha e crescente. Quem se importa com a degradação de vida, em uma cidade cercada e sitiada por ''comunidades'' controladas por traficantes ou milícias e ameaçada de perder suas últimas áreas verdes? O verde ali, ignorado por quase todos e devastado como simples ''coisa'' pertencente a ninguém e obstáculo para a construção de mais moradias em um processo de especulação imobiliária que não dá sinais de esgotamento, terá a defendê-lo- caso vingue a desesperada iniciativa das autoridades- apenas um muro...O Estado confessa ser incapaz de fiscalizar a destruição das matas na cidade do Rio de Janeiro para a construção de mais casas nas favelas, os moradores das favelas ignoram solenemente a questão ambiental e de qualidade de vida envolvida para protestarem contra mais esta tentativa de ''criminalização'' de suas ''comunidades'', e só se fala em um Muro( comparável, segundo os mais alarmistas, ao ''Muro de Berlim''...). Em primeiro lugar, questionável é uma fiscalização que, a esta altura do campeonato, não utiliza instrumentos modernos como imagens de satélite( a Prefeitura de São Paulo diz utilizar tais métodos, por sinal)para detectar invasões clandestinas. Em segundo lugar, imaginemos a fiscalização- apoiada necessariamente por um número gigantesco de agentes da Polícia- derrubando barracos ''ilegais'' em ano eleitoral. Algum governante terá coragem para isto? Para finalizar, manifestamos nosso ceticismo com iniciativas como a deste ''muro'' que são feitas por etapas, dando tempo a seus opositores de se manifestar...Quando fechou a Rua XV de Novembro para o tráfego de veículos motorizados o ex-Prefeito de Curitiba, Jaime Lerner ,agiu de surpresa, durante a noite, e de uma vez só...E os opositores, segundo o ex-Prefeito em seu livro ''Acupuntura Urbana'', acabaram apoiando tardiamente a medida...Resumindo: não se trata de apoiar ou condenar o muro proposto pelo Governo do Estado do Rio. Que ele seja necessário, mostra a situação em que vivemos- e o pouco caso com que nossa população trata o Meio Ambiente( será necessário construir novo ''muro'' para proteger o que resta da Floresta Amazônica???). Anunciar uma medida drástica como esta e não implementá-la de imediato só dá força para seus opositores- e nos traz dúvidas sobre a vontade real dos governantes que anunciaram tal medida...O verde do Rio de Janeiro não está em situação muito diferente do restante de sua população, afinal: protegendo-se desesperadamente por trás de grades e muros, enquanto as autoridades vão anunciando medidas mirabolantes e sucessivas que duram tanto quanto as ondas e marolas típicas daquela bela cidade...Alcnol.
Boas notícias existem, raras mas existem...
A notícia, por si só, pretende ser algo excepcional, fora dos padrões habituais. Senão, não seria notícia...E as boas notícias, até mesmo por sua raridade, poderiam ser qualificadas como as ''verdadeiras notícias''( fatos incomuns). Mas, para nossa sorte e sobrevivência, continuam ocorrendo. Algumas, estas ainda mais excepcionais, provindas até mesmo de um dos 3 Poderes da República( no caso, o Judiciário). Vejam só esta reportagem publicada no jornal paranaense ''Gazeta do Povo'' do último dia 20 de abril: ''Motorista terá de pagar pensão vitalícia''. Segundo a matéria, de Mauri König, ''o Tribunal de Justiça do Paraná condenou uma mojtorista a pagar pensão vitalícia ao mecânico que teve a perna direita amputada num acidente de trânsito por ela provocado, cabendo ainda à seguradora indenizá-lo por danos morais. A sentença não é comum no Brasil, onde as reparações financeiras permanentes costumam ser estipuladas em caso de morte, favorecendo os dependentes da vítima(...)Como Amélio tinha carteira assinada, com salário de R$559,00, além da pensão mensal a motorista terá de pagar-lhe o décimo-terceiro salário(...)No caso julgado, também pesava contra ela uma ação criminal na Vara de Delitos de Trânsito, cessada com uma proposta de transação de pena e prestação de serviços à comunidade. Para o advogado Reginaldo Koga, a decisão do TJPR segue uma tendência dos países desenvolvidos. No Japão, por exemplo, os motoristas temem( nosso grifo)se envolver em acidentes de trânsito porque as leis são rigorosas e as infrações costumam ser milionárias. ''O rigor das leis serve de alerta para os condutores'', diz Koga, que morou quatro anos no Japão''. Há muito tempo defendemos a aplicação de penas pecuniárias( OBS: em dinheiro)para incidentes como este. Nosso Código de Trânsito, elaborado na contramão da carnificina diária que vem ocorrendo nas ruas e estradas deste país, prevê penas baixas e institutos despenalizadores como a ''transação de pena'' e a ''prestação de serviços à comunidade''( mal fiscalizadas, aliás...). Além disto, de nada serviria colocar motoristas infratores nas cadeias super-lotadas ao lado de meliantes comuns( provavelmente retornariam à sociedade ''formados'' no mundo do crime...). O melhor é atingí-los naquilo que eles mais valorizam: o bolso...Este ano já tivemos oportunidade de comentar uma sentença dos Juizados Especiais de Curitiba que condenou torcedores ''brigões'' a comparecerem a Delegacias no dia e no horário dos jogos de suas equipes. Agora, mais uma vez a Justiça Paranaense inova e dá um bom exemplo para o restante do Brasil ao estabelecer uma pensão vitalícia para um atropelado vivo. O grande mal deste país é que boas iniciativas como esta não são generalizadas e seguidas por outros Estados ou Municípios. E ficamos como sempre, tentando ''inventar'' leis de próprio punho- ignorando solemente práticas bem-sucedidas de países como o Japão...Ou mesmo de outras localidades do nosso próprio país...Alcnol.
Bandidos capixabas fazem festas com o dinheiro do crime...
Esta surpreendente revelação foi feita pelo jornal ''A Tribuna''- de Vitória/ES- no último dia 20 de abril. Segundo o periódico capixaba, ''traficantes que moram em bairros nobres( sic)da Grande Vitória chegam a alugar sítios ou comprar casas de praia( sic)para organizar raves durante os finais de semana. Até mesmo um traficante carioca chegou a patrocinar um churrasco: ''No período em que ficou escondido no Estado, o acusado de ser o chefe do tráfico do morro do Pavão-Pavãozinho, em Copacabana, zona sul da cidade do Rio de Janeiro, Paulo César Figueiredo, o ''Bolão'', organizou churrascos e festas fechadas para a família. Bolão ficou cerca de quatro meses morando em uma mansão no bairro do Jucu, em Vila Velha, levando uma vida de luxo. Ele vivia com a mulher e os sogros e foi preso no último dia 9. De acordo com moradores da Barra do Jucu que não quiseram se identificar, apesar de ''Bolão'' ter sido sempre discreto, suas festas, realizadas normalmente à beira da piscina( sic), chamavam a atenção dos vizinhos''. Ainda segundo a reportagem do jornal do Espírito Santo, um policial revelou que ''alguns traficantes possuem até aparelhagem de som para os eventos''...Difícil mesmo é acreditar na ''clandestinidade'' destas festas e operações feitas com tanto requinte e com tanto profissionalismo, quase que à luz do dia...Esta situação infelizmente reflete o quadro em que estamos atualmente: bandidos fazem festas de grande porte para comemorar suas façanhas, a população finge que ''nada vê''( por medo ou por cumplicidade), enquanto a Polícia- sempre a última a saber- afirma estar ''investigando'' algo que os próprios meliantes fazem pouca questão de esconder...Alcnol.
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