Desde que li esta notícia, não parei de pensar no assunto.
Especialmente pela justificativa de um deles: ''fiz isto porque minha mãe me educou a não ficar com aquilo que não me pertence''.
As reações a este fato que não ocorreu pela primeira vez- e que chama muito mais a atenção pela origem social de quem o protagonizou do que por outra coisa- variam do espanto( ''como é que eles não aproveitaram esta grana para melhorar de vida?'')à fácil comparação com o elevado padrão de outros brasileiros( políticos, em especial).
A incredulidade generalizada mostra o quanto estamos distantes do que seria correto. Ou, nas palavras da música ''Sampa'', de Caetano Veloso, como vivemos ''no avesso, do avesso, do avesso''.
O bem virou motivo de espanto, enquanto o mal predomina e não causa sequer mais indignação...
Mas o fato, em si, vai muito além destas considerações de cunho ''material''.
Lembro das estórias contadas em livros que seguem uma linha espiritual oriental( budistas, hinduístas, etc.). Elas relatam eventos em que um mestre espiritual dos mais importantes decide vir á Terra ''disfarçado'' como um mendigo. Para ver como seus adeptos o tratariam se não soubessem quem ele era...
Pais de gerações mais antigas costumavam alertar seus filhos para ''não julgar os outros pela aparência''. Isto, embora seja senso comum, é muito mais inteligente do que possa parecer.
Em uma era dominada pela aparência, pelo visual- que é o que há de mais ''rasteiro'' em um ser humano- nos acostumamos a avaliar os outros por critérios mais mundanos: ''é bonito/a, feio/a'', ''ganha tanto'', ''é da família x'', ''pertence à classe A, B, ou C''.
A estética em detrimento do conteúdo.
Por isto, muitas pessoas que não primam exatamente pela ética buscam disfarçar-se com operações plásticas, botox. Claro que há políticos que são perversos, e suas feições refletem exatamente isto. E outros que se disfarçam pela aparência ''bela'' ou ''jovem''.
Nos apegamos, sobretudo, a bens e situações que são transitórias.
A coisas, objetos que não poderemos levar para o ''misterioso além-túmulo''- a parte mais importante de nossas existências, o Mundo Espiritual.
Não podemos quantificar, ''vender'' aquilo que somos- o acúmulo de nossas experiências. Não podemos exprimir em números a bondade de uma pessoa. Seu sorriso, sua gentileza. Mas até mesmo a mais simples das criaturas deste mundo é capaz de distinguir entre o que é certo e o que é errado.
Nossos Mestres verdadeiros, aqueles de quem colhemos as maiores lições, podem vestir roupas esfarrapadas. Podem andar a esmo pelas ruas. Podem muitas vezes não ter o que comer, sobretudo se seguirem um ''manual de instruções para a vida'' como o exposto nas palavras deste ''mendigo'' que devolveu R$ 20.000,00.
''Não posso ficar com o que não é meu'', ele disse- e nós aprendemos com ele.
Intimamente, ele intuiu que neste Universo não se pode ''tirar'' nada dos outros.
''Colhemos aquilo que plantamos'', eis uma das maiores lições espirituais.
Ou, nas sábias palavras da ''Regra de Ouro'' da Bíblia, ''devemos tratar os outros como queremos ser tratados''.
Até mesmo o Senso Comum diz que ''os apressados comem crú''.
Na ânsia de ficar ''com aquilo que não lhes pertence'', acabam abrindo mão do que há de mais especial e imensurável em um ser humano: seu caráter, sua consciência.
Eis a única coisa que nos ''pertence'' de fato, e que nos acompanhará onde quer que estejamos. Seja em que plano for.
Mas o Criador- aquele que tudo vê, e está em todas as coisas e todos os lugares- é sábio. Dá a cada um exatamente o que merece, na hora certa...
E ''planta'' de vez em quando, neste mundo tão insignificante, alguns ''mestres espirituais'' disfarçados de ''moradores de rua''- para nos lembrar a todos qual o caminho mais correto...
Alcnol.
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