Ainda catando os cacos da derrota de um dos maiores clubes do futebol brasileiro para uma equipe do Equador(???!), deparo com as tradicionais e fáceis explicações de vários comentaristas. Uma delas, que eles já estavam preparando quando uma fantástica multidão invadiu as Laranjeiras para acompanhar os treinos da equipe, é que houve ''já ganhou e oba-oba''. A outra é que o técnico do Fluminense, Renato Gaúcho, é um profissional ''arrogante'', e pecou por declarar que a equipe ''já era a campeã'' antes mesmo da partida final. Se Renato Gaúcho é arrogante ou não, não creio que o fato tenha sido decisivo nestas finais. Mesmo porque, no Brasil, há este péssimo costume de desqualificar os vencedores. Quem quer que se destaque em meio à mediocridade nacional é ''arrogante'', ''orgulhoso''. Assim também foi desqualificado o grande Romário, que nos deu a Copa de 1994. Nélson Piquet era desbocado e ''arrogante'', para muitos. Renato Gaúcho, pasmem, declarou a um jornalista( que, pelo visto, jamais o ''perdoou'' por isto)ter transado, antes mesmo de completar 20 anos, com pelo menos ''mil mulheres''. Quanta ''pretensão'', não é? Quanta ''arrogância''...Agora, na hora da derrota, os mesmos jornalistas que faziam festa ao vencedor relembram velhas estórias. Mas não somos adeptos desta tese. Renato, como todo vencedor, tem direito de falar o que quiser. Ele pode porque fez, porque foi campeão do mundo pelo Grêmio. Deu o título de 95 para o mesmo Fluminense, no último minuto, de barriga- feito que jamais foi igualado nestes anos todos. Renato Gaúcho, nestes momentos que antecederam a partida final, estava simplesmente tentando elevar o moral dos abatidos jogadores de sua equipe, que haviam sido goleados por 4 X 2 na altitude equatoriana. A equipe jogou bem, correspondeu ao que esperava sua torcida. Fez o resultado mínimo para levar o jogo para a prorrogação antes mesmo do esperado: aos 15 do segundo tempo. Aí, inexplicavelmente, o Flu ''travou''. Botou o pé no freio em uma hora decisiva. O ''ousado'' Renato Gaúcho agiu, na verdade, como um treinador veterano. Lembram-se dos gestos dele no Equador, tentando lembrar o juiz que o jogo ''já havia acabado''? Na hora em que o Fluminense, jogando em casa, só precisava de mais um gol para levar o título no tempo normal, Renato Gaúcho- o ''arrogante'' e ''ousado'' treinador- fez duas alterações conservadoras, que tiraram o ímpeto da equipe. Colocou Roger e Maurício, um zagueiro e um volante. Vejam bem: no banco ele tinha Somália, em recuperação, e o jovem Tartá, um jogador ofensivo. Poderia ter tirado o inoperante Washington, irreconhecível naquele jogo, e impulsionado o time ainda mais à frente em busca da vitória. Mas pareceu estar gostando daquele resultado, insuficiente para o título mas capaz de levar o jogo para a prorrogação. O Fluminense teve, a partir daquele momento, 30 minutos para fazer mais um gol no tempo normal. 3O minutos de prorrogação. Mas nem de longe era a mesma equipe. A LDU percebeu, e foi para cima. Fez até um gol legal, injustamente anulado. Renato não tem culpa pelo resultado na loteria dos pênaltis. Não dependia mais dele, e sim dos jogadores. Estes não tiveram cabeça para ser campeões. Mas Renato, sim, pode ser responsabilizado pelo incompreensível comportamento de uma equipe que, precisando ainda de mais um gol, nitidamente ''sentou em cima do resultado'' e encolheu após o ímpeto inicial que lhe havia dado os 3 X 1 tão ansiados. Se Renato é ''arrogante'' ou não- pode até ser- não me interessa. Como estrategista, naquela noite ele ''pisou na bola'' e, ao contrário do que muitos pensam, acabou sendo, de fato, tímido e conservador demais. Que isto sirva de lição para futuros embates. Talvez finalmente, e este é o maior trunfo do clube, o Fluminense tenha ''tomado gosto'' pelas grandes competições. E quem chega lá uma vez pode fazê-lo outras mais, sentindo finalmente o gosto da vitória. Que o exemplo do Grêmio e do São Paulo inspire o tricolor carioca nos próximos anos. O futebol brasileiro só tem a ganhar com este crescimento do Fluminense...
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