quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Em defesa da comida...

Há poucos dias tivemos oportunidade de nos pronunciar, neste blog, em relação à possibilidade ou não de o Governo restringir a comercialização de produtos notoriamente nocivos à saúde de seus consumidores.Entre eles, as batatas-fritas...Eis que, esta semana, enquanto percorríamos a Fnac da Avenida Paulista, um título de livro salta aos nossos olhos: ''Em defesa da comida- um manifesto'', de Michael Pollan. O ''manifesto'' vem por inteiro na contracapa da obra. Entre as propostas: 1- Não coma nada que sua avó não reconheceria como comida; 2- Evite comidas contendo ingredientes cujos nomes você não possa pronunciar; 3- Não coma nada que não possa um dia apodrecer; 4- Evite produtos alimentícios que aleguem vantagens para sua saúde; 8- Coma uma variedade maior de alimentos; 12- Coma com ponderação, acompanhado, quando possível, e sempre com prazer. Em sua obra, Michael Pollan qualifica este longo movimento em direção aos alimentos industrializados- nos dias de hoje corriqueiramente ''enriquecidos'' de um número sem fim de vitaminas, etc.- de ''nutricionismo''. A era do ''nutricionismo'', segundo o autor, também é a era da desinformação, das informações desencontradas: ora se veda- com o apoio da ciência médica- produtos tradicionais como leite e ovos, ora se ''libera'' os mesmos. Ora se incensa a margarina como um saudável substituto para a ''perigosa'' manteiga, ora se descobre- para nosso alarme!- que a ''saudável'' margarina, feita com gordura ''trans'', é um produto altamente letal para nós e nossos filhos...Tal como as pesquisas eleitorais, as chamadas pesquisas ''científicas'' muitas vezes tem por trás de si um ''patrocinador''- não raras vezes uma associação de produtores de um dos alimentos ou substâncias analisados( café, leite e derivados, cigarros, carne, etc.). Segundo Michael Pollan, a indústria alimentícia cria e lança no mercado cerca de 17 mil novos produtos por ano...Muitos destes, embora enriquecidos com açúcar ou dezenas de produtos químicos desconhecidos, chegam mesmo a ostentar rótulos auto-intitulando-se como ''saudáveis'', ''naturais'', ''fibrosos'', ''benéficos para o coração''( inclusive as margarinas...!). Na era da desinformação/confusão, o que o autor desta obra propõe é que retornemos ao básico. ''Quando óleo de milho, batatas fritas(sic)e cereais matinais açucarados podem todos se gabar de fazer bem ao coração, as alegações quanto a benefícios para a saúde se tornam irremediavelmente corrompidas(...)Enquanto isto, os alimentos genuinamente saudáveis para o coração na seção de hortifrutigranjeiros, sem a influência financeira e política dos produtos embalados a alguns corredores dali, estão mudos. Mas não tome o silêncio dos inhames como um sinal de que eles nada têm a dizer de valioso sobre saúde''( nosso grifo- página 172). ''Não coma nada que sua bisavó não reconhecesse como comida'', eis um de seus principais conselhos. Mas, afinal, o que é comida? E para que precisamos nos alimentar? Nosso grande dilema, quando se trata de comida, é a suposta oposição entre dois propósitos igualmente relevantes: comer para nutrir o próprio corpo, para ganhar energia, para ter saúde( propósitos de uma alimentação ''saudável'') ou comer por prazer, por ''gosto'', pelo sabor dos alimentos( intenções de um bom ''gourmet'' assim como dos adeptos das mais diversas variações de ''fast food''...). Eu mesmo ainda não consegui resolver este incômodo dilema...Mas sabemos todos que o ''prazer'' de hoje pode ter um alto preço amanhã- e não só na área dos alimentos...Por mais que as industrializadas comidas ''modernas'' sejam estigmatizadas por seus críticos, é preciso reconhecer que sua força maior reside na pressa dos seres humanos da atualidade. Enquanto o homem dedicava, na antigüidade, cerca de metade do dia para preparar seus alimentos, hoje ele leva menos de uma hora deste mesmo dia para consumí-los. O resultado, segundo Michael Pollan, é que enquanto ''em 1960 os americanos gastavam cerca de 17,5% da renda com alimentação e 5,2% da renda com saúde, hoje os gastos com alimentação caíram para 9,9% enquanto os gastos com saúde subiram para 16% da renda nacional''( páginas 202/203). Bom para quem? Para hospitais, Planos de ''Saúde''., entre outros...A alimentação hoje é farta e mais acessível do que nunca em toda a estória da humanidade. Nada mais fácil do que preparar um disco de queijo com condimentos e colocá-lo em um forno( falo das pizzas, alimento preferido dos paulistanos...), ou esquentar pequenas rodelas de queijo e igualmente colocá-las em um forno para assá-las por cerca de um minuto ou dois( pão de queijo), ou preparar rapidamente milhões de sanduíches para uma multidão de apressados consumidores. As pessoas tem pressa, cada vez mais pressa- que o digam as multidões de apressados que acotovelam uns aos outros em um grande centro como São Paulo...Comida farta, acessível a qualquer hora do dia, e sequer temos de nos preocupar com os seus efeitos: afinal, inúmeras pesquisas estão ''garantindo''- sem contar a ''fiscalização'' do Governo- que estamos consumindo alimentos ''saudáveis'' e ''enriquecidos'' por diversas vitaminas...Você acredita, de fato, nisto? Crê que um suco acondicionado em uma caixa, que pode durar vários meses, tem o mesmo valor da mesma fruta que você compra na feira? Que comprimidos, fabricados e vendidos a peso de ouro por um laboratório qualquer, tem o mesmo valor alimentício que os vegetais que sua avó ou tataravó comia fartamente? Que um líquido cheio de conservantes e adoçantes tenha o mesmo valor que a ''velha'' e tradicional água? Além dos importantes alertas dados por Michael Pollan neste valioso livro( em inglês intitulado ''In defense of food''- Penguim Books), ainda há um outro motivo para refletirmos. Outro dia, o noticiário ''Bom dia Brasil'' mostrou que diversos produtos- que contém menos do que 0,2% de gordura ''trans''- podem ostentar em seus rótulos que ''são isentos'' da mesma...Só que, para nosso horror, fomos informados também que estes resultados são apurados em cima de porções como ''30g'' ou uma unidade...E que, claro, quase ninguém se limita a comer um único biscoito...O resultado é que, consumindo moderados 3 ou 4 biscoitos destes recheados que são vendidos nos supermercados, estaremos consumindo- sem saber porque os rótulos estão dizendo que tais produtos são ''livres de gorduras trans''- mais do que o dobro da dose diária ''recomendável'' de tais gorduras...! ''Complicado'', diriam os paulistanos. O que você prefere: ficar fazendo tais cálculos toda vez que colocar uma porção de comida na boca, ou, como recomenda inteligentemente Michael Pollan, voltar ao que é certo, ao que vem da natureza, ao que sua bisavó alegremente comia??? A escolha é sua. Em um momento em que várias pessoas mal conseguem pensar no dia de hoje, a idéia de que iremos pagar um elevado preço ''daqui a alguns anos'' parece até mesmo confortadora...Alcnol. Fotos da lotada Praça de Alimentação de um shopping daqui de São Paulo...PS: Ainda não sabemos também qual é o efeito de todos estes produtos químicos adicionados aos alimentos, somados uns aos outros no interior de nossos corpos em proporção geométrica...Afinal, os laboratórios só são capazes de afirmar que uma substância- isolada- ''não faz mal à saúde''...Já somos todos meio ''mutantes'', cobaias de desconhecidas e perigosas experiências na área ''alimentar''...

Nenhum comentário: