Outro dia eu me vi descendo mais uma vez a rua da Consolação, sentido centro, como não fazia já há algum tempo. Na verdade, desde que vim morar aqui em São Paulo. Esta rua, para quem não sabe, é uma das mais movimentadas da cidade, palco inclusive de eventos como a São Silvestre.
É cheia também, próximo à Avenida Paulista, de lojas especializadas em lustres e material de iluminação. Mais abaixo, tem o grande Cemitério da Consolação, cujo grande mérito é, para nós, pedestres, proporcionar-nos um pouquinho de SOMBRA, em meio ao sol escaldante da capital paulista.
O que é mais surpreendente, nesta capital, é a facilidade e a rapidez com que vamos ''do luxo ao lixo''. Entramos em Higienópolis, bairro chique, para almoçar e, em questão de minutos, ou voltamos para a rua Augusta, famoso ponto de ''inferninhos'', casas de massagem e prostituição noturna- embora não se limite a isto, claro- ou continuamos descendo a Avenida Angélica, rumo ao centrão. Esta semana até aconteceu um fato engraçado: eu ouvi um surpreendente- para quem já está se acostumando a ser chamado de ''senhor''- grito de ''moço, moço''. E, para minha surpresa ainda maior, foi proferido por uma bela jovem, que queria indicações de como chegar ao centro. Contive a minha vontade de oferecer-me para levá-la pessoalmente, o que soaria suspeito, e expliquei que logo ali, na Av. Angélica, ela poderia pegar um ônibus que a levaria ao lugar procurado. Eu sempre parto do pressuposto que as pessoas preferem táxis, ônibus ou qualquer coisa ao modo mais tradicional, mais antigo, e mais saudável, bem como divertido, que é a caminhada.
Depois do almoço, por sinal, foi como eu cheguei ao mesmo centro. Lá, entre diversas visitas a livrarias, como a Saraiva e a RT, acabei ouvindo o seguinte comentário, proferido por um camelô: ''O Pelé? O Pelé é do tempo dos dinossauros. Hoje ele não ficaria em pé, de tanta porrada que ia levar dos zagueiros". Estes diálogos de rua são muito engraçados. Há até uma coluna do Globo, na Revista de Domingo, que reproduz diálogos semelhantes, e frases igualmente originais proferidas pelos divertidos cariocas. Mas, voltando ao comentário, até parece que o Pelé era aliviado pelos zagueiros da época. Ao contrário. Como sabia que seria caçado em campo, ele já se antecipava, e dava umas porradas primeiro nos beques para mostrar quem é que mandava...
Observando o centro de São Paulo, eu fico me perguntando se a humanidade mudou realmente em todos estes anos, além da descoberta de alguns brinquedinhos como Ipods, Iphones, celulares, TV's de Plasma e poluentes automóveis...Acho que na Roma Antiga, e há alguns relatos interessantes de historiadores a respeito, era do mesmo ''jeitim''. Muita sujeira, barulho, movimento pelas ruas, miséria ao lado do maior luxo, poluição- os romanos jogavam os seus esgotos no Rio Tibre ou nas ruas, o que não é muito diferente da São Paulo atual...
Terminei o passeio visitando um pequeno shopping- o Paulista, ao lado da Avenida de mesmo nome- que está em reformas para ampliação. E fiquei surpreso ao ver que a pequena livraria Saraiva que ele tinha mudou de andar e de tamanho: transformou-se em uma bela Megastore, para concorrer com as Fnacs e Culturas da região. Sinal dos tempos: eis uma transformação muito agradável e bem-vinda. Grandes livrarias convivem, na metrópole, com sebos e vendedores de livros na rua. Mas afinal, como perguntaria Caetano, quem lê tanta notícia? Tem gente lendo, eis uma notícia alvissareira. Gente suficiente para financiar todas estas livrarias, e todas estas revistas que a gente vê nas bancas. Talvez sejam alguns milhares, na cidade dos milhões, mas já é alguma coisa...
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