Mal começou sua construção, e o ''muro'' inventado pelas autoridades da cidade do Rio de Janeiro já começou a ser ''torpedeado'' por seus opositores. É o que nos mostrou o ''Estadão'' do último dia 19 de abril, na reportagem ''Favelas vão à Justiça contra muros''. ''O simbolismo do muro é muito ruim', reclama o presidente da Federação das Favelas do Rio Rossino de Castro. ''Querem transformar as comunidades em gueto''. Entrevistado, o Mestre em Antropologia Luiz Antônio Machado vai além: afirma que ''o muro é parte da situação de criminalização dos favelados''. De outro lado, o diretor da Empresa de Obras Públicas do Estado do Rio, que comanda a construção dos 14 quilômetros em concreto jura que este não é o objetivo: ''Pelo amor de Deus. Já fizeram comparação até com o Muro de Berlim. Isto é uma loucura''. Ícaro Moreno Júnior garante que a decisão de construir os muros ''tem dois objetivos: proteger o meio ambiente e, limitando o crescimento da favela, abrir chance para um planejamento urbano''. Segundo o Estadão, ''o voverno não vai fechar o acesso às comunidades, que não ficarão cercadas. No Santa Marta, por exemplo, o muro está sendo construído em apenas uma lateral da favela, a que faz divisa com a mata. A questão é se o muro vai realmente conter a expansão das favelas ou se será destruído para a construção de mais casas(nosso grifo). ''Ele será um indicador fácil à fiscalização'', defende Moreno Júnior. ''Se alguém invadir a área será logo identificado''. Dura a situação do verde restante na cidade do Rio de Janeiro. Sua defesa, mais do que urgente, transformou-se- uma vez mais, diga-se- em ''questão de Estado''. Aos moradores daquelas ''comunidades'' não afeta a destruição iminente de morros como o Dois Irmãos, assolado por uma favela vizinha e crescente. Quem se importa com a degradação de vida, em uma cidade cercada e sitiada por ''comunidades'' controladas por traficantes ou milícias e ameaçada de perder suas últimas áreas verdes? O verde ali, ignorado por quase todos e devastado como simples ''coisa'' pertencente a ninguém e obstáculo para a construção de mais moradias em um processo de especulação imobiliária que não dá sinais de esgotamento, terá a defendê-lo- caso vingue a desesperada iniciativa das autoridades- apenas um muro...O Estado confessa ser incapaz de fiscalizar a destruição das matas na cidade do Rio de Janeiro para a construção de mais casas nas favelas, os moradores das favelas ignoram solenemente a questão ambiental e de qualidade de vida envolvida para protestarem contra mais esta tentativa de ''criminalização'' de suas ''comunidades'', e só se fala em um Muro( comparável, segundo os mais alarmistas, ao ''Muro de Berlim''...). Em primeiro lugar, questionável é uma fiscalização que, a esta altura do campeonato, não utiliza instrumentos modernos como imagens de satélite( a Prefeitura de São Paulo diz utilizar tais métodos, por sinal)para detectar invasões clandestinas. Em segundo lugar, imaginemos a fiscalização- apoiada necessariamente por um número gigantesco de agentes da Polícia- derrubando barracos ''ilegais'' em ano eleitoral. Algum governante terá coragem para isto? Para finalizar, manifestamos nosso ceticismo com iniciativas como a deste ''muro'' que são feitas por etapas, dando tempo a seus opositores de se manifestar...Quando fechou a Rua XV de Novembro para o tráfego de veículos motorizados o ex-Prefeito de Curitiba, Jaime Lerner ,agiu de surpresa, durante a noite, e de uma vez só...E os opositores, segundo o ex-Prefeito em seu livro ''Acupuntura Urbana'', acabaram apoiando tardiamente a medida...Resumindo: não se trata de apoiar ou condenar o muro proposto pelo Governo do Estado do Rio. Que ele seja necessário, mostra a situação em que vivemos- e o pouco caso com que nossa população trata o Meio Ambiente( será necessário construir novo ''muro'' para proteger o que resta da Floresta Amazônica???). Anunciar uma medida drástica como esta e não implementá-la de imediato só dá força para seus opositores- e nos traz dúvidas sobre a vontade real dos governantes que anunciaram tal medida...O verde do Rio de Janeiro não está em situação muito diferente do restante de sua população, afinal: protegendo-se desesperadamente por trás de grades e muros, enquanto as autoridades vão anunciando medidas mirabolantes e sucessivas que duram tanto quanto as ondas e marolas típicas daquela bela cidade...Alcnol.
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