Segundo a resenha do catálogo da Mostra Indie 2008, ''O Diretor Hiroki Iwabuchi documenta sua bizarra situação e os sentimentos contraditórios que tem como trabalhador temporário. Ele conseguiu um trabalho na fábrica da impressora Canon através de uma agência de empregos, é em tempo integral, mas temporário. Nos dias da semana monta cartuchos de tinta, enquanto aluga um apartamento e usa uma bicicleta cedidos pela agência. Nos fins de semana procura trabalho em Tóquio, onde sonha morar(...)''. Confesso que perdi um pouco o entusiasmo por esta mostra ao assistir um filme japonês meio ''sujo'', com má qualidade de imagem. Pensei até que seria por conta do fato de estar ''mal acostumado'' com as imagens digitais da TV a Cabo. Mas hoje, no último dia oficial da Mostra, decidi ''arriscar'' e assistir este documentário japonês, mais por conta do tema interessante. Não me arrependi...É até irônico que este filme- um dos mais ''desagradáveis'' da Mostra, por conta da realidade que traz à tona- tenha imagens ''bonitas'', ''redondas''. Pois o que ele revela é justamente o pior da realidade do trabalho no Japão, uma das maiores potências do Planeta Terra: a vida dos funcionários ''temporários'', trabalhadores de meio-período. Sem direito a férias remuneradas, horas extras, bônus e demais vantagens, os temporários já representam um terço da mão-de-obra total no País do Sol Nascente. A Canon, famosa empresa apresentada no filme, chegou a empregar 20 mil trabalhadores com direitos normais, e 20 mil temporários, no período mostrado pelo documentário...''Fifty- fifty''...Boa parte dos trabalhadores temporários é jovem: entre eles, a proporção de temporários chega a 1/5 da força de trabalho. O jovem mostrado neste interessante documentário recebe cerca de 180 mil ienes, dos quais restam- após pagar a Faculdade e o aluguel- meros 60 mil ienes. Por conta disto ele, como muitos dos temporários, passa uma parte relevante de seu tempo ''livre'' nos Mangás Cafés- que tem pacotes especiais por várias horas- ou nas lanchonetes ''fast food'' que todos já conhecemos( certamente sendo atendido por outros ''temporários'' ou pessoas sub-empregadas...). Comprar um pacote de várias horas em um cybercafé pode representar a diferença entre dormir na rua ou ter, provisoriamente, um ''teto'' sobre sua cabeça...Os temporários são definidos por alguém, em um debate pela TV, como ''escravos''. Termo muito apropriado...Outra ironia é o fato de que os temporários- uma realidade tão forte no Japão que eles fazem inclusive grandes manifestações na capital japonesa em defesa dos seus direitos- tenham crescido significativamente justo nos chamados ''anos de ouro'' da economia mundial- antes do ''crash econômico de 2008''...Não são só os trabalhadores chineses os mais maltratados nesta estória. Mundo afora, sob o pretexto de caso contrário levarem seus negócios para o país oriental, funcionários de importantes empresas ocidentais passaram a ter tradicionais direitos trabalhistas minimizados ou simplesmente eliminados- uma realidade não muito diferente da mostrada neste documentário japonês...Empregos bem remunerados, uma vida inteira de trabalho na mesma empresa? Esta já não é mais a realidade do Japão, descobrimos espantados diante deste belo- mas também duro, ''inconveniente''- filme. O personagem se faz interessantes perguntas: ''se sou escravo, sou escravo de quem?''( resposta: de um sistema impessoal, e transnacional- sem nome nem endereço...); ''e qual será a minha perspectiva dentro de 10 anos?''( resposta: a mesma de hoje, trabalhar incessantemente- sem férias- e até morrer- uma vez que muito provavelmente estes trabalhadores temporários todos não terão os mesmos Direitos Previdenciários que os demais...). A Crise Econômica abriu novamente os nossos olhos para os chamados ''problemas sociais''- que nunca deixaram de existir mas foram convenientemente escamoteados pelos filmes e pela mídia. Este documentário ''Emprego Temporário, Agonia Permanente'' marca um modo desconfortável, incômodo, duro- mas necessário- de acordarmos novamente para a dura realidade que nos cerca...Alcnol. PS: Imagem do saguão do Cinesesc...
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