sábado, 29 de dezembro de 2007
Os cientistas e a ''morte de Deus''
''Deus está morto'', proclamavam os filósofos. A novidade é que hoje os maiores ataques vem da ciência. Mundo afora, diversos cientistas de renome publicam tratados sobre a inexistência de Deus e o ateísmo. Escândalo geral, em nações fundamentalistas como os países do Oriente Médio e os Estados Unidos...Minha perplexidade deriva do momento em que esta nova ofensiva se trava. Fazia sentido falar na ''morte de Deus'' no final do século XIX e início do século XX, em razão do advento de invenções como o automóvel, o cinema, o avião. Acreditava-se, naquela época, em uma nova Era das Luzes, conduzida pela ciência. A visão era de um progresso contínuo da humanidade, do qual aquela época constituiria o ápice...Combater Deus hoje, em um mundo em que as pessoas estão muito mais preocupadas com o consumo de novos bens tecnológicos, e hipnotizadas pela TV e pela publicidade, soa como piada. O Deus atual é a tecnologia, que fala inclusive em um ''pós-humano'' a ser criado pela Informática e pela ciência. O Deus atual é a velocidade, o ''tempo real'' em que uma miríade de informações- muitas sem qualquer relevância- despenca sobre nossas cabeças, sem que tenhamos sequer tempo de processá-las e raciocinar. A visão clássica de Deus do protestantismo, de um Deus que guiaria o nosso cotidiano, com o qual travaríamos um eterno diálogo em busca do nosso auto-aperfeiçoamento, um Deus que justificaria uma civilização marcada pelo trabalho árduo e não pela busca eterna por mais diversão, este Deus já está morto há muito tempo, na cabeça das pessoas. Se Deus não ocupa mais um papel central na cabeça da maioria dos seres humanos- nem sequer na dos ''bispos'' da Igreja Universal e de sua TV Record- entendemos que o atual ataque da ciência contra Deus só pode representar uma tentativa de eliminar qualquer concorrência, por mais ínfima que seja. Há dois processos em curso: um o dos cientistas que se proclamam ateus com tanta ênfase como os religiosos, e outro o dos cientistas como os da física quântica, que enfatizam a ligação entre ciência e uma nova espiritualidade que surge, sem os vícios e o ranço da anterior. O DVD ''Quem Somos nós'' é uma amostra desta nova ciência. Há uma diferença entre Religião e Espiritualidade. O declínio da primeira- com o fechamento de Igrejas por toda a Europa por falta de fiéis- não está relacionado com a ascensão da segunda. Talvez seja chegada a hora de retornarmos a uma visão panteísta como a dos antigos ''pagãos''- de quem a festividade do atual Natal foi roubada- que viam Deus em todas as coisas, no sol, na lua, na natureza, no mar. Que mundo teríamos criado sob esta visão pluralista de Deus? Certamente um lugar muito mais seguro e aprazível para se viver, onde as pessoas fossem mais felizes e não vivessem subjugadas em uma eterna busca por mais bens para justificar as suas fugazes existências. O advento desta nova espiritualidade será uma das questões mais importantes deste Terceiro Milênio em que o antigo ''Deus'' - já há muito morto pela ciência e pela tecnologia- pode reaparecer sob novas formas, mais próximas do dia-a-dia do ser humano...Não se trata da ''morte de Deus'' e sim, muito pelo contrário, do seu reaparecimento em um mundo mais humano, curado de suas cicatrizes...
Conversas com motoristas de táxi em Curitiba...
É dezembro, a chuva cai mais uma vez quando chego a esta inesquecível e acolhedora cidade. Os jornais anunciam uma ''fuga'' dos moradores rumo ao litoral e às aprazíveis praias de Santa Catarina. Enquanto os periódicos de Florianópolis brandiam assustados o número de 8 assassinatos NO ESTADO em um final-de-semana, 3 deles na Capital, os de Curitiba falam em 21 mortes nos últimos 5 dias. Assaltos e seqüestros são novidade lugares antes provincianos que começam a agora a conviver com a modernidade- para o bem e para o mal...O primeiro motorista com quem conversei, e que me levou para o hotel onde sempre me hospedo quando estou lá, disse-me que há alguns anos as chuvas levavam uma semana inteira, e hoje não passam de chuviscos passageiros...O último motorista, que me levou de volta para a Rodoviária de lá comentou que quando era um ''piá'' ( guri, na gíria local), no inverno as calçadas amanheciam cobertas por uma fina camada de gelo. E que realmente, como eu ouvi falar de uma terceira pessoa, as pessoas tinham de fazer pequenas reservas de água para beberem ou se banharem de manhã, pois ''a água congelava nas torneiras". Me lembro que o Gazeta do Povo, jornal local, mostrou que, em 1975, NEVOU na cidade- como este ano, em Buenos Aires...Pois bem, o segundo motorista comentou ainda, assustado, que no verão as máximas, que não passavam dos 30 graus, hoje chegam a 35/36 graus( um absurdo para um lugar onde já ouvi uma camareira de hotel reclamando de um ''calorão monstro'' quando o relógio marcava 25 graus...). Este ano, no geral, a imprensa fala em temperaturas médias no mês de dezembro 7 graus mais quentes, atribuindo o fenômeno ao ''La Niña''. O fato é que o processo de aquecimento global parece andar muito mais rápido que as mais pessimistas das previsões, e temos de nos preparar para dias ainda mais difíceis pela frente. Talvez os cientistas já saibam que o processo é irreversível, mas não falam para não alarmar ainda mais a população. Investimento do século: ações de empresas que fabricam protetores solares, bem como de empresas que colaborarem para a reconstrução de cidades destruídas por catástrofes naturais, como furacões, etc...Enquanto isto, a frota de veículos em São Paulo cresce 800 carros POR DIA...
Sobre agradar os outros- uma estorinha...
''Certo dia um pai, um filho de onze anos e um asno foram ao mercado. Para chegar ao destino, porém, tinham que passar por quatro vilarejos. O pai disse então ao filho: " Monta no asno que eu te acompanho a pé''. Chegaram ao primeiro vilarejo. As pessoas, vendo-os, comentavam: ''Vejam! Não existe mais religião! O jovem filho montado no asno e o velho pai indo a pé". O homem escutou o comentário e disse ao filho: "Escuta! As pessoas estão falando mal da gente. É melhor que eu suba no asno e tu me sigas a pé''. E assim fizeram. Chegaram ao segundo vilarejo e ouviram pessoas murmurando: ''Vejam que maldade: o pai tranqüilamente montado no asno enquanto o filho fica exposto aos perigos!". Para não serem mais criticados, ambos decidiram subir no asno. Chegaram ao terceiro vilarejo. Vendo-os, as pessoas os criticavam dizendo: ''Coitado do asno; carrega todo o peso sozinho! Ninguém mais respeita os animais! Ouvindo isso, os dois desceram do asno e seguiram a pé, puxando o asno. Chegados ao quarto vilarejo, novamente foram ridicularizados: ''Vejam estes dois idiotas: tem um asno tão forte e preferem andar a pé!". Pai e filho se olham e concluem: ''Fomos criticados em todos os vilarejos por onde passamos. O que nos consola é que em cada situação nos comportamos da forma que julgamos ser a mais correta''( Fonte: ''O Pensar Saudável'', de Maria Cristina Strocchi, Editora Vozes, páginas 66/67 ). Não se pode agradar todo mundo,eis uma conclusão razoável...
quinta-feira, 27 de dezembro de 2007
O risco exterior, e o risco interior
Nos últimos anos, em todo o planeta, foi intenso o movimento em procura de maior segurança para morar. Houve, sem dúvida, seguindo o modelo norte-americano, uma ''condominização da vida''. Este processo foi favorecido pela conduta dos meios de comunicação de massa, todos pródigos em divulgar catástrofes, crimes escabrosos, etc. Pode-se dizer que, atualmente, há uma ''indústria da segurança'', que se alimenta de todo este clima de terror criado pela mídia. Porém, enquanto as pessoas estão mais preocupadas com traficantes pé-de-chinelo dos morros ou com a ''assustadora'' figura de mendigos e menores de rua- o perigo mais óbvio- elas se descuidam de um perigo muito mais insidioso, sorrateiro, eficiente. O perigo interior da submissão aos próprios meios de comunicação de massa. Pais se preocupam em garantir ''segurança'' para os seus filhos, em condomínios que buscam recriar- ao menos na aparência- a vida das antigas comunidades, onde todos se conheciam. Enquanto isto, os seus mesmos filhos estão submetidos a um ataque implacável da publicidade, dos programas violentos e sexistas. A ''condominização do planeta'' também leva a crimes violentos cometidos pelos jovens que são segregados nestes ambientes de falsa segurança. Numa completa inversão de valores, são estes jovens criados nestas granjas artificiais, sem contato com pessoas diferentes, que saem no mundo buscando purificar tudo que lhes parece ''errado'': empregadas são espancadas por serem confundidas com prostitutas, mendigos são queimados por estes ''filhinhos de papai'' desocupados. O mundo obcecado por segurança é, cada vez mais e paradoxalmente, um mundo inseguro e violento. Como a cidade de São Paulo, onde câmeras e vigias em número crescente não conseguem impedir crimes que, em número crescente, são cometidos por estes mesmos agentes de ''segurança''. O ideal da modernidade, de Baudelaire e dos ''flaneurs'' que passeavam sem rumo pelas nascentes metrópoles foi substituído por uma medievalização do mundo, onde cada um busca o seu castelo, e a visão livre das praias e ruas foi substituída pela visão dos guardas e dos muros. Mas garantir a cada habitante do planeta o seu ''lugar ao sol'', a sua casa ou apartamento na praia e o seu carro próprio é um caminho certo para o caos e para uma cada vez mais próxima aniquilação da espécie humana. Espero estar errado desta vez, a discussão está no ar...
terça-feira, 25 de dezembro de 2007
Reflexões sobre uma ilha (será que ainda existem ilhas???)
Escrevo estas linhas de Florianópolis, onde estive nos últimos 9 dias. Independetemente de qualisquer considerações que eu venha a fazer neste texto, é preciso que fique claro que este é um lugar sensacional, ao qual espero retornar por muitas e muitas vezes. Quem sabe um dia até morar aqui, o que faria sem pestanejar. Este é um belo e agradável paraíso, onde as pessoas te recebem como em nenhum outro lugar. As refeições são fartas e deliciosas, a preços mais em conta que em outros lugares. Um costume muito legal é o de, ao preparar um suco ou caldo de cana, eles costumam sempre deixar um pouco mais do que o normal- o que se chama aqui de ''chorinho''. As ruas são limpas e ordenadas, sem tantos mendigos como em outros lugares. Para quem chega de um grande centro, como eu, a sensação é de muito mais segurança. Pode-se caminhar à vontade pelo centro inclusive á noite. Porém, como esta não é a primeira vez que visito esta ''cidade-ilha'', fiquei espantado com algumas mudanças. A cidade, que tinha apenas um shopping center, com meras 3 salas de cinema, agora ganhou mais 22 salas e 2 outros grandes centros comerciais, que não ficam a dever aos de nenhuma outra metrópole brasileira( um deles é do grupo Iguatemi, talvez por isto seja tão parecido com os shoppings de Sampa). Ao redor destes shoppings surgiram bairros inteiros do nada, com casas que se espalham até quase o topo das belas montanhas locais. A ilha paradisíaca se aproxima cada vez mais do mundo-cão continental, loteada e saqueada pela especulação imoblliária. De fato, é cada vez mais impossível achar paraísos em um mundo em que todos querem ter o seu lugar na costa marinha. O resultado é que em algumas praias da ilha o cenário mais se parece com o do artificial litoral paulista, e temos de rodar por vários minutos até achar um mísero pedaço de chão que ainda nãol tenha sido cercado e loteado. O cenário mais se aproxima do antigo velho oeste americano, onde quem chega primeiro vai garantido o seu e ponto. O Mnistério Público Federal ainda tenta conter a febre especulativa com algumas ações, mas os grupos interessados nos loteamentos são poderosos. Entre eles o do Costão do Santinho, que acaba de lançar, em área protegida, o seu mais novo empreendimento. O Shopping Iguatemi, muito belo por sinal, foi feito em área protegida também, ficando embargado pela Justiça por vários meses...Mas levou...Porém o que eu quero levar daqui é a lembrança da verdadeira alma desta ilha, dos almoços em restaurantes simples á beira-mar em pequenos vilarejos com mais de 300 anos, de pequenas casinhas e gente feliz e hospitaleira. A lembrança das caminhadas à beira-mar em praias de água limpa e relativamente protegidas-ainda- da especulação. A lembrança de 9 dias comendo peixe como nunca, de todos os tipos, vários inesquecíveis( a MELHOR moqueca do Brasil, o MELHOR bacalhau que já comi, o MELHOR filé de peixe que já comi!), as caminhadas pelas ruas do centro da cidade- em algumas ruas só para pedestres, e outras tão estreitas que só dá para passar um carro- as compras de livros nas boas livrarias ''Catarinense'' e ''Livros e Livros'' (esta com uma ótima seção de livros universitários e da área de humanas), o pôr-do-sol na Avenida Beira Mar, a vista da Lagoa da Conceição do alto da montanha, com o mar logo ao fundo...Continua sendo uma PENA deixar Floripa, isto é que é mais importante...
quarta-feira, 12 de dezembro de 2007
Divagações Paulistanas de Fim-de-Ano
Viver em um grande centro, para quem veio de um lugar menor, exige uma série de adaptações. Aqui ,no maior, TUDO É GRANDE. Grandes atrações, grandes prazeres, grandes problemas...Em um lugar como Brasília, era comum caminhar pelo Plano Piloto em certos horários e não deparar com uma viva alma.Em Sampa, ao revés, estamos sempre buscando espaços em meio à multidão. Esbarrando ou tentando não esbarrar nos outros. A Avenida Paulista, para os turistas como eu fui um dia, era o meu ''point'', lugar de chegada e de saída. Eu enchia o saco dos outros para dar aquela ''última passadinha'' pela Paulista. Hoje, tornou-se um lugar a evitar na hora do ''rush''. Grupos de 5 ou 6 pessoas, saídas dos escritórios, costumam caminhar lado a lado, impedindo qualquer ultrapassagem pelos lados. Uma caminhada mais veloz vira um simples passeio, sem contar os inúmeros sinais a atravessar...Costumo, para evitar estas mesmas multidões, almoçar mais cedo em um restaurante natural que freqüento. O restaurante reserva lugares para estes funcionários, como se fosse um grande bandeijão, lugares estes que- coincidência ou não- são os melhores, com vista para fora e tudo...Depois de meio-dia e 10 minutos eles começam a chegar aos bandos, ruidosos, falando das fofocas do trabalho, etc. A sensação de comer em meio a esta massa é de sufoco. Apressamos nosso ritmo para ir embora logo, sair para o ar livre. Nos finais de semana, quando comemos um pouquinho melhor, é só evitar sair de casa depois das 2 da tarde- hora em que paulistano começa a almoçar. O metrô, nas horas de ''rush'' é coisa de outro mundo: de manhã eles reservam duas escadas rolantes para a massa que sobe, e no final da tarde, duas escadas rolantes para o pessoal que desce. É MUITA, MUITA gente. Mesmo passando quase que de minuto em minuto, os carros vão extremamente cheios. Acho que só em Tóquio tem tanta gente que há até um funcionário especializado em empurrar as pessoas para dentro dos vagões! O trânsito, nem se fala. É mais fácil ir ao Rio de Janeiro de avião do que ir de uma ponta a outra da cidade de carro( 40 minutos contra ???). O ruído ''natural'' da cidade é o som das buzinas. Tudo aqui é bem acelerado, como aqueles antigos LP's de 76 (?)polegadas...Muitos caminham, exceto quando estão na nossa frente na hora do almoço, como se estivessem correndo. Sempre atrasados, sempre olhando para os relógios, alguns até falam neste ritmo ultra-acelerado- os professores dos cursinhos, por exemplo. Quem lê isto pode até imaginar que estou odiando, mas é o inverso. Por ter vindo de outro lugar, é difícil perder o nosso olhar ''forasteiro''. Mas as pessoas daqui, por mais que reclamem, tem um certo ar de orgulho pela grandeza do lugar em que vivem. Perguntem a elas se trocariam São Paulo por outro lugar, e poucos diriam que sim (aliás, e aqui está um mistério, até mesmo os moradores dos super-violentos morros do Rio de Janeiro tem medo de serem despejados dos barracos onde vivem...!). No último fim-de-semana recebemos um grupo de amigos daqui para um jantar em um restaurante perto de casa. Muitos vieram e voltaram de metrô- e eu fui acompanhá-los na volta até a estação. Era meia-noite, e soubemos que os trens circulariam até 1 da manhã de domingo. Neste dia quebrei meu hábito de sair sábado à tarde e voltar no início da noite para comprar os jornais de domingo, lendo-os ainda na noite de sábado em PRIMEIRA MÃO em relação ao resto do país. Comprei os jornais do domingo à meia-noite, voltando para casa á pé. O detalhe é que as ruas ao redor da estação estavam cheias, os bares e restaurantes estavam cheios, e em nenhum momento eu senti qualquer receio. É isto que faz de São Paulo um lugar único e especial, entre muitas outras coisas também. O automóvel aqui é dispensável. Para o meu próprio bem, e o do planeta( o Estadão informou, para nossa lástima que em São Paulo, pela grande concentração de CO2, o aquecimento foi 3x maior que no resto do planeta...Quantas árvores foram derrubadas para imprimir os meus grossos jornais de domingo? O que será feito com as diversas garrafas PET das águas minerais que bebo? Voltamos aos problemas, agora não mais restritos a São Paulo...).
domingo, 9 de dezembro de 2007
Ipiranga com São João...
Esta semana os meus caminhos me conduziram até esta famosa esquina. Lá, eu estava raciocinando que seria muito chavão lembrar da música famosa de Caetano, quando ouço dois turistas atrás de mim tentando lembrar e repetindo estrofes da música célebre...Aí não deu mais para esquecer: atravessei a esquina ouvindo os caras cantando a música, enquanto eu mesmo tentava lembrar mentalmente algumas estrofes...O lugar não tem nada de muito especial, mas foi marcante para o caipira recém-chegado da Bahia, Caetano Veloso. O feio é belo para quem o vê como belo...São Paulo reúne o belo ao lado do sórdido, confundindo mentes cartesianas e certinhas. Caetano captou bem o lado caótico da metrópole, e o ''preço da grana que cria e destrói coisas belas''...É isto? Corrijam-me se estiver errado...
segunda-feira, 3 de dezembro de 2007
Caiu!
Enfim chegou o momento que todos esperávamos. Não, não foi ainda a queda de Hugo Chávez. Foi a queda do ''timão'' para a segundona. Nas telas as imagens de torcedores sofrendo, em especial os corintianos que foram ao estádio Olímpico. O Sportv mostrava imagens em seus canais dos outros 2 jogos que decidiriam os rebaixados: Vasco X Paraná, e Goiás e Inter. Em pouco tempo foi claro que este seria o jogo mais decisivo. Nem os corintianos esperavam alguma coisa mais do seu próprio time que estava em campo, e assim ficavam de olhos e ouvidos atentos ao jogo da capital goiana. O Inter, mesmo sem muita motivação, começou melhor e marcou, para a alegria da Fiel. O Goiás, sem muita técnica, era só vontade e, aos poucos, foi encurralando os colorados- este sem o apoio sequer de sua própria torcida...O jogo era meio lento, talvez pelo tradicional calorão de Goiânia. A emoção cresceu na cobrança repetida dos pênaltis, conforme a regra, para explodir no grito de gol quando o Goiás passou a estar na frente. O medo dos goianos era tanto que eles recuaram para garantir o resultado a qualquer preço, forçando os colorados a ir para frente, o que tornou o jogo ainda mais emocionante. Claro que, para o Inter, aquele era mais um jogo, sem maiores motivações. O Grêmio, por sinal, também atuou de modo diferente do habitual, depois de descobrir que o Cruzeiro estava vencendo. Enfim, era ''bolinha da Globo'' para lá e ''bolinha da Globo'' para cá, em um clima tão emocionante como o de uma decisão...O Corínthians foi premiado por uma campanha medíocre, e agora vai ter de disputar a Segundona- esta cada vez mais difícil e emocionante. Não se esqueçam que a Portuguesa demorou 5 ANOS para subir novamente, tal o nível de disputa da Série B. Para o Coritiba também não foi fácil. O Corínthians foi rebaixado, todos sabem, na partida contra o Vasco, quando foi incapaz de impor-se apesar de contar com o apoio de 35 mil torcedores. Os fogos aqui em São Paulo, quando os jogos terminaram, foram ensurdecedores. Santistas, palmeirenses e são-paulinos certamente tiveram um presente de Natal antecipado. O futebol brasileiro lentamente se profissionaliza, e os que não acompanharem o ritmo vão ter de cair mesmo, sejam populares ou não.
sexta-feira, 30 de novembro de 2007
Cai, não cai
Nas ruas, nos programas de TV, só se discute uma coisa por aqui: o Corínthians cai, ou não cai para a Segunda Divisão. Nota-se, assim, que o brasileiro adora dar atenção a um problema. O campeão indiscutível, o São Paulo, time que o técnico Felipão afirmou em uma entrevista ter condições de disputar de igual para igual com os maiores times da Europa, e que seria favorito certo nos campeonatos brasileiros ''dos próximos anos'', virou notinha ao pé das páginas de jornal. Todos, tantos os contrários- como eu- como os seus torcedores, só querem saber de falar no alvinegro do Parque São Jorge. Aliás, eu escutei uma frase muito interessante, que tratarei de reproduzir aqui (adaptada): ''eu tenho dois times: o São Paulo e o adversário do Corínthians em qualquer jogo!". Claro que isto pode ser adaptado e utilizado por adversários do Flamengo, etc.
A overdose de ''timão'' chega ás raias da loucura. Hoje os canais Sportv tem analisado em todos os seus programas diários- o matutino, o vespertino e, quiçá, daqui a pouco, o Troca de Passes das seis e o Sportv News das dez e meia- a dramática situação dos Gaviões. E, olhem só que absurdo, como se fossem estrelas da mais alta categoria ou astros da seleção brasileira, o Sportv chegou inclusive a mostrar o treino de hoje do Corínthians no estádio Beira-Rio( do Inter, onde está se preparando em Porto Alegre para a batalha de domingo). Por outro lado, o Globo e o Globo Esporte(TV Globo)alertaram para o fato de que as duas arqui-inimigas torcidas gaúchas estão unidas pelo rebaixamento do ''timão''. Como se sabe, aquele campeonato de 2005 que foi vencido pelo time paulista, foi colocado sob suspeita por um próprio dirigente alvinegro, que teria admitido que a diretoria Corintiana e a MSI teriam comprado arbitragens e modificado resultado de jogos para favorecer o time do Parque São Jorge. Até hoje o Internacional, vice-campeão, questiona a arbitragem desastrosa que anulou um gol do Inter e expulsou um de seus jogadores no jogo contra quem? O Corínthians...
O fato é que o futebol, e por isto é tão interessante, tem suas surpresas. Esta mesma combalida e questionada equipe venceu o campeão São Paulo e o vice Santos, bem como o favorito Botafogo no Rio...Pela lógica, um time que perde como perdeu para o Vasco em casa, com o apoio de sua torcida, e jogando um pífio futebol, sem nenhum poder ofensivo, e ainda sem o artilheiro Finazzi, vai cair mesmo. Mas, por incrível que pareça, o time pode permanecer na Primeira Divisão, mesmo com uma pífia campanha de meras 10 vitórias e 15 empates, até mesmo com uma derrota. Não é impossível que os maiores aliados do ''timão'' até aqui, seus adversários Goiás e Paraná, times igualmente combalidos e incompetentes, percam seus jogos para Internacional e Vasco. Dos três o Corínthians é, e não é incrível, o melhor colocado. Pode ficar na Primeira até mesmo com um empate ou uma derrota. Mas, para isto, é necessário que os adversários não vençam. Se o Goiás empatar em casa, resultado normalíssimo, o ''timão'' terá de suar para VENCER o Grêmio, candidato à Libertadores, no estádio Olímpico. Aí, a cobra vai fumar e se contorcer...
Notas Dispersas
Outro dia eu me vi descendo mais uma vez a rua da Consolação, sentido centro, como não fazia já há algum tempo. Na verdade, desde que vim morar aqui em São Paulo. Esta rua, para quem não sabe, é uma das mais movimentadas da cidade, palco inclusive de eventos como a São Silvestre.
É cheia também, próximo à Avenida Paulista, de lojas especializadas em lustres e material de iluminação. Mais abaixo, tem o grande Cemitério da Consolação, cujo grande mérito é, para nós, pedestres, proporcionar-nos um pouquinho de SOMBRA, em meio ao sol escaldante da capital paulista.
O que é mais surpreendente, nesta capital, é a facilidade e a rapidez com que vamos ''do luxo ao lixo''. Entramos em Higienópolis, bairro chique, para almoçar e, em questão de minutos, ou voltamos para a rua Augusta, famoso ponto de ''inferninhos'', casas de massagem e prostituição noturna- embora não se limite a isto, claro- ou continuamos descendo a Avenida Angélica, rumo ao centrão. Esta semana até aconteceu um fato engraçado: eu ouvi um surpreendente- para quem já está se acostumando a ser chamado de ''senhor''- grito de ''moço, moço''. E, para minha surpresa ainda maior, foi proferido por uma bela jovem, que queria indicações de como chegar ao centro. Contive a minha vontade de oferecer-me para levá-la pessoalmente, o que soaria suspeito, e expliquei que logo ali, na Av. Angélica, ela poderia pegar um ônibus que a levaria ao lugar procurado. Eu sempre parto do pressuposto que as pessoas preferem táxis, ônibus ou qualquer coisa ao modo mais tradicional, mais antigo, e mais saudável, bem como divertido, que é a caminhada.
Depois do almoço, por sinal, foi como eu cheguei ao mesmo centro. Lá, entre diversas visitas a livrarias, como a Saraiva e a RT, acabei ouvindo o seguinte comentário, proferido por um camelô: ''O Pelé? O Pelé é do tempo dos dinossauros. Hoje ele não ficaria em pé, de tanta porrada que ia levar dos zagueiros". Estes diálogos de rua são muito engraçados. Há até uma coluna do Globo, na Revista de Domingo, que reproduz diálogos semelhantes, e frases igualmente originais proferidas pelos divertidos cariocas. Mas, voltando ao comentário, até parece que o Pelé era aliviado pelos zagueiros da época. Ao contrário. Como sabia que seria caçado em campo, ele já se antecipava, e dava umas porradas primeiro nos beques para mostrar quem é que mandava...
Observando o centro de São Paulo, eu fico me perguntando se a humanidade mudou realmente em todos estes anos, além da descoberta de alguns brinquedinhos como Ipods, Iphones, celulares, TV's de Plasma e poluentes automóveis...Acho que na Roma Antiga, e há alguns relatos interessantes de historiadores a respeito, era do mesmo ''jeitim''. Muita sujeira, barulho, movimento pelas ruas, miséria ao lado do maior luxo, poluição- os romanos jogavam os seus esgotos no Rio Tibre ou nas ruas, o que não é muito diferente da São Paulo atual...
Terminei o passeio visitando um pequeno shopping- o Paulista, ao lado da Avenida de mesmo nome- que está em reformas para ampliação. E fiquei surpreso ao ver que a pequena livraria Saraiva que ele tinha mudou de andar e de tamanho: transformou-se em uma bela Megastore, para concorrer com as Fnacs e Culturas da região. Sinal dos tempos: eis uma transformação muito agradável e bem-vinda. Grandes livrarias convivem, na metrópole, com sebos e vendedores de livros na rua. Mas afinal, como perguntaria Caetano, quem lê tanta notícia? Tem gente lendo, eis uma notícia alvissareira. Gente suficiente para financiar todas estas livrarias, e todas estas revistas que a gente vê nas bancas. Talvez sejam alguns milhares, na cidade dos milhões, mas já é alguma coisa...
terça-feira, 9 de outubro de 2007
O que é um filme ''fascista''???
Na escola da vida aprendi a desconfiar das versões oficiais. A buscar e descobrir novas versões para os fatos, uma vez que a realidade é multifacetada, cheia de nuances.
Na época da ditadura havia uma versão oficial: que o país ia bem, exceto pelos terroristas e subversivos que buscavam transformar-nos em satélite dos russos. Acontece que, em certos meios, a versão oficial nunca foi capaz de penetrar. Um destes meios era a intelectualidade.
Hoje são aqueles mesmos ''terroristas e subversivos'' que se encontram no poder. Do que eles são capazes de fazer para estigmatizar e desmoralizar os seus adversários já sabemos, haja vista a última campanha para Presidente. Eles são todos cheios de razão. Sabem que, para triunfar sem objeções, precisam ocupar todos os espaços. E, em função disto, buscam humilhar e espantar seus inimigos inclusive na Internet.
A razão desta longa introdução é que, mesmo antes do lançamento deste filme, já andava correndo uma versão sobre o seu caráter ''fascista''. Os mesmos intelectuais de plantão correm para os jornais e TV's para tentar impor esta visão simplista, e impedir as pessoas de terem a sua própria opinião sobre esta obra de arte.
Filmes que mostram violência não são necessariamente filmes fascistas, que fique claro. Um dos filmes mais marcantes que já assisti sobre a Guerra do Vietnã, mostra um coronel enlouquecido e soldados americanos em helicópteros, prontos para abater os locais, ao som da Cavalgada das Valquírias. O filme é maravilhoso, e nem por isto passamos a apoiar os americanos em suas incursões intervencionistas em solo alheio.
''Tropa de Elite'' é um filme marcante, sobre uma realidade dolorosa e inacreditável que está ocorrendo no nosso ''país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza'' ( eu colocaria Jorge Benjor na trilha do filme...). Mostra quais são os mecanismos, quais os lados, quem contribui para que tudo isto se perpetue. Logo no início, o Capitão Nascimento (Wagner Moura, em excelente atuação)diz que na PM do Rio só há 3 opções: ''ou você se corrompe, ou você se omite, ou você vai para a luta''. O filme mostra o lado daqueles que optam pela luta. A luta é bela? Nenhuma é. Mas há aquelas batalhas que vale a pena combater.
Para um suposto filme ''fascista'', o resultado acaba sendo o oposto ao de uma ode ao combate. Na hora em que os mesmos valorosos e combativos membros do BOPE, o lado que acabamos apoiando ao longo do filme, aqueles que não se deixam corromper ou intimidar por uma burocracia falida, se empenham em caçar um traficante que matou um de seus membros- e violam todos os manuais e todo o bom comportamento, torturando os seus inimigos e, infelizmente, igualando-se a eles, aquilo que todo o filme procurou contradizer- aquela sangueria toda passa dos limites. Vemos que os ''nossos'' defensores da lei, mostrados tão humanos neste filme, com seus sofrimentos e contradições, incorporam a lógica do combate, e aí não tem mais conversa, não tem mais teoria, não tem mais lógica: acabamos saindo da sala de cinema ainda mais deprimidos, indagando se haveria realmente alguma ''saída'' para esta merda toda...
O filme nos dá esperanças, mostra que há uma batalha em curso entre Polícia- a instituição, e sua importância- e bandidagem, estes implacáveis, chegam a queimar um traficantezinho de classe média que desobedece suas ordens.
Mas, no final, não há apologia de nada. Não tem Capitão Nascimento que racionalize nada. O traficante que matou o PM é morto, e a tela se escurece com o nome do filme. É morte por morte, tortura por tortura. O filme não propõe nada, ao contrário do que a visão pequeno-burguesa esquerdista de classe média teme. Não é fascista, pois filmes fascistas não tem nuances, não mostram lados opostos. É um filme cético. Dá esperanças de uma solução, que tanto esperamos, mas nos deixa em um vazio tão grande quanto aqueles que vislumbramos durante a sua exibição. Os vazios vistos do alto do morro. Não sabemos voar, não podemos escapar, não podemos matar todos os bandidos safados e seus inúmeros aliados, entre políticos, consumidores de drogas de classe média, comandantes corruptos da Polícia, dos quais os pequenos traficantes dos morros são meros instrumentos.
Ficamos enojados com tanta carnifina e, aqui, acho que o filme cumpre um grande papel: que o nosso nojo, que o nosso cansaço seja propulsor de uma saída radical para esta coisa toda. Basta de discursos vazios e intelectualóides sobre a contribuição da pobreza para o tráfico: se a pobreza fôsse a causa, o tráfico teria se desenvolvido no sertão nordestino, e não no rico e desenvolvido Rio de Janeiro.
Uma batalha está em curso. Infelizmente, nesta batalha só o Capitão Nascimento e seus comandados parecem saber qual é o seu papel . Nós, com nossos discursos pela ''paz'' e nossos manifestos pela ''justiça social'', só conseguimos fortalecer a mesma bandidagem que, no nosso interior, desejamos combater e eliminar...
domingo, 7 de outubro de 2007
Esquisitices humanas
Uma das grandes polêmicas geradas pelo filme ''Tropa de Elite'' diz respeito á responsabilidade ou não dos consumidores pelo tráfico de drogas. Mas, se o consumidor não é responsável pelo tráfico e a sua principal conseqüência, a violência, quem será responsável?
Se, ao optarmos pelo uso de veículos motorizados e poluentes, não somos responsáveis pelos engarrafamentos e pelo aumento da poluição, quem será responsável por estas coisas?
Se conduzimos estes mesmos veículos de modo imprudente, muito acima do permitido pelas leis do trânsito, e atropelamos outras pessoas, na nossa ânsia de chegar a tempo aos nossos compromissos, e não somos responsáveis por isto, quem será responsável pelo aumento do número de mortos e atropelados em acidentes de trãnsito?
Se jogamos lixo nas ruas, e depois estas mesmas ruas ficam alagadas após uma chuva mais forte, em função do lixo que lota as bocas de lôbo, e nós não somos responsáveis por isto, quem será?
Se, por impaciência, pressa, ou estas duas coisas juntas, optamos por corromper policiais com uma ''caixinha'' para não sermos multados, não contribuímos para o aumento da ''Banda Podre'' da Polícia e dos serviços públicos, quem será responsável por estas coisas?
Se votamos mal, e os nossos eleitos contribuem para a manutenção de corruptos nos mais altos postos da política nacional, e nós não somos responsáveis por isto, quem será responsável por tudo isto?
Entre todos os VÉUS que encobrem a consciência da humanidade, a não responsabilidade pelos nossos próprios atos é um dos maiores.
O bom senso, o senso comum, para citar um exemplo, diz há séculos que o melhor é ''fazer do alimento o nosso próprio medicamento''. É o alimento, para falarmos de uma das coisas mais simples e básicas do mundo, que pode nos estimular ou curar- ou o inverso. No entanto, outros interesses nos levam cada vez mais a querer salgar, adoçar, fritar, manipular as coisas de modo a retirar o mínimo de nutrientes que elas contém. E, em função deste comportamento, somos forçados a gastar fortunas em remédios e ''estimulantes''. Somos nós que contribuímos para este atual estado de coisas, e somos nós que sofremos com isto. Se não somos nós, quem seria?!!!
sábado, 6 de outubro de 2007
Olhar Criador
Recentemente, no filme ''O Vidente''( com Nicholas Cage ), um personagem afirmou que ''quando olhamos para o futuro, neste mesmo momento o que olhamos já não é a mesma coisa- pelo simples fato de termos olhado para esta coisa''. A citação não é literal, mas a idéia é esta.
E aplica-se muito bem ao presente. Como seres CRIADORES, ao observar qualquer coisa estamos incorporando esta coisa ao nosso mundo, mesmo inconscientemente. Pela ação ou pela rejeição. É a soma das coisas que observamos e olhamos que faz as nossas vidas. Exemplo: já estive duas vezes em Recife, onde fiquei na bela praia de Boa Viagem. No entanto, Recife não me marcou. Não me deixou uma vontade de voltar. É, em suma, uma cidade NEUTRA. Não a amo, nem a odeio. Quando vejo notícias de Recife, não sinto nada em especial( nada contra esta bela cidade, é só uma questão de preferência ). Já outros lugares deixaram em mim uma saudade e vontade de retornar. Alguns, como o Rio de Janeiro, a qualquer hora e a qualquer momento, sempre que possível. Foi lá que aprendi a andar, com pouco mais de um ano de idade. Posso ''retornar'' ao Rio a qualquer hora pelo meu pensamento, em imagens vívidas que não exigem sequer que eu feche os olhos...
O que gostamos, vamos incorporando. Sejam comidas, lugares, leituras, amores. O repetir aqui não é repetitivo, pois sempre há uma nuance, algo novo a descobrir. Ao olhar para algo de que gostamos, mesmo que seja a nossa mesma companheira de 60 anos de casamento, vamos incrementando e fortalecendo aquela imagem dentro de nós. Exercitamos o nosso poder de escolha. Dizemos, mesmo sem ter de dizê-lo expressamente, ''sim'' para aquela pessoa, para aquela coisa, para aquele lugar que habita dentro de nós.
A grande descoberta dos autores do chamado ''Novo Pensamento'' é que, isto que fazemos de modo inconsciente o tempo todo, pode ser feito também de modo consciente. Ou seja, do mesmo modo que criamos o nosso presente, por meio de nossas preferências, também podemos criar o futuro...
Ao dizermos conscientemente ''sim!'' para algo que ainda não se materializou, não ocorreu no plano físico, estamos atraindo esta coisa/situação para o mundo das nossas preferências. Para a nossa vida. Passado e futuro, na verdade, não existem, a não ser como criações humanas para facilitar o nosso entendimento da evolução. No mundo real tudo se mistura, em um caos saudável do qual só podemos ter um certo controle por meio das nossas escolhas...
Eros e Thanatos
Certos lugares são verdadeira unanimidade. Não há quem não goste de belas praias, em lugares limpos e tranqüilos. Já outros, como São Paulo, requerem um olhar especial para perceber a sua beleza. Ontem vi uma pixação em um viaduto, durante uma caminhada, na qual estava escrito: ''A beleza do mundo está em mim''. De fato, além das belezas unânimes de que estávamos tratando, outras há que se descobrir dentro de nós.
Existe uma prática sexual em que a pessoa se asfixia durante a cópula até chegar perto da morte. Os seus praticantes o fazem certamente pela excitação que provoca a combinação entre o gozo e a morte. É o eterno desejo humano de percorrer as fronteiras, chegar à beira do abismo sem pular.
As grandes metrópoles do mundo, como Nova Yorque, Tóquio ou São Paulo, são exemplos vivos desta arte de viver na fronteira do abismo. São Paulo é muito feia, dizem muitos de seus visitantes ou habitantes. Está certo. São Paulo é um paraíso, um lugar belíssimo sem igual, dizem os seus admiradores. Certíssimo também.
Os grandes centros são lugares onde encontramos o tempo todo sinais de destruição, de violência, de pobreza, de poluição. A morte está presente o tempo todo, sentimos isto no ar. As nossas ruas estão repletas de veículos poluentes, responsáveis pela maior parte do ar ruim que respiramos. Eles são guiados por pessoas, em boa parte, insatisfeitas, nervosas, sem a mínima educação para o trânsito. De vez em quando ocorre um ''acidente'' em que uma destas ARMAS é projetada contra indefesos pedestres.
Por outro lado, nunca se percebe tanto os sinais de vida como quando vivemos á beira da morte. Nunca valorizamos tanto estes pequenos sinais- como o canto dos pássaros, incessante, que nos desperta no raiar do dia, ou o pouco verde que remanesceu( talvez por equívoco ou desleixo dos construtores de tantos túneis e viadutos )nas ruas, nos parques, o reflexo do pôr-do-sol nos gigantescos edifícios da Paulista, os lugares pequenos que se esmeram em construir ambientes que nos remetam a outros países, com suas varandas e jardins minúsculos- como quando habitamos uma grande metrópole. Talvez justamente porque aqui estas coisas são raras, nós as buscamos e percebemos com maior ardor.
O ritmo incessante e inclemente da cidade grande nos dá uma vontade, ao contrário, de parar de vez em quando e contemplar o quanto ela tem de bom. DEVAGAR E DIVAGAR, eis algumas palavras úteis para quem não quiser se perder neste mundo frenético do FAZER. Uma escritora oriental alertou uma vez que boa parte deste ''fazer'' consiste simplesmente em mover os objetos de uma parte para outra de nossas mesas...''
''Carpe Diem''!!!
quarta-feira, 3 de outubro de 2007
Topo da Montanha
Um dos professores utilizou esta imagem. Chegar ao topo da montanha. E ela é muito forte. Chegar ao topo da montanha significa adquirir auto-domínio. Atingir um padrão de excelência, sabedoria. O ideal seria que, ao longo dos anos, fôssemos todos nos aproximando do topo da montanha, um passo natural que revelaria uma evolução progressiva.
Mas nem a humanidade mostra sinais de evolução, nem as nossas vidas são assim tão certinhas. Muitas vezes caímos. Noutras, parecemos entrar em um limbo, do qual não conseguimos sequer vislumbrar qualquer saída.
Mas o topo da montanha continua lá, nos esperando como sempre. Pode estar invisível para nós, mas a montanha não se desloca. Nem desaparece. O topo da montanha, em tese, é atingível por qualquer um. Basta ter paciência e perseverança necessárias.
O topo da montanha talvez não seja um lugar. Mas um estado. Um estado de desapaixonamento, de equilíbrio, de ampla perspectiva. Em um longo trecho de nossas vidas vamos acumulando coisas, inclusive conhecimento. O topo da montanha atingimos, paradoxalmente, quando começamos a nos livrar de todo o lixo que juntamos na primeira parte do caminho. Das certezas. Das condenações. Nossas e dos outros. E quanto mais vamos entendendo que aprender é na verdade desaprender, e que as melhores coisas da vida são de graça, mais vamos nos aproximando deste estado de graça que é o topo da montanha.
Na geografia da alma, ao contrário da física, o topo da montanha se concilia com as ondas do mar...
terça-feira, 2 de outubro de 2007
Lei da Atração
Querer algo de modo muito forte é uma das melhores formas de perder alguma coisa. Ficamos nervosos, ansiosos, nada parece dar certo. O ideal, sabemos, seria manter uma atitude de certa distância com o objeto de nosso desejo. Não ficar declarando o tempo todo ''preciso desta coisa'', o que, ao revés, nos coloca em atitude de CARÊNCIA, de alguém que fica eternamente a desejar coisas, sem obtê-las.
Aqueles que, de fato, tem aquilo que desejamos, parecem ter um ato meio ''blasé'', desligado. Até meio descontente. Não conseguem entender por que há tanto ''frissom'' em torno de um mero objeto. Até mesmo parecem já estar à procura de um outro brinquedinho...
O mundo não foi feito para dar a todas as pessoas tudo o que elas querem. Nem para negar a elas todos os seus desejos. Não teríamos condições de dar um carro a cada um dos seis bilhóes de habitantes do planeta, apesar dos planos chineses. Com os carros que temos, já estamos causando mal suficiente para afetar várias gerações.
Mas há uma certa lógica no proceder do mundo. SEJA O QUE FOR que queiramos, e sustentemos de modo coerente e permanente, tende a se realizar no plano fático. Agora, às vezes a vida nos mostra que o que queremos não é um objeto material, e sim uma mera sensação de plenitude, liberdade, felicidade. E isto não custa nada...
Todos achamos necessitar de algo para a nossa felicidade. Mas, eis o que descobri depois de muitas leituras, é a nossa felicidade/plenitude que nos coloca em condições de alcançar os nossos mais caros projetos. Ninguém gosta, com razão, de pessoas infelizes, solitárias, ''reclamonas''.
E, para atingir este simples estado de felicidade tão importante como imã dos nossos mais caros desejos, o ''segredo'' é que basta declarar. Quando dizemos, e repetimos com constância acreditando no que estamos dizendo, ''ah, como eu estou me sentindo bem'', ''que legal este dia!'', ''me sinto cada vez mais feliz'', nos colocamos em um estado mais alto, e mais próximo do que almejamos...
Do contrário, citem alguma pessoa infeliz que tenha alcançado os seus sonhos...
quinta-feira, 27 de setembro de 2007
Polícia X Bandidos
Até os atentados do PCC em São Paulo do ano passado, nunca havia passado pela minha cabeça pensar sobre a importância do trabalho policial. Foi naquele momento, vendo pessoas anônimas sendo assassinadas por serem da polícia, e por estarem fazendo o seu serviço, que eu pude me dar conta de que, por mais que todas as nossas instituições estejam infiltradas e corrompidas em um nível muito maior do que o desejável, há uma em especial sem a qual nos entregaremos todos ao arbítrio e á barbárie.
No último fim-de-semana estive no Rio de Janeiro. E é interessante ver como, para muitos cariocas, a polícia ''é corrupta'', ''assassina'', etc. Existem muitos maus policiais, de fato. E muitos mais na polícia carioca. Porém, e esta é a importância de filmes como o ''Tropa de Elite'' (tristemente qualificado por um jornalista da Folha de São Paulo como ''fascista''), e esta mesma instituição que representa um dique sem o qual a bela cidade do Rio de Janeiro estaria totalmente entregue a bandidos e traficantes que não só matam mas matam e mutilam pessoas ao seu arbítrio. Seria isto preferível?
Sim, desde o ano passado eu faço questão de CUMPRIMENTAR TODOS OS POLICIAIS que vejo. Pelo que eles representam. Não sei distinguir pelo olhar quem é ''bom'' e quem não é. Logo, opto por dar um VOTO DE CONFIANÇA a estes anônimos servidores públicos que estão na linha de fogo. Bem como a todos que, nos quartéis como nos Tribunais, nas repartições, nas ruas como lixeiros e guardas de trânsito, apesar dos salários miseráveis e de todo o desestímulo que sofrem nas mãos de políticos incompetentes, optam por CUMPRIR O SEU DEVER. A todos os que, mesmo ganhando uma miséria, decidem devolver fortunas em dólares que acham nas ruas. São estas pessoas que nos impedem de dizer, em definitivo, ''é este país não tem jeito''. TEM JEITO, e são estes anônimos seres que estão nos indicando o caminho. Em resumo: ruim com a Polícia que temos, PIOR SEM ELA!
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