Segundo a coluna de ontem do jornalista de ''O Globo'' Ancelmo Gois, após estourar o caso Paula Oliveira- a brasileira que afirmou ter sido atacada por ''skinheads'' na Suíça- as pessoas enfatizavam o fato de ela ser brasileira. Descoberta a possível farsa, passou a ser chamada por muitos de ''pernambucana''. Alto lá...Há povos que podem ser retratados por determinados comportamentos. Outros, como por exemplo os norte-americanos, não. Felizmente descobrimos que a América não era só George Bush...Embora o candidato à Presidència por seu partido, John McCain tenha tido os expressivos votos de 47% (!)dos americanos...Países como a Itália- significativamente governada por um Berlusconi- os Estados Unidos ou o Brasil comportam diversos matizes. São, ao mesmo tempo, um pouco de luz e sombra...Paula Oliveira, mesmo tendo possivelmente praticado um delito grave, continua a ser brasileira sim. Durante muito tempo repugnou-me utilizar termos como ''bem'' ou ''mal''. Meu lado humanista sofria com este maniqueísmo, geralmente empregado para perseguir adversários. Ditaduras- de direita ou de esquerda- são pródigas em termos como estes. No entanto, atualmente vivo um caso concreto em que a simples entrada de um indivíduo com características e hábitos diferentes( prefiro não entrar em maiores detalhes) pode envenenar todo um ambiente, toda uma vizinhança...Por isto mesmo, neste momento providencio às pressas a minha mudança para outro apartamento...Lembram do caso daquele jovem morto em Goiás durante uma briga em uma boate? Seu agressor disparou- pasmem!- 18 tiros durante o conflito. E ainda alegou ''legítima defesa''...Brasileiros foram, deste modo, assassino e vítima...Um outro, que felizmente sobreviveu, foi espancado por vários jovens em uma boate no interior de São Paulo. Como qualificar as pessoas que covardemente fizeram isto? São ''boas''? Ou ''no fundo boas''? Ou ''potencialmente boas'' como todo ser humano? Pelo que vemos, seres humanos podem ser ''maus'', ''perversos''. Sinto ter de admitir isto...Quanto à maioria dos brasileiros, não são uma coisa nem outra. Brasileiros são...como adolescentes...Como se comportam os adolescentes típicos? Fracos demais, e geralmente dependentes economicamente dos pais, eles evitam travar confrontos diretos com seus genitores. Por isto mesmo, em casa são uns ''santinhos''...Os de má índole, que infelizmente não são tão poucos quanto gostaríamos, mostram o seu verdadeiro caráter fora do ambiente doméstico, em contato com outras pessoas. Flagrados por policiais traficando drogas, assaltando, cometendo inúmeros delitos gravíssimos cometidos normalmente por ''bandidos'', eles são furiosamente defendidos por seus pais nas Delegacias: ''- mas como? meu filho é um anjo. Ele jamais faria algo deste gênero. Isto é uma injustiça''...Tal como os adolescentes infratores das mais diversas espécies- desde as pequenas infrações até as mais graves elencadas anteriormente- o brasileiro típico evita entrar em confronto com o ''papai Estado''. Autoridades em geral são por isto mesmo, respeitadas- ao menos em público...Se você entrar em um conflito público com uma ''autoridade''- mesmo que legitimamente na defesa de seus direitos, como quando reclama da demora no atendimento de um hospital- os demais concordarão em silêncio mas deixarão você sozinho nesta briga...No entanto- por trás e longe das figuras do coletor de impostos, do PM que faz a ronda nas ruas, ou dos guardas de trânsito ou rodoviários- respeitar as leis não é algo muito popular por aqui. E os motivos para infringí-las são os mais variados: ''ninguém paga impostos mesmo'', ''ninguém está respeitando mesmo a tal de Lei Seca'', ''minha mãe/pai está passando mal em casa, e por isto mesmo eu acelerei pelo acostamento da rodovia''...Estes não são comportamentos maduros. Assemelham-se, por isto mesmo, ao de adolescentes. Adolescentes, como se sabe, costumam ''disfarçar-se''/''ocultar-se'' na presença de adultos, e, flagrados, comportam-se como grandes ''vítimas''. Invertem as posições: ''foram vocês que me levaram a fazer isto'', ''se eu tivesse tido um pouco mais de amor e carinho, isto não teria ocorrido''...Adolescentes e brasileiros comuns que infringem as leis a torto e a direito tem algo em comum: eles dizem não ser ''responsáveis'' por seus atos. Por isto não os assumem...Paula Oliveira não é adolescente mais, há um bom período de tempo... Mas é, sim senhor, brasileira. E muitos brasileiros costumam rejeitar ''até a morte'' qualquer responsabilidade por seus atos reprováveis. Nem todos os brasileiros fariam o que Paula fez. Aliás, acho que bem poucos o fariam. Até aquele momento, creio que só ela fez- ao que parece- algo do gênero. Ou melhor, foi flagrada fazendo algo deste tipo...No entanto, ao ser descoberta, recebeu prontamente a solidariedade do pai. E ,oficialmente, continua a negar ter feito qualquer coisa irregular. Ser ''pernambucano'' ou ''gaúcho'' não explica nada por si só. Nem italiano, ou americano. Sequer suíço, pois a Suíça também possui as suas prisões e seus presos...Cometer delitos não é ,pois , característica de povos, mas sim de indivíduos. No entanto, a nossa maior particularidade como brasileiros é a inversão de papéis: flagrados em plena ação nós negamos tudo. ''Não temos culpa'', alegamos. ''A culpa é do sistema'', ''do governo'', ''dos meus pais'', ''dos meus amigos'', ''da humanidade''(!!!). Brasileiros que somos, não temos todos ''alma criminosa''. Não merecemos ser jogados na vala comum de crimes graves e corrupção que assola o nosso país. Não merecemos ser tratados como bandidos lá fora pelo simples fato de termos nascido por aqui. Mas precisamos um dia superar a nossa própria imaturidade, e assumir enfim as mazelas que forem de nossa própria responsabilidade. Adultos são não culpados, mas responsáveis pelo que fazem- seja bom ou mal. E pagam o preço por isto, sem procurar arranjar desculpas típicas de adolescentes. Ou da brasileira- por que negá-lo?- Paula Oliveira...Alcnol.
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